Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Qual era a onda da Libelu?
Qual era a onda da Libelu?
Me enterrem com os trotskistas
na cova comum dos idealistas
onde jazem aqueles
que o poder não corrompeu
me enterrem com meu coração
na beira do rio
onde o joelho ferido
tocou a pedra da paixão
na cova comum dos idealistas
onde jazem aqueles
que o poder não corrompeu
me enterrem com meu coração
na beira do rio
onde o joelho ferido
tocou a pedra da paixão
(Paulo Leminski, Para a liberdade e luta)
O nome é simpático. Lembra o apelido carinhoso de uma moça, a palavra amor em alemão, a corruptela de “libelo”, um poema concreto. Liberdade e Luta: Libelu. A corrente de inspiração trotskista seduziria centenas de jovens em meados da década de 1970, quando o movimento estudantil começava a renascer no Brasil, ainda durante a ditadura militar. Eu não alcancei a Libelu. Na minha época de estudante, mais de uma década depois, só havia duas opções: ser do PCdoB (Viração, a quem chamávamos, na Bahia, de “cururus”) ou anarquista. Gostei mais dos anarquistas, eram mais divertidos e não proibiam a maconha.
Curioso é que, se não conheci nenhum na faculdade, hoje em dia, para qualquer lado para onde olho, vejo um ex-Libelu –à esquerda, mas também à direita. Talvez você não saiba, mas pode haver um Libelu a seu lado neste momento, no jornalismo, nas trincheiras partidárias ou em uma atividade sem nenhuma relação com a política. O ex-ministro Luiz Gushiken, morto no dia 14 de setembro, foi da Libelu, assim como o também ex-ministro Antonio Palocci e Clara Ant, assessora de Lula. Markus Sokol, candidato à presidência na atual sucessão à direção nacional do PT, é outro ex-Libelu.
Na Folha de S.Paulo, onde trabalhei muitos anos, eu nem sabia, mas estava cercada por ex-militantes do braço estudantil da OSI (Organização Socialista Internacionalista), que tinha como um de seus dirigentes Luis Favre. Caio Túlio Costa, que foi secretário de redação e ombudsman do jornal, Matinas Suzuki, Laura Capriglione e Mario Sérgio Conti, entre outros, foram da Libelu. À frente da Folha em sua renovação, no início da década de 1980, Otavio Frias Filho empregou muitos militantes de esquerda no jornal, que tinha, talvez até por isso, um perfil muito menos conservador do que hoje. Além dos ex-Libelu, havia também, ocupando postos importantes na redação, ex-militantes do MR-8 e da Refazendo. Nesta época, a Folha, que apoiara o golpe militar, fez campanha pelas Diretas Já.
Por que havia tantos jornalistas na Libelu? Ao que tudo indica, porque a ECA (Escola de Comunicação e Artes) da USP estava tomada por eles. Caio Túlio, que deixou a militância ao sair da faculdade, em 1979, foi o responsável por levar muitos companheiros de tendência para a Folha. “O Otavio não era simpatizante da Libelu, mas gostava da ‘disciplina’ dos trotskistas. Ele era simpatizante da Vento Novo, uma corrente (de centro) que havia na São Francisco”, conta Caio Túlio. “Fui o primeiro Libelu contratado para começar a renovação do jornal, em 1981. E fui trazendo os melhores jornalistas que conhecia, o Matinas, o Conti (que estava confinado na Câmara dos Vereadores como setorista e eu trouxe para a Ilustrada e o Folhetim), o Rodrigo Naves, a Renata Rangel, o Zé Américo, a Cleusa Turra, o Bernardo Ajzenberg, o Ricardo Melo. Muita gente, não me lembro de todos… Cada um foi trazendo outros. Eram bons, muito bons.”
Com opiniões muitas vezes opostas hoje em dia, Paulo Moreira Leite, hoje na IstoÉ, e Miriam Leitão, comentarista do jornal O Globo, também foram Libelu –sobre Miriam, há controvérsias; há quem diga que era do PCdoB. Uma parte dos ex-Libelu acabaria descambando para a direita mais feroz, como o blogueiro da Veja Reinaldo Azevedo (que também trabalhou na Folha na fase Libelu) e o sociólogo e colunista do Estadão Demétrio Magnoli. Com o nascimento do PT, em 1979, a Libelu se dissolveu. Muitos dos seus quadros migraram para o partido, embora, num primeiro momento, tenham acusado o metalúrgico Lula de ser “pelego”. Alguns foram integrar a corrente O Trabalho com Sokol, e outros, como Palocci e Clara, ficaram no entorno de Lula na Articulação. Outros ainda, como os jornalistas citados, simplesmente deixaram a militância de esquerda.
A Libelu foi, de certa forma, uma corrente à frente de seu tempo. Primeiro por retomar o slogan “Abaixo a Ditadura” antes de todo mundo; depois, por criticar o autoritarismo e as barbaridades dos regimes comunistas muitos anos antes da queda do muro de Berlim ou da Perestroika. Trotskista, a OSI, a quem a Libelu era vinculada, já nasceu fazendo a crítica ao stalinismo. Apoiava os esforços de democratização do socialismo no Leste europeu, denunciou a invasão da Checoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia e, mais tarde, fez campanha de apoio ao sindicato Solidariedade na Polônia. Sua visão era de que, sem uma revolução política na União Soviética, haveria uma regressão econômica, através da restauração do capitalismo. E não deu outra.
Apesar de trotskistas, os militantes da tendência não toleravam o culto à personalidade em figuras como o líder chinês Mao Tsé-Tung. “Os Libelu eram muito severos em relação a Mao, ao Livro Vermelho, à revolução cultural, ao culto à personalidade, ao autoritarismo, aos assassinatos etcétera e tal”, conta Caio Túlio Costa. “Mas teve um caso engraçado. Na tentativa de criticar o culto à personalidade, fizemos uma edição do (jornal) Avesso cuja capa era o Mao, num dos retratos do realismo socialista da época, grandão, o povo em reverência, abaixo, e inserimos uns versos de Neruda para distanciar o leitor: ‘Só o espanto era invisível, foi a proliferação daquele impassível retrato que incubou o desmedido’. Evidentemente que ninguém entendeu o espírito crítico atrás da foto e do poema, e a edição esgotou. Contrariamente a todos os nossos intentos, os maoístas fizeram da capa pôster de parede…”
O hino da Libelu era uma versão da canção entoada no filme O Incrível Exército de Brancaleone, de Mario Monicelli, com uma sacada divertida: “Branca, Branca, Branca, Leon, Leon, Leon”. Em homenagem a, claro, Trotski. É difundidíssima a versão de que as festinhas da Libelu eram as mais animadas do movimento estudantil e com as garotas mais bonitas, e que havia uma certa liberação no que tange à maconha, ao contrário das demais tendências de esquerda do período. “A Libelu era um curioso e original amálgama político-comportamental, em que o trotskismo convivia com o rock, com o fuminho e com as meninas do pós-queima-dos-sutiãs”, escreveu Matinas Suzuki na Folha de S.Paulo em 1997.
Mas essa concepção festiva não encontra unanimidade entre outros ex-Libelu. “Isso é lenda. As festas da Refazendo eram tão boas quanto às da Libelu. Todos eram muito liberais quanto aos costumes. Não havia Aids. As pessoas estavam sempre muito juntas, fazendo política quase que 24 horas por dia! Eram poucos os que saíam para ‘a noite’. As festas eram nas casas ou repúblicas das mesmas pessoas”, conta Caio Túlio. “Droga era considerada ‘oficialmente’ alienante, mas muitos, muitos, a usavam. Não acredito que a Libelu fosse mais ou menos tolerante do que as outras correntes, onde sempre havia alguém que usava droga, em geral a maconha. Entre a liderança, no entanto, na Libelu, eram pouquíssimos os que usavam drogas.”
“Eu sempre brinco e digo que isto é ‘calúnia’ dos adversários. Fazíamos grandes festas públicas, sempre para arrecadar fundos para o grupo. Havia festas mais fechadas, mas longe do que o mito criou. Sobre os costumes, sim, éramos o grupo mais avançado. Havia respeito e luta pela igualdade de gênero, todos nos considerávamos feministas, defensores da livre orientação sexual”, diz Adeli Sell, ex-vereador do PT-RS e ex-Libelu. “A gente não tinha uma visão moralista do uso das drogas, a restrição era por conta da repressão, porque usando drogas era mais fácil ‘cair’. Até sem usar, muitas vezes a polícia enxertava drogas para uma prisão. Mas muita gente continuava ‘dando uns pegas’ em baseado. Nunca vi nem ouvi falar de outras drogas na época.”
“As festas eram boas, em primeiro lugar, porque os militantes eram jovens. Hormônios em altíssima voltagem, num ambiente de nenhum moralismo. Adversária do dirigismo cultural e de qualquer coisa que pudesse lembrar o chamado realismo socialista, a OSI/Libelu não estimulava o preconceito contra o rock, o que era muito frequente naquela época. O pessoal gostava de MPB e ouvia muita Rita Lee, Mutantes e mesmo sucessos estrangeiros. Havia espaço para Cartola e Paulinho da Viola, também. Certa vez, Baby Consuelo, em fase pré-pentecostal, naturalmente, foi a estrela de um dos shows promovidos pela Libelu. Mas ela não era simpatizante. Cobrou cachê”, conta um ex-militante que prefere se manter na clandestinidade até hoje. Segundo ele, a maconha não era nada tolerada e teve até dirigente expulso por ser flagrado puxando fumo. “Nunca se aceitou a noção da contracultura de que as drogas poderiam auxiliar na formação da consciência das pessoas. A visão era de que a consciência se forma por uma compreensão racional da política e da história. As drogas também eram consideradas portas de contato com a polícia e criminalidade, o que deveria ser evitado a qualquer custo.”
