terça-feira, 24 de novembro de 2009

Abbas deve proclamar Estado Palestino unilateralmente


 

Roberto Blum - Correio Internacional

Ha’aretz – Tel-Aviv


É precisamente agora que o presidente palestino Mahmoud Abbas não pode perder as esperanças, e não pelo doce discurso vazio que Shimon Peres pronunciou na manifestação na última noite de sábado [07/11] sobre pessoas perdendo as esperanças em Ramallah. Como se na residência do presidente todos os dias fossem Carnaval, e não apenas quando ele está fazendo as malas para sua viagem ao Brasil.
Abbas estava certo quando decidiu anunciar que em breve renunciaria: é impossível manter negociações “sem condições prévias” enquanto o povoamento [israelense sobre terras palestinas] está acontecendo. Por 42 anos Israel vem semeando condições prévias e feitos consumados por todos os lados, marcando-os com telhas vermelhas e tornando o processo de paz nada mais que uma negociação sem fim.
Mas antes que Abu Mazen [Abbas] desista, ele tem apenas mais um trabalho a fazer: Ele precisa proclamar, unilateralmente, o estabelecimento do Estado Palestino independente. Palestina agora.
Ambos os lados tem o direito de atuar unilateralmente. Abbas deve isso a seu povo, a si próprio e a nós [israelenses]. Nesta semana, saíram relatórios em que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu considera tal possibilidade muito assustadora, e espera que os americanos cortem o mal pela raiz. Mas o seu pesadelo é nossa única chance para pôr um fim à ocupação em nossa época.
Quando ele declarar a independência, Abbas deve fazer um chamado aos judeus que vivem no Estado Palestino para que preservem a paz e façam sua parte na construção do novo país como cidadãos plenos e iguais, gozando de representação justa em todas as instituições. David Ben-Gurion não ficaria desapontado com um ato tão bonito de plágio da sua Declaração de Independência.
E deste modo, Abbas se tornará o Ben-Gurion palestino. As condições não eram menos nebulosas nem as circunstâncias mais seguras quando Ben-Gurion declarou independência em 1948. Mas nosso pai fundador se arriscou, e temos sorte de que o tenha feito.
O risco que Abbas estaria tomando é muito menor. Dos 192 estados-membro das Nações Unidas, mais de 150 reconheceriam uma Palestina livre, e esta logo se tornaria o 193º. Embora a posição dos Estados Unidos seja desconhecida, é difícil acreditar que Barack Obama concordaria em arrastar de volta seu país ao isolamento agora que recém começou a fazer parte do mundo novamente.
E o que faria Netanyahu? Invadir e reconquistar a Cisjordânia? Restaurar o governo militar no Muqata [sede da Autoridade Nacional Palestina] em Ramallah?
E que ordens Ehud Barak daria a seu exército? A Sérvia não ousou invadir Kosovo após sua declaração de independência, e mesmo a grande Rússia não se permitiu permanecer no território soberano da Geórgia após a guerra.
Imediatamente após a declaração, comemorações começariam na capital, Jerusalém do Leste, e pessoas de todas as partes do mundo se uniriam a eles, inclusive israelenses. As massas da Casa de Ishmael desfilarão alegremente pelos bairros da cidade, e especialmente naqueles em que foram evitados por pessoas com pretensões sacerdotais. Isso terá de ser alegre sem nenhuma manifestação de violência, nem sequer uma pedra arremessada.
Esta semana, telefonei a Abbas, depois de não haver falado com ele por pelo menos quatro anos. Contei-lhe tudo que estou escrevendo agora. Também lhe contei mais uma coisa: o que aconteceu com o muro em Berlim 20 anos atrás, e com o Apartheid alguns meses depois, também acontecerá com a ocupação: entrará em colapso, mesmo se tentativas para reforçá-la forem feitas com unhas e dentes.

Yossi Sarid

Tradução: Felipe Martini
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