Waldemar Rossi - Correio da Cidadania | |
O Estado de S. Paulo do dia 27 último, em seu caderno sobre Economia, dá
destaque para o fato de que o Brasil está importando mais do que em
qualquer outro tempo. Importação de material que já deveria estar sendo
fabricado no Brasil há décadas.
Importamos de tudo, desde máquinas, computadores e todos os seus
componentes a minerais não metálicos, tecidos, carros em larga escala,
além das bugigangas que vêm da China e de outros países asiáticos. São
rios de dinheiro que saem, garantindo emprego naqueles países, enquanto
nossa juventude fica à mercê do desemprego ou dos baixos salários e
trabalhos precários.
Desde os tempos da ditadura militar, de tão triste memória, que o Brasil
adotou um modelo econômico dependente do capital transnacional (à época
chamado de multinacional), predador, em profundo prejuízo para a
economia e para o povo brasileiro.
Convém não esquecermos que Getúlio Vargas vinha pondo em prática um
modelo de desenvolvimento industrial nacionalista, isto é, com
tecnologia nacional – embora retardatária em relação à Europa e Estados
Unidos –, amparada nos recursos financeiros acumulados pelos barões do
café e do leite, além, é claro, dos maravilhosos "incentivos" do próprio
governo que direcionava dinheiro do orçamento nacional (dinheiro do
povo, portanto) para garantir que a indústria crescesse aqui sem
depender do capital internacional. Tratava-se, sem dúvidas, de um modelo
capitalista, porém escorado numa concepção nacionalista.
Quem mudou definitivamente essa direção da nossa economia foram os
militares, aliados históricos do imperialismo estadunidense, com o apoio
político da famigerada UDN (União Democrática Nacional), partido de
extrema-direita da época. A adoção do modelo industrial multinacional
viria a colocar o Brasil sob a total dependência do capital alienígena,
que sempre visou nos explorar ao máximo. Depois de alguns anos de
grandiosa produção em larga escala, o modelo começou a mostrar seu
"canto de sereia" que levou milhões de brasileiros a se deslocarem do
campo para os grandes centros em busca da felicidade alardeada pela
mídia. Entrou em declínio de produção e de vendas, gerando desemprego e
todas as suas graves conseqüências.
Porém, o capital aqui instalado não aceitou reduzir seus lucros e nem
perder o controle sobre nossa economia. Jogou pesado para assegurar que
os que viessem suceder os governos militares estivessem sob seu comando.
E conseguiu. O grande vilão da nova fase da vida política do país –
chamada de "democrática" – viria a ser principalmente o PSDB, um partido
composto de "cidadãos" que tinham sido de esquerda anos antes, mas que
já tinham sido cooptados pelo poder do capital neoliberal, via FHC, que
fora guinado a ministro de Relações Exteriores.
Se não foi o único vilão da época, o tucanato se prestou a fazer o
grande jogo de colocar o país ainda mais dependente do capital
transnacional. Nossas empresas estatais, estratégicas para o
desenvolvimento econômico nacional, foram "leiloadas" e entregues "de
mãos beijadas" às grandes empresas, em sua maioria estrangeiras
(americanas, européias, japonesas...).
Por outro lado, o mesmo tucanato ampliou consideravelmente a política de
produção do setor primário – extração mineral e produção agropecuária –
para a exportação. Objetivo: garantir a entrada de dólares, que o
governo foi comprando com dinheiro do orçamento federal, a juros
elevadíssimos, para fazer o "superávit-primário", e com isso garantir os
compromissos com a agiotagem das Dívidas Externa e Interna, sem
reduzi-las, porém.
Se os tucanos traíram o povo brasileiro, a política "lulo-petista" não
deixou por menos. Somos hoje muito mais dependentes do capital
internacional e vivemos ao sabor dos seus humores. Assim, a cada
oscilação do mercado internacional - que vai se tornando cada vez mais
freqüente -, a economia brasileira se põe em sobressaltos. Em pouco
tempo, as aparentes recuperações da economia e do emprego entram
novamente em recesso. E quem sofre as conseqüências desse vai e vem da
economia em crise são em primeiríssimo lugar os trabalhadores.
No início do governo Lula (2003), os movimentos sociais de âmbito
nacional se organizaram, desenvolveram amplo debate sobre os rumos da
política econômica nacional aplicada também pelo governo petista.
Apresentaram documento apontando para os "gargalos" que vêm travando o
desenvolvimento econômico do país, indicando onde o dinheiro do povo
deveria ser aplicado para que, em poucos anos, pudéssemos alcançar a
nossa autonomia, gerando postos de trabalho permanentes, promovendo
distribuição de renda e, de fato, ir progressivamente eliminando a
pobreza e a miséria reinantes em nosso país, desde os tempos coloniais.
No entanto, Lula virou as costas para os movimentos sociais, que foram
parte importante para sua eleição. Mas o documento está "guardado na
lata do lixo do Palácio do Planalto" e o povo paga um preço muito caro
por tamanho desprezo para com as suas necessidades vitais. Não é por
menos que os grandes empresários nacionais e internacionais estão
felicíssimos com o desempenho do governo petista, pois nunca poderiam
imaginar que o lulo-petismo fosse mais eficaz que o tucanato.
Não se iludam os amantes e defensores incondicionais da política
lulista. O tempo se encarregará de revelar o grau de tamanha traição,
como vem mostrando o que foi a traição nacional dos militares golpistas,
pois "um governo que semeia ventos fará seu povo colher tempestades".
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral
Operária da Arquidiocese de São Paulo.
|
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Modelo econômico e dependência
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário