segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Para relaxar......e pensar....

O hipocondríaco é, antes de tudo, um forte

Tudo é uma questão de ponto de vista.
A frase é extremamente idiota, eu sei. Mas dessas pequenas idiotices do dia-a-dia a gente consegue extrair verdadeiras lições – ou são os sábios que zelam por nós condensando em pílulas de conforto instantâneo grandes ensinamentos?
Vamos exemplificar o ditado. Meu ortopedista. Grande sujeito, pai de um amigo meu. Um dia, deu uma opinião reversa sobre o senso comum que rodeia o meu prontuário médico e disse algo do tipo: “você não é uma pessoa fraca, pelo contrário, é muito forte – caso contrário, já teria empacotado”.
Vamos aos fatos: devido ao jornalismo, peguei muita pereba nesta vida. De malária, foram duas, falciparum, uma em Timor Leste e outra em Angola, durante coberturas. Não digo isso com orgulho, pelo contrário. Jornalistas da antiga contam que mediam-se carreiras pelo número de doenças tropicais contraídas. Mas o tempo passou e a régua foi para a quantidade de textos censurados, depois para processos na Justiça e o número de discursos inflamados de congressistas indignados. Ou seja, pegar malária durante o exercício da profissão virou coisa demodê, quiçá despreparada para usar um repelente caro do exército norte-americano.
Dengue foi uma, no interior da Paraíba, doída – sem manchas, pelo menos. Teve uma mononucleose do Punjab paquistanês. Dizem que é chamada de “doença do beijo”, pela forma de transmissão – a explicação que eu trouxe para casa (e que colou, graças a Deus) foi de que em muitos vilarejos, durante as refeições, o uso do copo era coletivo (isso mesmo, “do”, artigo, definido, masculino, singular). Com o treco circulando pela boca e pela mão de todos, não deu outra.
Outra vez, alguma porcaria se alojou perto do meu coração, gerando uma pericardite – o que me deixou uma semana internado, comendo boa comida. Nessa, achei que ia empacotar, tamanha a dor no peito logo no começo. Foi um período bom para terminar o mestrado. Tranquilo, sem muita gente ligando, cobrando textos ou dívidas.
Viroses e afins não entraram na lista, mesmo que ferozes, porque aí teríamos uma capivara e não um post. Aliás, a virose é a “pescada” da medicina. É aquele peixe genérico, que muitas vezes nem o médico sabe o que é mas, pelos sintomas, recebe o tratamento básico – água, alimentação leve e repouso.
(Ter na conta também o fato de ser hipertenso, conviver com uma cardiopartia, dois discos mal colocados na coluna e uma artrose torna a vida mais divertida – para dizer o mínimo. E como jornalismo é uma profissão relaxante e o Brasil nem tem problemas na área de direitos humanos, tá tudo na santa paz.)
E retornando ao pensamento inicial: pegar todas essas perebas em um contexto como esse e estar de pé a ponto de ser um (péssimo) goleiro e com o fígado pronto para aguentar os benefícios de um chope no final do expediente não é para qualquer um, meu irmão.
Por que o texto? Uai, nada melhor do uma escrita hipocondríaca para passar o tempo na espera do hospital.
Tudo (realmente) é uma questão de ponto de vista.

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