Pastora Rosania Rocha (à esq.) e a missionária Lanna Holder
LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO
Lanna
Holder, a ex-lésbica, ex-drogada e ex-alcoólotra pregadora evangélica,
era a prova cabal do poder curador de Deus na vida dos que nele creem.
Pois foi só se converter ao evangelho, e Lanna, então com 20 anos,
deixou para trás um pelotão de namoradas suspirantes e as noitadas
movidas a cocaína e hectolitros de álcool, consumidos diariamente.
"Centenas
de ministérios disputavam "a tapas" a presença da carismática Lanna em
seus púlpitos. Em pouco tempo, ela se transformou em uma espécie de
"avatar da sorte" para quem quisesse manter sua congregação lotada",
escreve um pastor, a respeito da hoje desafeta.
Lanna subia ao altar e
contava com voz de contralto como o milagre ocorrera em sua vida
"dissoluta". A apoteose era quando apresentava o
maridão emocionado e o filho. O templo vinha abaixo.
Dezesseis anos
depois da conversão, a campeã da fé, agora com 36 anos, acaba de abrir
uma nova igreja evangélica em São Paulo, a Comunidade Cidade de Refúgio,
no centro de São Paulo.
Surpresa: em vez dos testemunhos de como se
curou da "praga gay", Lanna Holder rendeu-se à homossexualidade. Ela tem
até uma companheira na empreitada, a pastora e cantora gospel Rosania
Rocha, 38.
As duas estão juntas há cinco anos, desde que largaram os
maridos e oficializaram seus divórcios. No tempo em que era o troféu da
fé, Lanna lidou com o que hoje chama de "culpa extrema". "Eu pregava o
que desejava que acontecesse comigo", diz.
Para evitar reincidir,
mortificou a carne com jejuns e subidas e descidas de montes, em uma
espécie de cooper -para cansar mesmo.
Participou de "campanhas de
libertação" todas as quartas-feiras, incluindo rituais de quebra de
maldição e cura interior.
Por fim, submeteu-se a sessões de "regressão ao útero materno", nos
moldes preconizados no início do século 20 pelo terapeuta Otto Rank
(1884-1939). "Não deu certo", ela diz.
Chamada para pregar em Boston,
nos EUA, bastou encontrar os olhos claros da mineira Rosania para todo o
"trabalho" naufragar. Rosania também se apaixonou.
Elas pediram ajuda aos pastores, oraram muito para evitar. Ficaram quase um ano sem se ver. Mas não deu.
Depois
de um acidente de carro que lhe deslocou da bacia o fêmur direito,
esmagou-lhe o pulmão, causou trauma cardíaco, fratura em quatro costelas
e dilaceração do fígado -hoje, uma grossa cicatriz de 0,6 metro de
comprimento cruza todo o tronco de Lanna-, as duas resolveram, enfim,
viver juntas.
Sobre os pastores que as acusam de criarem um lugar de
culto a Satanás, uma filial de Sodoma e Gomorra, as duas líderes
religiosas dizem apenas: "A nossa igreja é de Cristo, não é de lésbicas
ou gays.
Mas queremos deixar claro que somos um refúgio, acolhemos todos os
machucados e feridos, todos os que foram escorraçados pela
intolerância".
No primeiro dia, a nova igreja juntou 300 pessoas. (FSP, 16.6.2011)
COMUNIDADE CIDADE DE REFÚGIO
ONDE Avenida São João, 1.600, Santa Cecília
QUANDO Quartas, sextas e sábados, às 20h. Domingo, às 18h
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