sábado, 27 de fevereiro de 2010

Pesquisa explica porque ninguém quer ser professor - A Profissão mais Desprestigiada do Brasil

Suplício de Sísifo
 
Segundo recente pesquisa encomendada pela Fundação Victor Civita e realizada pela Fundação Carlos Chagas, apenas 2% dos alunos do segundo grau, atualmente, pensam um dia em ser professor. Pesquisa acessível em: http://revistaescola.abril.uol.com.br/politicas-publicas/carreira/ser-professor-escolha-poucos-docencia-atratividade-carreira-vestibular-pedagogia-licenciatura-528911.shtml.

E qual o perfil desses 2%? Minoria suprema, que ainda tem coragem de querer ser profissional da educação no Brasil? Segundo a mesma pesquisa os 2% tem o mesmo perfil dos atuais universitários que cursam Pedagogia ou outra licenciatura voltada para sala de aula, a saber:

1) 80% cursaram nível médio em escola pública;
2) 30% deles estão entre os que foram aprovados com as piores notas;


A conclusão é que: aqueles que serão professores são mal qualificados. Respondendo ainda a pesquisa, a área de Pedagogia ficou em 16% lugar na preferência dos alunos da escola pública. Já para os alunos das escolas particulares ainda mais distante, como desejo, ocupa o 36º lugar. Os pesquisadores fizeram a seguinte pergunta: Por que você não quer ser professor? Eis as razões, senhores prefeitos, senhores governadores, senhores secretários de educação:

1) É desgastante;
2) Desvalorizado socialmente;
3) Mal remunerado.

Para piorar, nem os alunos querem ser professores, nem a família quer que sejam professores. DESSA FORMA QUAL SERÁ O FUTURO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL? QUE FUTURO TERÁ O BRASIL? Segundo os especialistas, urgentes medidas devem ser tomadas. Entre elas apontam:

1) Melhor remuneração, para atrair os melhores;
2) Bons planos de Carreira;
3) Investir na formação dos profissionais;
4) Resgatar a importância do professor para sociedade;
5) Tratar o professor como profissional;
6) Entre outros.

O que temos visto no Estado do Ceará, que não é diferente do resto do Brasil? Mesmo com o advento da Lei do Piso salarial para os profissionais da educação: Conseguiram reduzir a remuneração em alguns municípios; as propostas de planos de carreira são vergonhosas; os profissionais da educação são tratados como despesa; não há investimento na formação dos profissionais; o professor é cada vez mais humilhado e ridicularizado, mesmo quando no desespero faz greve; quando falta ao trabalho com várias doenças que variam de problemas vocais, depressão e até problemas mentais, pelo desgaste e desilusão com a profissão, são tratados pela mídia como irresponsáveis e pelo Ministério Público como criminosos; não são tratados como profissionais, tanto que até o instituto do concurso é sabotado e passam a contratar por politicagem, por apadrinhamento, não por critérios objetivos, pois o concurso selecionaria os melhores, mas qual melhor quer ser professor? A pesquisa apontou que é profissão que atrai uma minoria entre os piores alunos. No Ceará educação de qualidade é um sonho de uma noite de verão.

Como paradoxo, os repasses do FUNDEB, de janeiro de 2008 até janeiro de 2010, tiveram um aumento em média, em se tratando de mais recursos, da ordem aproximada de 70%, considerando a atualização do valor aluno para o ano de 2010. PARA ONDE ESTÁ INDO TODO ESSE DINHEIRO NINGUÉM SABE. Mas ninguém vê a mídia escrita ou televisiva investigando os desvios, muito menos o Ministério Público.


CASOS REAIS NO CEARÁ:

