Maria do Rosário - Sul21
Quero inaugurar esse espaço agradecendo imensamente ao Sul21
pelo convite para fazer parte do time de colunistas desse jovem e tão
vitorioso canal de comunicação, que democratiza a informação no nosso
Rio Grande do Sul e no mundo todo, uma vez que a internet rompeu todas
as barreiras físicas. É uma honra poder relatar o nosso trabalho para os
leitores e leitoras.
Desde que assumiu a Presidência da República do nosso país, a
presidenta Dilma Rousseff tem sido muito enfática na defesa
inquestionável dos Direitos Humanos. Com muita determinação, ela
posicionou o governo pela coerência nessa questão. Isso significa que só
vamos defender lá fora, no cenário internacional, o que executamos aqui
no Brasil, com o nosso povo. E não são poucos os desafios. Na
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República temos a
responsabilidade por políticas de proteção e defesa dos direitos das
crianças e adolescentes, das pessoas com deficiência, dos idosos, da
população em situação de rua, pela afirmação da livre orientação sexual,
de liberdade religiosa, contra a tortura e o trabalho escravo, enfim,
com uma série de segmentos, sempre enfrentando as discriminações e
preconceitos. O nosso grande desafio é que todas as pessoas se percebam
como detentoras de direitos e que possam contar com o Estado para
garanti-los.
Mas há um tema especial que nos é muito valioso. A semente da
democracia sempre esteve presente nos corações dos brasileiros, mesmo
nos momentos mais difíceis. Para o Brasil não existe hierarquia entre os
direitos econômicos, sociais e culturais e os direitos civis e
políticos. Todo ser humano tem direito à alimentação, ao emprego, à
moradia digna e a paz social. Da mesma forma, todo ser humano tem o
direito à liberdade de opinião, de expressão e de escolher seus
governantes.
Foi na luta pelo exercício dessas liberdades que o povo brasileiro
superou a um regime autoritário e reconquistou a democracia. Essa luta
se deu com o sofrimento de milhares e com a vida de muitos, aos quais
sempre devemos nossa homenagem e reconhecimento.
O direito à memória e à verdade é aspecto integrante dos Direitos
Humanos, e instrumento fundamental para o fortalecimento da nossa
democracia. O resgate da história do nosso país no período da Ditadura
Militar (1964-1985) merece toda a prioridade e é nesse sentido que
estamos atuando.
O governo publicou essa semana a sentença do Brasil no caso da
Guerrilha do Araguaia, episódio que marcou a história política
brasileira e uma geração de homens e mulheres que nos antecederam e
lutaram pela democracia. Ao publicarmos essa sentença, decidida pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos, reafirmamos o compromisso com a
continuidade das buscas para identificar e entregar os restos mortais
dos desaparecidos políticos aos seus familiares. Precisamos elucidar os
fatos ocorridos durante a Ditadura Militar em respeito à nossa história,
mas sobretudo em reconhecimento aos familiares daqueles que foram
mortos ou estão desaparecidos, e aos que viveram aquele período e
empenharam suas vidas generosamente porque acreditavam na liberdade e na
democracia. As famílias não realizaram até hoje o ritual de despedida
e, por isso, não exerceram o direito milenar de velar seus entes
queridos, uma forma encontrada pela humanidade para absorver a perda
junto aqueles que se solidarizam com a nossa dor.
Por isso mesmo devemos dar seguimento ao processo de reconhecimento
da responsabilidade do Estado por graves violações de Direitos Humanos,
com vistas à sua não repetição, de forma a caracterizar uma consistente
virada de página sobre esse momento da história do país. E esse
reconhecimento se dará com uma oportunidade única que temos de
reconciliação da nossa história, com a aprovação da Comissão da Verdade.
Isso significa mais do que demonstrar a necessidade de assegurar o
direito à memória e reparar, mas a real possibilidade de dar as futuras
gerações a responsabilidade de prevenir que períodos de exceção e
práticas ocorridas nesses anos nunca mais se repetirão.
É nesse sentido que estamos trabalhando, com uma firme determinação
de que precisamos agir para garantir a efetividade dos direitos para
todas as pessoas, enfrentando as violações e resgatando as lacunas
incompletas da nossa história. O desafio é muito grande, mas muito
motivador. Como disse Norberto Bobbio, (…) “Poder-se-iam multiplicar os
exemplos de contraste entre as declarações solenes e sua consecução,
entre a grandiosidade das promessas e a miséria das realizações. Já que
interpretei a amplitude que assumiu atualmente os debates sobre os
direitos do homem como um sinal do progresso moral da humanidade, não
será inoportuno repetir que esse crescimento moral não se mensura pelas
palavras, mas pelos fatos.”
* Pedagoga, mestre em educação, deputada federal e ministra de Estado
Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
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