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domingo, 1 de dezembro de 2013


10 mulheres fantásticas que lideraram rebeliões


Homens revolucionários como Che Guevara são rotulados como heróis por liderarem as principais rebeliões contra “o Homem”. Porém, esquecidas pela história são mulheres que assumiram poderes muito maiores do que Fulgencio Batista. Ao longo dos séculos, elas estiveram à frente de rebeliões e revoluções que tomaram o poder do Império Romano e da grande riqueza da Companhia Britânica das Índias Orientais. Confira:

10. Yaa Asantewaa

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Yaa Asantewaa, descrita como a Joana D’Arc africana, foi Rainha Mãe da região Edweso, parte do antigo Reino Asante e agora Gana moderna. Nascida por volta de 1830, ela era a irmã de Kwasi Afrane Panin, que se tornou chefe de Edweso quando Yaa era jovem. Nas proximidads ficava a chamada Costa do Ouro, de onde os britânicos conduziram uma campanha contra o Império Asante, taxando, convertendo e tomando o controle de grandes áreas de seu território tribal, incluindo minas de ouro.

Quando o Asante começou a resistir à dominação britânica, o governador Lord Hodgson decidiu tomar o Sika ‘dwa, uma espécie de trono sagrado daquele povo e símbolo de sua independência. Para impor as suas exigências, o capitão C. H. Armitage foi enviado para intimidar a população. Armitage ia de aldeia em aldeia batendo em crianças e adultos, na esperança de obter o trono. Eventualmente, o Rei de Asante, Nana Osei Agyeman Prempeh I, junto com 55 de seus chefes e parentes, foram forçados ao exílio.
Pouco tempo depois, em 28 de março de 1900, o que restou da monarquia foi reunido e o capitão britânico exigiu mais dinheiro. Yaa, a única mulher presente, fez um famoso discurso para os britânicos, no qual se recusava a pagar mais de seus impostos. Ela também ofereceu suas roupas íntimas em troca das tangas de qualquer chefe Asante não disposto a lutar governo imperial tirânico.
Este discurso provocou a Guerra de Independência Yaa Asantewaa, que começou naquele mesmo dia. Como líder da revolução, Yaa montou um exército pessoal de mais de 4.000 soldados. Durante três meses, ela foi capaz de sitiar a fortaleza britânica em Kumasi. Depois de sofrerem baixas no combate inicial, reforços britânicos da Nigéria precisaram ser chamados para lidar com a problemática Yaa. Utilizando tecnologia superior, a tática da terra arrasada e recompensas financeiras para os traidores, a Rainha Mãe foi presa em 3 de março de 1901. Ela foi enviada para o exílio, onde acabou por morrer aos 90 anos.

9. Corazon Aquino

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Corazon “Cory” Aquino era uma mulher filipina que, em 1986, liderou o primeiro governo democraticamente eleito das Filipinas desde antes da ocupação japonesa. Nascida em 1933, casou-se com Benigno “Ninoy” Aquino depois de se formar na Mount St. Vincent College, em Nova York (EUA). Ninoy Aquino tornou-se um crítico ferrenho do ditador das Filipinas, Ferdinand Marcos, que estava no controle do país desde 1965. Em 1972, Ninoy foi detido pela polícia, preso por oito anos e depois exilado para os EUA. Quando ele foi autorizado a voltar para casa, em 1983, foi assassinado pelo governo no momento em que chegou.

Esta execução sangrenta, juntamente com uma economia em declínio, deram à oposição de Ferdinand um impulso. Cory, indignada com a morte do marido, assumiu o controle da oposição, apesar da possibilidade de estar potencialmente enfrentando o mesmo destino que ele. Em 1985, uma eleição encenada foi realizada para legitimar o governo de Marco. Relutante em se candidatar num primeiro momento, ela só fez isso depois de receber um livro de um milhão de assinaturas que expressavam apoio à sua campanha.
Durante um debate, depois de ter sido agredida verbalmente por seu gênero e inexperiência política, Cory mostrou um dedo do meio metafórico a Marco, concordando que ela “não tinha experiência em enganar, mentir para o povo, roubar o dinheiro do governo e matar adversários políticos”.
No final da eleição, em fevereiro de 1986, Marco “ganhou” com uma grande porcentagem dos votos. O Senado dos EUA e Igreja Católica acusaram o ditador de fraude eleitoral e Cory pediu protestos pacíficos, greves e boicotes. O movimento ficou conhecido como People Power Revolution – freiras e famílias inteiras, incluindo crianças, participaram do momento histórico. Em uma última tentativa de recuperar o controle da população, Marcos ordenou ao exército disparar contra os revolucionários pacíficos. Os militares se recusaram a seguir suas ordens e muitos desertaram ou retornaram às suas bases.
Até o final de fevereiro, o ditador foi forçado a fugir e Corazon Aquino tornou-se presidente de um governo democraticamente eleito.

