CPT-MS
Comissão Pastoral da Terra - MS
Adital
A Banda Humanos Vermelhos estará no Tribunal Popular da Terra em MS
Narciso Pires
Uma inédita experiência que conjuga a militância política, defesa ativa dos direitos humanos e difusão da cultura da paz, com a expressão musical, define à Banda Humanos Vermelhos de Curitiba/PR-Brasil. Ela surge do Grupo Tortura Nunca Mais/PR fundada em 1995 por militantes da época da ditadura militar; que a sua vez da inicio à Sociedade DHPAZ/Paraná. Através dessas organizações desenvolvem em universidades do todo o Estado do Paraná oficinas e palestras musicais com o projeto chamado "Resistir é Preciso”. O resgate da memória histórica na luta contra a ditadura militar e as lutas atuais de resistência democrática no Brasil são as principais bandeiras que apresentam mediante o projeto. A Banda Humanos Vermelhos é o principal instrumento dessas organizações em suas atividades políticos-culturais de conscientização. A Comissão Pastoral da Terra-Regional Mato Grosso do Sul (CPT/MS), como integrante da Comissão Pró Tribunal Popular da Terra em Mato Grosso do Sul (TPT/MS) entrevistou o Narciso Pires, presidente da ONG Tortura Nunca Mais/PR, compositor e vocalista da Banda Humanos Vermelhos.
A seguir a entrevista:
CPT/MS - Como e quando surge a Banda Humanos Vermelhos?
Narciso Pires - A Banda Humanos vermelhos foi organizada em 2010 com militantes de direitos humanos comprometidos com a luta por uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna.
-Vocês formam um grupo musical, porém politicamente comprometido com a transformação da sociedade capitalista. Atualmente como convergem na teoria e na prática esses dois aspectos de vosso modo de atuação pública?
Nossa prática é de estimular a organização da sociedade. Nossos projetos sempre são de organização de Centro Culturais de Direitos Humanos com o objetivo de fomentar espaços de protagonismo cultural e político. Nossa percepção é de que as mudanças em nosso mundo somente serão possíveis com a ampla participação de nosso povo. É um processo lento de amadurecimento e de construção de consciências comprometidas com caminhos que contemplem a todos. Para tanto, a permanente denúncia do sistema de exclusão permeia o nosso trabalho. Com uma nova linguagem, pautada pelos direitos humanos indivisíveis, interdependentes e multiculturais, procuramos contribuir com o despertar dessas consciências. Somos, portanto, também um grupo político. Nossas músicas ressaltam esse propósito. Nosso trabalho visa atingir os corações e as mentes das pessoas.
- O Grupo Tortura Nunca Mais/Paraná-Sociedade DHPAZ/PR tem desenvolvido suas atividades com que orientação ou línea de ação?
Tanto uma como outra organização tem os mesmos propósitos. A banda é um instrumento dessas organizações. Trabalhamos sempre articulados com outras organizações da sociedade. A ideia da RESISTÊNCIA permanente ao sistema é o fio condutor de nossa atuação. O nosso entendimento é que as violações dos direitos humanos em seu espectro mais amplo (políticos, civis, econômicos, sociais, culturais e ambientais) tem a mesma raiz: O SISTEMA DE EXCLUSÃO E A SOCIEDADE DE CLASSES. O advento de um mundo novo só pode ser conquistado através da consciência, do amadurecimento e da vontade da maioria.
- Se registram diferentes tipos de violência contra os povos da terra por conta da defesa de parte do Governo e do Estado brasileiro de programas que interessam o agronegócio, os agrotóxicos, os transgênicos, o latifúndio, etc. Enquanto Grupo de direitos humanos como enxergam essa violência institucional e direta contra os que lutam por reforma agrária e seus territórios tradicionais no Brasil?
A questão da terra sempre foi um divisor de águas no Brasil. A colonização através dos latifúndios, a escravidão negra para servir principalmente ao latifúndio e a proclamação da república, através de um golpe militar, apoiado pelos poderosos senhores da terra insatisfeitos com a abolição da escravatura, bem como o estímulo migratório na República Velha para atender mais uma vez esses interesses, atraindo com mentiras os imigrantes e explorando-os em condições de quase escravidão. O golpe militar de 64, consequência direta da proposta do governo Jango de realizar as reformas de base em nosso país, dentre elas, a principal, a reforma agrária, dão a dimensão histórica do problema da terra. Após 9 anos de governo de esquerda, cujos integrantes principais sempre propuseram a reforma agrária e até a presente data não se realizando, nos faz perceber o quanto, ainda, são poderosos esses senhores de terra. Tão poderosos que o agronegócio se transformou em um dos grandes e maiores beneficiários desse governo, a ponto de mudar o Código Florestal para beneficiá-los e ampliar a devastação da Amazônia conforme os seus interesses. É nesse contexto que se mantém o conflito agrário. Falamos em governo (executivo), mas o parlamento e o judiciário compõem o quadro conservador que impede qualquer mudança significativa. Acreditamos, portanto, em decorrência dessa avaliação que a reforma agrária somente acontecerá, bem como colocar fim à violência no campo, com a prisão e a condenação de jagunços assassinos e os seus mandantes. E quando o nosso povo perceber que essas questões são de seu interesse imediato e que o seu posicionamento franco e a aberto é que fará a diferença, construindo finalmente um país mais justo e igualitário, pondo fim, por consequência na profunda exclusão humana no campo e na cidade
- Em que consiste a palestra musical: "Pela terra, pela vida, resistir é preciso”?
A palestra musical aborda toda essa problemática da terra, da violência, do desenvolvimento que contemple a todos, a construção de uma sociedade mais plural, mais igualitária e fraterna. Trabalha 13 músicas relacionadas com essas questões, mais a abordagem falada, sempre apontando para a necessidade do povo se organizar para mudar a nossa dura realidade, construindo coletivamente esse novo mundo. Ela aborda desde a reforma agrária, a questão indígena, a violência no campo, a migração forçada do campo e pequenas cidades para as médias e grandes, os bolsões de miséria formados no entorno dessas cidades e principalmente na necessidade de se organizar para o protagonismo transformador.
- Estamos aguardando com muito otimismo vossa apresentação e participação ativa e solidária com os movimentos populares de Mato Grosso do Sul, especificamente em Campo Grande. Qual é a vossa opinião sobre a atualidade do Tribunal Popular da Terra em nosso Estado?
Acreditamos que o TRIBUNAL POPULAR DA TERRA pode ser um importante instrumento de denúncia do quadro de exclusão existente, principalmente no campo, da violência e da ausência da vontade política governamental (os três poderes) para a realização de uma reforma agrária que torne esse país mais igual e de espaço de denúncia da violação dos direitos humanos dos trabalhadores rurais e dos povos indígenas.
- Finalmente, como definem o estilo musical da Banda Humanos Vermelhos? Quais são as suas características?
Nosso estilo musical é variado e seria difícil defini-lo. Nossa música é de conteúdo social e procura levar sempre uma mensagem engajada com a luta pela construção de um mundo mais igualitário, mais justo e mais fraterno. Somos militantes de direitos humanos e percebemos no viés cultural, em particular a música, um importante mecanismo de comunicação capaz de atingir o coração e as mentes das pessoas. Estamos convencidos que precisamos incorporar no dia a dia o compromisso permanente com a luta de transformação do mundo.
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