por Rafiqa Salam Palestina, novembro 2010
comitepalestinasc@yahoo.com.br
Depois
de uns dias na Palestina tentando entender por que o mundo disputa esse
pedaço de terra, que tem apenas 27 mil km2 entre as lindas águas do mar
Mediterrâneo e o Rio Jordão, comecei a conversar com um palestino.
Fiquei intrigada com a certeza que aquele homem carregava em suas
palavras, cercadas de emoção. Afirmava: “Oitenta e uma vezes, você
sabia? Oitenta e uma vezes a Palestina foi invadida! E nós, palestinos,
estamos aqui, não saímos e não desistimos, com tudo o que passamos e,
agora, também vamos ficar e resistir, a Palestina é dos palestinos,
sempre.” Não pensei em relatar a força do exército israelense, o 4º
exército mais poderoso do mundo, pois eu estava na frente de um homem
que, aos 17 anos, entrou para a Organização pela Libertação da Palestina
– OLP! Serviu como soldado, treinou como guerrilheiro, realizou
trabalho civil e, forçado pela invasão sionista, viveu, ou melhor,
sobreviveu como refugiado em países vizinhos, como o Kuwait, Líbia,
Líbano, Jordânia... Em 1995, finalmente, conseguiu voltar para a sua
Palestina, mas não para a aldeia onde nasceu, essa ficou na lembrança,
não uma lembrança tão doce, conta ele: “Com 11 anos, em 1967, meu irmão e
eu saímos a pé, caminhamos, não só nós, minha família, muitos da
aldeia, caminhamos muitos dias, até chegarmos na Jordânia, ficamos em
campos de refugiados, por muito tempo pensava em minha aldeia,
Akraba...” Foi em Jericho a sua morada, por dez anos, num campo de
refugiados, onde as casas são de material compensado e não é possível
construir, nem aumentar, têm cerca de 50m2. Atualmente, um filho
permanece nessa casa e tem mais 32 famílias nesse campo esperando um
lugar para serem reassentadas, uma espera de mais de 15 anos... Não tive
coragem de perguntar se seria logo ou poderia demorar mais... Hoje,
ele, sua esposa e seu outro filho moram de aluguel em Betunnya, uma
situação difícil, por causa do custo de vida, mas não tão alto quanto
foi quase perder a vida ao ter que fugir do Kuwait depois da Guerra do
Golfo em 1991, em que uma coalizão de 33 países, liderados pelos Estados
Unidos, decidiu “proteger” o Kuwait do Iraque... Essa história nós já
conhecemos... Conta ele: “Eu e mais quatro amigos estávamos dentro de um
carro quando fomos atacados por bombas, fugimos pouco antes de
acertarem o carro e ele explodiu! Não sobrou nada! Caminhamos 48 horas e
entramos no Iraque, mas a nossa saga estava recém começando, fomos
presos pelo exército britânico, que nos entregou para o exército da
Arábia Saudita, e depois o exército americano tentou nos tirar da prisão
passando por “Cruz Vermelha”. Mas, na verdade, queriam nos matar,
fizemos greve de fome e, por fim, depois de 60 dias presos, um grupo de
franceses da Cruz Vermelha reconheceu nossos passaportes jordanianos e
nos levou até próximo à fronteira da Jordânia, nos deixou no deserto e
tivemos que caminhar em direção àquele país. Conseguimos carona e
entramos na Jordânia, pois desde o início da guerra nós saímos para ir
ao encontro de nossas famílias que lá estavam; nossos passaportes eram
jordanianos, mas eles achavam que éramos guerrilheiros da OLP...”
Percebendo a dor através de suas palavras, resgatei-o para o presente,
perguntei sobre a Palestina hoje, como construir o estado palestino, e
suas palavras estavam envoltas em um ânimo provocador, cobrando do mundo
a obrigação de defender a Palestina. Através do apoio global ao
processo de negociação com o Estado de Israel, perguntei, e sua resposta
foi enfática: “As negociações só servem para mostrar ao mundo que
Israel nada vai ceder, pois se eles quisessem acordo e respeitassem o
direito palestino, já teriam reconhecido o estado palestino.” Fiquei
muda, e ele continuou: “Uma árvore faz sombra para qualquer pessoa, ela
deita embaixo de um pé de oliveira e tem sombra, essa é a história do
povo palestino! Esse lugar é abençoado, três religiões nasceram aqui,
mas agora as coisas são diferentes, aqui tem escola que um palestino não
pode estudar, apenas judeu, tem estradas que carros árabes não podem
transitar, só quem tem placa amarela, eu tenho uma carteira de
identidade verde que me limita de circular apenas em algumas cidades e
não posso entrar na área de 1948, e minha carteira de identidade tem um
número que me diferencia, eles criaram uma série para aqueles que foram
membros da OLP. Então, se quiserem nos prender, passam a série num
checkpoint e, pelo número, somos identificados!” Depois desse relato,
como perguntar se ele acredita na construção do estado palestino, na
Palestina livre? Meio sem graça, acabei perguntando, então ele
respondeu, com as palavras que iniciou essa conversa: “Oitenta e uma
vezes, você sabia? Oitenta e uma vezes a Palestina foi invadida! E nós,
palestinos, estamos aqui, não saímos e não desistimos, com tudo o que
passamos. E agora, também vamos ficar e resistir, a Palestina é dos
palestinos, sempre. Você não liberta uma cidade de um invasor apenas com
um buquê de flores! Através de negociações e de outras formas e,
principalmente, com o fim do apoio dos países europeus e dos Estados
Unidos para a construção de assentamentos judaicos, é possível a
construção do estado palestino”. Agradeci, entusiasmada com a
persistência palestina!
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Palestina livre! Viva a Intifada! Resitência até a vitória!Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino"Um beduíno sozinho não vence a imensidão do deserto, é preciso ir em caravana"
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