8. Laskarina Bouboulina

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Laskarina Bouboulina era uma comandante naval grega e capitã revolucionária que lutou na bem-sucedida Guerra da Independência grega contra os otomanos. Em maio de 1771, Laskarina nasceu durante a visita de sua mãe a uma prisão de Constantinopla. A menina era filha de um capitão naval grego que tinha sido preso e separado de sua esposa grávida durante um golpe de Estado fracassado contra o Império Otomano.

Após a morte de seu pai, Laskarina mudou com sua mãe para a ilha de Spetses. Foi lá que se casou duas vezes, ambas em famílias ricas. Usando o dinheiro que ela tinha recebido a partir dessas relações, construiu quatro navios, incluindo o Agamenon, um dos maiores navios da época. Bouboulina tornou-se a única mulher a participar do Filiki Etairia, um movimento revolucionário grego que tinha o intuito de expulsar os otomanos. Em 13 de março de 1821, 12 dias após o grupo começar a Guerra da Independência, Laskarina levantou a primeira bandeira revolucionária do conflito sobre a ilha de Spetses.
Em 3 de abril, Spetses se juntou à revolução, seguida pelas ilhas de Hydra e Psara. Agora comandando oito navios, Laskarina juntou-se ao bloqueio da fortaleza otomana em Nafplion. Mais tarde, ela atacou Monemvasia e Pylos, gastando quase toda sua enorme fortuna apenas nos dois primeiros anos da guerra que, ao final, levou à criação de um Estado grego.
Como a Grécia tornou-se fragmentada em facções, Laskarina foi presa duas vezes antes de ser exilada em Spetses. Sem um fim heróico, ela mais tarde foi baleada em uma disputa familiar. Não há dúvida, porém, que sem os seus navios, dinheiro e comando, a revolução poderia não ter sido bem sucedida.

7. Rainha Mavia da Arábia

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Mavia era uma rainha guerreira que enfrentou o poder de Roma e venceu. Após a morte de seu marido, al-Hawari, que não tinha herdeiro do sexo masculino, Mavia tornou-se rainha dos sarracenos que habitavam o sul da Palestina e norte do Sinai em torno de 375 aC. Até aquele momento, a tribo de Mavia tinha sido constantemente subjugada pelo poder do Império Bizantino, a frente leste do Império Romano.

Quando o Imperador Romano Valens solicitou que Mavia mandasse soldados mercenários para lutar contra os godos, surgiu um conflito a respeito dos termos do acordo. A revolta eclodiu à medida que Mavia procurava provar-se competente, enfrentando a superpotência de Roma. A revolta foi tão rápida e eficaz que tem sido comparada à Blitzkrieg alemã.
Cidades nas fronteiras da Palestina e da Arábia sucumbiram rapidamente sob ataque de suas forças. Ataques surpresa seguidos por massacres foram decretados contra Fenícia, Palestina e até mesmo lugares tão distantes quanto o Egito. Províncias romanas foram reduzidas a ruínas e os exércitos romanos enviados às pressas para lidar com Mavia foram derrotados ou obrigados a fugir. Em um mosteiro no Sinai, os exércitos da rainha foram capazes de massacrar os monges relativamente sem oposição.
Enfraquecido e incapaz de conter a rainha guerreira, Valens foi forçado a fazer um acordo de paz nos termos de Mavia. Um monge local escolhido pela rainha foi eleito como bispo da região, dando à tribo muito mais liberdade. Sua filha também foi casada com um oficial militar proeminente de Valens, dando a Mavia acesso interno à administração romana.

