terça-feira, 27 de outubro de 2009

Grande farsa...

Farsa em Cabul, tragédia no Paquistão


Há algumas semanas, o chefe da ONU em Cabul, um norueguês de cabeça dura, decidiu que as recentes eleições presidenciais foram correctas e que Karzai era um governante legítimo. O seu adjunto, Peter Galbraith, o representante não-oficial do Departamento de Estado, ficou enfurecido (já que os EUA estão descontentes com Karzai, que é a sua própria criatura) e assumiu uma posição pública. Foi demitido.
Mas as histórias envolvendo representantes dos EUA e as Nações Unidas nunca acabam assim. Ontem, o supervisor eleitoral apoiado pela ONU determinou que as eleições tinham sido fraudulentas e ordenou uma nova volta. As montanhas do Indocuche devem ter ressoado com o som das risadas pachtun.
Ninguém no Afeganistão leva as eleições demasiado a sério, especialmente quando o país está ocupado pelos EUA e pelos seus acólitos da NATO. Nos velhos tempos, ter-se-iam livrado de Karzai, tal como dos ditadores sul-vietnamitas que armavam demasiada confusão.
Karzai tem sido um desastre total, mas o mesmo acontece com a ocupação que o implantou em Cabul. Agora, com uma guerra que vai muito mal e com os insurgentes a controlar grandes porções do território, Karzai está a ser o bode expiatório para pecados de que ele não é exclusivamente responsável.
Uma solução que está a ser considerada é a nomeação pelos EUA/ONU de um director-executivo e aqui Peter Galbraith seria a escolha óbvia. Isso seria muito mais simples e o director-executivo poderia nomear um gabinete em que todos os malfeitores pudessem compartilhar os despojos do comércio de ópio e um pedaço do dinheiro a ser gasto no país, quebrando assim o monopólio financeiro da família Karzai.
A única razão para a humilhação pública de um fantoche fiel é a sua recusa em compartilhar o poder e o dinheiro com outros colaboradores. Se for autorizado a permanecer no poder, prevejo que vai estar mais disposto a partilhar. Não que isso vá resolver quaisquer problemas na falta de uma estratégia de saída da NATO da região.
Enquanto a farsa se desenrola em Cabul, no vizinho Paquistão a situação tornou-se mais mortal. O governo de Zardari (efectivamente dirigido pela embaixadora dos EUA, Anne W. Patterson) ordenou ao exército do Paquistão para acabar com os talibãs no Waziristão do Sul, perto da fronteira afegã.
Isso também vai falhar. Mais inocentes vão morrer, mais refugiados serão criados juntando-se aos dois milhões de “deslocados internos” que já vivem em acampamentos. O resultado será um legado amargo, alimentando o ódio e ataques de vingança na região e, fatalmente, criando novas tensões no interior do exército do Paquistão.
Incapazes de compreender que foi o derramamento da guerra do Afeganistão sobre o Paquistão que exacerbou a crise no Paquistão, as directivas da administração Obama só a podem tornar pior.
Fonte: Counterpunch

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