quarta-feira, 27 de julho de 2011

Pessoas com deficiência cobram cobertura igualitária da mídia


Juliana: “É preciso construir rampas para as cabeças das pessoas” | Ramiro Furquim/Sul21

Vivian Virissimo no Sul21

Organizadora do “Seminário Mídia e Deficiência”, a cadeirante Juliana Carvalho iniciou as atividades do evento realizado nesta quarta-feira (27) com uma frase de impacto: “É preciso construir rampas para as cabeças das pessoas”. Com sua declaração, Juliana resumiu o sentimento das pessoas com deficiência que lutam tanto para garantir acessibilidade quanto para diminuir o preconceito na sociedade e nos meios de comunicação.
Juliana é jornalista e coordenadora do Projeto Assembleia Inclusiva e apresentadora do programa Faça a Diferença veiculado na TV Assembleia e na TVE. O Seminário promovido no Teatro Dante Barone debateu o papel da comunicação no processo de inclusão.
Jairo Marques, chefe de reportagem da Agência Folha, ressaltou que a linguagem utilizada nas matérias não contribui para a diminuição dos preconceitos. “Eu não tenho nada de ‘especial’. No momento em que se olha para o outro como alguém ‘especial’, essa comunicação já começa de forma equivocada. Além disso, esse ‘especial’ nos afeta muito”, disse Marques, cadeirante desde a infância, ao fazer a crítica das linguagens que sustentam os tabus vigentes na sociedade.
“Só conseguiremos quebrar estes conceitos irracionais da cabeça das pessoas com um trabalho exaustivo. Precisamos quebrar este paradigma de que a pessoa com deficiência é uma coitada”, disse Jairo, acrescentando que duas abordagens recorrentes na mídia prejudicam o debate da inclusão. “É uma verdadeira bobagem atrelar a condição da pessoa com deficiência somente a casos de ‘superação’. Outra abordagem negativa é a pauta científica que enfatiza a divulgação de pesquisas que estão muito longe de serem implementadas”, criticou.

"Precisamos quebrar este paradigma de que a pessoa com deficiência é uma coitada” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

O jornalista Gustavo Trevisi, que tem paralisia cerebral, reforçou a necessidade de engajamento para garantir visibilidade na mídia. “Muitos veículos consideram que fazem a inclusão oferecendo tecnologias como a legenda em programas, o closed caption, ou garantindo cotas nos seus quadros de funcionários”, criticou. Segundo Trevisi, a verdadeira inclusão ocorre com a garantia de espaços fixos e específicos para tratar temas de inclusão com regularidade e isso não ocorre na maioria dos meios. “Os veículos consideram que elaborar matérias que tratam do assunto é uma coisa maravilhosa, mas não fazem mais que sua obrigação como concessionários de uma licença pública”, sustenta.
O coordenador do curso de Jornalismo da Unisinos, Edelberto Behs, salientou a importância da atuação dos jornalistas na diminuição da desinformação que cerca os temas relacionadas à inclusão. “Os jornalistas são artesãos da palavra. Palavras empoderam, destroem e constroem e, sobretudo, interferem na quebra de preconceitos”, disse Behs.
“Os pré-conceitos são transmitidos culturalmente e a religião é uma das correias dessa transmissão. Em certos trechos da bíblia era sugerido que as pessoas com deficiência teriam algum tipo de culpa. Essa visão já perdeu força, mas ainda está presente. Antigamente as pessoas se escondiam e não apareciam na sociedade, hoje essa situação está mudando”, explicou.

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