quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Chegou a hora de uma nova ordem monetária internacional


A contínua diluição das dívidas em dólar pede a mudança para uma nova ordem multi-divisas. A defesa da revisão — pelos países ocidentais liderados pelos Estados Unidos — da forma como as atuais contas correntes são mensuradas expõe plenamente suas tentativas de transferir as responsabilidade dos desequilíbrios da economia global aos países que têm superavit no comércio exterior.


Por Zhang Monan, no China Daily via Portal Vermelho

Os desequilíbrios econômicos globais são em essência um resultado do desequilíbrio das vantagens trabalhistas comparadas entre diferentes países. Existem duas grandes divisões na atual economia global, nomeadamente o comércio e as finanças.

A primeira categoria é representada principalmente pela Alemanha, Japão e China, todos exportadores de commodities que sustentam um grande saldo positivo nas suas contas, e o segundo é representado pelos Estados Unidos e algumas nações europeias, que usufruem de grandes vantagens financeiras na exportação de capital e vários tipos de produtos financeiros e serviços que contribuem para seu grande déficit nas contas correntes.

Enquanto o setor industrial global foi transferido dos países desenvolvidos para os mercados emergentes, as economias desenvolvidas ainda conseguem reter seu status como centros financeiros mundiais.

Países em desenvolvimento, devido a seus sistemas e mercados financeiros menos vulneráveis, tiveram de empregar reservas monetárias estabelecidas por seus preços, ajustes, empréstimos e investimentos. Em resultado disso, as economias emergentes têm de sustentar uma taxa de câmbio cada vez maior e riscos de investimentos.

O gigantesco déficit nas contas correntes dos EUA é um reflexo do atual deslocamento da ordem monetária internacional. Em 31 de janeiro de 2011, o débito público estadunidense correspondia a US$ 14,13 trilhões, 96,4% do PIB do país, que é de US$ 17,7 trilhões.

Tomando vantagem de seu longo domínio monetário, os Estados Unidos têm uma longa história de abuso de crédito e seus déficits fiscais e comerciais aumentaram muito mais rapidamente que a produção. O volume dos débitos nacionais dos EUA em mãos de países e regiões estrangeiras tem se mantido em ascensão na última década e já significa 32% do valor total dos títulos em todo o mundo.

Entretanto, Washington habilmente utilizou o dólar como reserva monetária internacional para financiar seu débito nacional, promovendo sua circulação internacional em seu próprio benefício.

O sistema padrão dólar não só ajudou os EUA a circularem internacionalmente seu enorme débito nacional como também ajudou a maior economia do mundo a aumentar suas riquezas nacionais, por meio da monetização ou desvalorização do dólar. O status do dólar como principal moeda internacional também aumentou a capacidade dos Estados Unidos de liquidar sua dívida externa por meio da superprodução e emissão em excesso de papel moeda.

Somente de 2002 a 2006, os Estados Unidos diluiram o valor acumulado de US$ 3,58 trilhões de sua dívida nacional utilizando tal estratégia. Com a evaporação de grande volume das dívidas nacionais dos Estados Unidos, a riqueza de outros países, especialmente aqueles que possuiam papéis da dívida internan americana, tiveram sérias perdas nos últimos anos.

Em 2009, o valor global das reservas internacionais era pouco mais de 13% do PIB mundial. Deste valor, mais de 60% era de ativos baseados no dólar. No mesmo ano, o volume bruto dos ativos americanos em mãos de países estrangeiros, não incluindo aí os derivativos, era 1,25 vez o seu PIB nominal. Entretanto, a depreciação do dólar acelerou a transferência desta grande quantidade de riqueza, um processo no qual os Estados Unidos resultaram ser os maiores beneficiários.

A atual ordem monetária internacional baseada no dólar já fracassa em refletir os últimos desenvolvimentos da estrutura econômica global. Na ausência de um sistema monetário correspondente, a economia mundial está encontrando uma série de desafios e dilemas, induzidos pelas políticas conflitivas entre diferentes países em relação ao crescimento econômico, inflação, emprego e taxa de juros. Em resumo, a última crise financeira global é um ajuste inevitável das disparidades na distribuição dos juros globais e uma retificação de alguns problemas disparatados no processo da globalização.

Devido ao desequilíbrio da estrutura monetária global ter produzido um desequilíbrio nas contas correntes globais, tem havido fortes sinais da comunidade internacional por uma reforma do sistema monetário internacional, desde o início da crise financeira global. Seguindo a proposta da China de criar uma moeda super-soberana para as reservas internacionais, os países europeus, que estão diante da possibilidade da crise da dívida se alastrar, também clamaram pelo estabelecimento de uma moeda global, por meio de reformas do sistema monetário internacional, sob um mecanismo de consulta subordinado ao G20.

Considerando o alastramento internacional das críticas ao atual sistema monetário liderado pelo dólar, um sistema global diversificado permanece como uma boa opção para promover um desenvolvimento equilibrado e saudável da economia global.

O fim da hegemonia de décadas do dólar e a formação de um sistema multi-divisas, que inclua também o euro, o iene japonês e o iuane chinês, ajudará a economia global a se desenvolver em uma direção mais equilibrada.

O autor é pesquisador de economia do Centro Estatal de Informação.

Fonte: China Daily

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