Brizola Neto em seu blog tijolaço
O presidente boliviano Evo Morales, com sua sensibilidade indígena e
profundo sentido dos elementos da natureza, deu um xeque-mate na ONU ao
apresentar um projeto para que o acesso à água seja declarado um
direito humano. O argumento irrespondível foi simples como a jogada
mortal do xadrez: Se um dos Objetivos do Milênio para 2015 é a dotação
de água potável e saneamento em todo o mundo, como atingi-lo sem
declarar a água como um direito humano inalienável.
Evo usou não apenas sua habilidade de enxadrista, que enfrentou mês
passado o ex-campeão mundial Anatoly Karpov, como a prórpia experiência
boliviana. Em 1999, a empresa norte-americana Bechtel assinou contrato
com então governo boliviano do general Hugo Banzer para privatizar a
água em Cochabamba, a terceira cidade da Bolívia. Com a privatização,
veio o aumento do preço da água que chegou a quase 180%. A conta de água
chegou a 20 dólares por mês num local em que o salário mínimo era
inferior a 100 dólares mensais.
Os camponeses se levantaram, cercaram a cidade e após idas e vindas,
com prisões, assassinatos e censura, a Bechtel foi expulsa do país e o
controle da água retomado pela população. Um dos lemas dos bolivianos à
época era “a água é um presente de Deus e não uma mercadoria.”
Estima-se que mais de um bilhão de pessoas,
principalmente no mundo em desenvolvimento, não têm acesso à água, e o
Banco Mundial prevê que dois terços da população mundial sofrerá com a
falta de água em 2025. A privatização da água agrava este quadro de
exclusão.
Evo Morales, o índio que a elite boliviana e sul-americana tenta
apresentar como incapaz, revela sua grandeza ao estender sua precupação
para o mundo. “Em alguns países, infelizmente, a água está como um
direito e negócio privado, quando deveria ser de serviço público… Sem
água não podemos viver”, disse Evo quando apresentou seu projeto hoje,
em La Paz.
A proposta de Evo merece se tornar bandeira de todos nós que estamos
comprometidos com o ser humano e o bem estar social. A privatização dos
recursos hidricos é um crime que não podemos tolerar.
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