sexta-feira, 15 de março de 2013

José Reinaldo: Marx morreu há 130 anos, viva Marx!




Há 130 anos, no dia 14 de março, morria em Londres Karl Marx. Foi uma grande perda para os trabalhadores de todo o mundo. Durante a cerimônia fúnebre de Karl Marx, seu amigo e camarada de toda a vida, Friedrich Engels, assinalou que o grande filósofo e dirigente político do proletariado mundial "morreu honrado, amado, pranteado por milhões de militantes revolucionários desde as minas da Sibéria passando por toda a Europa e América até a Califórnia".

Por José Reinaldo Carvalho, editor do Vermelho


Na despedida ao amigo e camarada, Engels vaticinou: "Seu nome sobreviverá pelos séculos e sua obra também".

O jovem Karl Marx.

Marx foi o fundador do socialismo científico e do materialismo dialético e histórico, mestre e dirigente do proletariado mundial. Viveu 65 anos incompletos, mas viveu plena e intensamente. Dedicou sua vida a uma causa profundamente humanista. "Nada do que é humano me é estranho", era a sua máxima. 

Ainda jovem, mergulhou no estudo das humanidades - filosofia, direito, história, economia. Publicista de raro talento aos 24 anos, quando trabalhou na Gazeta Renana, um jornal democrata-radical de Colônia, Alemanha, expôs pela primeira vez a ideia da liquidação, pela via revolucionária, da propriedade capitalista.

Mais de um século depois, os comunistas de todo o mundo rendem justa homenagem a este que foi um gigante do pensamento revolucionário, o fundador de uma ciência e uma doutrina que deu ao proletariado uma arma gnosiológica capacitando-o a transformar o mundo. Ao fundar o socialismo científico, Marx promoveu a mais radical viragem na concepção da história, desvendou o papel histórico do proletariado, demonstrou cientificamente que o capitalismo é um sistema condenado ao desaparecimento e descortinou um novo caminho para o futuro da humanidade - a construção de uma sociedade nova, a sociedade socialista.

O programa concreto do PCdoB, os caminhos práticos que percorremos na luta pela emancipação nacional e social não seriam possíveis não fossem as referências metodológicas e teóricas de Marx e nossa definição como partido marxista e leninista. Por isso, homenagear Karl Marx na passagem do aniversário do seu desaparecimento, além de ser um justo tributo que a geração atual dos comunistas paga a um dos maiores vultos da história da humanidade, é também um momento propício para reafirmar nosso caráter de classe e nossa índole revolucionária e internacionalista.

A atual geração de lutadores pelo socialismo enfrenta tempos difíceis. A cortina cinzenta da reação muitas vezes impede-nos de mirar à janela, vislumbrar o horizonte, ter uma ampla perspectiva de visão. Depois da queda de grande parte das experiências de construção do socialismo no final do século passado, com os escombros do muro de Berlim ruíram também muitas convicções. 

Fac-Símile da pirmeira edição do Manifesto Comunista.

O nosso Partido, com uma trajetória de mais de nove décadas, profundamente enraizado no solo nacional, cônscio das suas elevadas responsabilidades políticas perante o povo e o país, não perde de vista - e nisto está um traço distintivo fundamental de sua identidade - que sua existência está ligada ao nome e à obra de Karl Marx. 

Com a dissolução das conquistas políticas, econômicas, sociais e culturais alcançadas pelo proletariado à custa de ingentes sacrifícios, dissiparam-se também compromissos com a causa revolucionária e o projeto de emancipação dos trabalhadores e todos os oprimidos. Criou-se um ambiente de desorientação, apostasia, perda de referências e derrotismo no qual se tenta cobrir com o pó do esquecimento o marxismo, tido como doutrina superada e inútil.

Mas os comunistas nos recusamos a participar do coro e ousamos dizer: a doutrina de Marx é jovem e imortal. Longe de a descartarem, as tempestades que se abateram sobre o mundo ao longo de todo o século 20 e neste início do século 2, apontam para a confirmação dos seus postulados fundamentais. Profundamente crítica e anti-dogmática por ser científica, a doutrina de Marx se desenvolve e enriquece a partir da experiência histórica. A validade e a vigência do marxismo, desenvolvido e enriquecido, primeiramente por Engels e Lênin, depois por outros importantes dirigentes intelectuais e práticos do movimento operário, se revelaram através da vivência do movimento operário e comunista da segunda metade do século 19 e ao longo de todo o século 20. 

Ainda hoje, quando a noite dos tempos se prolonga aumentando as angústias da humanidade, se o proletariado revolucionário e seu partido de vanguarda quiserem superar revolucionariamente o capitalismo para viver a aurora de um mundo de liberdade, abundância, progresso e justiça social, será no pensamento de Marx que encontrarão o guia para a ação. As condições históricas
em que Marx viveu, lutou e elaborou sua teoria são inteiramente distintas das atuais e em todos os seus aspectos irrepetíveis. Mas o domínio da essência científica e revolucionária do marxismo e seu ulterior desenvolvimento em interação com as novas condições históricas são indispensáveis à ação de um partido e um movimento com caráter de classe, identidade comunista e o objetivo estratégico de conquistar o socialismo.

