O velho paradigma, do sem terra com a foice na mão enfrentando o
capanga do latifundiário, já era. Essa ideia — assustadora para a classe
média, romântica para uma certa esquerda e mortal para os descamisados —
será superada por um crescente enfrentamento entre a sociedade civil e o
modelo do agronegócio, de acordo com o coordenador nacional do
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile.
Por causa da correria dos últimos dias, ainda não pude escrever sobre
a hora e meia de entrevista que fiz, ao lado de Conceição Lemes, com o
Stédile. Farei isso aos poucos.
Para ele, o novo paradigma surge da consciência crescente da
população em relação aos danos ambientais causados pela monocultura
mecanizada de vastas extensões de terra, que envenena a água, o solo e o
ar, expulsa o homem do campo para as cidades, ameaça a biodiversidade e
é responsável por fazer do Brasil o maior consumidor de venenos
agrícolas do mundo.
Durante a entrevista, Stédile deu um exemplo: em 2006, quando as
mulheres da Via Campesina invadiram o horto florestal da Aracruz
Celulose, no Rio Grande do Sul, destruindo mudas de eucaliptos, pouco se
sabia no Brasil sobre o “deserto verde”, que resulta do plantio de
vastas extensões de eucalipto para a produção de celulose. Hoje, diz
Stédile, a própria Votorantim tem se mostrado flexível a discutir as
propostas do MST, que quer limitar em 20% a área de eucaliptos plantada
em um município.
Isso se deve, segundo Stédile, à própria reação de quem mora perto
dos “desertos verdes”: o eucalipto suga a água do solo, não permite que
vegetação se desenvolva entre as árvores — causando, entre outras
coisas, o sumiço das abelhas — e empobrece o solo.
Agora, no entanto, o MST não vai agir apenas no campo da política. O
movimento pretende demonstrar na prática a viabilidade econômica da
agricultura orgânica e está se preparando para produzir suco de uva
natural (sem produtos químicos no plantio e cuidado das uvas e sem
conservantes no produto final) e arroz orgânico para a merenda escolar.
Stédile imagina que os pais de alunos, os maiores interessados na saúde
dos próprios filhos, são aliados em potencial na luta contra a
agricultura devastadora patrocinada pelas grandes corporações.
Assim serão, também — imagina Stédile — os médicos, pesquisadores e
cientistas, quando ficarem mais claras as consequências do uso de
sementes geneticamente modificadas para a biodiversidade brasileira e
dos venenos associados a elas para a saúde pública.
Para quem quiser ter uma visão completa do que sugere Stédile, recomendo que ouçam a íntegra da entrevista, aqui. Garanto que vale a pena.
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