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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Anonymous e a guerra de informação digital


Um católico que, no dia 5 de novembro de 1605, quase conseguiu fazer voar pelos ares o Parlamento inglês com 30 quilos de pólvora, com o rei James I dentro, é o rosto oficial de uma nova revolta ocidental. Sem se encaixar em um rótulo tradicional, Anonymous realiza a sua maneira o desejo não confesso de muitos cidadãos do planeta: colocar uma pedra na engrenagem da perfeição ultraliberal, abrir a cortina de sociedades ultrapoliciais que só protegem os interesses do poder. O artigo é de Eduardo Febbro.


Paris - Guy Fawkes nunca pensou que sobreviveria a tantos séculos, e menos ainda que, mais de quatrocentos anos depois de suas andanças, a máscara que o representa se converteria em pleno século XXI no emblema daqueles que – desde os indignados até os guerreiros digitais do Anonymous, passando por toda a galáxia dos grupos antiglobalização – se opõem ferreamente à ordem de um mundo ultraliberal, depredador e indolente.

Este católico que, no dia 5 de novembro de 1605, quase conseguiu fazer voar pelos ares o Parlamento inglês com 30 quilos de pólvora, com o rei James I dentro, é o rosto oficial da revolta ocidental e, mais precisamente, o distintivo com o qual o grupo de hackers reunido sob a denominação de “Anonymous” se apresenta ao mundo. Suas ações já são parte da resistência permanente contra toda forma de violação de liberdade segundo os critérios com os quais Anonymous a entende.

Presente há vários anos na cena do hacking contestatório, Anonymous ganhou fama quando, em 2010, em plena ofensiva oficial contra o fundador do Wikileaks, Julian Assange, o grupo atacou as empresas multinacionais que tinham se somado ao boicote instrumentalizado pelo governo dos EUA contra todas as fontes de financiamento do Wikileaks: os portais de Amazon, PayPal, Visa, MasterCard e Postfinance, a filial dos serviços financeiros dos correios suíços, foram bloqueados pela operação Payback montada por Anonymous contra essas empresas que, sem ter nenhuma ordem judicial, trataram de impedir que o dinheiro chegasse a Wikileaks.

Era a primeira vez na história que se realizava uma ofensiva dessa magnitude não mais em nome do ciberanarquismo, mas sim em defesa de certa forma de liberdade.

Quem são e de onde vem esses valentes que ousaram penetrar as portas mais protegidas para ferir o coração do sistema? Frédéric Bardeau e Nicoals Danet, os autores de um destacado ensaio sobre Anonymous (“Anonymous: piratas informáticos ou altermundistas digitais?’), descrevem a influência desta galáxia sem hierarquia nem manual de instruções como “um movimento que modifica a relação de formas no interior da sociedade”.

De ação em ação, Anonymous instalou-se na paisagem política mundial e excedeu em muito a herança de seus pais culturais, a saber, toda a cultura contestatória norteamericana dos anos 70 perfeitamente representada por Stephen Wozniak, co-fundador da Apple, e Richard Stallman, o iniciador do projeto GNU.

Anonymous se plasmou em quatro operações muito ousadas. A primeira: os ataques contra a igreja da Cientologia, em 2008. A segunda: a ciberofensiva contra o escritório de advocacia Baylout, defensores dos direitos autorais da indústria do disco e do cinema nos Estados Unidos, e contra o portal da Motion Picture Association of America (MPAA), associação que o Anonymous persegue por suas “políticas excessivas” na proteção dos direitos autorais. Terceira: a intervenção a favor de Assange no que ficou conhecido como o primeiro episódio de uma autêntica guerra da rede. Coldblood, um dos porta-vozes do Anonymous, explicou então que a operação em defesa de Assange estava se convertendo em uma guerra, mas não uma guerra convencional. “É uma guerra de informação digital. Queremos que a internet siga sendo livre e aberta para todo mundo, como sempre foi”. O quarto episódio remonta ao dia 19 de janeiro, logo após o fechamento do site Megaupload e a prisão de seu criador, o multimilionário Kim Schmitz. Lançados dos quatro pontos cardeais do planeta, os ataques orquestrados por Anonymous bloquearam os portais do Ministério da Justiça dos EUA, da Casa Branca, da Warner, da Universal, do FBI, do organismo que supervisiona a internet na França, Hadopi, e a estrutura que administra os direitos de autor, a Sacem. Anonymous conseguiu inclusive penetrar no portal da presidência francesa e modificar as mensagens de boas vindas.

A quinta e última ação ocorreu há apenas alguns dias. Um grupo que se identificou como Anonymous divulgou a gravação de uma “reunião” telefônica entre o FBI e a polícia britânica, na qual se falava de ações contra os ciberativistas. Onde estão para conseguirem se meter nestas conversas tão íntimas? “Em todas as partes”, respondem Frédéric Bardeau e Nicolas Danet, os autores do ensaio sobre Anonymous. Estes dois especialistas observam que os Anonymous não são piratas propriamente, pois não roubam nada. Tampouco são “terroristas”, mas “um fenômeno muito mais vago cujo único fio condutor é a defesa da liberdade de expressão”. Bardeau e Nadet contam que, em certo momento, “a CIA tentou realizar um perfil dos simpatizantes de Anonymous: era tão indefinido que terminava apontando para a metade do planeta”.

Seu lema tornou-se realidade: “somos legião”. Neste sentido, Frédéric Bardeau destaca que os Anonymous não se enquadram em nenhum rótulo. “Não são nem anarquistas, nem sindicalistas revolucionários, nem marxistas. É um movimento pós-moderno, anônimo, planetário, descentralizado. Entre os Anonymous do Brasil, muito fortes e mobilizados contra a corrupção, e os da Áustria e Alemanha, todos antifascistas, não há unidade, mas sim denominadores comuns como a liberdade e a neutralidade da rede”. Diferentemente dos indignados ou de outros movimentos antiglobalização, Anonymous atua a partir do anonimato: não há partido político, nem fórum, nem cúpula, nem manifestação. Sua identidade física é a máscara de um militante católico britânico do século XVI e seus territórios são estes: irc.anonops.li, twitter@AnonOps, @AnonymousIRC, Facebook Anonymous, AnonOps.blogspot.com.

A origem do nome provém dos fóruns anárquicos 4chan. Neste portal norteamericano é fácil inscrever-se e cada participante recebe o pseudônimo de “Anonymous”. Estão em muitos lugares ao mesmo tempo, alguns são hackers aficionados, outros não, universitários, empregados, militantes de uma ou de muitas causas. Anonymous realiza a sua maneira o desejo não confesso de muitos cidadãos do planeta: colocar uma pedra na engrenagem da perfeição ultraliberal, abrir a cortina de sociedades ultrapoliciais que só protegem os interesses do poder. Nicolas Danet comenta que “Anonymous é um pouco como o voo dos pássaros migrantes. Formam uma massa que conhece o objetivo, mas um pássaro pode deixar o grupo a qualquer momento”. Os vídeos de Anonymous já são famosos, tanto pelo conteúdo como pela voz metálica que anuncia: “Somos legião. Não perdoaremos, não esqueceremos. Tenham medo de nós”.

Tradução: Katarina Peixoto

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A SOPA esfriou, mas há o prato principal


Por Pedro Antônio Dourado de Rezende no OBSERVATORIO DA IMPRENSA

Em 18 de janeiro de 2012 um gigante adormecido despertou, e não foi o Brasil. Foi a internet. Quando internautas e empresas do Vale do Silício uniram-se em protesto contra dois projetos de lei que o Congresso dos EUA estava prestes a aprovar: o SOPA (Stop Online Piracy Act) e o PIPA (Protect Intellectual Property Act). Sentindo a “colherada” quente demais, o gigante assustou e na sopa cuspiu de volta.
Porém, quem viu nisso uma vitória dos 99%, com a retirada de propostas legislativas que ameaçam a liberdade e a privacidade num mundo informatizado, deve se acautelar. Os tais projetos foram apenas engavetados nos EUA. E coisa pior, mais difícil de engolir, os segue por toda parte. Normas sobre Propriedade Imaterial (PI), segundo Alexander Furnas do The Atlantic, formam um torniquete que só aperta, nunca afrouxa.
A próxima volta do torniquete da PI, no forno desde 2007, já está pronta para ser servida. Ela não vem de nenhum legislativo nacional específico, mas no forma de um tratado internacional de comércio, recentemente assinado por representantes de 30 países, incluindo os Estados Unidos e 22 membros da União Europeia. Esse tratado – o ACTA – prevê sua entrada em vigor depois que apenas seis desses signatários o tiverem ratificado.
Apesar da quase certeza da sua ratificação, há quase total incerteza de como ele afetará os direitos civis, de expressão e de comunicação dos cidadãos em todo o mundo. Para entender como e porque o ACTA representa ameaça à liberdade humanaem nome da proteção à PI, pronto a revelar-se mais intragável que o SOPA-PIPA, é preciso conhecer o contexto da evolução e tendências relativas à regulação internacional nessa área.
 