6. Kittur Rani Chennamma

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Kittur Rani Chennamma era uma rainha indiana que lutou contra a Companhia Britânica das Índias Orientais. Ela nasceu na pequena aldeia de Kakati em 1778. Desde tenra idade, andava a cavalo e treinava arco e flecha e esgrima. Aos 15 anos, casou-se com Chennamma Mallasarja Desai, governante de Kittur, um pequeno principado indiano. Seu marido morreu em 1816 e seu único filho morreu pouco depois.

Chennamma, agora o governante legítima, mas não reconhecida, de Kittur, adotou um filho na tentativa de continuar a linhagem real. No entanto, para assumir o controle da Índia, o governo britânico e a Companhia das Índias Orientais aplicaram a Doutrina da Preempção.
Esta declaração proibia governantes nativos de adotar crianças se não tivessem nenhum filho biológico. Ou seja, após a morte do governante, a terra se tornaria território britânico. Não reconhecendo a criança adotada como governante, o Estado de Kittur caiu sob o controle da insanamente poderosa Companhia Britânica das Índias Orientais, sob as ordens do Sr. Chaplin, comissário da região. Rani se recusou a reconhecer o governo britânico de seu povo e encontrou as forças britânicas com um exército próprio quando elas entraram em Kittur.
Centenas de soldados britânicos foram mortos na batalha que se seguiu, juntamente do Sr. Thackeray, o governante de Kittur indicado pelo governo britânico. Eventualmente, exércitos imperiais muito maiores de Mysore e Sholapur cercaram a rainha em sua fortaleza. Ela segurou o cerco britânico por 12 dias, até que traidores sabotaram seus suprimentos de pólvora. Depois de sua derrota, Kittur Rani Chennamma foi mantida presa até sua morte, em 1829. Apesar de não ter obtido sucesso, Chennamma agiu como uma heroína e foi um símbolo durante o Movimento de Libertação.

5. Leymah Gbowee

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Leymah Gbowee, juntamente com as mulheres da Libéria, organizou um movimento pacífico que conseguiu pôr fim a uma guerra civil que matou mais de 250 mil pessoas em 14 anos. O presidente Charles Taylor chegou ao poder após uma revolução sangrenta que ocorreu no período de 1980 até 1995. Logo após sua eleição, Taylor começou a apoiar matanças étnicas e peculato. Isso levou a um novo conflito no país, a Segunda Guerra Civil da Libéria, que começou em 1999 e foi caracterizada por sua brutalidade e o uso de crianças como soldados.

Nascida na região central da Libéria em 1972, Leymah rapidamente se tornou envolvida na violência que se alastrou e destruiu o país. Ela recebeu treinamento para ser conselheira de trauma para meninas e mulheres estupradas por milícias, também trabalhando na conturbada República Democrática do Congo. Em 2002, Leymah organizou o movimento Women of Liberia Mass Action for Peace. Mulheres de diversas origens se reuniram para orar e cantar em público, exigindo paz. Fazendo piquetes, jejuando e ameaçando uma “greve de sexo”, as mulheres arriscaram suas vidas em protestos na capital, para exigir que Charles Taylor fizesse algo para acabar com o conflito.
Depois da pressão feminina e condenação internacional, o presidente brutal finalmente voou para a região neutra de Gana para as negociações de paz. As mulheres o seguiram até lá para continuar os seus esforços. A violência terminou em 2003, com Taylor forçado a renunciar e preso por Haia por crimes contra a humanidade. Eleições democráticas em 2005 levaram ao poder Ellen Johnson Sirleaf, eleita pelo povo como a primeira mulher chefe de Estado em um país africano.
Leymah Gbowee recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2011.

4. Condessa Emilia Plater

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A condessa Emilia Plater, nascida de patriotas poloneses em Wilno (Lituânia) em 13 novembro de 1806, cresceu ressentindo a Rússia, que estava governando faixas da Polônia e suprimindo costumes poloneses durante o século XIX. Os pais de Emília se separaram quando ela era jovem e seu pai, o conde, tinha pouco contato com ela. Ela aprendeu a lutar com seus primos, tornando-se uma boa esgrimista. Em 1831, a notícia da Insurreição de Varsóvia, em fevereiro de 1830, chegou a Wilno. Patriotas começaram a planejar sua própria rebelião, não permitindo Emilia em suas reuniões por causa de seu gênero.