“As festas eram ótimas, sim. Nunca pensei que alegria e compromisso social fossem incompatíveis. Mas em outras organizações eram abominadas e seus militantes tinham vida de monastério”, lembra Luis Favre. “Diziam que as mulheres eram mais bonitas, mas o que em realidade acontecia é que elas tinham destaque na disputa política estudantil. Ao mesmo tempo, a juventude vivia sob o impacto do maio de 68 na França, da primavera de Praga, e a Libelu era das poucas que se identificava com ambos os processos, pois condenava não só o capitalismo, como aquele sinistro sistema pretensamente ‘socialista’.” Sobre as drogas, diz Favre, “a condenação era muito estrita na corrente trotskista. Não se brincava com isso, ainda mais no período militar”.
Pergunto aos ex-militantes algo que me deixa particularmente curiosa: como é que alguns membros da vanguardista Libelu foram parar na direita mais reacionária?
Paulo Moreira Leite:
– Acho que em anos recentes os grupos conservadores recrutaram militantes em todas as correntes da esquerda brasileira. Possivelmente por causa de seus laços com a ditadura, nossos conservadores nunca tiveram meios de formar seus próprios quadros civis para atuar numa democracia. O PPS, que era o antigo Partido Comunista, foi em bloco para a direita e hoje se dedica a combater o PT. É sua razão de ser. Muitos quadros do PSDB que fizeram a privatização de estatais no governo de Fernando Henrique Cardoso vieram da Ação Popular e do PCB. Você encontra antigos militantes da ALN de Marighella entre pessoas que são anti-petistas 24 horas por dia. Os principais dirigentes da OSI ajudaram a fundar o PT e quem continuou em sua atividade política na vida adulta continua neste partido. A organização teve uma divisão importante na década de 1980, quando eu já não era mais militante, mas todos ingressaram no PT. Antes, outros fundaram o PCO. Mas é certo que alguns quadros, que foram militantes na juventude, seguiram outra perspectiva na vida e se tornaram intelectuais orgânicos de grupos conservadores. Não vejo nada de muito especial nisso. Não foi a regra. Alguns casos você pode explicar pelos confortos que o conservadorismo pode proporcionar. Ele dá prestígio, promove as pessoas. Mas não só. O país se democratizou, o PT se consolidou. Ocorreram mudanças muito importantes no mundo, a começar pela queda do Muro de Berlim e tudo o que ela representou. Apareceram questões e desafios diferentes para todo mundo.
Adeli Sell:
– Bem, aqui em Porto Alegre tem um aguerrido militante que foi para posições bem à direita, como sei do caso do comentarista da Band. Mas de resto não sei se foram para a direita. Deve ter mais alguns, mas a maioria dos que conheço está no PT. Alguns foram para o PSOL, o que lastimo profundamente, pois foram estes quatro ou cinco militantes que foram fundamentais para a minha entrada na Libelu e minha formação política. Pelo que vejo aqui e dos que encontro espalhados pelo país, a maioria continua com posições avançadas, de esquerda, militando ativamente.
Luis Favre:
– Em todas as organizações juvenis encontramos casos de indivíduos que evoluíram para o extremo oposto de suas primeiras convicções. Mas, pelo contrário, o mais notável no caso da Libelu é que uma grande parte de seus quadros participaram e participam ainda hoje da CUT e do PT. E muitos dos que se afastaram da atividade militante ou política continuam do mesmo lado, em termos gerais, dos ideais que abraçaram na juventude. Encontrei muitos deles acompanhando e despedindo-se do nosso querido Luiz Gushiken.
Caio Túlio Costa:
– Não foram só integrantes da Libelu que mudaram de posição radicalmente na vida. Alguns ex-Libelu chamam a atenção porque eram todos jovens trotskistas, de extrema-esquerda, e se transformaram em pessoas bastante conservadoras. Acho que esses fenômenos fazem parte do movimento normal da vida; não me assusto com isso, não. A rigor, na realidade, veja bem, eles não mudaram, continuam extremistas…
Uma vez Libelu sempre Libelu? Há algo da corrente que permanece nos ex-militantes até hoje?
Caio:
– Em alguns, certamente. A formação política rigorosa (muita leitura, grupos de estudo, reuniões intermináveis, assembleias estudantis, luta política, alinhamento internacional, ceticismo em relação às instituições “burguesas”) deixa marcas profundas. Gushiken, por exemplo, ou alguns dos líderes de então, como o Markus Sokol ou o Julio Turra. Estes serão sempre Libelus autênticos.
Adeli:
– Tem uma liga, uma solidariedade, um profundo companheirismo, carinho, muitas e muitas identificações. Tanto é assim que pretendemos ainda neste ano fazer a grande festa da Libelu. Com a morte do Gushiken, todos impactados com a grande perda, achamos que devemos nos encontrar e festejar o que fizemos.
Luis:
– Uma parte importante da Libelu conseguiu superar suas limitações, sua estreiteza ideológica, seu sectarismo e intelectualismo, em parte desconectado da realidade, para, junto a outros militantes, de outras origens, com outra história, construir uma central sindical e um dos maiores partidos de esquerda do mundo. Ter contribuído um pouquinho no que essa central sindical e esse partido aportou ao progresso social do Brasil, já é fonte de satisfação para os que participamos dessa “nossa” história. Mudamos muito, sem mudar de lado.
Paulo:
– A militância politica é uma experiência única na existência, faz parte de sua memória para sempre. Acontece com a OSI ou outras organizaçãos. Ninguém passa impunemente por isso. Você entra em contato com forças absolutas, tem a nítida sensação, correta ou não, de que está mexendo na roda da história. Dedica as melhores horas de seu dia e possivelmente alguns dos melhores anos de sua vida para construir uma sociedade diferente. Os livros que você lê, os filmes que assiste e até seu trabalho como cidadão comum têm outro sentido. Hoje você pode até achar que estava sonhando, mas aquele momento foi maravilhoso. Os projetos podem ter dado errado, a vida pode ter tomado outro rumo e muitos amigos de antes até se mostraram uma decepção, mas você aprendeu ali algumas verdades que vão te acompanhar pelo resto da vida.
Por Cynara MenezesEm BLOG
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segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Nota pública do Barão de Itararé sobre a suposta “autocrítica” da Globo
Nota pública do Barão de Itararé sobre a suposta “autocrítica” da Globo
PUBLICADO POR BARAODEITARARERJ ⋅
A Realidade é bem mais dura que a autocrítica
Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros, juro Todo esse amor reprimido Esse grito contido Este samba no escuro Você que inventou a tristeza Ora, tenha a fineza De desinventar Você vai pagar e é dobrado Cada lágrima rolada Nesse meu penar
(Chico Buarque)
As Organizações Globo publicaram no último dia 31 de agosto editorial onde reconhecem o apoio ao Golpe de 1964 e afirmam que essa postura foi um erro. O mesmo editorial também reconhece o que todo mundo já sabia: que o Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo, o Correio da Manhã e outros veículos também foram coniventes com a ditadura que se constituiu em um dos capítulos mais vergonhosos da história do Brasil.
O que o Jornal O Globo fez durante a ditadura militar, não foi apenas um apoio. Foi uma parceria simbiótica. Um crime. Um crime de uma organização que se transformou em ferramenta dos militares para consolidar sua hegemonia e que também tem em suas mãos o sangue de todos os mortos pelo regime autoritário. Um crime que fez a família Marinho ter hoje três dos seus herdeiros entre os 10 homens mais ricos do Brasil.
Um crime que acobertou outros crimes, como o impedimento da instalação de um CPI para investigar o acordo Globo-Time Life em 1966; que garantiu o aproveitamento da Embratel (uma das primeiras estatais criadas pelo Governo Militar) para desenvolvimento desse império das comunicações, que segue até hoje usando o poder construído através da colaboração com um dos regimes mais sangrentos da história do Brasil para tentar ditar os rumos da política no nosso País. Um crime que permite que essa empresa continue até hoje cometendo outros crimes, como por exemplo, usar do seu poder de comunicação para pautar a agenda política de governos, travestindo sua imposição de pautas e prioridades sob uma falsa prestação de serviço e capitalizando para si as ações realizadas pelo poder público em suas variadas esferas.
Quantos anos ainda serão precisos para a Globo fazer a autocrítica pela cobertura das greves de 1979? Quando vão fazer a autocrítica pelas movimentações contra Brizola em 1982? Quando vão reconhecer o erro da edição do debate de Lula e Collor em 1989 e do apoio ao “caçador de marajás”? Quando farão a autocrítica por terem sido contra as cotas, por não terem noticiado os escândalos da Era FHC, pela construção da agenda das privatizações e pelos esforços na defesa da agenda neoliberal no Brasil? Quando as Organizações Globo farão a autocrítica pela maneira criminosa como cobrem os movimentos sociais?
As Organizações Globo fazem a autocrítica ao apoio à ditadura, mas não fazem a autocrítica de quanto esse apoio foi lucrativo. Em seu discurso ainda são presentes as velhas mentiras para justificar o injustificável. Reconhecem o que dizem ser um erro, mas justificam na base de mentiras, mais uma vez tentando escrever a História do Brasil através de deturpações que reafirmam sua falta de compromisso com o Brasil. Uma autocrítica forçada pelas ruas, que gritou a plenos pulmões não apenas que “a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura”, mas que também gritou “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.