Neutralidade regulatória

Só uma visão em perspectiva desse contexto, cobrindo ao menos os últimos vinte anos, permite avaliar racionalmente o significado prático das incertezas na linguagem desse acordo, propositalmente vaga como admite o The Economist. E perceber como o suposto “alarmismo” dos críticos, acerca de possíveis interpretações extremas da mesma, sinaliza antes de tudo uma encruzilhada para o futuro de nossa civilização informatizada.
Um bom resumo desse contexto encontra-se no citado artigo do The Alantic, e uma retrospectiva, na série “sapos piramidais“. E uma amostra de interpretações extremas, não precisa aguardar ratificações do ACTA: estão expostas num artigo que o maior lobista do SOPA publicou no New York Times, desancando a reação popular contra a colherada de janeiro. Da tradução publicada pelo Estado de S.Paulo (ver “O que não dirá a Wikipédia“,9/2/12), tiramos algumas.
Com subtítulo “democracia ou demagogia?”, o chefe do cartel de gravadoras RIAA opina: desinformados e manipulados estão os que protestam por acreditar que “músicas, livros e filmes online deveriam ser gratuitos.” Deveriam, não: podem, a critério do autor. Penso que, aí, a questão de fundo é: por que um direito (de vender obra alheia) deveria, imperativamente, atropelar outro (de dispor da própria) online? Ela emoldura mais opiniões.
“A verdadeira censura”, para ele, seria a de hackers anônimos que tentam calar quem deles discorda, em represália ao “estouro do Megaupload, uma operação internacional de pirataria digital”. Mas a censura que as empresas financeiras fizeram contra o WikilLeaks, asfixiando sua operação, enquanto faturavam com o Megaupload sem por isso serem incomodadas, será mesmo falsa? E os anônimos, que por algumas horas derrubaram alguns sites dessas empresas, será que censuraram mesmo suas faturas?
Se a jurisdição que embasou aquele “estouro” ainda abarca o DMCA, com seu dispositivo safe harbor, condenar antecipadamente o Megaupload como “operação de pirataria digital” não seria difamação e injúria,esta contra quem lá sobe seu próprio conteúdo? Se essa lógica ficar offline, vamos então estourar fábricas de armas, de celulares e de automóveis porque elas sabem que bandidos usam suas “ferramentas” para assaltar?
Se a Wikipedia é que é hipócrita, por ter aderido ao protesto com autoapagão enquanto defende a neutralidade regulatória para plataformas na rede, o que é que seus administradores deveriam então ter feito com a demanda manifesta por seus colaboradores, 99% dela por tal forma de adesão? Deveriam tratar esses colaboradores como as gravadoras da RIAA tratam 99% dos seus artistas? Democracia ou demagogia, ei-las.
 
Contra o ACTA

Os fanáticos do controle, para vencer, também precisam conhecer esse contexto. E há sinais de que nisso ainda tateiam vesgos, ali num queixume quase infantil: segundo o chefe da RIAA, o que o apagão teria mostrado “é que são as [novas] plataformas que exercem o verdadeiro poder.” E as velhas, que apostam sua sobrevida no torniquete da PI, acaso exercem poder falso? O ACTA seria miragem? Essa patética histeria mais parece reação visceral a um batismo de fogo no front comercial da ciberguerra. Bem-vindos a ela, RIAA e aliados.
Quanto aos 99%, tampouco devem dormir no ponto. Quem guardou a sopa, entende de poder, nele está e dele não se arreda. É certo que os 1%, com seus fanáticos que se autointitulam “maximalistas” da PI, aprenderão com o batismo. As primeiras linhas da lição estão legíveis na própria histeria da RIAA: quem protestou, indaga o chefe, sabia que assim estavam “apoiando criminosos estrangeiros a vender remédios falsificados”?
Como decifrar tão rica hipérbole? Tentando: a tropa de choque dos 1% – a indústria do copyright (RIAA, MPAA e demais impérios das velhas mídias) – sente o golpe no front psicológico, em baixas na opinião pública, e pede reforço à retaguarda – com seus setores viciados em monopolismohigh tech, sustentado por radicalização patentária. A chave, é a profusão de termos como verdade, confiança e seus antônimos no queixume.
Para quem ainda está voando de uma hipérbole a outra, cabe enfim a pergunta: o que vem a ser o ACTA? Nos três anos em que venho estudando o assunto, e tentando alertar quem me dê atenção sobre o que aprendo, as tentativas geralmente começam por aí. Na última tentativa, para uma reportagem na revista Ciência e Cultura da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, resumi a resposta como segue.
Literalmente, o ACTA é uma proposta de tratado internacional de combate à contrafação. Na prática, abaixo desse verniz, é uma iniciativa de grandes cartéis do capitalismo pós-industrial, em aliança com o Departamento de Comércio dos EUA e com o braço executivo de outros governos ideologicamente alinhados, para demarcar, no teatro político global, por meio de uma progressiva radicalização normativa, fronteiras institucionais para uma nova forma de colonialismo, baseada em controle utilitário do conhecimento pelo capital, principalmente do fluxo de bens simbólicos.
Geopoliticamente, o ACTA é uma armadilha jurídica para esvaziar a eficácia do braço legislativo de governos que atuam nesse teatro, no que tange às ações e interesses neocoloniais, construída com ambiguidades sobre as divisões entre os três poderes no Estado democrático de direito. E que serve também para estabelecer, a partir desse esvaziamento político, e em conjunto com iniciativas similares noutros fronts da ciberguerra, bases funcionais para o braço armado de um governo supranacional, inicialmente subterrâneo mas totalitário e global, a emergir da convergência de interesses entre esses cartéis e a inclinação natural dos Estados à tirania, impulsionadas pela hiperconectividade propiciada pelas TIC.
A sociedade brasileira pode encontrar dificuldades em entender este cenário, pela forma como nosso legado cultural acolhe os conceitos de soberania e de nação. Minha opinião pessoal, nele pareceria devaneio. Mas como o Brasil está, com a iniciativa do ACTA, encurralado junto com os demais países do bloco chamado BRIC, convém observar como o governo talvez menos fraco, hoje entre os desse bloco, encara publicamente a questão. Remeto então o leitor a um artigo escritopor um colega da área nos EUA, do qual destaco trechos da opinião publicada por dois professores da Academia Militar do Exército Chinês.
“...Assim como a guerra nuclear era a guerra estratégica da era industrial, a ciberguerra é a guerra estratégica da era da informação, e esta se tornou uma forma de batalha massivamente destrutiva, que diz respeito à vida e morte de nações... A ciberguerra é uma forma inteiramente nova que é invisível e silenciosa, e está ativa não apenas em conflitos e guerras convencionais, como também se deflagra em atividades diárias de natureza política, econômica, militar, cultural e científica... Recentemente, um furacão varreu a internet pelo mundo ... Os alvos da guerra psicológica na internet se expandiram da esfera militar para a esfera pública... Confrontadas com esse aquecimento para a ciberguerra na internet, nenhuma nação ou força armada pode ficar passiva e está se preparando para lutar a guerra da internet.”
Atualmente, a maior tensão para consolidação do ACTA ocorre na União Europeia. No Parlamento Europeu o relator da matéria renunciou, denunciando “de maneira mais enérgica possível” as manobras de bastidores que levaram à assinatura do tratado. Demonstrações de rua contra adesão ao ACTA, que começaram na Suécia e Polônia antes da sopa azedar, ocorrem em mais de duzentas cidades da Europaenquanto escrevo.
 
Polícia ideológica

Devido a ambiguidades no tratado, a Comissão Europeia e o Conselho da Europa divergem a respeito do recuo da Polônia impedir ou não sua ratificaçãopela União Europeia. Documentos dos bastidores das dez rodadas de negociação secreta, vazados pelo WikiLeaks, revelam, como se poderia imaginar, que a parte do tratado que apresentou maiores dificuldades e entraves para a consolidação foi justamente sobre a internet.
Os vazamentos também revelam um plano de ação: colocar logo em execução dispositivos menos controversos do tratado, no âmbito de um núcleo de países mais alinhados com seus objetivos ulteriores, para depois, progressivamente, cooptar outros países a aderirem, valendo-se do fato desse núcleo inicial concentrar o grosso do comércio internacional, alavancado por uma escassez seletiva de bens simbólicos artificialmente induzida por tais dispositivos, e por medidas similares em outros fronts. Assim se produziria mais uma escalada difusa de radicalização normativa, esvaziando salvaguardas da OMC, para uma redivisão global de trabalho e produção pós-industriais, mais alinhada à ideologia subjacente à lógica do capital.
Com a ciberguerra ostensivamente declarada, a indústria do copyright se sente por um lado pressionada, e por outro com a oportunidade, propiciada por seu posicionamento no front psicológico (no chamado “quarto poder”), a unir seu cartel em alianças mais abrangentes e espúrias, formadas com outros cartéis e interesses hegemônicos. Como mostram detalhes de bastidores da negociação revelados pelo Wikileaks.
Agora, com a sopa cuspida e respingos no ACTA, temos um recrudescimento da batalha por corações e mentes no front psicológico da ciberguerra, travada sobre a internet. Nessa batalha, a indústria do copyright pode se transmutar em polícia ideológica, a exemplo do papel que ocupou em regimes totalitários passados. Rumo à concretização das profecias bíblicas sobre o fim desses tempos.
***

[Pedro Antônio Dourado de Rezende é professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília]

Plataforma de ativistas, com apoio de Wikileaks: lançamento em março

Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
"Praça  Global"/"The Global Square"
A Central WikiLeaks anunciou nessa 3ª-feira uma “Convocação aos Coders”, preparação para o lançamento, em março, da “primeira rede social descentralizada massiva na história da Internet.”
“O objetivo da Praça Global é perpetuar e disseminar o espírito criativo e cooperativo das ocupações e transformá-lo em formas duradouras de organização social, nos níveis global e local” (...)
“O objetivo da plataforma, nesse sentido, não deve ser substituir as assembleias físicas, mas dar-lhes maior capacidade, oferecendo as ferramentas online para organização e colaboração local e (trans)nacional. O objetivo é ampliar a participação individual e estruturar a ação coletiva. A Praça Global será nosso próprio espaço público, onde diferentes grupos podem reunir-se para organizar suas próprias praças locais e assembleias.”

* * *


A Praça Global, uma plataforma de colaboração global online para ativistas apoiada por WikiLeaks, dentre outros, planeja já ter um protótipo funcional em março, dizem os criadores.
Modelada como redes sociais do tipo Facebook e Twitter, A Praça Global, visa a ativistas e à comunidade global e será desenvolvida em torno da tecnologia usuário-a-usuário (P2P) Tribler.
“O objetivo da Praça Global é perpetuar e disseminar o espírito criativo e cooperativo das ocupações e transformá-las em formatos duradouros de organização social, no plano local e global”. Usando essa tecnologia P2P existente, torna-se virtualmente impossível derrubar ou censurar a rede, disse The Global Square em declaração essa semana. “Os arquivos de conteúdo não são centralizados em nenhum servidor físico, de modo que a rede pertence aos seus usuários”. 
O projeto está convocando coders e desenvolvedores voluntários para ajudar a implementar os traços já definidos para a nova plataforma, que terá fonte aberta e será multilíngue.
WikiLeaks disse em novembro que A Praça Global será uma plataforma online para seu movimento.
Alguns ativistas disseram no ano passado que era necessário criar uma praça global “na qual pessoas de todos os países pudessem reunir-se como iguais para participar na coordenação de ações coletivas e na formulação de objetivos e aspirações comuns”.
Uma das ferramentas da plataforma será um mapa interativo que lista todas as assembleias em curso no mundo, opções de busca para que os usuários localizem praças, eventos e grupos de trabalho, um sistema de mensagem público e privado e um fórum para debate público e votações em ocasiões especiais.
O projeto começará com um aplicativo para PC e adiante, ainda esse ano, será oferecido também um aplicativo para smartphone. A equipe usará a metodologia Agile de desenvolvimento de programa, focando um módulo durante algumas semanas, que será distribuído e testado; em seguida, passará a focar outro módulo.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Uma rede social onde só entra cientista

Felipe Machado no OBSERVATÓRIODAIMPRENSA


Todos os dias, entre quatro e cinco mensagens chegam à caixa postal de Fabiana Soares, vindos de uma rede social na qual ela entrou recentemente. Pode parecer um movimento pequeno para quem se acostumou ao Facebook ou ao Twitter, mas as mensagens não são as fotos de amigos em férias nem as “cutucadas” que costumam movimentar essas redes. Doutoranda em ciências farmacêuticas e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Fabiana é procurada por pessoas que querem conhecer melhor seu trabalho sobre modificações em óleos e gorduras. Os interessados são pesquisadores que, como a brasileira, fazem parte da ResearchGate, uma rede social na qual cientistas de todo o mundo podem trocar informações sobre seus estudos, em várias áreas de conhecimento.
Fundada em 2008, a ResearchGate permite a seus membros criar um perfil com informações acadêmicas, profissionais e de pesquisa. É possível também seguir outras pessoas, publicar trabalhos, participar de grupos de discussão e obter informações sobre conferências e ofertas de emprego em instituições de pesquisa. A ResearchGate reúne atualmente 1,4 milhão de participantes, provenientes de 192 países, segundo dados da empresa. A meta é conectar 8 milhões de pessoas, o equivalente a cerca de 80% da comunidade científica mundial, até o fim de 2013.
“Por volta de 90% dos cientistas querem compartilhar informações”, afirma ao Valor, por telefone, Ijad Madisch, fundador e executivo-chefe da companhia. Dono de um PhD em virologia, Madisch teve a ideia de criar a rede quando precisou de informações para uma de suas pesquisas. O site funciona graças a aportes financeiros feitos por empresas de investimento. Entre eles estão os fundos Benchmark Capital, que aplicou dinheiro no Twitter, e a Accel Partners, que apostou no Facebook, entre outros sites. Ainda não há um modelo de negócios definido. A prioridade, diz Madisch, é aumentar o número de usuários.
“Uma Amazon.com para a ciência”
Com mais de 43 mil pesquisadores inscritos na rede, cerca de 3% do total, o Brasil é um dos países cuja comunidade científica em expansão atrai a atenção da ResearchGate.
Para Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a troca de informações durante o trabalho de pesquisa é uma exigência da atividade. Não existe nenhum “laboratório tão amplo que seja capaz de reunir todas as metodologias de que um cientista precisa”, diz a pós-doutora em biologia. Contatada na semana retrasada por cientistas de Harvard e da Universidade de Boston interessados em conversar sobre uma publicação, Helena também consulta trabalhos de colegas para obter abordagens diferentes para seus temas de estudo. Os cientistas dos Estados Unidos, diz ela, interagem mais que os brasileiros.
O intercâmbio internacional é uma questão cada vez mais relevante nos meios acadêmicos. Jerson Silva, diretor da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e diretor científico da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), também considera que a troca de informações poderia ser maior no país. Ele cita o empenho crescente da China em fazer com que seus alunos sejam treinados no exterior.
Na ResearchGate, com sede em Berlim, a expectativa é transformar a rede em um negócio rentável, mas ainda não há previsão de quando a empresa se tornará lucrativa. Entre as ideias para remunerar o site está fornecer sistemas de comunicação para grandes instituições de pesquisa, como universidades. Os pontos de atração seriam ferramentas para aumentar a produtividade, como a possibilidade de gerenciar o uso de laboratórios virtualmente. Outra possibilidade em estudo é criar um sistema de publicidade de itens usados por pesquisadores – como livros, vírus e culturas de bactérias – o que Madisch compara a “uma Amazon.com para a ciência”. As empresas pagariam para ter seus produtos anunciados, que seriam avaliados pela comunidade da rede social.
Mais de 100 seguidores virtuais
Madisch reconhece que o ResearchGate ainda precisa evoluir em termos de funcionalidades. Várias mudanças estão previstas para março. Entre elas, o lançamento de um sistema para conhecer a reputação dos pesquisadores. Segundo o executivo, um cientista demora, em média, sete anos para fazer suas primeiras publicações. Durante esse período, ele precisa mostrar seu trabalho de alguma forma.
No Brasil, a plataforma virtual de currículos Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), é o balcão que os pesquisadores procuram para conseguir informações sobre seus pares. O sistema da agência de fomento do Ministério da Ciência e Tecnologia permite criar perfis com dados sobre formação e trabalhos dos cientistas. Helena Nader, da SBPC, se diz “dependente, no bom sentido” do recurso. Pós-doutor em bioquímica, Silva, da ABC, também tem suas atividades registradas no sistema. Fabiana, outra pesquisadora com currículo na plataforma, diz já ter usado o recurso para saber mais sobre as linhas de pesquisa de professores.
Os três pesquisadores são favoráveis às facilidades dos meios digitais, mas também fazem uso de mecanismos tradicionais para manter contato com outros cientistas, o que inclui a velha prática da conversa pessoal nos intervalos dos congressos científicos. Foi justamente após retornar de um congresso nos Estados Unidos que Fabiana recebeu um e-mail com o convite para participar da ResearchGate. A doutoranda gostou da ideia e convidou seus colegas da USP a aderir à novidade. Hoje, ela já tem mais de 100 seguidores virtuais no site.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Censura na internet tropeça em países europeus