Ela cortou os cabelos e preparou um uniforme para si mesma para que pudesse se juntar à revolução. Às suas próprias custas, reuniu e montou uma força de 500 combatentes lituanos. Em 30 de março de 1831, seu exército enfrentou uma patrulha da cavalaria russa. Mais tarde, em 2 de abril, ela forçou uma divisão de infantaria a recuar.
Em sua maior façanha, Emilia e seu grupo tomaram a cidade de Jeziorosy. Mais tarde, ela juntou forças com Karol Zaluski, outro líder de uma unidade revolucionária. Junto com os homens de Konstanty Parczewski, Emilia provou-se nas batalhas de Kowno e Szawle, ganhando o posto de capitã em campo. Em 23 de dezembro de 1831, a Condessa da Revolução faleceu depois de ficar fatalmente doente durante a revolta infrutífera.

3. Nanny dos quilombolas

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Nanny, ilustrada na nota de 500 dólares jamaicanos, foi a líder de um grupo de escravos que se revoltaram contra seus opressores britânicos. A rainha Nanny nasceu na escravidão em algum momento durante a década de 1680, uma filha da Costa do Ouro, que atualmente é Gana. Em algum momento Nanny, supostamente de sangue real, foi capaz de escapar de uma colônia britânica na Jamaica e levar um grupo de escravos às áreas montanhosas no interior da ilha. Logo, grandes comunidades de ex-escravos, que se autodenominavam quilombolas, tinham nascido. Nanny Town, fundada por volta de 1723, foi a primeira e, de longe, a maior dessas comunidades. A partir desta cidade, Nanny foi capaz de conduzir ataques contra as plantações, a fim de libertar escravos.

No entanto, a revolução rapidamente chamou a atenção dos britânicos. Uma série de campanhas contra os quilombolas problemáticos foram lançadas e Nanny foi forçada a liderar seu povo em uma operação de defesa da guerrilha. Para explorar a natureza defensiva do interior da Jamaica, Nanny assegurou que os assentamentos dos quilombolas fossem construídos no alto das montanhas. Muitas vezes, eles tinham apenas um acesso, o que significa que soldados britânicos eram facilmente abatidos por um pequeno número de quilombolas para quem Nanny tinha ensinado a arte da camuflagem.
Nanny Town, em si, foi atacada em várias ocasiões: em 1730, 1731, 1732, e por diversas vezes em 1734. Um ataque britânico em 1734 conseguiu assumir o controle do local, o que obrigou Nanny e os sobreviventes a fugirem e encontrarem um novo campo, a partir do qual se mostraram ainda mais desafiadores. Alguns historiadores sugerem que Nanny foi treinada na arte de pegar balas com as mãos.
Embora Nanny e seu povo tenham enfrentado ataques quase constantes e a fome, eles permaneceram unidos e fortes contra os britânicos. Em 1739-1740, estes assinaram um tratado de paz com os quilombolas, dando-lhes 500 hectares de terra para chamar de seus. Nanny, uma heroína nacional da Jamaica, recebe os créditos pela preservação da cultura e da liberdade de seu povo e é um poderoso símbolo da resistência à escravidão.

2. Toypurina

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Toypurina era uma curandeira nativa norte-americana que se opôs a colonização espanhola de suas terras tribais. Em 1771, quando apareceu o primeiro espanhol, Toypurina era uma menina de 10 anos de idade que testemunhou em primeira mão o sofrimento que o seu povo, a Nação Kizh, encarou nas mãos deles. Em um exemplo, depois que os colonos tinham reivindicado terreno para construir a missão de San Gabriel Arcanjo, a esposa de um chefe local foi estuprada por soldados da missão espanhol. Quando o chefe protestou, ele foi morto e teve a cabeça presa em uma lança como um exemplo.