Com a credibilidade cada vez menor, as Organizações Globo tentam forjar uma autocrítica para se preparar para a disputa eleitoral que se avizinha, mas dessa vez o cenário será diferente. Não aceitaremos mais as velhas mentiras e nem permitiremos que mais uma vez essa máfia midiática use do seu poder para iludir a população brasileira.
O Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé denuncia a falsa autocrítica publicada pelo Jornal O Globo e reafirma sua posição de lutar contra os impérios da comunicação que servem às elites conservadoras desse país, seguindo na busca pela construção de novas mídias que sejam capazes de representar esse novo momento vivido pelo País e que possam sepultar, de uma vez por todas, o espectro das mídias golpistas forjando assim uma nova comunicação no Brasil.
A real autocritica sobre a relação promíscua das Organizações Globo com o nefasto Golpe Militar deve ser feita pelo Estado brasileiro, através da Comissão Nacional da Verdade, investigando a fundo o dia a dia de colaboração da Rede Globo e da grande mídia burguesa nacional com o regime assassino que derramou muito sangue, de brasileiros e brasileiras, no solo de nossa pátria. Trazer à luz da sociedade a verdade sobre o real papel da imprensa golpista no empenho contra a emancipação do povo brasileiro é dever do Estado, pois a memoria de um povo é fundamental para que se possa tentar evitar que os erros do passado se repitam.
A verdade é mesmo muito dura, a Rede Globo apoiou e parasitou a ditadura!
O Povo não é bobo! Abaixo a Rede Globo!
“Americanos e russos são dois lados da mesma moeda”, diz ativista síria
“Americanos e russos são dois lados da mesma moeda”, diz ativista síria
A ativista síria Sara al-Suri esteve no Brasil durante o ano passado e retornou recentemente ao país com a intenção de promover campanhas políticas contra a ditadura de Bashar al-Assad. Ex-funcionária da ONU em Damasco, ela deixou a Síria em março de 2012 e sua família precisou abandonar o país há sete meses. Com 25 anos de idade, Sara cursava Ciência Política e Sociologia na Síria.
Sara al-Suri observa que os Estados Unidos e a Rússia são “dois lados da mesma moeda” no que diz respeito às negociações em torno do regime sírio. Para ela, as duas potências desejam articular uma negociação política para a saida de Bashar al-Assad do governo. “Todos gostariam de fazer com que Bashar al-Assad, os rebeldes e a oposição burguesa simplesmente sentassem em uma mesa, apertassem as mãos, agendassem eleições para 2014 e fingissem que está tudo resolvido”, critica. Para ela, essa solução apenas levaria a uma “cosmética transição de governo dentro de um país que está em guerra”.
Nesta entrevista ao Sul21, concedida durante sua passagem por Porto Alegre na semana passada, Sara al-Suri também fala sobre a situação das mulheres na Síria. Ela ressalta que tanto os rebeldes quanto os soldados do governo são machistas. “O que a revolução fez foi dar a nós, mulheres, uma chance de sermos ativistas, de lutarmos contra a opressão, contra a exploração e contra a marginalização. Porém, é um engano pensar que a revolução, por si só, nos libertou”, comenta.
“Quanto mais comparecia aos protestos, mais eu conhecia pessoas que não encontraria na universidade ou através dos meus amigos. Era um contexto social completamente diferente”
Sul21 – De que lugar da Síria tu és e quando começaste a lutar contra o regime?
Sara al-Suri - Sou de Damasco, a capital. O primeiro protesto que eu participei ocorreu no dia 8 de março de 2011. Era uma manifestação em favor dos revolucionários líbios, em frente à embaixada da Líbia. Éramos um grupo de aproximadamente 50 a 60 pessoas. Foi um evento muito pequeno e insignificante comparado ao que aconteceu depois, mas muitos de nós fomos presos. Alguns foram presos por poucas horas, outros por alguns dias. Esse foi meu primeiro protesto antes da verdadeira revolução de massa, que começou no dia 15 de março na cidade da Daraa, no sul do país.
Sara al-Suri - Sou de Damasco, a capital. O primeiro protesto que eu participei ocorreu no dia 8 de março de 2011. Era uma manifestação em favor dos revolucionários líbios, em frente à embaixada da Líbia. Éramos um grupo de aproximadamente 50 a 60 pessoas. Foi um evento muito pequeno e insignificante comparado ao que aconteceu depois, mas muitos de nós fomos presos. Alguns foram presos por poucas horas, outros por alguns dias. Esse foi meu primeiro protesto antes da verdadeira revolução de massa, que começou no dia 15 de março na cidade da Daraa, no sul do país.
Sul21 – O que tu fazias na Síria?
Sara - Eu trabalhava na ONU e era estudante: graduanda em Ciência Política e mestranda em Sociologia. Eu também trabalhava para o World Food, programa de alimentação das Nações Unidas.
Sara - Eu trabalhava na ONU e era estudante: graduanda em Ciência Política e mestranda em Sociologia. Eu também trabalhava para o World Food, programa de alimentação das Nações Unidas.
Sul21 – Por que e quando tu saíste do país?
Sara - Deixei a Síria em março de 2012. Não havia problema em sair, mas eu não poderia voltar. Se quisesse voltar, teria que ser clandestinamente. No início, minha atuação na Síria era focada na participação nos protestos. Depois, acabei me dedicando ao Comitê de Coordenação Local em Rukn Eldin – um bairro na área central de Damasco -, organizando manifestações, escrevendo panfletos, fazendo campanhas para a liberação de detidos.
Sara - Deixei a Síria em março de 2012. Não havia problema em sair, mas eu não poderia voltar. Se quisesse voltar, teria que ser clandestinamente. No início, minha atuação na Síria era focada na participação nos protestos. Depois, acabei me dedicando ao Comitê de Coordenação Local em Rukn Eldin – um bairro na área central de Damasco -, organizando manifestações, escrevendo panfletos, fazendo campanhas para a liberação de detidos.
Sul21 – Como está a situação deste bairro atualmente?
Sara - Atualmente é uma das maiores áreas armadas dentro de Damasco em que o regime ainda não conseguiu intervir. É um bairro de classe trabalhadora. No início, eu não me senti muito confortável lá. Meu primeiro contato com a revolução envolveu intelectuais e artistas que apoiavam o processo na Líbia. Porém, quanto mais eu comparecia aos protestos, mais eu conhecia pessoas que não encontraria na universidade ou através dos meus amigos. Era um contexto social completamente diferente. Foi aí que comecei meu ativismo. Não íamos ao centro de Damasco, mas, sim, às partes periféricas da cidade, especificamente a um local chamado Dummar, que é agora uma zona liberada. Era muito interessante, pois as pessoas saíam das áreas centrais da cidade para juntarem-se a esses protestos na periferia, já que Damasco ainda estava sob forte controle do regime.
Sara - Atualmente é uma das maiores áreas armadas dentro de Damasco em que o regime ainda não conseguiu intervir. É um bairro de classe trabalhadora. No início, eu não me senti muito confortável lá. Meu primeiro contato com a revolução envolveu intelectuais e artistas que apoiavam o processo na Líbia. Porém, quanto mais eu comparecia aos protestos, mais eu conhecia pessoas que não encontraria na universidade ou através dos meus amigos. Era um contexto social completamente diferente. Foi aí que comecei meu ativismo. Não íamos ao centro de Damasco, mas, sim, às partes periféricas da cidade, especificamente a um local chamado Dummar, que é agora uma zona liberada. Era muito interessante, pois as pessoas saíam das áreas centrais da cidade para juntarem-se a esses protestos na periferia, já que Damasco ainda estava sob forte controle do regime.
“Na Síria a relação entre o regime e o Estado é muito mais próxima. É impossível derrubar o regime ou o governo sem fazer cair todo o sistema”
Sul21 – Qual foi o sentimento das pessoas na Síria quando a primavera árabe começou, quando os primeros protestos tomaram conta da Túnisia?
Sara - Foi inacreditável, porque não podíamos nem comemorar publicamente. Ficamos muito felizes por tudo ter começado na Tunísia. (Mohamed) Bouazizi (o cidadão tunisiano que colocou fogo no próprio corpo) se tornou uma figura importante na Síria, todos usavam sua foto. O regime foi tolo o bastante de permitir isso. O clima ainda era de segurança, então podíamos falar sobre isso, desde que não publicamente. Quando Mubarak caiu no Egito, lembro que as pessoas trocavam mensagens de texto utilizando uma expressão em árabe em que uma pessoa diz “parabéns” e a outra responde “espero que você seja o próximo”. É uma expressão utilizada para felicitações em casamentos e nascimentos de crianças. Foi assim que celebramos em Damasco.
Sara - Foi inacreditável, porque não podíamos nem comemorar publicamente. Ficamos muito felizes por tudo ter começado na Tunísia. (Mohamed) Bouazizi (o cidadão tunisiano que colocou fogo no próprio corpo) se tornou uma figura importante na Síria, todos usavam sua foto. O regime foi tolo o bastante de permitir isso. O clima ainda era de segurança, então podíamos falar sobre isso, desde que não publicamente. Quando Mubarak caiu no Egito, lembro que as pessoas trocavam mensagens de texto utilizando uma expressão em árabe em que uma pessoa diz “parabéns” e a outra responde “espero que você seja o próximo”. É uma expressão utilizada para felicitações em casamentos e nascimentos de crianças. Foi assim que celebramos em Damasco.
Sul21 – Por que você acha que esses protestos se transformaram em um processo revolucionário mais radical na Síria?