A República tcheca seguiu o caminho da Polônia e tornou-se agora o segundo país da União Europeia a suspender a ratificação do ACTA, o tratado que ameaça a livre expressão na internet


Artigo publicado no portal do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu

A decisão tcheca foi anunciada no meio de intensa polêmica e depois de o grupo Anonymous, rede de ativistas cibernautas que já perturbou inclusive o funcionamento dos serviços informáticos do Parlamento Europeu, ter conseguido idêntica ação nos serviços de políticos tchecos e ter divulgado para a comunicação social os seus endereços e números de telefone privados.
Ao anunciar na segunda-feira a suspensão da ratificação já em pleno processo de discussão, o primeiro-ministro tcheco, Petr Necas, afirmou que “não podemos aceitar em quaisquer circunstâncias, que as liberdades cívicas e o livre acesso à informação sejam de alguma maneira ameaçados”.
Na semana passada, o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, anunciou que a ratificação do ACTA necessita de mais discussão. Em Varsóvia tem havido protestos de rua e também no Parlamento chamando a atenção para o fato de o tratado ameaçar a liberdade de informação e encorajar a intromissão na vida privada dos cidadãos e a censura.
Donald Tusk não retirou a sua assinatura do tratado mas anunciou, durante um debate com ativistas e bloguers, que o processo de ratificação pela Polônia foi suspenso por um período superior a um ano de modo a que haja tempo para analisar as consequências do tratado.
Protestos contra o ACTA estão surgindo em vários países da Europa. Na Eslovênia, a embaixadora no Japão, Helena Drnovsek Zorko, lamentou ter assinado o tratado e exortou a população a manifestar-se contra. Segundo a BBC, mais de duas mil pessoas corresponderam ao apelo e concentraram-se contra o ACTA em Ljubliana.
A Comissão Europeia e 22 países da União Europeia assinaram o ACTA em janeiro, juntamente com os Estados Unidos, a Austrália e o Canadá. Cinco países membros da União – Chipre, Estônia, Holanda, Alemanha e Eslováquia - ainda não o assinaram, alegando questões técnicas pendentes. O tratado tem ainda que ser submetido ao Parlamento Europeu – num processo de aprovação e rejeição que não permite a introdução de emendas – onde a relação de forças sobre o assunto é muito equilibrada e pode pender para qualquer dos lados. Os eurodeputados do Bloco de Esquerda, Miguel Portas e Marisa Matias, continuam a desenvolver os esforços para que a votação no Parlamento, no verão, impeça o ACTA de ser adotado no espaço europeu.
A Comissão Europeia defende que o ACTA não restringe liberdades e, além disso, cria e protege empregos porque a pirataria através da internet prejudica os negócios e as empresas. No entanto, o fato de o tratado ter sido negociado em segredo por iniciativa dos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Comissão Europeia e Japão, tendo como consultores as grandes multinacionais norte-americanas e sem envolver os países em desenvolvimento, minou a credibilidade e pôs em causa as alegadas motivações desde o início do processo.
Esta falta de transparência provocou em janeiro a demissão do eurodeputado socialista Kader Arif do cargo do relator sobre o ACTA no Parlamento Europeu. O deputado denunciou a existência de “manobras nunca vistas” durante a elaboração do tratado.
O grupo francês de defesa dos direitos digitais La Quadrature du Net compilou uma série de mensagens divulgadas pelo site WikiLeaks nas quais são citados negociadores suecos e italianos preocupados com o elevadíssimo nível de negócios de bastidores e de falta de transparência durante a preparação do ACTA.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Fórum de Mídia Livre articula lutas nas redes e nas ruas


Debates realizados em Porto Alegre apontaram para uma grande mobilização comum em torno desta agenda no mês de maio. Terceira edição do FML reafirmou a comunicação como direito e a importância de políticas públicas e da apropriação tecnológica pelos cidadãos para efetivá-lo. Em junho, durante a Cúpula dos Povos na Rio+20, acontecerá o II Fórum Mundial de Mídia Livre.

Porto Alegre - A agenda das lutas em torno da comunicação tem crescido significativamente no Brasil desde 2008, quando aconteceu, no Rio de Janeiro, o I Fórum de Mídia Livre (FML). De lá pra cá, inúmeros coletivos, iniciativas e redes, principalmente na internet, surgiram em torno da defesa e da prática do midialivrismo; ao mesmo tempo em que as reivindicações por transformações na estrutura do sistema midiático brasileiro também avançaram, sobretudo com o impulso de diferentes movimentos sociais na I Conferência Nacional de Comunicação, em 2009. Aproximar essas duas frentes de luta foi um dos desafios do III FML, que aconteceu em Porto Alegre, no bojo do processo do Fórum Social Temático. A percepção ao longo de dois dias de debates foi comum: era preciso ir além das reivindicações e construir ações em conjunto para, de fato, consolidar esses laços.

Foi aprovado um calendário de mobilizações nas redes e nas ruas, tendo o mês de maio como central. No dia 12, em vários países, um ano depois de terem ocupado as praças da Europa, os movimentos ligados à bandeira da “Democracia Real Já” voltarão às ruas. Inspirados na articulação online/offline desses coletivos, organizações que participam do movimento midialivrista no Brasil pretendem usar a data – ou um dia próximo a ela – para defender transformações na comunicação brasileira. 

“Na Espanha havia uma grande manifestação na internet. Nossa estratégica coletiva foi usar todos os meios de comunicação para colocar o debate na rua. Fazer a transmissão das reuniões que aconteciam, por exemplo, foi fundamental para as pessoas se envolverem de fato. E tentamos mobilizar não só os movimentos sociais, mas a sociedade como um todo”, contou Javier Toret, do movimento 15M. “O próprio streaming das ocupações se transformou numa forma de defender o caráter pacífico do movimento e o direito de estarmos nas ruas”, relatou.

“A politização desse debate passa por um trabalho que está se desenvolvendo no online e que tem resultado nas ruas. Precisamos ampliar os debates de âmbito mais macro da democratização da comunicação, e o campo do online é uma possibilidade para fazer essa tradução, ajudar a luta a tomar corpo e ganhar as ruas”, acrescentou Vitor Guerra, do Fora do Eixo.

Aqui como lá, a crença é a de que, sozinhos, os meios livres, populares e alternativos não terão força suficiente para mudar o cenário midiático. “É fundamental então abrir um diálogo entre o que são as experiências históricas de redes de meios; as novas expressões de comunicação – sobretudo as digitais; os movimentos sociais e as novas experiências de luta e resistência social. Porque sem isso será muito difícil mudar o sistema de comunicação concentrado e monopólico”, avaliou Sally Burch, da Agência Latinoamericana de Informação (ALAI). 

Para Ivana Bentes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Pontão de Cultura da ECO/UFRJ, é fundamental que os movimentos brasileiros superem a discussão da mídia apenas como ferramenta e pensem na potência mobilizadora e de organização política da comunicação. “É preciso pensar mídia como estruturante do capitalismo cognitivo. A comunicação hoje serve de luta e é vital para mudar a visibilidade de todas as lutas das comunidades”, disse. 

Políticas públicas e apropriação tecnológica

Partindo da defesa da comunicação como um direito, o III FML foi mais um espaço de afirmação e cobrança do papel do Estado brasileiro para sua garantia. Neste sentido, uma das bandeiras centrais dos movimentos para este ano segue sendo a luta pela universalização do acesso à banda larga de qualidade no país, com a construção de pontos populares de livre acesso e formação para os cidadãos e cidadãs e a oferta de infraestrutura em todas as regiões do país.

Os participantes do Fórum também cobraram a retomada pelo governo federal da política dos Pontos de Mídia Livre, cuja idéia nasceu nos primeiros debates do FML. O programa, assumido e antes coordenado pelo Ministério da Cultura, foi descontinuado no governo Dilma. “Devemos resgatar essa proposta, porque este é um projeto estratégico, que distribui recursos na ponta. Muitos grupos aumentaram sua capacidade de produção, construindo outro patamar de políticas públicas nesta área”, lembrou Renato Rovai, da Revista Fórum. 

