sexta-feira, 26 de março de 2010

A França rejeita Sarkozy...

França: A explosão do antisarkosismo


  Editado por Cristieni Castilhos


PARIS, França – Um enigma paira sobre o primeiro turno das eleições regionais de domingo [14 de março]. Se as previsões das pesquisas de opinião se confirmarem, a França amanhecerá na segunda-feira coberta pelo véu rosa dos socialistas, e pelo verde, dos ecologistas, e o que será dessa vasta e mal-humorada corrente que é o Antisarkosismo? A parcela da população que reprova a ação e o estilo do presidente francês e sua equipe é grande, mas carece de líderes que agrupem os descontentes.
O chefe de Estado cristaliza em torno de si um poderoso sentimento de insatisfação que se manifesta nos baixos níveis de popularidade com que ele governa. Nicolas Sarkozy tem apenas 37 por cento de opiniões favoráveis e as pesquisas prevêem para este domingo [12 de março] uma derrota significativa do partido que ele mesmo promoveu, a UMP [União por um Movimento Popular, sigla em francês]. Operários, Universitários, professores, estudantes, advogados, médicos, executivos, trabalhadores, funcionários e desempregados formam o corpo desse movimento sem liderança, mas que se expressa com solidez nas redes sociais e cujos argumentos podem ser ouvidos nas filas de supermercado ou nos balcões de bares.
Por paradoxal que pareça, o antisarkosismo não tem realmente quem o represente de forma coesa. Seus exércitos estão espalhados por todo o espectro político francês e em diversos movimentos que vão desde os grupos que defendem os imigrantes, passando pelos psicólogos e os médicos, os ecologistas, os militantes antiglobalização, os contrários a organismos geneticamente modificados, os desgostos com as multas de trânsito, os ativistas que denunciam a “geração precária”, os membros da “Quinta-feira Negra”- que clama por uma política alternativa para a habitação, até mesmo a última versão do Antisarkosismo, inspirada no caso italiano, o “No Sarkozy Day” [Dia do Não ao Sarkozy]. Esses movimentos de contestação política surgem em grade parte pela Internet. Os meios de comunicação franceses, sobretudo a imprensa, mantêm uma distância ainda mais abismal do que os políticos com relação aos problemas da sociedade.
Por outro lado, não existe hoje uma linha editorial de oposição. Há certas temáticas em que há oposição na imprensa, mas essas carecem de continuidade e, por conseguinte, de consistência. O jornal semanal Marianne, leva a cabo uma campanha sistemática contra Sarkozy, mas não representa toda a complexidade do antisarkosismo. O que faz o resto da imprensa parece uma brincadeira inconseqüente que deve fazer rir o presidente francês. Diante dessa ausência de base e de análise, o antisarkosismo se estendeu por um espectro hiperfragmentado, mas não por isso menos real.
O rancor social é profundo. Nicolas Sarkozy herdou também as desavenças das administrações passadas e coloca-se com certa responsabilidade global, como se essa sociedade desencontrada e que vem perdendo suas conquistas e benefícios tivesse inventado tal responsabilidade sozinha.
Há quem deseje fervorosamente que a seleção francesa de futebol faça um papel vergonhoso no Mundial africano, porque associam a política de Nicolas Sarkozy ao treinador da seleção, o impopular Raymond Domenech. Os bares são palco para um teatro de protestos múltiplos e revelam a polifonia do desencanto, assim como a solidão eleitoral da sociedade. Em meio a piadas e críticas, o povo admite que nenhuma figura de oposição política reflete um projeto alternativo ou inspira suficiente seriedade para voltarem suas expectativas para ele.
O antisarkosismo aparece hoje como o modelo de uma sociedade policiada e controlada, desumanizada e centralizada em diversos arquivos, em que o dinheiro é rei, quem tem amigos influentes é privilegiado, a indiferença e a vontade de controlar a tudo são princípios orientadores e que a cobertura política pelos meios de comunicação já é um recurso desgastado. Até agora, o grande desejo de se fazer uma convergência entre as diversas demandas setoriais não se fez realidade. As eleições deste mês talvez marquem uma mudança na maneira com a qual a oposição assume seu papel, na forma como governa o Executivo e no perfil que adquire o antisarkosismo.  A dimensão do movimento é mais uma sensação do que o reflexo de idéias políticas organizadas, especialmente porque os antisarkozy desconfiam dos partidos políticos como o diabo foge da cruz.
Os antisarkosistas sonham em sair das redes da Internet e levar às ruas os descontentos com o presidente. Uma viagem do virtual ao real. Seguindo o exemplo italiano, os criadores do “No Sarkozy Day” convocaram uma manifestação para o próximo 27 de março para dizer não à política do presidente. A iniciativa teve origem pelo Facebook sob o lema de “Um milhão de pessoas contra Nicolas Sarkozy” e agregou muitas vozes transversais que não se sentem representadas pelo sistema de partidos políticos e os meios de comunicação, mas simpatizam com o antisarkosismo.
Segundo Sebastian Ball, um dos fundadores do grupo, o movimento “Um milhão de pessoas contra Nicolas Sarkozy” conta hoje com 380 mil membros. Ball afirma que o “No Sarkozy Day” de 27 de março é apenas uma etapa, que não se trata apenas “de um encontro único entre todos os descontentes e irritados com Sarkozy”. O que buscam é unir-se e consolidar-se para mudar o estado das coisas.

Traduzido por: Cristieni Castilhos

Para acessar o texto original, clique aqui.
 
Imagem retirada daqui

Nenhum comentário: