quarta-feira, 22 de agosto de 2012

“Não gastamos um copeque sequer com publicidade”


 
Kristina e seu marido Dmítri se mudaram há dois anos para a aldeia de Medoveevka, a 10 quilômetros de Krasnaia Poliana, onde se dedicam à produção de sabonetes artesanais.
 
“Não gastamos um copeque sequer com publicidade”
A grande maioria dos produtores de sabão industriais não perde tempo com reações químicas. Foto: Mikhail Mordásov

Na cozinha de Kristina Suderovskaia, artesã que fabrica sabonetes com suas próprias mãos, tudo tem um aspecto comestível e apetitoso. Na mesa há óleos de girassol e de oliva; em uma panela em fogo brando são derretidos blocos de óleo de coco e em outra, de palmeira.

Há leite de cabra, mel, ovos, folhas secas de eucalipto, botões de rosa e cestas de ervas frescas, colhidas todas as manhãs. Sobre a mesa há ainda um arsenal de frascos e garrafinhas com essências e substâncias.
Imagens:


Os ingredientes necessários para fabricar o sabonete não são mistério algum. Ali estão, anotados em folhas de papel sobre as prateleiras. As receitas são precisas, e calcula-se a proporção dos elementos até o último grão. A única coisa difícil é reproduzir uma receita do autor com a mesma exatidão.

Há três anos, Kristina Sudarevskaia, seu marido Dmítri e as filhas pequenas do casal se mudaram de Moscou para uma pequena aldeia montanhosa, Medoveevka, localizada a dez quilômetros de Krasnaia Poliana, em Sôtchi.

Os problemas de comunicação e eletricidade são comuns na região. A neve cobre as casas até o teto durante o inverno, enquanto ursos visitam com frequência os plantações de maçã no verão. No entanto, o ar e a água são puros, e as florestas e pastagens estão cheias de espécies da flora ameaçadas de extinção.

Não é preciso dizer que os muitos parentes e amigos de Cristina usam seus sabonetes e xampus artesanais. Qualquer novidade é testada primeiro na família, incluindo a filha mais velha Milana e a mais nova, Vlada, com apenas dois anos de idade.

Diferença de qualidade

Segundo Kristina, as pessoas ficam um pouco céticas em relação aos produtos. Primeiro compram em pequenas quantidades para testar, mas depois voltam para adquirir mais. “A diferença entre um sabonete artesanal e industrial é evidente”, rebate.

“Eu entendo, é realmente difícil de acreditar que posso fazer sabonete com leite de cabra, suco de cenoura fresco ou chá de margarida”, diz Kristina. “Por que usar componentes naturais, quando existem corantes baratos, aromatizantes e substitutos de todo tipo?”

Os moradores de Medoveevka seguem a tradição dos antigos produtores de sabonete; combinam gorduras vegetais com uma solução aquosa de soda cáustica (hidróxido de sódio) que provoca uma reação química. Ainda quente, são misturados os demais ingredientes, como óleos, infusões, leite e mel, entre outros.

A grande maioria dos produtores de sabão industriais não perde tempo com reações químicas. Eles usam uma base pronta para fabricação de sabonetes, que geralmente contêm uma quantidade enorme de substâncias nocivas, incluindo compostos de metais pesados.

Se você vir sobre o balcão algum sabonete artesanal transparente, liso e brilhante, é mais provável que tenha sido feito com qualquer uma dessas bases. O sabonete caseiro é esbranquiçado, um pouco turvo, e sua aparência é a mesma de uma barra de sabão comum.

Prazer em trabalhar

Kristina produz sabonetes artesanais há seis anos. Ela começou com algumas barras para uso pessoal e para amigos. Atualmente produz cerca de quatro toneladas de produtos por ano: sabonetes, xampus, géis, pomadas, esfoliantes e cremes.

Com o nome de “Sabonete Krasnaia Poliana”, seus produtos estão distribuídos em salões de spa, casas de banho turco, lojas e pontos de vendas de cosméticos naturais.  O sabonete de Medoveevka também recebe encomendas de clientes particulares da Rússia e do exterior.

“Não gastamos um copeque sequer com publicidade”, conta Dmítri Serov, marido de Kristina. “O marketing boca-a-boca funciona, e eu mesmo sou o gestor da marca”, completa.”

A proposta de fazer esse trabalho, segundo ele, não é comprar um iate no dia de amanhã. “Estamos fazendo isso para dar uma oportunidade aos nossos netos. Só um produto de qualidade pode ser lucrativo. As pessoas acreditarão nele e em 10 ou 20 anos continuará no mercado”, afirma.

Kristina ainda considera sua atividade como um hobby, e não uma empresa. Toda a renda obtida com as vendas e uma parcela significativa do salário do seu marido são gastos no desenvolvimento do negócio, incluindo matéria-prima, papel para embalagem, garrafas e jarras, trabalhos de designer e produção de etiquetas.

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