terça-feira, 8 de outubro de 2013

LASIER MARTINS, RBS E O ALASTRAMENTO INSTITUCIONAL DO PODER SIMBÓLICO

LASIER MARTINS, RBS E O ALASTRAMENTO INSTITUCIONAL DO PODER SIMBÓLICO


Funcionário há 27 anos do Grupo RBS, que domina a comunicação no Rio Grande do Sul, e um de seus mais expressivos e reacionários “formadores de opinião”, Lasier Martins anunciou nesta segunda-feira, em seu comentário diário no Jornal do Almoço, sua pré-candidatura ao Senado Federal. Lasier se filia ao PDT, partido do prefeito de Porto Alegre José Fortunati, e, como manda o “Código de Ética” da empresa, se desliga do Grupo RBS. Ele se soma a dois candidatos oriundos da mesma empresa, André Machado, que filiou-se ao PCdoB para concorrer a deputado federal, e Ana Amélia Lemos, eleita senadora há dois anos e agora pré-candidata do PP ao governo do estado.
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Lasier liga-se ao PDT alegando compromisso com a Educação e com o combate à corrupção, mas, considerando-se as relações internas à empresa, fica difícil supor que tanto ele quanto André Machado não irão apoiar a candidatura de Ana Amélia Lemos ao Piratini, ainda que suas siglas sigam caminho diferente – o que está longe de ser uma certeza. No último processo eleitoral, Ana Amélia ignorou a posição de seu partido e apoiou a candidatura à Prefeitura de Manuela D’Ávila, principal liderança do PCdoB. A retribuição pode vir agora, com Manuela como provável fenômeno de votos para deputada estadual (ela já anunciou não querer concorrer a federal) acompanhada por André Machado, candidato a deputado federal. Cresce assim a possibilidade de a sigla apoiar a candidata do PP, já que seus dois principais candidatos poderiam posicionar-se nesse sentido.
O mesmo acontece com o PDT, que não terá candidato a governador, recusou recentemente ampliar seus cargos no governo Tarso Genro (PT), e tem agora sua principal expressão eleitoral em Lasier Martins. Além disso, a cada vez mais difícil relação entre PDT e PT em Porto Alegre pode facilitar a formação de um frentão contra Tarso, por Ana Amélia. E sabe-se lá o que vai acontecer com o PSB no Rio Grande do Sul, já tendo rompido com o governo e sendo o deputado federal Beto Albuquerque seu único nome de expressão.
Para além da questão eleitoral, apresenta-se mais uma vez o Grupo RBS como principal força política da direita no estado. Embora dois de seus candidatos tenham se filiado a partidos considerados de centro, PCdoB e PDT já assumiram faz tempo, majoritariamente, o pragmatismo como problema superior à ideologia, e trazem para ser seus principais candidatos dois atores políticos que atuam reconhecidamente sob o ideário do conservadorismo.
É claro que o Grupo RBS não pretende com isso tomar o poder para si. Não é esse o papel que cumpre. Embora muitas vezes atue como um, não é um partido político. Faz, na verdade, nada mais do que o poder que lhe cabe em uma sociedade capitalista na qual os meios de comunicação são altamente concentrados: é a proprietária do Poder Simbólico, e na manifestação e ampliação desse poder invade o Poder Político, em essência – embora não na aparência – de forma semelhante ao que faz com o Poder Econômico e o Poder Coercitivo. Procura enfraquecer, para então permear e direcionar os poderes político, econômico e coercitivo, mas sempre com o Poder Simbólico como norte fundamental.
A dinâmica que se coloca é que representantes do Poder Simbólico – que norteia a forma como a sociedade organiza sua visão de mundo, sua ideologia – se expandem pelos demais poderes, e os conglomerados que controlam o Poder Simbólico veem seu ideário, seu discurso, sua influência abraçarem cada vez com mais consistência as outras esferas de poder, cooptando-as e afirmando seu poder social geral.
Não há aqui qualquer crítica ao fato de que funcionários do Grupo RBS se candidatem. Não é esse o problema, todo cidadão tem direito – ou deveria ter – a candidatar-se ao que quiser. A disputa está colocada, e um possível aprofundamento da formação de um imaginário conservador em todas as instâncias de poder social é algo preocupante do ponto de vista dos movimentos sociais e das lutas populares. Troca-se o discurso fácil, direto e muitas vezes raivosos da direita tradicional por um discurso mais esperto, mais pragmático e tortuoso de quem por longos anos introjetou o discurso e a prática de uma empresa que sempre representou interesses distantes dos da maioria da população.

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