Após a construção da missão, Toypurina viu mais de mil nativos norte-americanos serem subornados ou forçados a se converter ao cristianismo. Estes convertidos eram frequentemente utilizados como escravos no trabalho agrícola.
Conforme Toypurina cresceu, se tornou uma influente curandeira e xamã. Em 1785, um membro indígena da missão, Nicolas Jose, contactou Toypurina. Jose estava irritado porque a missão proibia a dança tradicional da tribo. Juntos, eles conspiraram para provocar uma rebelião contra os espanhóis. Também receberam o apoio do irmão de Toypurina, de um chefe da nação Kizh e guerreiros de oito aldeias.
Para ter alguma chance contra os mosquetes e artilharia dos espanhóis, Toypurina planejava matar os líderes da Igreja espanhola com magia, permitindo que guerreiros nativos facilmente tomassem a força de defesa. Certa noite, escalando a parede com dezenas de guerreiros em uma noite sem lua, o grupo de ataque correu para os quartos dos sacerdotes da missão. Duas figuras estavam imóveis no chão, como se a magia do xamã tivesse funcionado. De repente, os corpos se levantaram – os dois padres mortos eram, na verdade, soldados espanhóis disfarçados, que soltaram um grito de reforços. Em segundos, os rebeldes nativos americanos foram cercados.
Os espanhóis haviam sido avisados sobre o ataque e, no final das contas, a magia não é uma arma muito eficaz. Dois meses mais tarde, quando os líderes rebeldes foram levados a julgamento, eles se voltaram contra Toypurina, dizendo que ela era uma bruxa que os tinha controlado. Toypurina usou o julgamento para dizer a seu povo para lutar contra os homens brancos que invadiam suas terras e espoliavam suas tradições e também aconselhou que não tivessem medo dos “pedaços de madeira espanhóis que cospem fogo”. Toypurina foi condenada ao exílio e, possivelmente, ao batismo forçado em uma missão espanhola, onde passou o resto de sua vida.

1. Margarita Neri

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A Revolução Mexicana começou em 20 de novembro de 1910 e se prolongou até a década de 1920. Foi uma tentativa dos revolucionários de derrubar o governador e ditador Porfirio Díaz Mori e implementar uma Constituição, que teria como objetivo garantir vida mais justa para as classes agrícolas. O conflito foi sangrento, com cerca de 900 mil pessoas perdendo suas vidas. Essa vastidão de morte e destruição significava que ambos os lados estavam mais do que dispostos a envolver as mulheres e crianças no combate.

Um exército de 5.369 revolucionários inspecionados por autoridades norte-americanas incluía 1.256 mulheres e 554 crianças. Enquanto as crianças principalmente faziam pilhagens e cozinhavam, as mulheres geralmente eram armadas e lutavam ao lado dos homens. Apesar de enfrentar a desigualdade constante e o sexismo, as mulheres ainda estavam dispostas a desempenhar um papel importante na eventual queda de Mori. Essas soldados do sexo feminino que o lado revolucionário trouxe à ação foram chamadas de soldaderas.
Talvez a mais famosa de todas as soldaderas foi Margarita Neri, que não só lutou na guerra, mas também atuou como comandante. Descendente de maias e holandeses de Quintana Roo, a partir de 1910 ela comandou uma força de mais de mil que varreu Tabasco e Chiapas saqueando, queimando e matando. Neri foi tão eficaz em sua matança de tropas antirrevolucionárias, que o governador de Guerrero se escondeu em uma caixa e fugiu da cidade assim que soube de sua aproximação. Se Margarita lutou pela revolução diretamente, sob o comando de Francisco Madero, ou se sua unidade trabalhou independentemente, permanece um mistério. O que é claro como o dia é que ela e seus soldados eram uma séria ameaça para o governo, com Neri prometendo ela mesma decapitar Diaz. [Listverse]

terça-feira, 29 de outubro de 2013

O que Marx e Keynes tem a dizer a 2014

O que Marx e Keynes tem a dizer a 2014

Quem considera indiferente a vitória de Dilma Rousseff, Eduardo Campos ou Aécio Neves em 2014 deve abrir os olhos à experiência da história.

por: Saul Leblon

Um congresso sobre marxismo numa Europa devastada pela recessão e o desemprego, fruto da austeridade pró-mercados, seria a última pauta do mundo para a grande mídia conservadora.

