terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Eduardo Guimarães: Onde e como organizar a mídia alternativa?

Eduardo Guimarães: www.patrialatina.com.br

















Notadamente nos últimos dois anos, vêm ocorrendo tentativas esparsas de se organizar minimamente a mídia “alternativa”, o que seja ela, a Blogosfera , sites jornalísticos e algumas revistas, de menor tiragem e de poucos recursos, ditos "de esquerda", o que inclui a Carta Capital, a Caros Amigos, a Fórum e a Revista do Brasil, entre o que conta.
 
A dificuldade para se lograr tal feito explica o fato de o Brasil ter essa situação esdrúxula de só existirem grandes meios de comunicação de direita. Por que não podemos ter grandes jornais de esquerda como na França, na Itália ou nos Estados Unidos? Na França há o Libération ou L’Humanité, na Itália, L’Unità, ligado ao ex-Partido Comunista, e o independente Il Manifesto; nos Estados Unidos, há o socialista The Nation e, na Grã-Bretanha, The Independent.
 
Mas e no Brasil, o que temos? Folha, Globo, Estadão, Correio Brasiliense, Jornal do Brasil, Zero Hora... E por aí vai. Televisões? Todas de direita. Rádios e tevês? Entre as que têm grande alcance, todas de direita. Sobram à esquerda as revistas supra-mencionadas e os sites e blogs, e essa é a mídia alternativa que se pretende organizar.
 
Aí vem a questão: organizar como? Já surgiu a idéia de um portal de internet, mas ninguém vai querer abrir mão de seu vôo solo para escrever de graça, com obrigação a cumprir. É diferente de fazer um blog, onde você decide o que e quando vai publicar sem ter que respeitar prazos e quaisquer outras imposições que um veículo como um portal de internet exigiria.
 
Como se não bastasse essa dificuldade, não há dinheiro. Ninguém constrói hoje um portal de internet sem muito, muito dinheiro. Um jornalista da Record me disse que o recém-criado portal de Internet R7, da Igreja Universal, conta com uma redação de uma centena e meia de jornalistas e recursos ilimitados para produzir conteúdo. Estamos falando, pois, de milhões de reais.
 
Outro dia li acho que foi o blogueiro Ricardo Kotscho dizendo que o Brasil tem mais “colunas” do que a Grécia antiga, pois estamos confinados a opinar e opinar, ou reproduzir conteúdo dos grandes veículos. Por falta de dinheiro.
 
Então onde e como organizar essa mídia “alternativa”?, perguntará o leitor.
 
Quando se fala em “organizar”, o sentido é ao pé da letra. Formar uma organização nacional dos veículos que, por conta de sua linha ideológica (e este é o fato crucial), sofrem boicote de um empresariado que acredita que comunistas comem criancinhas, e que é aquele que poderia investir em uma fatia do mercado para jornalismo totalmente desatendida no Brasil.
 
Diante disso tudo, nesta quinta-feira estive reunido com o “Publisher” de um dos mais conhecidos e respeitados veículos da mídia “alternativa”, alguém que não recebe nome aqui porque não gosta de aparecer. Essa pessoa se propõe a encabeçar os esforços para se criar uma associação nacional desses veículos, entre os quais estaria este blog. Trata-se de uma tentativa de avançar até onde for possível.
 
Estamos vivendo um momento complicado, os que nadam contra a corrente da falta de recursos para fazer jornalismo cidadão, ou seja, sem lucrar nada. O ano eleitoral e a possibilidade de continuar fora do poder enlouqueceu a direita, que começa a adotar um nível de radicalização com ameaças de todo tipo aos que já começam a incomodar mesmo trabalhando de forma artesanal e sem recursos financeiros.
 
Fontes de financiamento, apoio jurídico, venda de espaços para publicidade, entre outros, seriam preocupação dessa associação. Ela teria força e representatividade, pois esses milhares de leitores deste, daquele e daquele outro blog, site ou pequena revista, juntos constituiriam um grande público.
 
Tenho dado minha contribuição para a integração da mídia “alternativa” na medida do possível. Em breve, colocarei outro anúncio gratuito neste blog para outra importante revista. Muitos dos sites e blogs “linkados” aqui dizem que o Cidadania lhes remeteu milhares de leitores. E há a militância política na ONG Movimento dos Sem Mídia e o comprometimento com este espaço que já nem me pertence mais.
 
Se puder contribuir também para essa associação, contribuirei. Acho que o Brasil precisa ter pluralidade no espectro ideológico de sua imprensa. Essa situação de só a direita poder falar para muitos de uma só vez precisa mudar, e só mudará se cada blogueiro, se cada editor de site ou revista de esquerda se dispuser a colaborar.

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