Sara – Penso que a Líbia e a Síria passaram por processos muito similares. Talvez na Líbia o fator “tempo” torne isso um pouco difícil de visualizar, já que lá o processo foi mais veloz. Lá, o regime era mais fraco, menos enraizado, havia os fatores do óleo e do petróleo e houve a intervenção da OTAN. A OTAN se dizia a favor dos rebeldes, mas de maneira alguma sua ação teve efeito na vitória da revolução. Na Síria, o regime é mais poderoso e possui mais aliados em nível regional e internacional — não somente a Rússia. Até o ano passado, os Estados Unidos davam declarações muito tímidas acerca do regime sírio e da revolução. Dizer que os únicos aliados do regime eram a Rússia, o Irã e o Hezbollah é subestimar totalmente o papel dos Estados Unidos no seu fortalecimento, tanto histórica quanto atualmente. Por que se tornou um processo mais radical? Porque na Síria a relação entre o regime e o Estado é muito mais próxima. É impossível derrubar o regime ou o governo sem fazer cair todo o sistema. No Egito, isso é possível, o que significa que a revolução continua e ainda tem um longo caminho a percorrer. Mas na Síria a natureza do regime e a relação que ele tem com o Estado é muito mais forte e ditatorial. O Estado foi construído com base no regime. Não há possibilidade de uma derrubada parcial, ao menos não no sentido de uma revolução democrática. Não se pode derrubar Bashar al-Assad sem desconstruir toda a pirâmide da ditadura.
Sara – Penso que a Líbia e a Síria passaram por processos muito similares. Talvez na Líbia o fator “tempo” torne isso um pouco difícil de visualizar, já que lá o processo foi mais veloz. Lá, o regime era mais fraco, menos enraizado, havia os fatores do óleo e do petróleo e houve a intervenção da OTAN. A OTAN se dizia a favor dos rebeldes, mas de maneira alguma sua ação teve efeito na vitória da revolução. Na Síria, o regime é mais poderoso e possui mais aliados em nível regional e internacional — não somente a Rússia. Até o ano passado, os Estados Unidos davam declarações muito tímidas acerca do regime sírio e da revolução. Dizer que os únicos aliados do regime eram a Rússia, o Irã e o Hezbollah é subestimar totalmente o papel dos Estados Unidos no seu fortalecimento, tanto histórica quanto atualmente. Por que se tornou um processo mais radical? Porque na Síria a relação entre o regime e o Estado é muito mais próxima. É impossível derrubar o regime ou o governo sem fazer cair todo o sistema. No Egito, isso é possível, o que significa que a revolução continua e ainda tem um longo caminho a percorrer. Mas na Síria a natureza do regime e a relação que ele tem com o Estado é muito mais forte e ditatorial. O Estado foi construído com base no regime. Não há possibilidade de uma derrubada parcial, ao menos não no sentido de uma revolução democrática. Não se pode derrubar Bashar al-Assad sem desconstruir toda a pirâmide da ditadura.
Sul21 – Tu tiveste a oportunidade de ir até as chamadas “zonas liberadas” da Síria, aquelas áreas sob o controle dos rebeldes. Como é a vida nestes territórios?
Sara - Existem dois tipos de zonas liberadas. Há estados inteiros que já estão liberados e há certas áreas dentro de alguns estados. Existem mais áreas livres no norte e nordeste da Síria do que no sul ou nas fronteiras de Damasco. Em Damasco, temos algumas zonas que estão liberadas, mas sitiadas, já que o regime as cerca. São áreas muito importantes. No norte, temos uma cidade que está completamente liberada. Outra cidade, Aleppo. está repartida ao meio. Hoje existe a Aleppo ocidental e a Aleppo oriental, com estilos de vida diferentes. A travessia entre essas áreas é muito perigosa, há franco-atiradores do regime nas fronteiras. As pessoas estão divididas entre essas zonas. Há famílias de um lado e de outro. Aleppo é uma cidade histórica muito importante que vivenciou uma batalha bastante forte, e os combates ainda estão acontecendo. Trata-se de um grande centro econômico, talvez o maior da Síria, então o regime tem uma relação muito forte com a burguesia local. Ao contrário de Damasco, onde a maioria dos rebeldes é da cidade, em Aleppo aqueles que a liberaram são pessoas do interior do país. Lá a situação é um pouco frágil.
Sara - Existem dois tipos de zonas liberadas. Há estados inteiros que já estão liberados e há certas áreas dentro de alguns estados. Existem mais áreas livres no norte e nordeste da Síria do que no sul ou nas fronteiras de Damasco. Em Damasco, temos algumas zonas que estão liberadas, mas sitiadas, já que o regime as cerca. São áreas muito importantes. No norte, temos uma cidade que está completamente liberada. Outra cidade, Aleppo. está repartida ao meio. Hoje existe a Aleppo ocidental e a Aleppo oriental, com estilos de vida diferentes. A travessia entre essas áreas é muito perigosa, há franco-atiradores do regime nas fronteiras. As pessoas estão divididas entre essas zonas. Há famílias de um lado e de outro. Aleppo é uma cidade histórica muito importante que vivenciou uma batalha bastante forte, e os combates ainda estão acontecendo. Trata-se de um grande centro econômico, talvez o maior da Síria, então o regime tem uma relação muito forte com a burguesia local. Ao contrário de Damasco, onde a maioria dos rebeldes é da cidade, em Aleppo aqueles que a liberaram são pessoas do interior do país. Lá a situação é um pouco frágil.
Sul21 – É possível estimar a quantidade de território que está nas mãos dos rebeldes?
Sara - Se formos falar não de cidades, mas sim de territórios, eu diria que pelo menos 45% do país está liberado, mas é uma estimativa muito precária, pois,às vezes, esse número avança e, às vezes, retrocede. Os números em si não representam nada. Por exemplo, um deserto sob controle dos rebeldes não faz diferença nenhuma. Mas um pequeno aeroporto militar controlado pelos rebeldes vale por uma cidade inteira. Trata-se mais de uma liberação estratégica do que simplesmente geográfica.
Sara - Se formos falar não de cidades, mas sim de territórios, eu diria que pelo menos 45% do país está liberado, mas é uma estimativa muito precária, pois,às vezes, esse número avança e, às vezes, retrocede. Os números em si não representam nada. Por exemplo, um deserto sob controle dos rebeldes não faz diferença nenhuma. Mas um pequeno aeroporto militar controlado pelos rebeldes vale por uma cidade inteira. Trata-se mais de uma liberação estratégica do que simplesmente geográfica.
“Somos nós, mulheres, que decidimos onde queremos ir. Não são os homens, quer sejam revolucionários ou não, que decidirão por nós.”
Sul21 – Qual vem sendo o papel das mulheres neste processo e como a vida delas tem sido alterada com a revolução?
Sara – Não podemos presumir que a ordem social que existia durante o regime seja completamente diferente daquela que estamos vivenciando durante a revolução. O que a revolução fez foi dar a nós, mulheres, uma chance de sermos ativistas, de lutarmos contra a opressão, contra a exploração e contra a marginalização. Porém, é um engano pensar que a revolução, por si só, nos libertou. Ela nos libertou politicamente, mas cabe a nós organizarmo-nos e combatermos o machismo. O revolucionário, a quem eu respeito, e o soldado, que é meu inimigo, têm uma coisa em comum: ambos são machistas. Algumas mulheres, depois da libertação, juntaram-se aos combates. Algumas estão atuando através do jornalismo, algumas estão nos comitês de organização local… As mulheres estão atuando em todos os ambientes. Mas, ao mesmo tempo, há certas vilas na Síria que continuam extremamente rurais e extremamente retrógradas, mesmo depois da revolução. Se formos à área rural de Aleppo, constataremos que lá pouca coisa mudou. Há uma revolução e, nesse momento, as mulheres precisam se politizar e se organizar a fim de conseguir o que não poderia ser feito durante o regime de Bashar al-Assad. A questão maior não é em si a emancipação da mulher, mas. Sim, a nova capacidade de o sexo feminino participar da espera política do país.
Sara – Não podemos presumir que a ordem social que existia durante o regime seja completamente diferente daquela que estamos vivenciando durante a revolução. O que a revolução fez foi dar a nós, mulheres, uma chance de sermos ativistas, de lutarmos contra a opressão, contra a exploração e contra a marginalização. Porém, é um engano pensar que a revolução, por si só, nos libertou. Ela nos libertou politicamente, mas cabe a nós organizarmo-nos e combatermos o machismo. O revolucionário, a quem eu respeito, e o soldado, que é meu inimigo, têm uma coisa em comum: ambos são machistas. Algumas mulheres, depois da libertação, juntaram-se aos combates. Algumas estão atuando através do jornalismo, algumas estão nos comitês de organização local… As mulheres estão atuando em todos os ambientes. Mas, ao mesmo tempo, há certas vilas na Síria que continuam extremamente rurais e extremamente retrógradas, mesmo depois da revolução. Se formos à área rural de Aleppo, constataremos que lá pouca coisa mudou. Há uma revolução e, nesse momento, as mulheres precisam se politizar e se organizar a fim de conseguir o que não poderia ser feito durante o regime de Bashar al-Assad. A questão maior não é em si a emancipação da mulher, mas. Sim, a nova capacidade de o sexo feminino participar da espera política do país.
Sul21 – As mulheres estão se dando conta dessa situação e estão se organizando?