1º) No Município de Tabuleiro do Norte, há mais professores contratados que concursados;
2) No Município de Bela Cruz a proposta de Plano de Carreira previa que a formação contínua seria contada apenas como ponto para progressão da avaliação de desempenho;
3) No Município de Apuiarés o prefeito transferiu professores para escolas muito distantes, só porque votaram em outro candidato;
4) No Município de Fortaleza um professor leva anos para ter atendido um simples requerimento de progressão funcional ou um simples pedido de concessão de licença prêmio;
5) No Município de Ocara o prefeito lotou a mesma professora pela manhã numa escola e à tarde noutra escola a quilômetros de distância, sendo impossível mesmo em veículo motorizado chegar a tempo de dar aula e sem pagar auxílio transporte;
6) No Município de Itapajé, chamaram de plano de carreira, um projeto de lei onde só havia previsão de classe única. Como pode existir carreira onde há apenas uma classe se as classes são os degraus da carreira? Devendo no mínimo existir uma classe para nível médio, uma para nível superior e outra classe para especialista;
7) No Município de Quixeré, para cumprir a lei do piso nacional para os profissionais da educação, o Município cassa direito adquirido como o qüinqüênio;
8) No Município de Mucambo, o sindicato da categoria chegou a sofrer perseguição, porque ousou mobilizar a categoria para debater o plano de carreira e apresentou emendas;
9) No Município de Jijoca, a presidente do Sindicato teve retirada metade da jornada, perdendo metade do salário, por ousar mobilizar a categoria da educação para debater o seu plano de carreira;
10) Nenhum Município do Ceará, em suas propostas de planos de carreira, compradas de forma caríssima de assessorias da Capital do Estado, em alguns casos chegando ao valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), prevê política para formação contínua dos profissionais da educação, eleição para núcleo gestor das escolas, condições adequadas de trabalho, número de alunos por professor, atos que redundem em gestão realmente democrática...
Para finalizar, 03 perguntinhas, que você pode responder em forma de comentário:

I- Se é professor ou professora municipal, você é feliz com a sua profissão? Por quê ?
II- Se ainda cursa o segundo grau, sonha em ser professor(a) no seu Município?
III- Você deseja que um filho, uma irmã ou outro parente que você gosta venha a ser professor(a) municipal?
No dia que as três perguntas acima forem respondidas positivamente, cursar Pedagogia ou outras licenciaturas terá o mesmo Status que Direito, Engenharia e Medicina, os cursos mais desejados por aqueles que cursam atualmente o segundo grau, sejam em escolas públicas, sejam em escolas particulares. Segundo a citada pesquisa. Ah! Você viu quanto ganha um procurador municipal, um médico no Município, um engenheiro? Então compare com o piso de um professor. Depois avalie e reflita: EDUCAÇÃO DE QUALIDADE É UM DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL? TERÁ QUALIDADE SE CONTINUAREM TRATANDO OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO COMO OS TRATAM HOJE?

Refletir... entender... para agir... para mudar...
 
* Valdecy AlvesNascido na cidade de Senador Pompeu (CE), terra natal do grande escritor Moreira Campos, mora em Fortaleza, terra da luz. É poeta, dramaturgo, cineasta e advogado especialista em Direito Constitucional.. Participou da fundação de inúmeros jornais e revistas literárias tanto no Ceará, como no Estado de São Paulo. Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB Ceará durante 08 anos, foi advogado da Cáritas em Senador Pompeu (CE), advogando em várias áreas do direito. Atualmente tem escritório em Fortaleza Ceará, assessorando vários sindicatos de servidores municipais tanto em Fortaleza, quanto no interior do Estado Ceará. Atuando como consultor e parecerista para todo o Brasil.

3 comentários:

Professor Tiago Menta disse...

Esta realidade está ai, Brasil afora, sem distinção de rede, de estado ou município - em síntese, a educação brasileira é tratada como despesa, como um gasto qualquer e nunca como investimento. Resultado: somos uma vergonha não só latino-americana, mas mundial (basta acompanhar os números internacionais de avaliação em educação).
Hoje, eu, você meu colega ai ao lado, independente de qualquer coisa, somos todos heróis, heróis resistentes. Ser professor no Brasil é ato de pura coragem, é o grau máximo de idealismo e luta (tamanhos são os desafios, a irracionalidade do setor).
Assim, povo brasileiro, parem de olhar para o próprio umbigo, e comecem a prestar atenção nesta realidade inaceitável se quisermos ousar pensar em um Brasil possível para o amanhã. Tome vergonha brasileiro! Povo cúmplice da ignorância nacional, legitimando a sua condição de submissão social.
Faça a sua parte, procure a escola, os professores, pressione os governos, os secretários, vamos fazer um mutirão pela educação.
Contem sempre comigo, com minha mente e punhos.
Prof. Tiago Menta.

jorge cezar disse...

Tudo isso é reflexo de uma política voltada para que o país continue do jeito que está. Isso começou com os militares golpistas de 1964. Não há interesse de qualquer uma das esferas de governo (federal,estadual ou municipal)em investimentos reais na área de educação. Aja visto que o nosso atual presidente já declarou que detesta ler. Pena,pois o não investimento em edução e nos professores não só prejudica os menos favorecidos,como não faz do país auto suficiente em tecnologia de ponta.

FLAMES (Mariana e Roberta) disse...

Bem...o teu blog é muito interessante a fala de temas muito actuais e importantes...
infelizmente penso que a realidade em Portugal não deva ser muito diferente ...