Roberto Malvezzi - Correio da Cidadania | |
A sucessão de tragédias, que antes chamávamos de emergenciais, agora vai se tornando cotidiana.
Meu irmão de música e caminhada, Magalhães, é coordenador do "Setor de
Emergências" da Cáritas Brasileira. Temos um acordo comum quando nos
encontramos para reuniões das pastorais sociais: pela noite só falamos
de música, ou tocamos violão, ou vamos ver alguma apresentação de boa
música. Foi assim que vi no Clube do Chorinho, Brasília, uma
apresentação de Paulo Moura, um dos maiores saxofonistas do mundo,
falecido esses dias atrás.
Acontece que Magalhães agora não tem mais sossego. Das enchentes do
Maranhão para as enchentes de Santa Catarina, para o terremoto do Haiti,
para as enchentes do Piauí, Maranhão e Ceará, para as enchentes de
Pernambuco e Alagoas. Basta ligar a televisão e, quase rotineiramente,
lá está uma campanha emergencial da "Cáritas e CNBB".
Faz alguns anos levamos para dentro da CNBB, a partir das Pastorais
Sociais, o desafio assustador do Aquecimento Global. Nas Pastorais
Sociais, mesmo nos movimentos sociais, parecia algo absolutamente
estranho. Quantas vezes foi preciso ouvir que "a questão ambiental é um
problema da classe média". Muitas vezes é preciso ter paciência mesmo
com as populações com as quais trabalhamos.
No documento que elaboramos sobre a mudança climática "Aquecimento
Global: profecia da Terra", já alertávamos que ele tem o dom de tornar
pior tudo que já é ruim.
O aumento da temperatura gera obviamente mais calor, intensifica a
evaporação das águas, provoca, em conseqüência, chuvas torrenciais,
enquanto no outro extremo provoca secas, destrói a agricultura, provoca
enchentes, destrói cidades, arrasa a economia das famílias, força
migrações, mata pessoas.
Como prevêem os cientistas, a cada grau a mais na temperatura, o aumento
desses fenômenos extremos se agrava de forma assombrosa. O cenário mais
aterrador foi projetado por James Lovelock em sua modelação de
computador: se a concentração de CO2 na atmosfera atingir 500 ppm (parte
por milhão), a temperatura da Terra vai disparar de forma geométrica,
restando ao final um planeta tórrido, com vida apenas onde hoje estão os
pólos. Para ele, se a humanidade continuar com o nível de emissão
atual, em quarenta anos chegará a esse patamar.
Diante de tragédias tão cotidianas, parece que apenas o governo
brasileiro e a elite do agronegócio continuam "sem olhos para ver,
ouvidos para ouvir, coração para sentir". A mudança no Código Florestal
nos empurra ainda mais para o Aquecimento Global.
Mas, não é só ele. Continuar queimando energia fóssil, sobretudo
petróleo, é também uma forma de contribuir para que as tragédias se
tornem cada vez mais cotidianas. Quem vai ousar questionar o Pré-sal?
Só os loucos podem sonhar em mudar essa rota. Afinal, como já ouvi, "tem gente demais na face dessa Terra"
Roberto Malvezzi (Gogó), ex-coordenador da CPT, é agente pastoral.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
terça-feira, 27 de julho de 2010
Emergência vira rotina
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