Sara - Sim, mas em certas áreas isso é mais difícil. Isso porque o próprio militarismo é um fenômeno muito machista. Mesmo os rebeldes revolucionários são, por definição, machistas. Quando eu estava em uma área liberada, meu próprio irmão estava segurando uma arma, mas eu me senti muito desconfortável. Afinal de contas, existe essa impressão de que a arma é uma extensão do pênis do homem, e isso é intimidador. Não que eu não esteja disposta a pegar em uma arma e lutar, mas os homens de lá não são simultaneamente rebeldes e ativistas sociais. Na Síria, existe um conservadorismo social. A exploração da mulher e da mulher trabalhadora ocorre não somente dentro dos moldes do capitalismo – com sua proteção à unidade familiar – mas, também, em diferentes setores religiosos que reafirmam o papel secundário da mulher. O problema é que o regime de Bashar al-Assad era concebido como laico, e isso é uma verdade apenas parcial. O regime, por ter um imenso setor público, empregou várias mulheres. Então, para alguns, a emancipação das mulheres está associada com a ditadura, enquanto que a ideia de voltar aos tempos antigos, quando a mulher era mantida dentro de casa, é vista por esses setores como um avanço. É essa mentalidade que temos que combater. Bashar al-Assad nunca foi realmente um libertador. Ele é tão opressor e machista quanto qualquer outro homem da sociedade síria. Somos nós, mulheres, que decidimos onde queremos ir. Não são os homens, quer sejam revolucionários ou não, que decidirão por nós. É um processo longo, está muito longe de terminar e vai ser muito difícil, mas pelo menos agora temos, em algumas áreas, a liberdade política para começar essa luta.
Sara - Sim, mas em certas áreas isso é mais difícil. Isso porque o próprio militarismo é um fenômeno muito machista. Mesmo os rebeldes revolucionários são, por definição, machistas. Quando eu estava em uma área liberada, meu próprio irmão estava segurando uma arma, mas eu me senti muito desconfortável. Afinal de contas, existe essa impressão de que a arma é uma extensão do pênis do homem, e isso é intimidador. Não que eu não esteja disposta a pegar em uma arma e lutar, mas os homens de lá não são simultaneamente rebeldes e ativistas sociais. Na Síria, existe um conservadorismo social. A exploração da mulher e da mulher trabalhadora ocorre não somente dentro dos moldes do capitalismo – com sua proteção à unidade familiar – mas, também, em diferentes setores religiosos que reafirmam o papel secundário da mulher. O problema é que o regime de Bashar al-Assad era concebido como laico, e isso é uma verdade apenas parcial. O regime, por ter um imenso setor público, empregou várias mulheres. Então, para alguns, a emancipação das mulheres está associada com a ditadura, enquanto que a ideia de voltar aos tempos antigos, quando a mulher era mantida dentro de casa, é vista por esses setores como um avanço. É essa mentalidade que temos que combater. Bashar al-Assad nunca foi realmente um libertador. Ele é tão opressor e machista quanto qualquer outro homem da sociedade síria. Somos nós, mulheres, que decidimos onde queremos ir. Não são os homens, quer sejam revolucionários ou não, que decidirão por nós. É um processo longo, está muito longe de terminar e vai ser muito difícil, mas pelo menos agora temos, em algumas áreas, a liberdade política para começar essa luta.
“As mulheres estão atraídas pela revolução porque sentem que se trata não somente da libertação de uma ditadura política, mas, também, da chance de se livrar da própria sociedade patriarcal”.
Sul21 – Tu achas que é possível transformar o processo revolucionário em um processo que também confira autonomia e liberdade às mulheres?
Sara – É um processo que pode nos dar a liberdade política para sermos capazes de trabalhar pela libertação. Em árabe, a palavra “revolução” é feminina. As mulheres estão atraídas pela revolução porque sentem que se trata não somente da libertação de uma ditadura política, mas, também, da chance de se livrar da própria sociedade patriarcal. Existe esse sentimento, mas há muitos desafios. O desafio da superação do regime; o desafio da superação de uma sociedade patriarcal e retrógrada; o desafio da questão religiosa — independentemente de ser islâmica ou não –, já que a religião representa uma proteção à unidade familiar e, portanto, reafirma o papel secundário da mulher. Temos uma série de desafios. Será uma batalha dura para as mulheres.
Sara – É um processo que pode nos dar a liberdade política para sermos capazes de trabalhar pela libertação. Em árabe, a palavra “revolução” é feminina. As mulheres estão atraídas pela revolução porque sentem que se trata não somente da libertação de uma ditadura política, mas, também, da chance de se livrar da própria sociedade patriarcal. Existe esse sentimento, mas há muitos desafios. O desafio da superação do regime; o desafio da superação de uma sociedade patriarcal e retrógrada; o desafio da questão religiosa — independentemente de ser islâmica ou não –, já que a religião representa uma proteção à unidade familiar e, portanto, reafirma o papel secundário da mulher. Temos uma série de desafios. Será uma batalha dura para as mulheres.
Sul21 – Qual é o programa político dos rebeledes?
Sara - Não há um programa político muito articulado. Há muito poucos partidos políticos oficiais na Síria e muitos destes partidos com um programa político não se engajariam na revolução. Porém, há um processo em curso no qual mesmo os rebeldes estão sentindo que precisam de um programa. É possível notar isso pelas discussões deles. Eles não necessariamente se dão conta disso, mas o que precisam é de um partido político. O programa deles é derrubar o regime, mas no momento estão enfrentando outra espécie de força opressora, que é o fundamentalismo islâmico, como, por exemplo, a Al-Qaeda. Eles estão sendo confrontados agora, e eu acho isso bom. É melhor que eles sejam confrontados nesse momento do que depois, porque ainda se trata de um processo revolucionário radical. Ao serem confrontados pela presença da Al-Qaeda em suas fileiras, eles se perguntam: “o que é isso, como nós podemos lidar com isso?”. Eles entendem que apenas derrubar o regime não vai ser suficiente. Também precisam lutar contra o fundamentalismo religioso, o Conselho Nacional e a oposição burguesa. Sem que os rebeldes percebam, seus inimigos estão se ampliando. Mesmo que falte experiência política e organizacional, há um processo em curso que está se radicalizando, pelo menos em alguns segmentos dos grupos rebeldes. Se a situação, em termos de guerra, não se deteriorar violentamente, pode haver uma chance. O que está impedindo a vitória não é somente a falta de experiência política, mas sim a própria guerra. Não se tem comida, aviões do governo bombardeiam as áreas sob controle rebelde, há destruição e deslocamentos em massa de refugiados. Uma cidade com 300 mil habitantes rapidamente fica com 70 mil pessoas. São condições muito duras e adversas. Se isso continuar, progredir politicamente será muito difícil. A guerra precisa terminar e Bashar al-Assad precisa ser derrubado para que qualquer progresso político e qualquer programa possa ser desenvolvido pelos rebeldes.
Sara - Não há um programa político muito articulado. Há muito poucos partidos políticos oficiais na Síria e muitos destes partidos com um programa político não se engajariam na revolução. Porém, há um processo em curso no qual mesmo os rebeldes estão sentindo que precisam de um programa. É possível notar isso pelas discussões deles. Eles não necessariamente se dão conta disso, mas o que precisam é de um partido político. O programa deles é derrubar o regime, mas no momento estão enfrentando outra espécie de força opressora, que é o fundamentalismo islâmico, como, por exemplo, a Al-Qaeda. Eles estão sendo confrontados agora, e eu acho isso bom. É melhor que eles sejam confrontados nesse momento do que depois, porque ainda se trata de um processo revolucionário radical. Ao serem confrontados pela presença da Al-Qaeda em suas fileiras, eles se perguntam: “o que é isso, como nós podemos lidar com isso?”. Eles entendem que apenas derrubar o regime não vai ser suficiente. Também precisam lutar contra o fundamentalismo religioso, o Conselho Nacional e a oposição burguesa. Sem que os rebeldes percebam, seus inimigos estão se ampliando. Mesmo que falte experiência política e organizacional, há um processo em curso que está se radicalizando, pelo menos em alguns segmentos dos grupos rebeldes. Se a situação, em termos de guerra, não se deteriorar violentamente, pode haver uma chance. O que está impedindo a vitória não é somente a falta de experiência política, mas sim a própria guerra. Não se tem comida, aviões do governo bombardeiam as áreas sob controle rebelde, há destruição e deslocamentos em massa de refugiados. Uma cidade com 300 mil habitantes rapidamente fica com 70 mil pessoas. São condições muito duras e adversas. Se isso continuar, progredir politicamente será muito difícil. A guerra precisa terminar e Bashar al-Assad precisa ser derrubado para que qualquer progresso político e qualquer programa possa ser desenvolvido pelos rebeldes.
“Não é possível ser verdadeiramente marxista e não apoiar a revolução na Síria”
Sul21 – Como você vê essa possibilidade de uma intervenção militar dos Estados Unidos na Síria?
