por Luiz Leduino de Salles Neto no VIOMUNDO
A presidenta Dilma afirmou, em palestra realizada no dia 10 de abril
na Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade de Harvard, que é
“gravíssimo” o atraso na educação no Brasil. Poucos devem discordar.
É no mínimo curioso, contudo, notar que a área de educação, e de
políticas públicas, tema principal da unidade onde a presidenta proferiu
a palestra, não estão elencadas como prioritárias pelo programa Ciência
sem Fronteiras. De fato, as prioritárias são: Engenharias e demais
áreas tecnológicas; Ciências Exatas e da Terra; Biologia, Ciências
Biomédicas e da Saúde; Computação e Tecnologias da Informação;
Tecnologia Aeroespacial; Fármacos; Produção Agrícola Sustentável;
Petróleo, Gás e Carvão Mineral; Energias Renováveis; Tecnologia Mineral;
Biotecnologia; Nanotecnologia e Novos Materiais; Tecnologias de
Prevenção e Mitigação de Desastres Naturais; Biodiversidade e
Bioprospecção; Ciências do Mar; Indústria Criativa (voltada a produtos e
processos para desenvolvimento tecnológico e inovação); Novas
Tecnologias de Engenharia Construtiva; Formação de Tecnólogos.
E a educação? É mesmo prioridade do governo? E o que dizer de áreas
como ciências sociais, economia, gestão pública, história, relações
internacionais? A resposta está presente no discurso que a presidenta
fez na Escola de Governo da Universidade de Harvard: “não podemos dar
mais importância a uma publicação do que uma patente. Nós temos que dar
importância à patente”.
Resgatando entrevista que o renomado ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, concedeu ao jornal Folha de S. Paulo
em 22 de julho de 2008, nota-se que o mesmo tem outra opinião. De fato,
ao ser questionado que o Brasil tinha poucas patentes, Raupp, então
presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência,
concordou:
“É 0,2% da produção de patentes no mundo.
E a participação de produtos de pesquisa básica é 2%. Então, olha a
diferença. Temos que fazer um esforço brutal. Agora, isso não é
responsabilidade da academia, quem tem que puxar são as empresas. Elas
têm que adotar a inovação como mecanismo fundamental para se capacitarem
para a competitividade(…)”
Ou seja, Raupp defende que as empresas adotem a inovação como
prioridade para a competitividade e que a mesma não é responsabilidade
da academia.
Recentemente, como traz a edição de abril desse ano da Revista Pesquisa Fapesp,
Raupp ratifica essa posição ao responder à mobilização de entidades
científicas contra um injustificado corte de 23% no orçamento do MCTI.
Cabe então uma pergunta ao governo: por que colocar a inovação como
carro chefe de um programa intitulado “Ciência sem fronteitas”?
A presidenta, que acerta no diagnóstico, nossa educação está muito
aquém do que o país necessita, deveria refletir sobre o que e como fazer
para acelerar a reversão desse quadro, reavaliando, por exemplo, as
prioridades estabelecidas pelo programa “Ciência sem Fronteiras”.
Com efeito, o objetivo de toda e qualquer política pública deve ser a
melhoria da qualidade de vida da população. Todo e qualquer avanço no
conhecimento pode acarretar desenvolvimento humano. Logo, todas as áreas
do conhecimento devem ser contempladas pelos programas governamentais
de educação, ciência e tecnologia, sem cortes, sem recortes.
Luiz Leduino de Salles Neto – Doutor em Matemática Aplicada,
docente e pró-reitor de Assuntos Estudantis da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp)
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