Ao mesmo tempo, acreditam, é preciso barrar iniciativas de cerceamento das liberdades na internet, como o projeto do então senador Eduardo Azeredo, batizado de “AI-5 Digital”, que tramita no Congresso. Ameaças da mesma sorte pipocam mundo afora, como o SOPA (Stop Online Piracy Act) e o PIPA (Protect IP Act), em discussão no Congresso dos Estados Unidos. Os projetos, que cerceiam o livre compartilhamento de conhecimento e cultura na rede, foram alvo de protestos no Fórum de Mídia Livre, explicitando que esta é uma luta que se delineia a partir de questões globais.

“É uma luta transnacional, que passa pelo cenário brasileiro – onde a Oi, por exemplo, quer desconstruir os parâmetros de qualidade para a internet aprovados pela Anatel –, mas que também requer que olhemos para o que acontece nos outros país. Temos que combinar estratégias de afirmação de políticas públicas e de regulação que garantam liberdade de expressão com o combate a outras leis e políticas que restrinjam essa liberdade”, explicou João Brant, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social. 

Neste sentido, foi dado em Porto Alegre o pontapé inicial para a construção internacional de protocolos livres para as redes sociais, cada vez mais centrais para articuluções e mobilizações contra hegemônicas em todo o mundo, mas ainda sob o controle de corporações privadas como a Google e a Microsoft. A idéia em torno da construção desses protocolos é pactuar política e tecnologicamente, entre movimentos e ativistas digitais, as ações, métodos, tecnologias e semânticas que possibilitem construir essas redes de forma livre e autônoma. Na mesma toada, foi reforçada a importância do uso de tecnologias livres - portanto, não proprietárias - pelas prórpias mídias livres.

O III Fórum de Mídia Livre ainda apontou para o fortalecimento da luta por um novo marco regulatório das comunicações no país, que garanta o acesso, a pluralidade e o financiamento das mídias livres. “A política pública tem que ser um processo que fortaleça os atores sociais. Mas garantir a comunicação como política pública requer vontade política e mobilização. Isso ainda é incipiente no Brasil”, avaliou Rosane Bertotti, coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC). 

Nos próximos meses, em diálogo com os mais diferentes movimentos e iniciativas, o FNDC deve lançar uma grande campanha por um novo marco regulatório das comunicações no Brasil. “O debate que une os defensores do midialivrismo e da democratização da mídia não é um debate corporativo, mas uma luta feita por todos que querem mudanças na comunicação brasileira”, acrescentou Rita Freire, da Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada.

Mídia livre na Rio+20

Respondendo a dois desafios da conjuntura - unir a luta das redes com a das ruas e articular internacionalmente o enfrentamento às ameaças da mídia livre - o III FML terminou com um grande chamado à construção do II Fórum Mundial de Mídia Livre (FMML). O encontro acontece entre os dias 16 e 18 de junho, como parte das atividades da Cúpula dos Povos da Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, evento da sociedade civil paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.

A proposta do II FMML nasceu no Fórum Social Mundial 2011 em Dakar, no Senegal, e ganhou seu grupo organizador local agora em Porto Alegre. Participarão da mobilização local no Brasil entidades como Abraço (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária), Amarc (Associação Mundial de Rádios Comunitárias), Ciranda, Intervozes, Fora do Eixo, Pontão de Cultura da ECO/UFRJ e Revista Fórum. Internacionalmente, participam do processo entidades como a Cáritas, a WSFTV - portal de memória audiovisual do Fórum Social Mundial - e E-joussour, uma agência de notícias colaborativa do norte da África, que está à frente da organização de um Fórum de Mídia Livre naquela região. Midialivristas do Marrocos e da Palestina estiveram em Porto Alegre no III FML, ampliando a articulação com os ativistas do país que receberá em junho o Fórum Mundial de Mídia Livre. 

Depois do sul, o Rio de Janeiro deve ser o novo palco de mais uma batalha internacional em defesa da comunicação como um direito e também um bem comum. As organizações prometem muita discussão política, mas também muita ação, nas redes e nas ruas.



Fotos: Bia Barbosa 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Blogueiro da Veja prega censura

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Há anos que os grandes meios de comunicação do eixo São Paulo – Rio de Janeiro (o que inclui jornais, revistas, rádios, televisões e portais de internet) vêm empreendendo uma cruzada contra o que chamam de “censura à liberdade de imprensa” ou “de expressão” que estaria sendo planejada pelo Partido dos Trabalhadores e seus aliados ou simpatizantes, de forma a coibirem críticas ao governo federal.


Para esses veículos, não pode haver limite para críticas ao governo, ainda que nunca tenham esclarecido se a premissa valeria para qualquer governo ou só para os governos do PT. Agora, porém, isso está sendo esclarecido.

Editoriais dos jornais O Globo e O Estado de São Paulo já vinham na linha da defesa incondicional do governo Geraldo Alckmin, mesmo que em suas campanhas pela “liberdade de imprensa” sempre tenham caracterizado qualquer defesa do governo federal como “jornalismo chapa-branca”.

Já o jornal Folha de São Paulo vinha em uma linha mais jornalística, inclusive dando furos de denúncias de assassinatos ou desaparecimento de moradores do Pinheirinho, mas acabou publicando editorial em que até reconhece os excessos da Polícia Militar, mas centrando fogo nos partidos e movimentos sociais que se ergueram em defesa dos flagelados pela ação da Polícia Militar e, o que é pior, não citando o governador de São Paulo ou seu partido uma única vez.

Mas, agora, o blogueiro e colunista da revista Veja Reinaldo Azevedo foi mais longe. Publicou texto em seu blog na última quarta-feira em que aumenta o tom da defesa que os veículos da grande imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro vêm fazendo do governo de São Paulo diante da forte repercussão negativa de sua ordem para que a Polícia Militar despejasse 1.600 famílias do bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), no último domingo (22.01.2012).

A proposta desse texto é a de que sejam presos jornalistas ou mesmo cidadãos sem formação jornalística que façam acusações sem provas ao governo tucano de São Paulo, mesmo que estejam se limitando a reproduzir denúncias de violações de direitos humanos que já estão até sendo repercutidas no exterior e que já geraram decisão da Organização das Nações Unidas de denunciar o governo de São Paulo por tais violações.

Abaixo, trechos dos vários posts que esse blogueiro da revista Veja está publicando nesse sentido.

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Alô, governo de SP, Justiça e Ministério Público! Hora de combater os criminosos da rede. Cadeia para os mentirosos!

É impressionante!

Multiplica-se na rede a delinqüência originalmente veiculada pela Agência Brasil, sob o comando da EBC, segundo a qual houve mortos na desocupação do Pinheirinho. Há vídeos circulando na rede que acusam, entre outras coisas:

- a Polícia Militar de esconder corpos;

- o governo e a PM de separar as crianças de seus pais;

- a prática de tortura.

E onde estão as evidências? Não há! Até porque não aconteceu nada disso. Afirma-se que, entre os mortos, há crianças. São criminosos operando a serviço de teses políticas. A EBC publicou hoje uma patética reportagem desmentindo o que ela própria havia divulgado ontem (as tais mortes) e, mais uma vez, atropelou a boa técnica jornalística e o bom senso. Na madrugada, trato do assunto. Terei de lembrar a Nelson Breve alguns fundamentos da profissão, uns 20 anos depois de nossa última conversa. Daquela vez, eu lhe passei alguns fundamentos do jornalismo em seu primeiro emprego na área. Agora, eu vou convidá-lo a recuperar alguns fundamentos de sua experiência no setor bancário — de onde ele vinha. Ele precisa tratar o leitor, o ouvinte e o telespectador da EBC como os bancos tratam os correntistas: procurando ganhar a sua confiança!

A expressão na Internet é e deve continuar livre. Mas ninguém tem licença para usar a rede para cometer crimes. Acusar a Polícia Militar, o governo do Estado e a Prefeitura de São José dos Campos de esconder corpos é crime — no caso, de calúnia. E o lugar de caluniadores é a cadeia.

Ou os entes do estado reagem contra os criminosos, ou eles progridem! É perfeitamente possível chegar à origem dessas mensagens e responsabilizar seus autores, segundo as regras vigentes no estado democrático e de direito.

(…)

A liberdade de expressão não confere a ninguém a liberdade de caluniar — continua a ser um crime, pouco importa o meio.