Sara - Se lermos as declarações oficiais dos Estados Unidos e da Rússia desde que as armas químicas foram usadas pelo governo sírio, poderemos notar que a administração americana está sendo extremamente cuidadosa com suas palavras. Eles dizem: “não iremos derrubar o regime, nós vamos puni-lo com um ataque de forma cirúrgica”. É como se estivessem andando nas pontas dos pés quando se trata da Síria e da revolução. O governo estadunidense não sabe mais o que fazer. Os Estados Unidos levaram um tapa no rosto, já que os limites estabelecidos por Obama foram desrespeitados por Bashar al-Assad. Fica claro que os americanos e os russos querem uma negociação política. Neste momento, eles são dois lados da mesma moeda. Nem os Estados Unidos, nem a Rússia querem uma quebra radical do status quo. Ninguém quer ficar inseguro quanto ao que acontecerá nos próximos anos. Todos gostariam de fazer com que Bashar al-Assad, os rebeldes e a oposição burguesa simplesmente sentassem em uma mesa, apertassem as mãos, agendassem eleições para 2014 e fingissem que está tudo resolvido. Porém, isso é ilusão. Mesmo que se tente, não acontecerá. Hipoteticamente, se acontecer, teríamos uma cosmética transição de governo dentro de um país que está em guerra! As cabeças do regime estão cientes de que os Estados Unidos e a Rússia estão muito próximos de chegarem a um acordo. O que me preocupa são os grupos paramilitares de Assad. Se os americanos não atacarem nesse momento, esses grupos vão se sentir fortalecidos. Irão pensar que mesmo Obama não pode derrubar Assad. Neste sentido, creio que ainda veremos muitas atrocidades nas próximas semanas.
Sara - Se lermos as declarações oficiais dos Estados Unidos e da Rússia desde que as armas químicas foram usadas pelo governo sírio, poderemos notar que a administração americana está sendo extremamente cuidadosa com suas palavras. Eles dizem: “não iremos derrubar o regime, nós vamos puni-lo com um ataque de forma cirúrgica”. É como se estivessem andando nas pontas dos pés quando se trata da Síria e da revolução. O governo estadunidense não sabe mais o que fazer. Os Estados Unidos levaram um tapa no rosto, já que os limites estabelecidos por Obama foram desrespeitados por Bashar al-Assad. Fica claro que os americanos e os russos querem uma negociação política. Neste momento, eles são dois lados da mesma moeda. Nem os Estados Unidos, nem a Rússia querem uma quebra radical do status quo. Ninguém quer ficar inseguro quanto ao que acontecerá nos próximos anos. Todos gostariam de fazer com que Bashar al-Assad, os rebeldes e a oposição burguesa simplesmente sentassem em uma mesa, apertassem as mãos, agendassem eleições para 2014 e fingissem que está tudo resolvido. Porém, isso é ilusão. Mesmo que se tente, não acontecerá. Hipoteticamente, se acontecer, teríamos uma cosmética transição de governo dentro de um país que está em guerra! As cabeças do regime estão cientes de que os Estados Unidos e a Rússia estão muito próximos de chegarem a um acordo. O que me preocupa são os grupos paramilitares de Assad. Se os americanos não atacarem nesse momento, esses grupos vão se sentir fortalecidos. Irão pensar que mesmo Obama não pode derrubar Assad. Neste sentido, creio que ainda veremos muitas atrocidades nas próximas semanas.
Sul21 – Como tu vês os posicionamentos de organizações de esquerda a respeito do que vem acontecendo na Síria? No Brasil, muitos partidos e entidades apoiam o regime.
Sara – Primeiro, há ignorância. Depois, há puro oportunismo. As organizações de esquerda que são contra as revoluções na Síria e na Líbia tornaram-se tão burocratizadas que se afastaram da massa de trabalhadores que dizem representar. Para mim, não são organizações de esquerda. Um militante de um partido comunista brasileiro me disse que a classe trabalhadora que está se juntando à revolução na Síria na verdade é composta por mercenários. Criticam isso enquanto aplaudem o governo brasileiro, que é absolutamente capitalista, baseado na conciliação de classes e não respeita nenhuma minoria: classe trabalhadora, indígenas, negros… São essas pessoas que vêm me dizer que os rebeldes no meu país são mercenários! Não há condições de argumentar. Percorri o Brasil no ano passado em campanha contra o regime sírio e até hoje não conheci nenhum líder de nenhuma organização de esquerda que continuasse apoiando a ditadura depois de saber o que realmente estava acontecendo. Não é possível ser verdadeiramente marxista e não apoiar a revolução na Síria.
Sara – Primeiro, há ignorância. Depois, há puro oportunismo. As organizações de esquerda que são contra as revoluções na Síria e na Líbia tornaram-se tão burocratizadas que se afastaram da massa de trabalhadores que dizem representar. Para mim, não são organizações de esquerda. Um militante de um partido comunista brasileiro me disse que a classe trabalhadora que está se juntando à revolução na Síria na verdade é composta por mercenários. Criticam isso enquanto aplaudem o governo brasileiro, que é absolutamente capitalista, baseado na conciliação de classes e não respeita nenhuma minoria: classe trabalhadora, indígenas, negros… São essas pessoas que vêm me dizer que os rebeldes no meu país são mercenários! Não há condições de argumentar. Percorri o Brasil no ano passado em campanha contra o regime sírio e até hoje não conheci nenhum líder de nenhuma organização de esquerda que continuasse apoiando a ditadura depois de saber o que realmente estava acontecendo. Não é possível ser verdadeiramente marxista e não apoiar a revolução na Síria.
“É inconcebível que uma grande potência como o Brasil não tenha uma posição clara sobre a Síria”
Sul21 – Como tu avalias a posição do governo brasileiro a respeito da Síria?
Sara - O governo brasileiro não tem posicionamento. É engraçado… Eu sou uma cidadã síria e meu único passaporte é sírio. Eu tive que implorar pelo visto, tivemos que ligar para amigos que conheciam pessoas e eu precisei esperar na embaixada por sete horas. Foi nojento e muito humilhante. Consegui o visto para apenas um mês, sendo que pretendo ficar no Brasil por um ano. Meu irmão, que é sírio mas também possui passaporte americano, foi até a embaixada brasileira na Turquia e lhe disseram: “não se preocupe, seu visto sairá em cinco dias, está tudo bem”. Então o governo brasileiro não tem posicionamento sobre a Síria. Mas não ter posicionamento já é uma forma de se posicionar. Com relação aos refugiados, é quase impossível para os sírios virem ao Brasil. As pessoas de lá que querem vir ao Brasil são aquelas que costumam ter suas famílias aqui. O governo brasileiro está tornando impossível para os sírios virem ao país e isso é uma das coisas que deveria ser combatida. É algo incompreensível: ser contra o regime de Bashar al-Assad e ao mesmo tempo ser contra os cidadãos sírios. O governo brasileiro afirma que a Síria é um grande país e que precisa ser protegido, mas quando sua população bate às portas do Brasil ele exige que fiquem do lado de fora. Isso é algo muito asqueroso em relação ao Brasil. É inconcebível que uma grande potência como o Brasil não tenha uma posição clara sobre a Síria.
Sara - O governo brasileiro não tem posicionamento. É engraçado… Eu sou uma cidadã síria e meu único passaporte é sírio. Eu tive que implorar pelo visto, tivemos que ligar para amigos que conheciam pessoas e eu precisei esperar na embaixada por sete horas. Foi nojento e muito humilhante. Consegui o visto para apenas um mês, sendo que pretendo ficar no Brasil por um ano. Meu irmão, que é sírio mas também possui passaporte americano, foi até a embaixada brasileira na Turquia e lhe disseram: “não se preocupe, seu visto sairá em cinco dias, está tudo bem”. Então o governo brasileiro não tem posicionamento sobre a Síria. Mas não ter posicionamento já é uma forma de se posicionar. Com relação aos refugiados, é quase impossível para os sírios virem ao Brasil. As pessoas de lá que querem vir ao Brasil são aquelas que costumam ter suas famílias aqui. O governo brasileiro está tornando impossível para os sírios virem ao país e isso é uma das coisas que deveria ser combatida. É algo incompreensível: ser contra o regime de Bashar al-Assad e ao mesmo tempo ser contra os cidadãos sírios. O governo brasileiro afirma que a Síria é um grande país e que precisa ser protegido, mas quando sua população bate às portas do Brasil ele exige que fiquem do lado de fora. Isso é algo muito asqueroso em relação ao Brasil. É inconcebível que uma grande potência como o Brasil não tenha uma posição clara sobre a Síria.
Sul21 – Quanto tempo tu achas que a guerra ainda poderá durar?
Sara – Acho que pode durar um bom tempo. A história nos prova que mesmo as guerras mais sangrentas podem durar muito. A guerra em sua forma atual talvez não se estenda tanto, mas outras formas de guerra e de caos vão continuar. Mesmo que Bashar al-Assad seja derrubado da presidência, a guerra não acabará. Há grupos paramilitares que não estão dispostos a negociar com ninguém, mesmo que seu presidente esteja. Esses grupos acreditam que a revolução não é uma revolução e que os revolucionários são extremistas sunitas que querem aniquilar todas as minorias religiosas. Eles irão até o fim. Lidar com isso de maneira inteligente também é um desafio para os rebeldes, mesmo que pareça injusto que eles, que estão morrendo, tenham que carregar ainda a obrigação de dizer às pessoas não irão matá-las. Mas precisamos convencer a base social que apoia o regime – pelo menos as pessoas que ainda não sujaram as mãos com sangue – de que Bashar al-Assad não irá protegê-las. Mesmo que elas não se juntem à revolução, pelo menos podem retirar o apoio ao regime. Isso é algo muito difícil. Depois de tanta morte, há muito ódio e sentimentos que nunca serão consertados, especialmente durante esta geração.