Muito mais do que na época em que viveu, mais ainda do que no período glorioso da Revolução soviética ou na época de ouro da construção do socialismo numa vasta área geográfica do planeta, é justo dizer, por paradoxal que pareça, que nos tempos atuais o mundo se move no sentido apontado por Marx. O sistema capitalista se debate em crises terríveis e caminha para a decomposição. A realidade atual desse sistema , com suas crises contínuas, com o estancamento e a queda da produção e da demanda, com o desemprego crônico e em massa, com as
crises financeiras e cambiais, os déficits nas balanças comerciais e de pagamentos, com as dívidas internas e externas aumentando em flecha, com as crises energética e ambiental, mostra que as chagas do capitalismo são incuráveis, que só podem desaparecer com o próprio desaparecimento do capitalismo. A bárbara exploração dos trabalhadores e a ameaça constante de guerras criaram uma situação intolerável para os povos.


Nunca a polarização social foi tão acentuada, nunca as condições de vida das massas trabalhadoras tão indignas. Numa situação como esta, os comunistas temos na obra genial de Marx um manancial de ideias capaz de infundir nos povos, nos homens e mulheres progressistas clareza de visão, compreensão dos problemas, otimismo e confiança. Tal como no século 19, no limiar do século 20 e em todo o seu transcurso, seu pensamento inspirou as grandes revoluções e forneceu
instrumental teórico e metodológico para a segura interpretação dos acontecimentos, também agora, esta geração de revolucionários terá no marxismo, enriquecido pelo crivo da experiência histórica, uma fonte ainda mais abundante de ensinamentos e inspiração.

Ao homenagear esta figura ímpar do pensamento progressista, é imperioso refletir sobre o porquê de sua obra ter alcançado tanta magnitude e permanência.

O nome de Marx entrou e ficará na história devido a três grandes descobertas que, consideradas em seu conjunto, constituem uma verdadeira revolução no pensamento social.

Marx assimilou de maneira crítica a herança filosófica do passado e criou uma nova filosofia, o materialismo dialético. Tudo o que é racional, humano, moderno e criador foi assimilado criticamente por seu pensamento agudo, o que serviu de base para a formação de um corpo integral e científico de ideias. Sua concepção materialista da história proporcionou ao proletariado e ao partido comunista um poderoso instrumento para o conhecimento e a transformação da sociedade. Suas descobertas no domínio filosófico proporcionaram à ciência a teoria e o método para o apropriado estudo, interpretação e transformação do mundo. Contando com a colaboração de Engels, escreveu obras fundamentais em que expôs com clareza essa inovadora concepção de mundo, entre as quais destacamos "A Sagrada Família", "A Ideologia Alemã", " Miséria da Filosofia" e "Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã".

A segunda descoberta foi a economia política, na qual também assimilou as aquisições da economia política clássica. Produziu a mais monumental obra que jamais o gênio humano fez nesse domínio - "O Capital" - na qual toma conteúdo e forma a economia política científica com sua pedra angular - a teoria da mais-valia. Com isto, Marx descobriu o "segredo" da exploração capitalista e destrinchou o mecanismo interno do funcionamento da sociedade capitalista.

A terceira descoberta foi o socialismo científico, que também incorporou as anteriores doutrinas socialistas, o socialismo utópico, e ao mesmo tempo rompeu com elas criticamente. Deve-se a Marx a transformação do socialismo de utopia em ciência. Foi o que abriu novas perspectivas à luta pela emancipação do proletariado - a conquista do socialismo e da sociedade sem classes, o
comunismo. Momento alto do labor teórico de Marx, também em parceria com Engels, foi o "Manifesto do Partido Comunista", que veio a exercer influência decisiva no movimento operário e comunista embrionário de meados do século 19, marcou época e atravessou os tempos. Aqui toma forma o socialismo científico, com teses como a de que a luta de classes é o motor da história, sobre a missão histórica do proletariado de derrocar o capitalismo, construir o socialismo, libertar-se a si mesmo e, assim fazendo, emancipar o conjunto da humanidade. É ainda no Manifesto que encontraremos as primeiras indicações acerca da necessidade de o proletariado se erigir em classe dominante através de uma organização estatal e sobre o papel de vanguarda do partido comunista.

A história conhece Marx não só como pensador, mas também como revolucionário, como alguém que combateu durante toda a sua vida em favor do movimento operário, como conselheiro e dirigente. Jamais foi um diletante ou pensador de gabinete, mas se entregou de corpo e alma à materialização de suas ideias. Engels, que o conhecia melhor do que qualquer outro disse a esse respeito: "A luta era a paixão de Marx. E lutava com tanto ardor, com tanta perseverança, com tanto
êxito, que são poucos  os que lutaram como ele". Era precisamente da luta dos trabalhadores que Marx extraía suas conclusões teóricas. Foi um analista agudo dos grandes acontecimentos de seu tempo, a partir de cujas observações e interpretações produziu obras-primas como "As lutas de Classe na França" e "A Guerra Civil na França." Ele próprio disse que cada passo adiante no movimento operário real é mais importante do que dezenas de programas.

