segunda-feira, 8 de março de 2010

PNBL – Sobre os preços de banda larga da Telebrás.

 
Lucas Santos


A informação de que o Governo Federal pretende fixar o preço do 1Mbps de internet banda larga a R$35,00, confesso que me decepcionou em um primeiro momento.

Apesar de ser um grande avanço em relação ao preço absurdo que vigora hoje no mercado nacional, comparando-se a outros países - e mesmo à condição de muitos brasileiros pobres - vemos que ainda teremos um preço de conexão banda larga elevado.
Leia também: Comparação do preço da banda larga, no Brasil e no mundo.

Pareceu-me que o Governo estava agindo da mesma maneira que na questão da Tv Digital – privilegiando o intere$$e das empresas privadas, em detrimento do interesse público.
Porém, hoje pensando sobre o assunto cheguei à conclusão de que o Governo, ao ser moderado, agiu corretamente.

Primeiro: as Teles já estão fulas da vida com esse preço de 35,00R$ (já com impostos) a ser praticado pela Telebrás. Se o preço fosse mais baixo, obviamente a oposição desse grupo de poderosas empresas seria ainda maior – o que tem suas consequências, inclusive na questão da eleição de Dilma.

Quanto mais o Governo Lula mexer com o intere$$e das Teles, mais elas entram com entusiasmo na candidatura Serra. E se Dilma não for eleita, adeus inclusão digital.

Segundo: um preço muito baixo geraria uma enorme demanda, logo de início. A Telebrás, como ainda está se estruturando, é possível que não consiga atender a essa demanda inicialmente, deixando muitos potenciais compradores frustrados. O PiG obviamente iria bombardear a estatal, relembrando os tempos em que ela não conseguia (na verdade, não podia) atender à demanda por telefonia.
Ou seja, a esse preço - R$35,00 - o Governo consegue enfrentar a chiadeira das Teles, e a Telebrás não enfrentará logo de início uma demanda altíssima por seus serviços, o que lhe permite se organizar melhor para, futuramente, expandir sua oferta de banda larga.


E como o preço cairá mais, permitindo a inclusão plena?

A entrada de uma estatal no ramo da banda larga permite um pulo do gato que, talvez, já se esconda por trás dessa moderada decisão de preço/velocidade anunciada pelo Governo.
Por exemplo: de início, vende-se 1 Mb a R$35,00. Amplia-se consideravelmente o número de pessoas conectadas à rede, porém muitos ainda ficariam de fora. A este valor, as Teles esperneiam mas aceitam.
Num segundo momento, a Telebrás pode dar um passo a frente, aumentando a velocidade e mantendo os preços. Por exemplo: passa-se a vender 2 Mb por 35,00 reais e 1 Mb a R$20,00. Ou seja, a estatal – e, no caso brasileiro, somente uma estatal pode fazer isso – fará com que os preços caiam, aumentando a velocidade.
A 20 reais, o número de brasileiros ligados à rede será ainda maior. Em um terceiro momento pode-se repetir a dose, aumentando de 2 para 4 Mb de velocidade, mantendo os preços. Isso faria com que os preços caíssem, por exemplo: 2 Mb por 20,00 e 1 Mb por 15,00.
Isso só é possível porque uma estatal pode e deve operar não apenas com a lógica de mercado (visando o lucro), mas também como uma indutora do bem-estar da sociedade.

A lógica das telefônicas da vida é investimento zero, lucro máximo. Já a Telebrás terá papel de investir e gerar concorrência, o que forçará as empresas do ramo a investir também. Essa concorrência trará melhores serviços, preços mais baixos e, por conseguinte, a inclusão digital. Mas isso só se dará – ao contrário do que os liberais pensam – com a intervenção do Estado no Mercado. O Mercado livre gerou esse monstro das Teles no Brasil.

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