Sara – Acho que pode durar um bom tempo. A história nos prova que mesmo as guerras mais sangrentas podem durar muito. A guerra em sua forma atual talvez não se estenda tanto, mas outras formas de guerra e de caos vão continuar. Mesmo que Bashar al-Assad seja derrubado da presidência, a guerra não acabará. Há grupos paramilitares que não estão dispostos a negociar com ninguém, mesmo que seu presidente esteja. Esses grupos acreditam que a revolução não é uma revolução e que os revolucionários são extremistas sunitas que querem aniquilar todas as minorias religiosas. Eles irão até o fim. Lidar com isso de maneira inteligente também é um desafio para os rebeldes, mesmo que pareça injusto que eles, que estão morrendo, tenham que carregar ainda a obrigação de dizer às pessoas não irão matá-las. Mas precisamos convencer a base social que apoia o regime – pelo menos as pessoas que ainda não sujaram as mãos com sangue – de que Bashar al-Assad não irá protegê-las. Mesmo que elas não se juntem à revolução, pelo menos podem retirar o apoio ao regime. Isso é algo muito difícil. Depois de tanta morte, há muito ódio e sentimentos que nunca serão consertados, especialmente durante esta geração.
Sul21 – Quem está vencendo a guerra atualmente: os rebeldes ou o governo?
Sara – Se levarmos em consideração o equilíbrio de poder, os rebeldes estão perdendo. Mas se você levarmos em consideração o armamento utilizado pelos rebeldes… São armas do tempo da segunda guerra mundial, totalmente disfuncionais. Alguns rebeldes têm armas substanciais, como equipamento antiaéreo, mas são a minoria. Enquanto isso, o regime dispõe de uma poderoa máquina militar. Se considerarmos os equipamentos dos rebeldes e do regime, veremos que a revolução está vencendo. Mas essa é uma equação muito frágil. Precisamos de armas pesadas para que possamos dar um fim nisso. Se a guerra não terminar logo, quanto mais tempo demorar, mais sangrento irá se tornar o confronto e menor será a chance de vitória da revolução. Quem pode fornecer esse aramento para nós? Os Estados Unidos, a Arábia Saudita, o Catar, a Turquia e a França. Esses países não querem armar rebeldes radicais, portanto estamos presos em um ciclo vicioso. Precisamos de armas daqueles que não querem apoiar uma solução radical para o país. É aí que está o perigo: a menos que a revolução seja capaz de avançar e tomar para si o arsenal do regime, o desfecho poderá ser muito ruim.
Sara – Se levarmos em consideração o equilíbrio de poder, os rebeldes estão perdendo. Mas se você levarmos em consideração o armamento utilizado pelos rebeldes… São armas do tempo da segunda guerra mundial, totalmente disfuncionais. Alguns rebeldes têm armas substanciais, como equipamento antiaéreo, mas são a minoria. Enquanto isso, o regime dispõe de uma poderoa máquina militar. Se considerarmos os equipamentos dos rebeldes e do regime, veremos que a revolução está vencendo. Mas essa é uma equação muito frágil. Precisamos de armas pesadas para que possamos dar um fim nisso. Se a guerra não terminar logo, quanto mais tempo demorar, mais sangrento irá se tornar o confronto e menor será a chance de vitória da revolução. Quem pode fornecer esse aramento para nós? Os Estados Unidos, a Arábia Saudita, o Catar, a Turquia e a França. Esses países não querem armar rebeldes radicais, portanto estamos presos em um ciclo vicioso. Precisamos de armas daqueles que não querem apoiar uma solução radical para o país. É aí que está o perigo: a menos que a revolução seja capaz de avançar e tomar para si o arsenal do regime, o desfecho poderá ser muito ruim.
“Dizem que é uma guerra civil. É a típica retórica despolitizada promovida pelas grandes mídias burguesas”
Sul21 – Como tu avalias a cobertura da mídia – tanto na Síria quanto da imprensa internacional – a respeito do que vem ocorrendo no país?
Sara – Dentro da Síria chega a ser engraçado. A mídia estatal mostra corpos de rebeldes e diz: “nós matamos os terroristas que queriam pegar vocês”, ao som de música nacionalista. Mostram um exército bonzinho e soldados inofensivos indo falar com crianças pequenas. “Terroristas” é o termo mais empregado para se referir aos rebeldes. O regime detém a mídia tradicional: eles têm a TV, as rádios e os jornais. Os rebeldes não têm nada. Há páginas de Facebook e alguns pequenos jornais locais. O poder da retórica do regime com sua mídia e propaganda é muito mais forte do que qualquer coisa que os rebeldes poderiam produzir. É claro que isso tem efeitos na guerra. Internacionalmente, o noticiário se limita a uma fria contagem do número de mortos, sem adentrar nos pormenores da revolução. Se a cobertura é feita de outra forma, geralmente vem de ativistas, e não de grandes veículos de comunicação. Ou temos a velha retórica de guerra civil. Dizem que é uma guerra civil, que existem dois lados, que os sírios estão matando uns aos outros, que está uma bagunça e que os turistas não devem ir até o país. É a típica retórica despolitizada promovida pelas grandes mídias burguesas. Há também a cobertura feita por veículos do Golfo Árabe. Na Arábia Saudita e no Catar acontece o oposto. A revolução é propagandeada, mas a propaganda veiculada é de uma revolução que não é minha. Eles só filmam os islamitas. Há tantos lados na revolução síria que se torna complicado reportar sobre ela. Em menos de um ano se tornou muito mais difícil falar sobre a revolução síria.
Sara – Dentro da Síria chega a ser engraçado. A mídia estatal mostra corpos de rebeldes e diz: “nós matamos os terroristas que queriam pegar vocês”, ao som de música nacionalista. Mostram um exército bonzinho e soldados inofensivos indo falar com crianças pequenas. “Terroristas” é o termo mais empregado para se referir aos rebeldes. O regime detém a mídia tradicional: eles têm a TV, as rádios e os jornais. Os rebeldes não têm nada. Há páginas de Facebook e alguns pequenos jornais locais. O poder da retórica do regime com sua mídia e propaganda é muito mais forte do que qualquer coisa que os rebeldes poderiam produzir. É claro que isso tem efeitos na guerra. Internacionalmente, o noticiário se limita a uma fria contagem do número de mortos, sem adentrar nos pormenores da revolução. Se a cobertura é feita de outra forma, geralmente vem de ativistas, e não de grandes veículos de comunicação. Ou temos a velha retórica de guerra civil. Dizem que é uma guerra civil, que existem dois lados, que os sírios estão matando uns aos outros, que está uma bagunça e que os turistas não devem ir até o país. É a típica retórica despolitizada promovida pelas grandes mídias burguesas. Há também a cobertura feita por veículos do Golfo Árabe. Na Arábia Saudita e no Catar acontece o oposto. A revolução é propagandeada, mas a propaganda veiculada é de uma revolução que não é minha. Eles só filmam os islamitas. Há tantos lados na revolução síria que se torna complicado reportar sobre ela. Em menos de um ano se tornou muito mais difícil falar sobre a revolução síria.
Sul21 – O que tu pretendes fazer no Brasil agora que não podes retornar à Síria?
Sara - Vim ao Brasil no ano passado como uma ativista independente. Conheci muitas pessoas da CSP-Conlutas, do PSTU e fiquei impressionada com a sua organização, com seu grande interesse pela revolução síria e pelas lutas no Brasil, apesar de todos os problemas. Eu senti que precisava dessa dessa experiência de organização, então me juntei à Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT). Meu plano nesse momento é ficar no Brasil por um tempo para que eu possa ganhar mais experiência em termos de organização política. Na próxima semana, outro rebelde chegará ao Brasil. É um jovem de 22 anos que deixou sua universidade, lutou nas linhas de frente e fez parte de um conselho local. Ele é líder de uma das brigadas e passará pelo Brasil, pela América Latina e espero que também pela Europa, tentando estabelecer mais conexões. Sei que o Brasil é um país muito distante da Síria. As pessoas me perguntam por que não fui à Europa. Há organizações de esquerda na Europa. Elas são muito propagandistas e dão declarações muito bonitas. Mas as únicas organizações de esquerda que realmente apoiaram a revolução síria não só politicamente como materialmente foram a LIT e a CSP-Conlutas. Solidariedade não são só palavras, precisamos de dinheiro.
Sara - Vim ao Brasil no ano passado como uma ativista independente. Conheci muitas pessoas da CSP-Conlutas, do PSTU e fiquei impressionada com a sua organização, com seu grande interesse pela revolução síria e pelas lutas no Brasil, apesar de todos os problemas. Eu senti que precisava dessa dessa experiência de organização, então me juntei à Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT). Meu plano nesse momento é ficar no Brasil por um tempo para que eu possa ganhar mais experiência em termos de organização política. Na próxima semana, outro rebelde chegará ao Brasil. É um jovem de 22 anos que deixou sua universidade, lutou nas linhas de frente e fez parte de um conselho local. Ele é líder de uma das brigadas e passará pelo Brasil, pela América Latina e espero que também pela Europa, tentando estabelecer mais conexões. Sei que o Brasil é um país muito distante da Síria. As pessoas me perguntam por que não fui à Europa. Há organizações de esquerda na Europa. Elas são muito propagandistas e dão declarações muito bonitas. Mas as únicas organizações de esquerda que realmente apoiaram a revolução síria não só politicamente como materialmente foram a LIT e a CSP-Conlutas. Solidariedade não são só palavras, precisamos de dinheiro.
Sul21 – Tua família ainda está na Síria?
Sara – A minha família está em Beirute, no Líbano. Eles deixaram a Síria há sete meses. Meu irmão estava até agora lutando na linha de frente, mas acabou de conseguir o visto e está vindo para o Brasil.
Sara – A minha família está em Beirute, no Líbano. Eles deixaram a Síria há sete meses. Meu irmão estava até agora lutando na linha de frente, mas acabou de conseguir o visto e está vindo para o Brasil.
