terça-feira, 14 de dezembro de 2010

ABU - NÃO - DA - BI

Por estar arrasado, indignado e para não escrever besteiras faço minhas as palavras de Marco Weisseimer, no seu blog RsUrgente

O preço da soberba: o Inter “preservou” tanto seu time que ele ficou em Porto Alegre


Havia algo de estranho no ar. Um certo aroma de anti-clímax. Milhares de colorados atravessaram mares e continentes para chegar aos Emirados Árabes. A confiança era grande. Muito grande. Mas havia algo de estranho no ar. Diferente do que ocorreu no Japão. Uma coisa chamou-me a atenção nos últimos dias. As entrevistas de jogadores, dirigentes e do técnico do Inter falavam do “nervosismo da estreia”, do “frio na barriga”, dos terríveis “minutos iniciais”. Não era a primeira vez que o Colorado participava de uma competição desse porte. Esses discursos pareciam dizer o contrário. Já entre a torcida o clima era de máxima confiança e esperança, razão que levou milhares de pessoas a viajar milhares de quilômetros.
No fim, o problema não foi o “frio na barriga” ou os “minutos iniciais”. Ao final do jogo, os comentaristas esgrimiam suas primeiras teses classificando a derrota do Inter para o Mazembe de “fiasco”, “vexame”. O Inter perdeu para um time ruim, repetiam em coro. O Mazembe pode até ser um time ruim. Mas, nos 90 minutos, o time ruim foi o Internacional. O Mazembe teve um goleiro que defendeu todas as bolas chutadas pelos atacantes colorados. Já o goleiro colorado não defendeu as duas que os africanos dispararam. A pontaria dos atacantes africanos funcionou. Já a do “ataque” colorado…A defesa e o ataque do Inter foram muito ruins. O time da República Democrática do Congo esbanjou força, confiança e eficiência. Não tiveram frio na barriga em nenhum momento do jogo.
Pior é ouvir, ao final do jogo, o inabalável Alecsandro dizer que fez uma boa partida no primeiro tempo e que só não fez um gol porque Tinga o atrapalhou. Aí podem ser encontradas algumas razões para a derrota. A permanência desse rapaz na equipe, após meses de repetidas atuações medíocres, é indicativo de uma certa soberba que aposta no valor de alguns supostos “medalhões”. Especialista em auto-promoção e em entrevistas sempre generosas consigo mesmo, o centroavante colorado saiu de campo repetindo o mesmo mantra de sempre: joguei bem. Imagine quando jogar mal.
Mas certamente ele não é o único responsável pela derrota. Os maiores responsáveis são os dirigentes do Inter e o técnico Celso Roth que passaram o segundo semestre repetindo que era preciso poupar o time para o Mundial. Após ganhar a Libertadores, o Inter arrastou-se pelo Campeonato Brasileiro, repetindo medíocres atuações, mais ou menos como a de hoje. Maior tempo de posse de bola e absoluta incompetência ofensiva. Toca pra cá, toca pra lá. Bola para Kleber. Chuveirinho pra área. Alecsandro sempre escondido atrás dos zagueiros, esperando uma falha da defesa. Na saída do jogo, um torcedor definiu bem esse quadro: o Inter passou seis meses sem jogar e acreditou que, num passe de mágica, voltaria a jogar bem em um jogo decisivo. Jogou exatamente o que vinha jogando.
Foi um fiasco, é verdade. Mas isso não é o principal. A derrota do Inter para o Mazembe mostrou que o futebol tem sua racionalidade própria. Na imensa maioria das vezes, vitórias e derrotas não são fruto do acaso, tem boas razões a explicá-las. O problema do Inter não foi o frio na barriga ou o nervosismo da estreia. O problema foi uma decisão equivocada de sua direção e de sua comissão técnica que desprezaram a ideia de que a qualidade no futebol tem a ver, entre outras coisas, com repetição, com a atitude de mudar o que não está funcionando. Não foi o nervosismo da estreia que derrotou o Colorado. Foi a soberba dos senhores Fernando Carvalho, Vitória Pífero e Celso Roth que acreditaram que o futebol apareceria num estalar de dedo, após meses guardado no armário, para se preservar. O Inter preservou tanto o futebol que foi campeão da Libertadores que ele acabou ficando em Porto Alegre. Agora é tarde. É enfiar a viola no saco e aguentar a flauta dos gremistas que não esperavam um Natal tão generoso. Resta o consolo (pequeno para um torcedor, é verdade) de que o futebol tem algo a nos dizer sobre a vida, seus acertos e erros. Os fiascos e os sucessos não caem do céu. Eles são cuidadosamente tecidos no dia-a-dia.

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