No dia em que a equipe de futebol do Paraguai, na copa do mundo joga contra o Japão, tentando pela primeira vez, chegar às quartas de finais desse torneio, Juremir Machado faz uma reflexão do país vizinho, que se assemelha muito aos demais da america latina, como consequencia dos saques e da espolição sofrida ao longo da colonização e das ditaduras militares. leia abaixo o texto na íntegra que foi publicado no Correio do Povo...
Triste ParaguaiO jornal espanhol “El Pais” fez a reportagem sobre o Paraguai que a mídia brasileira não faz por conservadorismo. Mostrou que um pequeno exército guerrilheiro, com cerca de 20 integrantes, o EPP (Exército do Povo Paraguaio), é o resultado da miséria absoluta gerada por um país de grandes fazendeiros fora da lei, reunidos numa tal de Associação Rural, cujo principal objetivo é forçar a derrubada da mata nativa que resta e evitar o pagamento de impostos sobre a exportação de soja e carne. Segundo a matéria do “El Pais”, o Paraguai tinha até pouco tempo fazendas com mais de 400 mil hectares, uma delas com mais de 300 km de frente cercados. Ou seja, o horror como latifúndio. Quem se importa com isso no Brasil? A nossa mídia está mais preocupada em chamar o presidente Fernando Lugo de populista e em contar os seus filhos. A reportagem revela aspectos sensacionais: “A Comissão de Verdade e Justiça, criada com a ajuda da ONU, estima que 64% das cessões realizadas desde 1954 – desde a chegada ao poder do ditador Alfredo Stroessner – foram ilegais: centenas de milhares de hectares de terras invadidos e dezenas de milhares de agricultores despojados e maltratados”. Deve ser por isso que a direita, em qualquer lugar, sempre rejeita propostas de criação de comissões da verdade. O generoso Brasil deu asilo ao ditador Stroessner. O primeiro presidente “democrático”, segundo o jornal “El Pais”, não fez melhor pelos seus compatriotas: “O ex-presidente Andrés Rodríguez, por exemplo, que expulsou Stroessner quando este fechou sua firma de câmbio, já tinha se apossado de milhares de hectares e aproveitou o cargo para se apoderar de outros 2 mil. Foi o primeiro presidente democrático, para dizer algo, mas segundo o governo dos EUA o general Rodríguez também era o chefe do chamado Cartel do Paraguai, encarregado, como o próprio Stroessner, de proteger os bandos de traficantes de maconha e as fabulosas redes de contrabando que operavam e operam no país”. Não me lembro de ter lido isso em jornais como o Estadão? A minha memória, em todo caso, é muito fraca. O Brasil tem parte nesse latifúndio. Boa parte das terras da região onde transitam os guerrilheiros do EPP pertence a empresas verde-amarelas, entre as quais a tal Mate Laranjeira. O negócio, ao que parece, é espetacular: imposto zero, a utopia de muitos liberais brasileiros, Estado mínimo, lei do mais forte, mão de obra barata, quase escrava, ausência de custo do trabalho, inexistência de sindicatos para incomodar e terras fartas e férteis a dar com um pau. O pau é dado no lombo da peonada para que ela seja produtiva. Um paraíso nada falso. Problemas surgem vez ou outra. Por exemplo, um fazendeiro sequestrado e um resgate a pagar. Aí, sim, os produtores rurais reclamam a presença do Estado. Um jovem paraguaio cansado de guerra compreendeu tudo, o que se pode apreciar nesta fórmula genial: “Os fazendeiros só querem o exército, e não o Estado". É um fenômeno muito comum, do qual o Brasil não escapa. Ainda há muitos “investidores” e “produtores” que do Estado só querem a repressão, a mão armada, de preferência, gratuita, ou paga com impostos de outros. O sonho de alguns é que a massa pague impostos para armar os exércitos capazes de reprimi-la. Triste Paraguai. Tão longe, tão próximo. O jornal “La Nacíon” espantou-se, porém, unicamente com a descoberta de uma cartilha do EPP, que publicou e transformou numa prova de que algo vai mal no Paraguai. O resto, claro, vai muito bem. |
Um comentário:
PARA CONOCER LA VERDAD SOBRE EL CURA FERNANDO LUGO, FIJENSE:
http://nyc.indymedia.org/es/2010/06/111427.html
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