*****

Há uma grave distorção dos fatos, aí. A matéria da Agência Brasil (EBC) não acusou Alckmin ou a PM de nada, apenas repercutiu denúncias que já ganharam o mundo, tendo sido largamente reproduzidas na imprensa internacional em veículos como o diário britânico The Guardian ou na rede de televisão Al Jazeera.

Contudo, quem tem incomodado a grande mídia paulista e fluminense não está fazendo nada nem parecido com o que ela mesma faz há anos contra o governo federal semana sim, outra também. A própria Veja e congêneres, nos últimos anos, não se limitaram a reproduzir denúncias até de assassinato contra o governo Lula, mas endossaram-nas

A revista Veja, por exemplo, em sua edição 1929, de 2 de novembro de 2005, publicou matéria acusando a campanha de Lula à Presidência em 2002 de ter recebido doações ilegais de dinheiro transportado de Cuba para o Brasil clandestinamente. Abaixo, o trecho da matéria contendo a acusação:

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Os dólares, acondicionados em caixas de bebida, andaram por Brasília e Campinas até chegar ao comitê eleitoral de Lula em São Paulo. Dois ex-auxiliares do ministro Palocci confirmaram a história a VEJA. São eles: Rogério Buratti e Vladimir Poleto, que transportou o dinheiro de Brasília a Campinas a bordo de um avião Seneca.

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Nada jamais foi provado e, que se saiba, ninguém pediu prisão para quem fez essa matéria. Como se vê, é muito diferente do que vêm fazendo a EBC ou mesmo a blogosfera. Não se está reproduzindo denúncias, mas endossando-as. O tom da matéria supra reproduzida não diz que pode ter ocorrido, diz que ocorreu.

A mesma coisa fez o jornal Folha de São Paulo em 2007 ou em 2009, por exemplo.

Em 19 de julho de 2007, o jornal publicou chamada em destaque em sua primeira página que remetia a matéria de um colunista do jornal que acusou o governo Lula de ter assassinado 200 pessoas no âmbito do desastre do avião da TAM em São Paulo, que ocorrera no dia anterior. Abaixo, trecho da matéria.

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FOLHA DE SÃO PAULO

19.07.2007

O que ocorreu não foi acidente, foi crime

FRANCISCO DAUDT

COLUNISTA DA REVISTA DA FOLHA

Gostaria imensamente de ter minha dor amenizada por uma manchete que estampasse, em letras garrafais, “GOVERNO ASSASSINA MAIS DE 200 PESSOAS”. O assassino não é só aquele que enfia a faca, mas o que, sabendo que o crime vai ocorrer, nada faz para impedi-lo. O que ocorreu não pode ser chamado de acidente, vamos dar o nome certo: crime.

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Alguns anos se passaram e o que se descobriu foi que havia um defeito no avião e que o piloto cometeu um erro. Mas a acusação jamais foi sequer retificada.

Já no dia 5 de abril de 2009, a mesma Folha de São Paulo publicou nova chamada em destaque em sua primeira página, que remetia a reportagem sobre o suposto plano do grupo VAR-Palmares durante a ditadura militar que visava sequestrar o então ministro Antonio Delfim Netto. Na mesma primeira página foi publicada ficha criminal de Dilma Rousseff que conteria seu indiciamento por ter participado desse crime.

O jornal, à época, alegou ter obtido a ficha criminal da hoje presidente da República junto ao arquivo do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Diante da contestação de Dilma, que apresentou inclusive perícias comprovando a fraude, o jornal admitiu, então, não ter obtido a ficha da parte do DOPS, mas via e-mail, declarando, pois, simplesmente “não poder atestar ou negar sua veracidade”.

Esses são só alguns dos exemplos mais clamorosos, mas há milhares. Não centenas, eu disse milhares.

Daqui por diante, portanto, a cada vez que a grande mídia falar em blogueiros e jornalistas “chapas-brancas” ou em “liberdade de imprensa para criticar o Poder”, você, leitor, jornalista ou blogueiro já está bem ciente do que pode argumentar a fim de encerrar e vencer a discussão: a liberdade de expressão que a mídia quer é só para si, enquanto prega censura e prisão para os que dela divergem.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Começa o Conexões Globais 2.0 no FST


Está tudo pronto na Casa de Cultura Mario Quintana e nesta quarta-feira (25) começa o Conexões Globais 2.0. Webconferências, paineis, oficinas e shows incrementam a programação desse encontro de ativistas e organizações que defendem a liberdade na internet e utilizam a rede como plataforma de mobilização para suas lutas. Todas a tividades serão transmitidas ao vivo! Acompanhe e divulgue!

A programação inicia às 14h, com uma série de oficinas práticas voltadas para o uso de novas tecnologias e estratégias de comunicação. A tarde avança com os Diálogos Globais: a partir das 16h, a Travessa dos Cataventos na CCMQ receberá o público para debater sobre “A internet como direito humano”. Direto da Espanha, o advogado especialista em direitos digitais, Javier de la Cueva - participará do evento via webconferência. Do lado de cá estarão a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário; o cientista político e professor da UFRJ Giuseppe Cocco e o especialista em Gerência em Engenharia de Software Rogério Santanna.

Na sequência, a partir das 18h15, começa o segundo Diálogo Global do dia, com o tema “Da Primavera Árabe à Internet na Construção da Democracia 2.0. O cantor e compositor Gilberto Gil estará lá para conversar sobre as manifestações que marcaram 2011 como o ano das manifestações que questionam os limites da democracia representativa. Além do Gil, participam do debate o jornalista Antônio Martins e o coordenador-geral do Gabinete Digital do Governo do RS, Vinicius Wu. Via webconferência, a jornalista e escritora especializada em Oriente Médio Olga Rodriguez também estará no bate-papo.

Oficinas

Todas as oficinas funcionarão no 5º andar na CCMQ, em quatro espaços: a Sala de Leitura, a Sala Sapato Florido, a Sala de Vidro e o Hall do Jardim. As inscrições estão encerradas, mas se você estiver realmente interessado, pode vir até o evento e aguardar pela chance de alguém desistir e uma vaga aparecer na hora. Isso não é certo, mas você pode contar com a sorte.

Conexões culturais

Entre um debate e outro, às 17h30, quem sobre ao Palco é o músico Cláudio Levitan. À noite, após um dia intenso de bate-papo, trocas e vivências multimídias e multiculturais, é hora de relaxar um pouco e entrar no embalo show do cantor Lirinha. A apresentação está marcada para às 20h, quando ele lançará seu primeiro CD solo, denominado LIRA.

No repertório, Lirinha promete animar o público com faixas inéditas e músicas de sua autoria, registradas quando integrava o grupo Cordel do Fogo Encantado. Acompanham Lirinha os músicos Neilton (guitarras), Ângelo Medrado (bateria), Astronauta Pinguim (teclado),Hugo Carranca (percussão) e Igor Medeiros (sintetizador).

Confira aqui toda a programação de cada oficina em cada dia.

Fonte: Conexões Globais 2.0

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Barão de Itararé, ALAI e ALER realizam debate sobre comunicação no FSM:


Resistência à crise, novos meios e alternativas de comunicação

Renata Mielli

O cenário de crise econômica mundial, que abala países da Europa e os Estados Unidos, tem contribuído para o surgimento de uma nova correlação de forças internacional. Emergem protestos contra o mercado financeiro e governos que adotam medidas restritivas e de desmantelamento dos direitos sociais e dos trabalhadores. Ocupe Wall Street, os Indignados, revoltas contra governos como na Primavera Árabe, tiveram nas redes sociais ponto essencial de apoio e disseminação das mobilizações.
 
Na América Latina, uma agenda de mudanças políticas está em curso em diversos países, fruto da luta anti-neoliberal que ocorreu na década de 1990. Nesta pauta de mudanças, o tema da democratização da comunicação e da integração regional tem tido caráter estratégico.
 
Os movimentos sociais têm impulsionado a luta pelo direito à comunicação como fator indissociável do aprofundamento das democracias. Nesta luta, a universalização do acesso à internet, o incentivo às novas mídias como blogs, redes sociais e instrumentos de comunicação alternativa compõem um desafio para atingir cada vez mais pessoas e constituir contraponto ao poder midiático exercido pelos meios de comunicação hegemônicos.
 
Neste cenário de resistência social, impulsionado pelos movimentos sociais e novas mídias é o tema da mesa de diálogo Resistência à crise, novos meios e alternativas de comunicação, organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em parceria com a ALAI – Agência Latinoamericana de Informação e ALER – Associação Latinoamericana de Educação Radiofônica, durante o FSM temático 2012, em Porto Alegre (24-29 de Janeiro).
 
