A popularidade do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e de seu
projeto de revolução serão avaliados nas urnas neste domingo, quando
mais de 17 milhões de venezuelanos são esperados nas urnas para definir a
recomposição do Parlamento, governado durante cinco anos por uma
maioria governista.
Há 11 anos no poder, o presidente aposta em sua popularidade para
conseguir votos. "Chávez sabe que estão em jogo as eleições de 2012, que
junta a escolha simultânea para governadores, prefeitos e presidente",
afirmou o analista político Javier Biardeau, professor da Universidade
Central da Venezuela.
Foto: AP
O presidente Hugo Chávez pediu aos eleitores "uma vitória por nocaute" para defender o "socialismo bolivariano"
Durante a campanha, o presidente percorreu vários Estados do país em
caravanas que foram seguidas por milhares de simpatizantes, convertendo
essa eleição parlamentar, mais uma vez, em um plebiscito sobre sua
futura candidatura à reeleição, em 2012, e sobre o projeto de construção
do chamado "socialismo do século 21".
"Imagine se um esquálido (opositor) voltasse a governar em Miraflores
(sede do governo)? Tomariam de volta tudo o que a revolução deu para
vocês, coisa que não é nenhum favor do governo e sim um direito do povo,
de viver com dignidade. Por isso, enquanto Chávez for presidente,
continuarei trabalhando sem descanso com os deputados da revolução",
afirmou o presidente.
Para esse domingo, Chávez pediu a seus simpatizantes "uma vitória por
nocaute" para defender o "socialismo bolivariano". "Não menos de dois
terços (do Parlamento), esse é o calibre da vitória", afirmou Chávez, na
semana passada, durante um comício de campanha.
Pesquisas
De acordo com pesquisas de opinião, a base governista deverá
conquistar a maioria das cadeiras do Parlamento. No entanto, o chavismo
corre o risco de perder a maioria qualificada das 165 vagas em disputa, o
que permitiria à oposição frear a aprovação de leis que permitam
radicalizar o projeto da revolução bolivariana.
Foto: AFP
Eleições legislativas de domingo são cruciais para oposição retomar poder na assembleia
Se o governo conquistar a maioria simples, entre 99 e 109 das vagas no
Parlamento, estará obrigado a negociar com a oposição para a aprovação
de leis orgânicas e nomeação de representação das Cortes dos país. Com
110 parlamentares, o governo alcança a maioria qualificada e poderá
aprovar leis estruturais sem o apoio dos opositores.
"A cifra mágica para a radicalização será 125 deputados. Se consegue
isso tem luz verde para seguir", afirmou Javier Biardeau. Se obtiver
essas 125 vagas - cenário quase improvável de acordo com as pesquisas -,
o governo poderá interpretar este resultado como um sinal de que deve
pisar o acelerador das reformas.
Oposição
A oposição, por sua vez, também vê o pleito legislativo como uma
oportunidade para disputar o poder com o chavismo, na esteira do
descontentamento de alguns setores que antes simpatizavam com o governo.
"Vamos conquistar o que o país está esperando: uma Assembleia
Nacional multicolor, que governe para todos", afirmou o candidato
opositor Julio Borges, membro da Mesa da Unidade Democrática, grupo que
reúne as candidaturas dos partidos opositores.
Para o analista Edgardo Lander, a volta da oposição ao Parlamento
fortalece o sistema democrático representativo do país e fragiliza o
chamado "braço golpista" da oposição, que a seu ver, foi determinante
para levar os legisladores anti-chavistas a se retirarem da disputa
eleitoral de 2005, entregando o controle absoluto da Assembleia Nacional
à maioria governista. "Este grupo descartava por completo a via
eleitoral e o trabalho político. A lógica desse setor era que era
preciso derrubar Chávez e buscar apoio do Departamento de Estado dos
Estados Unidos", afirmou.
Para o analista político Javier Biardeau, o novo Parlamento passará a
ser uma "caixa de ressonância" das diferentes correntes políticas do
país. A seu ver, os parlamentares governistas, que legislaram durante
cinco anos sem adversário político, "terão de reconhecer que há uma
diversidade de forças além do chavismo no Parlamento, que terão voz
política e que, além disso, estarão apoiados por todos os meios de
comunicação privados", afirmou.
Edgardo Lander acredita que a oposição tende a se fortalecer nessas
eleições, porém, considera "pouco provável" que consiga organizar uma
candidatura unitária capaz de fazer frente à liderança do presidente
venezuelano. Esse cenário, no entanto, pode ser alterado, caso a
oposição conquiste uma maior quantidade de votos nas eleições
legislativas em relação ao governo. "Se isso ocorre, pode haver maiores
riscos para a candidatura à reeleição presidencial em 2012, mas ainda
assim, é improvável uma derrota de Chávez", afirmou.
De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral, 150 observadores
internacionais e 60 convidados de partidos políticos estrangeiros
acompanharão o pleito deste domingo. Mais de 12 mil centros de votação
serão protegidos por cerca de 250 mil militares. O voto na Venezuela é
facultativo.
Fonte: BBC - Brasil
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