O marxismo trouxe novos elementos às ciências sociais para compreender o processo histórico mundial. A interpretação materialista da vida social, a explicação da anatomia da economia capitalista e das contradições insanáveis desse sistema levaram Marx à conclusão no século 19, quando a burguesia acabava de chegar ao poder e as bases do sistema capitalista pareciam inamovíveis, de que a humanidade estava no limiar de uma nova época - a época das revoluções
dirigidas pela classe operária. Desde então, de maneira sinuosa, ziguezagueante, intermitente, mas historicamente progressiva, o movimento por mudanças revolucionárias deu o tom a um inteiro período histórico desde a insurreição parisiense de junho de 1848 e a Comuna de Paris, em 1871, até as grandes revoluções do século 20, dentre as quais a mais destacada pelo sentido histórico
universal foi a Revolução Socialista de Outubro de 1917 na antiga Rússia.

A lógica férrea do pensamento de Marx descobriu e demonstrou, não como fatalismo, mas como lei objetiva tendencial, que o desenvolvimento da sociedade capitalista leva à sua substituição pelo socialismo, embora isso não vá ocorrer espontaneamente. A inexorabilidade dessa lei objetiva depende da entrada em ação do fator subjetivo - a atividade transformadora e revolucionária das massas trabalhadoras e de um partido comunista suficientemente ligado a elas, capacitado política e teoricamente a jogar um papel à altura de tamanho desafio histórico.

Túmulo de Karl Marx, cemitério de Highgate, Londres, Inglaterra.

A revolução e a própria construção do socialismo - isto a história o demonstrou sobejamente, inclusive com as derrotas que o socialismo sofreu no final do século passado - não constituem um ato único. Trata-se de um processo mundial para o qual convergem grandes correntes objetivas - a luta da classe operária por direitos sociais e políticos, as lutas dos povos oprimidos pela sua
soberania econômica e política, contra o imperialismo, os movimentos políticos, sociais e culturais por democracia, direitos humanos, igualdade de gênero e raça, em defesa do meio-ambiente, os movimentos pela paz etc. Quanto ao socialismo, Marx não tinha elementos para prefigurar como seria a sociedade do futuro. Mas deixou indicações de que a luta pela nova sociedade seria
relativamente longa e comportaria etapas de transição.

Marx foi um internacionalista, concebia a força dos trabalhadores na sua solidariedade internacional de classe. Por isso, juntamente com seu amigo Engels, fundou a Associação Internacional dos Trabalhadores, que depois passou à história como Primeira Internacional. Podemos mesmo afirmar que Marx foi, além de seu participante ativo, um inspirador e dirigente, como o foi também dos
primeiros partidos revolucionários que tornaram suas as ideias do socialismo científico. Desde que constou do programa fundador do socialismo científico há mais de um século e meio, a palavra de ordem - "Proletários de todos os países, uni-vos"! - mantém toda a atualidade.

Marx foi um homem de princípios e submeteu à crítica demolidora as velhas correntes do socialismo pequeno-burguês. Sabia que para forjar um partido à altura de uma missão histórica tão elevada quanto era conduzir a luta do proletariado pelo socialismo, a clareza e a firmeza quanto aos princípios era fundamental. Por isso, no famoso texto "Crítica ao Programa de Gotha", aconselhou os social-democratas alemães - que eram os revolucionários de sua época - a não transigir com os princípios - diante da imperiosa necessidade de concertar alianças para fazer avançar o movimento concreto. "Fazei acordos para atingir os objetivos práticos do movimento, mas não vos permitais o tráfico com os princípios", aconselhava Marx aos dirigentes do partido social-democrata alemão, o primeiro partido operário de massas na já longa história do movimento operário mundial, num momento em que aquele se preparava para dar um salto qualitativo no desempenho de suas tarefas.

Como publicista e jornalista militante, Marx foi o cérebro e a alma da Nova Gazeta Renana, jornal revolucionário que usou como tribuna para a difusão das ideias transformadoras. Quando as circunstâncias obrigaram o jornal a silenciar suas máquinas e deixar de circular - "Fomos obrigados a entregar a fortaleza", dissera Engels -, Marx pediu ao poeta Ferdinand Freiligreight, seu amigo e
colaborador do jornal, que eternizasse em versos a determinação de voltar e continuar a luta. Nesta quadra histórica, em que muitas fortalezas caíram, seja esta homenagem a Karl Marx, a nossa determinação de continuar a luta, fazendo nosso o brado do poeta alemão:

"Adeus, adeus, mundo combatente!
Adeus, exército pelejante,
Adeus, campo sujo de pólvora
Adeus, pois, gládios e lanças"

"Adeus, mas não para sempre!
Porque não matarão o espírito, ó meus irmãos!
Em breve me levantarei nas alturas,
Em breve regressarei"

"Pela palavra, pelo gládio, no Danúbio, no Reno,
Por toda parte serei a companheira fiel
Do povo que esmaga o trono,
Serei a proscrita, a rebelde".

Viva Marx!

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