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Chomsky: “Enquanto a Síria se suicida, Israel e EUA desfrutam do espetáculo”
Chomsky: “Enquanto a Síria se suicida, Israel e EUA desfrutam do espetáculo”
Em entrevista exclusiva para o portal britânico Cessar Fogo (Ceasefire), o renomado intelectual Noam Chomsky falou com Frank Barat sobre a situação atual no Médio Oriente, em particular a crise da Síria, as negociações de paz entre Israel e os palestinianos e o papel do poder dos EUA na região. “Se os EUA e Israel quisessem ajudar os rebeldes – não o fazem – poderiam fazê-lo sem intervenção militar”.
Qual é a definição das negociações entre Israel e Estados Unidos e porque a Autoridade Palestina (AP) continua a prestar-se a isso?
Do ponto de vista dos EUA, as negociações são, com efeito, um caminho para Israel continuar a sua política de tomar sistematicamente tudo o que quiser na Cisjordânia, mantendo o assédio brutal de Gaza, separando Gaza da Cisjordânia e, claro, ocupando os Montes Golã sírios, tudo com pleno apoio dos EUA. E o marco das negociações, igualmente aos últimos 20 anos de experiência de Oslo, simplesmente proporcionou o encobrimento desta situação.
Em sua opinião, por que a Autoridade Palestina (AP) continua a jogar esse jogo?
Provavelmente, em parte, por desespero. Podemos nos perguntar se é a decisão correta, mas ela não tem muitas alternativas.
Definitivamente, a AP aceita esse marco apenas para sobreviver?
Se ela se nega a negociar, tal como propõem os Estados Unidos, a sua base de apoio seria derrubada. A AP sobrevive essencialmente à base de doações. Israel assegurou que ela não tenha uma economia produtiva. É uma espécie do que em ídiche se chamaria “Sociedade Schnorrer”: pede emprestado e vive do que puder conseguir.
Se a AP tem outra alternativa, não está claro, mas se rejeitar a exigência dos EUA de acudir às negociações em condições totalmente inaceitáveis, a sua base de apoio iria erodir-se. E não tem apoio – externo – suficiente para que a elite palestiniana possa viver de maneira bastante decente – por tabela pródiga – no seu estilo de vida, enquanto a sociedade que a rodeia cai aos pedaços.
Desse modo, seria negativa a queda e desaparição da AP, depois disso tudo?
Depende do que vier a substituí-la. Se fosse permitido a Marwan Barghouti, por exemplo, unir-se à sociedade da forma como fez, por exemplo, Nelson Mandela, poderia ter um efeito dinamizador na organização de uma sociedade palestiniana, que poderia pressionar por exigências mais importantes. Mas lembre-se que eles não têm muitas opções.
De facto, se nos remetemos ao princípio dos Acordos de Oslo, há 20 anos, havia negociações em curso, as negociações de Madrid, nas quais a delegação palestiniana era encabeçada por Haider Abdel-Shafi, uma figura muito respeitada da esquerda nacionalista palestiniana. Abdel-Shafi negava-se a aceitar os termos dos EUA e Israel, que lhes permitiam fundamentalmente a continuidade da expansão dos colonatos. Negou-se, e as negociações estancaram sem chegar a lugar algum.
Enquanto isso, Arafat e os palestinianos do exterior foram paralelamente a Oslo, ganharam o controlo e Haider Abdel-Shafi opôs-se de forma tão contundente que nem sequer se apresentou à dramática cerimónia sem sentido, onde Clinton sorria enquanto Arafat e Rabin apertavam as mãos. Abdel-Shafi não se apresentou porque se deu conta de que era uma traição absoluta. Mas baseava-se em princípios e, portanto, não poderia chegar a nenhuma parte, a menos que conseguisse um importante apoio da União Europeia, dos Estados do Golfo e em última instância dos EUA.
O que acha que realmente está em jogo na Síria neste momento e o que significa para a região em geral?
A Síria está a suicidar-se. É uma história de terror e cada vez está pior. Não há uma saída no horizonte. O que provavelmente acontecerá, se continuar assim, é que a Síria será dividida em três regiões: uma região curda – que já está a formar-se – que poderia separar-se e unir-se de alguma maneira ao semi-autónomo Curdistão iraquiano, talvez com algum tipo de acordo com a Turquia.
O resto do país se dividiria entre uma região dominada pelo regime de Assad – um regime brutal, horrível – e outra secção dominada pelas diversas milícias, que vão desde o extremamente nocivo e violento até ao secular e democrático. Se olharmos o que saiu no New York Times, há uma citação de um funcionário israelita que expressa essencialmente a sua alegria de ver os árabes massacrando-se uns aos outros.
Sim, eu li.
Para os Estados Unidos, assim está bom, não querem outro tipo de saída. Se os EUA e Israel quisessem ajudar os rebeldes – não o fazem – poderiam fazê-lo, inclusive, sem intervenção militar. Por exemplo, com Israel mobilizando forças nos Montes Golã (claro, são as montanhas do Golã da Síria, mas por agora o mundo, mais ou menos, tolera ou aceita a ocupação ilegal de Israel). Se fizessem isso, obrigariam Assad a mover forças até ao sul, o que aliviaria a pressão sobre os rebeldes. Mas não há nenhum indício sequer disso. Mesmo assim, não estão a dar ajuda humanitária à grande quantidade de refugiados que sofrem, não estão a fazer nenhuma das coisas simples que poderiam fazer.
Tudo isso sugere que tanto Israel como os EUA preferem exatamente o que está a acontecer, tal como informava o NYT que mencionámos. Enquanto isso, Israel pode celebrar, a sua condição do que chamam de “cidade na selva”. Houve um interessante artigo do editor do Haaretz, Aluf Benn, que escreveu sobre como os israelitas vão à praia, desfrutam e congratulam-se de serem uma “cidade na selva”, enquanto as bestas selvagens de fora se desgarram entre si. E, claro, Israel, sob essa imagem, não está a fazer nada, exceto defender-se. Eles gostam dessa imagem e os EUA tampouco parecem muito descontentes com ela. O resto é conversa.
Assim, podemos falar de um ataque dos EUA, você acredita que ocorra?
Um bombardeamento?
Sim.
É uma espécie de debate interessante nos Estados Unidos. A ultra-direita, os extremistas da direita, que são uma espécie de espectro internacional, opõem-se, ainda que não seja pelas razões que me agradariam. Opõem-se porque pensam: “por que se dedicar a resolver os problemas dos outros e perder os nossos próprios recursos?” Estão literalmente a perguntar: “quem nos vai defender quando nos atacarem, se nós mesmos estamos dedicados a ajudar outros países, no estrangeiro?” Essa é a ultra-direita. Se nos fixamos na direita “moderada”, gente como, por exemplo, David Brooks, do New York Times, considerado um comentarista intelectual de direita, o seu ponto de vista é de que o esforço dos EUA em retirar as suas forças da região não está a ter um “efeito moderador”. Segundo Brooks, quando as forças norte-americanas estão na região, isso tem um efeito moderador, melhora a situação, como se pode ver no Iraque, por exemplo. Mas se vamos retirar as nossas forças, então já não somos capazes de moderar e melhorar a situação.
Essa é a visão normal da direita intelectual na corrente principal, os democratas liberais e outros. De modo que há um monte de indagações sobre como “devemos exercer a nossa ‘responsabilidade de proteger’”. Bom, basta dar uma olhada nos registos históricos dos EUA sobre a ‘responsabilidade de proteger’. O facto, inclusive, de dizer tais palavras revela algo de, certamente, insólito nos EUA e, de facto, na cultura moral e intelectual do Ocidente.
Isso é, à parte do facto em si, uma grave violação do direito internacional. A última linha de Obama é que ele não estabeleceu uma “linha vermelha”, mas que o mundo a estabeleceu, por meio das suas convenções sobre a guerra química. Bom, na verdade o mundo tem um tratado, que Israel não assinou e que os EUA descuidam totalmente – por exemplo, quando apoiaram o uso, realmente horrível, de armas químicas por Saddam Hussein. Hoje, isso é utilizado para denunciar Saddam Hussein, ignorando o facto de que não só se tolerava, mas, basicamente, havia o apoio do governo de Reagan. E, claro, a convenção não tem mecanismos de aplicação de sanções.
Tampouco existe o que se denomina ‘responsabilidade de proteger’, isso é uma fraude promovida na cultura intelectual do Ocidente. Há um conceito, na verdade dois: um aprovado pela Assembleia Geral da ONU, que se refere à ‘responsabilidade de proteger’, mas que não oferece nenhuma autorização a qualquer tipo de intervenção, exceto nas condições da Carta das Nações Unidas. Outra versão, que se aprovou só por parte do Ocidente, os EUA e os seus aliados, que é unilateral e diz que tal responsabilidade permite a “intervenção militar das organizações regionais na região da sua autoridade, sem a autorização do Conselho de Segurança”.
Pois bem, traduzindo, isso significa que se proporciona a autorização aos EUA e à NATO de utilizarem a violência aonde quiserem, sem autorização do Conselho de Segurança. Isso é o que se chama ‘responsabilidade de proteger’ no discurso ocidental. Se não fosse tão trágico, seria ridículo.
Frank Baraté coordenador do Tribunal Russell sobre a Palestina. O seu livro “Gaza in Crisis: Reflections on Israel's War Against the Palestinians”, com Noam Chomsky e Ilan Pappe, já está disponível. A edição francesa do livro, publicada em 2013, conta com uma extensa entrevista com Stephane Hessel.
Entrevista originalmente publicada no portal Ceasefire. Tradução para espanhol de Rebelióne para português de Gabriel Brito, do Correio da Cidadania.
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