quinta-feira, 1 de julho de 2010

Modelo econômico e dependência

  Waldemar Rossi  - Correio da Cidadania 
 
O Estado de S. Paulo do dia 27 último, em seu caderno sobre Economia, dá destaque para o fato de que o Brasil está importando mais do que em qualquer outro tempo. Importação de material que já deveria estar sendo fabricado no Brasil há décadas.
 
Importamos de tudo, desde máquinas, computadores e todos os seus componentes a minerais não metálicos, tecidos, carros em larga escala, além das bugigangas que vêm da China e de outros países asiáticos. São rios de dinheiro que saem, garantindo emprego naqueles países, enquanto nossa juventude fica à mercê do desemprego ou dos baixos salários e trabalhos precários.
 
Desde os tempos da ditadura militar, de tão triste memória, que o Brasil adotou um modelo econômico dependente do capital transnacional (à época chamado de multinacional), predador, em profundo prejuízo para a economia e para o povo brasileiro.
 
Convém não esquecermos que Getúlio Vargas vinha pondo em prática um modelo de desenvolvimento industrial nacionalista, isto é, com tecnologia nacional – embora retardatária em relação à Europa e Estados Unidos –, amparada nos recursos financeiros acumulados pelos barões do café e do leite, além, é claro, dos maravilhosos "incentivos" do próprio governo que direcionava dinheiro do orçamento nacional (dinheiro do povo, portanto) para garantir que a indústria crescesse aqui sem depender do capital internacional. Tratava-se, sem dúvidas, de um modelo capitalista, porém escorado numa concepção nacionalista.
 
Quem mudou definitivamente essa direção da nossa economia foram os militares, aliados históricos do imperialismo estadunidense, com o apoio político da famigerada UDN (União Democrática Nacional), partido de extrema-direita da época. A adoção do modelo industrial multinacional viria a colocar o Brasil sob a total dependência do capital alienígena, que sempre visou nos explorar ao máximo. Depois de alguns anos de grandiosa produção em larga escala, o modelo começou a mostrar seu "canto de sereia" que levou milhões de brasileiros a se deslocarem do campo para os grandes centros em busca da felicidade alardeada pela mídia. Entrou em declínio de produção e de vendas, gerando desemprego e todas as suas graves conseqüências.
 
Porém, o capital aqui instalado não aceitou reduzir seus lucros e nem perder o controle sobre nossa economia. Jogou pesado para assegurar que os que viessem suceder os governos militares estivessem sob seu comando. E conseguiu. O grande vilão da nova fase da vida política do país – chamada de "democrática" – viria a ser principalmente o PSDB, um partido composto de "cidadãos" que tinham sido de esquerda anos antes, mas que já tinham sido cooptados pelo poder do capital neoliberal, via FHC, que fora guinado a ministro de Relações Exteriores.
 
Se não foi o único vilão da época, o tucanato se prestou a fazer o grande jogo de colocar o país ainda mais dependente do capital transnacional. Nossas empresas estatais, estratégicas para o desenvolvimento econômico nacional, foram "leiloadas" e entregues "de mãos beijadas" às grandes empresas, em sua maioria estrangeiras (americanas, européias, japonesas...).
 
Por outro lado, o mesmo tucanato ampliou consideravelmente a política de produção do setor primário – extração mineral e produção agropecuária – para a exportação. Objetivo: garantir a entrada de dólares, que o governo foi comprando com dinheiro do orçamento federal, a juros elevadíssimos, para fazer o "superávit-primário", e com isso garantir os compromissos com a agiotagem das Dívidas Externa e Interna, sem reduzi-las, porém.
 
Se os tucanos traíram o povo brasileiro, a política "lulo-petista" não deixou por menos. Somos hoje muito mais dependentes do capital internacional e vivemos ao sabor dos seus humores. Assim, a cada oscilação do mercado internacional - que vai se tornando cada vez mais freqüente -, a economia brasileira se põe em sobressaltos. Em pouco tempo, as aparentes recuperações da economia e do emprego entram novamente em recesso. E quem sofre as conseqüências desse vai e vem da economia em crise são em primeiríssimo lugar os trabalhadores.
 
No início do governo Lula (2003), os movimentos sociais de âmbito nacional se organizaram, desenvolveram amplo debate sobre os rumos da política econômica nacional aplicada também pelo governo petista. Apresentaram documento apontando para os "gargalos" que vêm travando o desenvolvimento econômico do país, indicando onde o dinheiro do povo deveria ser aplicado para que, em poucos anos, pudéssemos alcançar a nossa autonomia, gerando postos de trabalho permanentes, promovendo distribuição de renda e, de fato, ir progressivamente eliminando a pobreza e a miséria reinantes em nosso país, desde os tempos coloniais.
 
No entanto, Lula virou as costas para os movimentos sociais, que foram parte importante para sua eleição. Mas o documento está "guardado na lata do lixo do Palácio do Planalto" e o povo paga um preço muito caro por tamanho desprezo para com as suas necessidades vitais. Não é por menos que os grandes empresários nacionais e internacionais estão felicíssimos com o desempenho do governo petista, pois nunca poderiam imaginar que o lulo-petismo fosse mais eficaz que o tucanato.
 
Não se iludam os amantes e defensores incondicionais da política lulista. O tempo se encarregará de revelar o grau de tamanha traição, como vem mostrando o que foi a traição nacional dos militares golpistas, pois "um governo que semeia ventos fará seu povo colher tempestades".
 
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

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