Mário Augusto Jakobskind
Não é preciso ser nenhum especialista em questões midiáticas para
constatar que os grandes proprietários de veículos de comunicação estão
colocando as asas de fora, cada vez mais na base da ampliação do esquema
do pensamento único. Os debates em torno da democratização dos meios de
comunicação se ampliam com a participação de mais brasileiros e isso
contraria interesses dos barões da mídia.
O tema ainda não se faz presente nos debates dos candidatos à
Presidência da República, Sabem o motivo? Os editores dos veículos de
comunicação procuram a todo custo evitar que o tema aflore. Testem se o
que está sendo dito aqui procede ou não, fazendo perguntas onde haja
debates com os candidatos. Aguardem para ver o que acontece, ou seja,
de um modo geral as perguntas não aparecem. Mas se os interessados
insistirem com as perguntas é possível que em algum momento acabem
tornando-se visíveis. Vale o teste.
Nas últimas semanas a questão da mídia foi objeto de pronunciamento
do presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Alejandro
Aguirre, que chegou ao cúmulo de afirmar que no Brasil há restrições à
liberdade de imprensa e acusou o Presidente Lula de não ser “democrata”,
o que valeu uma moção de repúdio da Comissão de Liberdade de Imprensa e
Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa. Para a Comissão,
Aguirre na prática “estimula setores conservadores a promover denúncias
sem fundamento e que no fundo tentam encobrir debates sobre a questão
da mídia e a disposição para que o setor seja democratizado”.
Fazendo coro com a SIP, O Globo e outros órgãos de imprensa da mesma
linha volta e meia se posicionam demonstrando preocupação com um
suposto “chavismo” por parte do atual governo brasileiro e mesmo da
candidata apoiada por Lula, Dilma Roussef.
O Globo, O Estado de S. Paulo, a Folha de S. Paulo, as revistas Veja e
Época, entre outros órgãos de imprensa integrantes da SIP, simplesmente
colocam as mangas de fora na defesa dos seus interesses, pois sabem
perfeitamente que com a ampliação das discussões sobre o tema mídia,
mais possibilidades acontecem no sentido da redução do poder absoluto
que mantêm sobre os corações e mentes dos brasileiros.
Querendo ou não os barões da mídia, o tema terá que ser discutido por
amplos setores da sociedade brasileira que almejam o aprofundamento da
democracia no país.
Nesse sentido vale assinalar que a Unesco
(Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura) avalia que o
Estado, ou seja, o Poder Público deve impedir a concentração indevida
no setor de mídia e assegurar a pluralidade. E para que isso aconteça,
segundo ainda a Unesco, os governos podem adotar regras para limitar a
influência que um único grupo pode ter em um ou mais setores.
E tem mais, a Unesco entende que “os responsáveis
pelas leis antimonopólio precisam atuar livres de pressões políticas” e
que "as autoridades devem ter, por exemplo, o poder de desfazer
operações de mídia em que a pluralidade está ameaçada”.
É isso aí, o tema está na ordem do dia, para
desespero dos ”democratas” da mídia de mercado, que nos últimos tempos
ficaram ainda mais ousados na defesa com argumentos frágeis e que não
resistem a um maior aprofundamento, como, por exemplo, a defesa
incondicional da liberdade de empresa com o argumento de liberdade de
imprensa.
Por estas e muitas outras está na hora do mundo
político ter a coragem de se posicionar, ou seja, dizer o lado em que
estão. Pode ser até incômodo para certos setores mostrar a cara, porque
a linguagem da hora do vamos ver exige definições. Mas para que isso
aconteça é preciso que maiores contingentes de brasileiros cobrem
posicionamentos dos seus representantes nos poderes Executivo e
Legislativo.
Podem crer numa coisa: a hora da verdade midiática
está mais próxima do que imaginam os senhores barões da mídia. E por
isso, estejam certos os leitores, os jornalões e as emissoras de
televisão aumentarão o tom da cantilena segundo a qual no Brasil há
“perigo” de restrições à liberdade de imprensa, uma balela que a SIP, a
pedido de seus integrantes brasileiros, já encampou.
No mais, ao apagar das luzes do governo Álvaro
Uribe, a pedido provavelmente do Departamento de Estado, fabricou-se uma
crise com a Venezuela em função da insistência da mentira segundo a
qual as Farcs montaram acampamentos em território venezuelano. Uribe,
com o sinal verde de Hillary Clinton, quer porque quer o aumento do
estado de tensão na região, o que poderá resultar no descontrole da
situação e derivar numa crise ainda maior do que a atual. Podem crer que
a orquestração do conservadorismo vai se ampliar.
E o Comitê de Direitos Humanos da Organização das
Nações Unidas denunciou que na Colômbia os paramilitares gozam de total
impunidade. Mas O Globo prefere ignorar o fato e apoiar Uribe, da mesma
forma que apoiou historicamente outros presidentes de direita em várias
partes do mundo, bem como ditaduras na América Latina.
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