sábado, 20 de novembro de 2010

SALVE O 20 DE NOVEMBRO...VIVA ZUMBI DOS PALMARES....

Música rende homenagem a João Cândido, o Almirante Negro

A música "O Mestre-Sala dos Mares", de João Bosco e Aldir Blanc, composta nos anos 70, imortalizou João Cândido e a Revolta da Chibata. Como diz o samba, seu monumento estará para sempre "nas pedras pisadas do cais". O Vermelho reproduz, abaixo, a homenagem ao "Almirante Negro" e seus companheiros.

A letra da música teve que ser modificada várias vezes por conta da censura na época da ditadura militar. De acordo com Aldir Blanc, em depoimento reproduzido no site DHNet, "tivemos diversos problemas com a censura. Ouvimos ameaças veladas de que o Cenimar não toleraria loas e um marinheiro que quebrou a hierarquia e matou oficiais", diz o compositor.

Blanc conta que sua ida ao Departamento de Censura, por causa da música, o marcou profundamente. De acordo com ele, um sujeito lhe informou que ele estava substituindo, na letra de Mestre sala dos mares, palavras como revolta e sangue, mas o problema não era aquele: "O problema é essa história de negro, negro, negro...", disse o censor.

"Eu havia sido atropelado, não pelas piadinhas tipo tiziu, pudim de asfalto etc, mas pelo panzer do racismo nazi-ideológico oficial", relembra Aldir Blanc, contando que foi preciso "dar uma espécie de saculejo surrealista na letra para confundir. Metemos baleias, polacas, regatas e trocamos o título para o poético e resplandecente “O Mestre-Sala dos Mares”. Originalmente, o samba se chamava Almirante Negro ou Navegante Negro. Veja abaixo a letra da música e o vídeo no qual Elis Regina canta o samba na inauguração do Teatro Bandeirantes, em 1974.

Mestre sala dos mares


Por João Bosco e Aldir Blanc


Há muito tempo nas águas

Da guanabara

O dragão no mar reapareceu

Na figura de um bravo

Feiticeiro

A quem a história

Não esqueceu

Conhecido como

Navegante negro

Tinha a dignidade de um

Mestre-sala

E ao acenar pelo mar

Na alegria das regatas

Foi saudado no porto

Pelas mocinhas francesas

Jovens polacas e por

Batalhões de mulatas

Rubras cascatas jorravam

Das costas

Dos santos entre cantos

E chibatas

Inundando o coração,

Do pessoal do porão

Que a exemplo do feiticeiro

Gritava então

Glória aos piratas, às

Mulatas, às sereias

Glória à farofa, à cachaça,

Às baleias

Glórias a todas as lutas

Inglórias

Que através da

Nossa história

Não esquecemos jamais

Salve o navegante negro

Que tem por monumento

As pedras pisadas do cais.



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