domingo, 30 de janeiro de 2011

A cidade que acolhe o FSM


Rita Freire
Dacar começa a compartilhar os primeiros espaços, atividades e expressões da sua cultura com visitantes que chegam para ajudar a construir o FSM.
Fotos: Antonio Pacor

Quem vier ao Fórum Social Mundial, com vontade de compartilhar idéias, experiências e propostas para um outro mundo possível, e tiver acolhida em alguma casa senegalesa, aprenderá também a compartilhar um cebu djen.
Ao meio dia de cada dia, famílias se reúnem em torno desse prato coletivo e popular, que consiste no preparo de um peixe com ervas, em cuja água de cozimento são imersos diferentes legumes, gerando o caldo a ser utilizado para o preparo do arroz. Tudo servido assim, com muitas colheres que avançam sobre os bocados do cebu dijen
Dacar começa a compartilhar as primeiras casas com visitantes que chegam para ajudar a construir o FSM. A casa de Lia, italiana que vive no Senegal a maior parte do ano, ensinando costura e estilismo em uma escola local, é uma delas. Procurada por outro italiano, o videomaker Paco, que facilita coberturas de video do Forum, assegurou estadia para vários colaboradores da comunicação.
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E foi assim que cheguei a Dacar, conhecendo Lia e seus alunos, que pensam em ir ao Fórum em busca de contatos de economia solidária, e com quem conheci Abi, a senegalesa da foto que motivou a reunião de todas essas pessoas em torno do prato mais apreciado do Senegal, preparado por ela para nos dar as boas vindas.
Enquanto almoçamos, são naturais algumas notícias sobre o FSM, como o informe de que Via Campesina trabalhará o tema da violência contra as mulheres no campo, ou a confirmação da Assembleia que debaterá perspectivas da comunicação. Reunirá gente da Africa, América Latina, Europa, e quiça da Asia e Oriente Médio. O programa com todas as atividades será impresso no domingo.
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É o segundo dia que eu e Paco passamos na cidade que acolherá o Fórum e já é possível sentir a ansiedade das pessoas encarregadas de organizar as bases do evento, com aquele sentimento de toda véspera de uma edição mundial, de que "tudo ainda está por fazer".
Nosso olhar esteve especialmente voltado para a comunicação, procurando as conexões potenciais entre as redes que compartilham informação sobre os temas do FSM e o trabalho local de cobertura e propagação do evento. Na Enda, organização de referência do FSM em Dacar, a equipe do escritório do FSM no Brasil já está ha mais dias e trabalha na organização de informações, na distribuição de atividades por eixos do FSM. No Centre Bopp, onde a comunicação se organiza, se formam e desfazem pequenas rodas multilingues de pessoas que chegam para ajudar.
Predominam no espaço os colaboradores locais do FSM e há uma certa ansiedade em relação à infraestrutura. Voluntários falam dos intervalos que algumas áreas da cidade enfrentam sem energia elétrica. Com os preços elevados do petróleo e gás, que estão na base do abastecimento local, o Senegal sofre. O problema afetará o FSM? Pessoas da organização acreditam que não, porque as instalações da universidade dispôem de geradores em caso de emergência.
A banda para internet é outra preocupação, que aliás se repete em todos os eventos centralizados do FSM. Para assegurar um bom fluxo de informações e pacotes audiovisuais do FSM para fora, é preciso garantir um mínimo de conexão e isso deve ser assegurado pela organização local junto à Universidade.
As coisas caminham, sob pressão e urgência, impulsionadas por lutas inadiáveis por outro mundo possível. As conversas sobre credenciamento e programa no Centre Bopp se misturam com outras, sobre gente que se levanta no mundo, e particularmente na Africa, como os jovens da Tunisia, com sua revolução Jasmin, a resistencia sarawi, ou a revolta da Costa do Marfim. Também se fala de uma Diáspora africana que terá no FSM uma oportunidade de voltar para casa. Um dia inteiro do FSM será dedicado à Diápora.
Os jovens de Dakar sentem o peso da responsabilidade e se expressam especialmente pela participação em atividades culturais - grande parte delas terá lugar naquele mesmo Centre Bopp, segundo participantes da Comissão de Cultura.
Neste sábado, haverá um concerto na capital senegalesa. Estarão no palco músicos de várias áreas da cidade para lançar um cd que gravaram em conjunto. A obra foi feita especialmente para acolher o FSM. Mil cópias serão vendidas durante o fórum.

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