Farão as intervenções inicias da mesa, a coordenadora geral do FNDC (Fórum Nacional pelo Democratização da Comunicação) Rosane Bertoti, Oswaldo León (ALAI) e Judith Gerbaldo (ALER).
 
- Renata Mielli, Barão de Itararé.
 
* O debate acontecerá no dia 25 de janeiro, às 13 horas.  UFRGS  - Faculdade de Direito (Av. Paulo Gama 110, Bairro Farroupilha, Porto Alegre).


http://www.alainet.org/active/52205

Internet, o novo front da resistência palestina contra o sionismo


As páginas da bolsa de valores e do governo de Israel foram os alvos


Baby Siqueira Abrão, para o BRASILdeFATO
Correspondente no Oriente Médio

Eram 10 horas da manhã de segunda-feira, 16 de janeiro, quando dois portais importantes de Israel saíram do ar: o da bolsa de valores de Tel Aviv (Tel Aviv Stock Exchange, TASE) funcionava apenas parcialmente, antes de fechar de vez, e o da companhia aérea El Al, israelense, estava inacessível. Não foi por falta de aviso. No domingo, um grupo de hackers autodenominado “Pesadelo” ameaçou atacar ambos os portais. Dito e feito.
Um porta-voz da bolsa de valores israelense declarou que as operações financeiras não foram afetadas, uma vez que não estão conectadas ao portal. Já a El Al disse que esse tipo de ataque “já era esperado” e anunciou a tomada de medidas de segurança nas operações do site, segundo informou o jornalista Oded Yaron, do diário israelense Haaretz.
O ataque ocorre um dia depois de o Hamas, partido palestino que governa Gaza, parabenizar os piratas que andam invadindo sites israelenses e incentivar a prática. Em comunicado oficial, o porta-voz Sami Abu Zuhri declarou, numa coletiva de imprensa na faixa costeira palestina, que as invasões são “a abertura de um novo campo de resistência, a eletrônica, e o início de uma guerra virtual contra a ocupação que Israel impõe à Palestina".
Zuhri fez um apelo "aos povos palestino e árabe para que continuem com a guerra eletrônica, buscando maneiras de estimulá-la e desenvolvê-la".
O comunicado foi feito três dias depois de um grupo de ativistas de Gaza ter conseguido entrar no sistema eletrônico do serviço de resgate e combate ao fogo de Israel. Eles substituíram a página oficial por uma foto de Danny Ayalon, vice-ministro israelense das Relações Exteriores, cobriram seu rosto com pegadas e acrescentaram a frase “Morte a Israel”.
Depois que o grupo Anonymous invadiu o site do exército israelense, no final de 2011 – notícia pouco divulgada e não confirmada por fontes oficiais, que alegaram “problemas técnicos” para justificar o fato de o portal ter saído do ar –, outros hackers parecem ter se animado com a ideia. Desde o início de 2012, sites de bancos e instituições financeiras de Israel vêm sendo visitados por piratas eletrônicos que se identificam como moradores de países árabes.
No início do ano, hackers autodenominados Group XP invadiram um portal israelense de venda de produtos esportivos, www.one.co.il, capturando e divulgando os dados dos cartões de crédito de milhares de clientes. Nome, endereço, telefone e número da carteira de identidade dos titulares dos cartões foram publicados na internet, em dias intercalados, por dois hackers, que usam o codinome “Ox-Omar” e “X”, declaram-se sauditas e garantem ter informações pessoais de 1 milhão de usuários de cartões de crédito em Israel.
Enquanto bancos e operadoras procuravam minimizar o problema e suspender as operações com os cartões pirateados, o vice-ministro Danny Ayalon vinha a público dizer que os ataques constituíam “uma violação à soberania israelense”, que eram comparáveis a “atos terroristas” e que seriam tratados como tais.
A resposta veio de imediato: o Group XP tirou do ar a página eletrônica do vice-ministro e prometeu intensificar a ciberguerra contra Israel, “pelos crimes cometidos contra o povo palestino”. Os hackers X e Ox-Omar desafiaram Ayalon em público: “Vocês nunca vão nos encontrar”.
Danny Ayalon é o segundo homem do ministério comandado por Avigdor Lieberman, um dos líderes da extrema-direita israelense e fundador do partido ultranacionalista Yisrael Beitenu. Lieberman, cuja posição contra a constituição do Estado da Palestina é bem conhecida, mora numa colônia ilegal construída por Israel em terras confiscadas ao povo palestino.

E a força-tarefa?

Os ataques tornam patente uma verdade que o governo israelense não quer assumir: a força-tarefa contra ciberataques, anunciada em maio de 2011 pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e que devia ter começado a operar na primeira semana de 2012, não existe. Oficialmente, o governo declara que cuidar de cartões de crédito e de interesses privados não é o objetivo do grupo, e que Eviatar Matanya, o diretor de operações, já iniciou o trabalho de “criar e estruturar” a força-tarefa. Mas recusa-se, “por razões de segurança”, a revelar a verba destinada a estruturá-la.
Na verdade, de acordo com uma fonte não oficial ligada às forças de segurança israelenses, essa verba também não existe. A força-tarefa não conta com “verba, pessoal, jurisdição nem com seu diretor de operações predileto [o general da reserva Yair Cohen, ex-chefe da central militar de inteligência], que se recusou a aceitar o posto ao saber que não teria recursos para o trabalho”, escreveu Anshel Pfeffer, jornalista do Haaretz, em 4 de janeiro, dia em que o grupo deveria ter iniciado suas atividades.
No lançamento do programa, há oito meses, Netanyhau declarou, numa entrevista coletiva à mídia, que aceitara as recomendações de uma equipe de oito especialistas, capitaneados pelo general da reserva Isaac Ben-Israel, para formar um grupo de defesa contra ciberataques “que podem paralisar os sistemas que mantêm o país em funcionamento. Eletricidade, cartões de crédito, água, transportes, semáforos, tudo é computadorizado e portanto suscetível a ataques”. Repare o leitor que o primeiro-ministro incluiu os cartões de crédito na relação de sistemas a receber atenção da força-tarefa.
A mesma fonte não oficial afirma que, embora a necessidade da criação do cibergrupo exista, “há órgãos que não desejam ajudá-lo, e ninguém realmente apoiou o projeto ou se esforçou para viabilizá-lo”.
O pessoal do exército treinado para lidar com o cibermundo dedica-se somente à inteligência militar. “A segurança das redes de infraestrutura vital, como eletricidade e água, está nas mãos da Autoridade Nacional de Informação em Segurança [NISA], uma unidade do Shin Bet”, informa Pfeffer. “O Conselho Nacional de Segurança decide quais sistemas de companhias civis devem ser protegidos pela NISA, mas, como algumas delas, incluindo bancos, operadoras de telefone celular e de internet se opõem a isso, a legislação concernente à segurança dessas empresas foi posta de lado.”

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O jornalismo hipócrita da Rede Globo e da mídia nacional




No primeiro dia útil de 2012 a Rede Globo e a mídia brasileira noticiaram – de forma hipócrita – que o Irã, mais uma vez, desafiava o mundo ao fazer testes com mísseis de médio e longo alcance no Estreito de Ormuz, por onde passa a maior parte do petróleo consumido no ocidente, fornecido por monarquias árabes corruptas e subservientes ao imperialismo e ao sionismo.


. .
O “jornalismo” da Globo tenta induzir a opinião pública mundial a apoiar qualquer tipo de ação criminosa por parte dos EUA ou da Otan contra o Irã, para favorecer a política belicista e imperialista dos EUA e racista de Israel.

A imprensa brasileira, na sua maioria, contrata agências de notícias norte-americanas para divulgar informações de países estrangeiros. Ora, as agências de notícias norte-americanas são financiadas pelo governo norte-americano justamente para mentir e enganar a opinião pública mundial. Portanto, a imprensa brasileira compra mentiras e divulga mentiras sendo, portanto, cúmplice de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade.

Os proprietários dos grandes meios de comunicação do Brasil deveriam ser levados às cortes internacionais por associação a crimes de lesa humanidade, por justificar - por exemplo - a guerra ao Iraque, Afeganistão, Líbia, e agora por apoiar guerras na Síria e Irã.

Notícias tendenciosas

Esse conglomerado de empresas que fabricam notícias tendenciosas, que se diz “imprensa livre”, não publica uma palavra sobre os crimes do governo norte-americano na Guerra da Coréia (onde os norte-americanos assassinaram 1 em cada 3 coreanos em 1950, dizimando 1/3 da população daquele país, onde seguem fazendo chantagens e ameaças atômicas, dividindo o país em fazendo da Coréia do Sul um depósito de armas e bombas atômicas).

Nada sobre o assassinato pelos EUA e Otan de mais de 200 mil pessoas na Líbia. Essa pretensa mídia comercial não publica uma palavra sobre as bombas atômicas norte-americanas e suas 965 bases militares construídas para dominar o mundo. Nenhuma palavra sobre as armas químicas e biológicas atualmente desenvolvidas em laboratórios norte-americanos para serem usadas como armas de destruição em massa.

Os ataques diários da mídia ocidental à República Islâmica do Irã tem o único objetivo de incentivar e estimular uma nova guerra para favorecer os interesses mercantilistas de investidores norte-americanos e israelenses (judeus sionistas), detentores da maioria das ações das indústrias bélicas e petrolíferas na Bolsa de Valores de Nova Iorque.

O roqueiro Raul Seixas tinha razão: “Mamãe não quero ler jornais: mentir sozinho eu sou capaz”.

Fonte: Jornal Água Verde via PORTAL VERMELHO

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Blogosfera pode reviver jornalismo "heroico"

Franklin Martins no PORTAL VERMELHO


O jornalista e ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Franklin Martins, defende a necessidade de a blogosfera avançar na produção de reportagens. Ele acredita na retomada do que ele chama de "período heroico do jornalismo" com a ampliação do papel da internet como fonte de informação pela sociedade

Franklin, que ocupou o cargo no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez um discurso assumidamente otimista sobre o horizonte da comunicação no país. Ele participou do seminário "Mercado Futuro de Comunicação", organizado pela Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom) em São Paulo, nesta segunda-feira (5). O evento é voltado a discutir as oportunidades do setor nos próximos anos, especialmente para pequenas e microempresas.

Falando a um público de editores de publicações alternativas, produzidas fora de conglomerados de mídia, o jornalista defendeu a necessidade de se evitar o estigma da segmentação. "Ser alternativa não é segmento, é fazer jornalismo alternativo, de grande qualidade onde o espaço público prevaleça sobre o privado", definiu.

A blogosfera, avaliou, embora cumpra uma importante função de "grilo falante" da imprensa, como Martins se acostumou a defender, "não conseguiu avançar na reportagem". A maior parte da produção vai no sentido de qualificar ou desqualificar o conteúdo publicado pela velha mídia, o que foi importante para revelar a verdade em episódios como o plágio de um artigo do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) em maio de 2010, e o que ficou conhecido como o "caso da bolinha de papel" atirada em José Serra (PSDB) durante a campanha eleitoral do ano passado.

O jornalista avalia ainda que a redução de custos para produção de conteúdo permite uma democratização importante, que precisa ser aprofundada com a criação de alguma forma de central de reportagem autônoma. O modelo seria o de uma central de uma rede de veículos que captaria recursos, absorveria e remuneraria a produção. O conjunto de publicações na internet, seja de portais de notícia, seja de blogues, reproduziria as reportagens, permitindo ampliar a visibilidade da produção. "Sozinho, ninguém tem 'bala na agulha' para isso", avalia.

O ministro citou reportagens importantes já produzidas por blogueiros autônomos como sinal de que é possível avançar nesse sentido. O primeiro exemplo foram matérias escritas por Conceição Oliveira (do blogue Maria Frô), sobre as enchentes em São Paulo no início de 2011. O segundo, mais recente, foram informações apuradas pelo deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ) e pelo jornalista Fernando Brito sobre o acidente da Chevron na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro.

"Isso mostra que a blogosfera pode fazer isso, pode ir atrás de assuntos que a velha mídia não dá, seja porque não tem interesse em apurar, seja porque está cansada", sugere. "A blogosfera vai ter bala na agulha para isso? Será que pode ter uma central de reportagem, que capte recursos para isso, bancada politicamente por todo mundo?"

Ele avalia que o desafio é superar a opinião e entrar na seara da informação. "Mas o jornalismo heróico (do século 19) começou igualzinho, com muita opinião e pouca informação", disse. A necessidade de mudar deveu-se a demandas do público e da necessidade de se preservar a relevância.

O papel que cabe aos conglomerados de comunicação no Brasil depende da forma como essas empresas se comportarem. "Se a imprensa ficar de mal com o país, não vai a lugar nenhum, não manda em nada. Se pensar que Bolsa Família é 'bolsa-esmola', se for contra o Plano Nacional de Banda Larga, não chega a lugar nenhum", disse.

Mas ele descarta a possibilidade de a internet eliminar os jornais e revistas – embora possa eliminar a necessidade de impressos em papel. A questão é a necessidade de forjar um espaço público onde temas são trabalhados com mais profundidade e menos parcialidade. "Mas os jornais no Brasil são muito ruinzinhos, não se pautam pelo imponderável da notícia, mas pelos seus próprios preconceitos", sustenta.

sábado, 5 de novembro de 2011

Entidades da sociedade civil apresentam plataforma para marco regulatório da mídia



Na mesma linha da deputada Erundina, a jornalista Bia Barbosa, integrante do Conselho de Administração do Intervozes, manifestou pessimismo, no seminário realizado na Ajuris, quanto à possibilidade desse debate avançar no Congresso Nacional. Ela lembrou o caso da Argentina, onde a “Ley de Medios” saiu com muita pressão popular. “Aqui tem que ocorrer o mesmo”, resumiu. Bia Barbosa defendeu a necessidade de discutir inclusive questões relativas a conteúdos, lembrando o caso recente de uma TV na Paraíba que exibiu, ao meio dia, cenas de um estupro de uma criança. “Não defendemos censura prévia para evitar casos como este, mas tem que haver responsabilização para esse tipo de prática. Achei lamentável a declaração da presidente Dilma de que o único controle que interessa é o controle remoto”, disse ainda a jornalista.
O principal temor das entidades da sociedade civil interessadas neste debate, assinalou a representante do Intervozes, é que o processo do marco regulatório seja prorrogado ad infinitum. Bia Barbosa divulgou o endereço www.comunicacaodemocratica.org.br que traz a plataforma da sociedade civil para o marco regulatório da comunicação. O texto é fruto de debates acumulados ao longo das últimas décadas, em especial na primeira Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada no final do ano passado, em Brasília. Esses debates foram sistematizados no seminário Marco Regulatório – Propostas para uma Comunicação Democrática, realizado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), com a participação de outras entidades regionais e nacionais, em maio deste ano, no Rio de Janeiro. A primeira versão do documento foi colocada em consulta pública aberta, recebendo mais de 200 contribuições, que foram analisadas e parcialmente incorporadas no texto.
A Plataforma da Sociedade Civil apresenta quatro razões em defesa de um novo marco regulatório para as comunicações no Brasil: (i) a ausência de pluralidade e diversidade na mídia atual, que estaria esvaziando a dimensão pública dos meios de comunicação; (ii) a legislação brasileira no setor é arcaica e defasada, não estando adequada aos padrões internacionais de liberdade de expressão e não contemplando questões atuais, como as inovações tecnológicas e a convergência de mídias; (iii) a fragmentação da legislação atual, composta por várias leis que não dialogam umas com as outras nem guardam coerência entre si; e (iv) a Constituição Federal de 1988 continua carecendo da regulamentação da maioria dos artigos relacionados à comunicação (220, 221 e 223), deixando temas importantes como a restrição aos monopólios sem nenhuma referência legal, mesmo após 23 anos de aprovação.
O Código Brasileiro de Telecomunicações é de 1962, quando a televisão estava engatinhando no Brasil, lembrou Venício Lima, sociólogo, jornalista e professor da Universidade de Brasília (UnB). As mudanças tecnológicas, observou, são uma das razões para justificar um novo marco regulatório da mídia. Outra muito importante, disse Venício Lima, é dar voz a quem hoje não tem direito a ela. “Só há liberdade de imprensa com muitas vozes, sem monopólio e com a máxima dispersão de propriedade”, defendeu. O professor da UnB também criticou a confusão deliberada feita entre os conceitos de liberdade de imprensa e liberdade de expressão. “Uma coisa é a liberdade individual de expressão, outra é a transformação da imprensa em grandes corporações”.
E a liberdade de expressão, acrescentou Venício Lima, é incompatível com o monopólio no setor. “A propriedade cruzada dos meios de comunicação consolidou grupos empresariais que são proibidos pela Constituição. O mercado de comunicação precisa ter regulação, entre outras razões, para que haja competição entre as empresas e não monopólio”. Paradoxo aparente, a defesa da regulação anda de mãos dadas com um princípio que, em tese, é fundador do capitalismo: a competição. Pela resistência que vem opondo ao debate sobre a regulação, as grandes empresas de mídia parecem ter rompido definitivamente com esse princípio.