Esse é um dos motivos pelos quais é importante existir pluralismo informativo (ademais de condições estruturais e econômicas para que ele possa ser exercido).

Carta Maior decidiu cobrir o II Congresso Karl Marx, em Lisboa,  por considerar que o Brasil vive uma transição de ciclo de desenvolvimento  fortemente condicionada pelas determinações internacionais. E pelas escolhas históricas embutidas nesse divisor.

As condicionalidades precisam ser entendidas para que possam ser afrontadas ou ao menos mitigadas –e isso passa pela compreensão que a  análise marxista propicia sobre a natureza da  crise atual.

A maior crise do capitalismo desde 1929 marmoriza o debate sobre o  passo seguinte do desenvolvimento brasileiro  mais do que desconfiam, ou gostariam de admitir,  os protagonistas reconhecidos e pretensos  da disputa de 2014.

É com esses  olhos que devem ser lidos os vários despachos enviados pela correspondente em Lisboa, Cristina Portella.

Não se trata de transpor as condições europeias para a singularidade de nossa equação de desenvolvimento.

Mas o que aqui se apregoa como sendo um ‘novo’ caminho para o Brasil, como alardeiam os presidenciáveis Campos, Marina , Aécio, seus colunistas e o dispositivo emissor que os ancora, encontra preocupantes pontos de identidade com as políticas de ajuste que jogaram a Europa no moedor de carne analisado no II Congresso Karl Marx.

Da entrevista feita por Cristina com o economista português Francisco Louçã, por exemplo,  do Bloco de Esquerda, ou da conversa carregada de angústia com o filósofo grego Stathis Kouvelakis, dirigente do Syriza, a Coligação da Esquerda Radical (leia nesta pág), avultam advertências implícitas às receitas de arrocho redentor (contração expansiva, diz-se elegantemente) embutidas no discurso do conservadorismo brasileiro.

Seria essa a alternativa  ao que se acusa de  ‘intervencionismo de baixo crescimento’ do governo Dilma.

Um aumento brutal da exploração social. Nisso consiste o ajuste a mercado das economias europeias, achatadas em endividamento e déficits fiscais vitaminados pela própria mecânica do arrocho em curso.

“O  que a burguesia europeia pretende é a estabilidade de um regime que permita assegurar esse aumento da extração da mais-valia”, diz Louçã na entrevista a Carta Maior. “ A redução da taxa de lucro é respondida pela afirmação das políticas liberais (...) o aumento da dívida (pública)  e o aumento da exploração. E a dívida é uma forma de exploração, porque é uma garantia do valor dos salários que é pago no futuro sobre a forma de impostos”, diz Louçã.

As consequências políticas da supremacia da lógica financeira sobre os interesses da sociedade  são devastadoras, explica o dirigente do Syriza,  Stathis Kouvelakis.

Na Grécia, reduzida a um laboratório de ponta do arrocho neoliberal, todo o antigo sistema político se dissolveu na convulsão mercadista.

“Um pouco da forma como o velho sistema político boliviano ou venezuelano desapareceram depois do choque das reformas neoliberais”, diz ele.

A receita só se viabiliza, na verdade, com a concomitante desintegração do próprio aparelho de Estado, uma vez que se trata de erradicar a dimensão pública da economia.

A singularidade terminal do caso grego, segundo Kouvelakis, é que essa liquefação não se restringiu à esfera social e dos serviços. Sua virulência atingiu o próprio núcleo duro do Estado. “Incluindo o aparelho repressivo, o próprio Exército, que também foi atingido pela contração da atividade e os cortes orçamentais”, explica.

“Há uma atmosfera geral de que a autoridade do Estado já não se sustenta, e isto cria situações absolutamente explosivas na Grécia. E muito contraditórias’, desabafa  o dirigente do Syriza na entrevista a Carta Maior.

“Há uma radicalização política tanto na esquerda quanto na direita, e a ascensão pela primeira vez, no contexto da Europa ocidental, de um movimento fascista, com apoio real em certos setores da sociedade, e também com a capacidade de infiltrar-se em certos setores do Estado, e até da polícia, como vimos recentemente”.

A derrota do Syriza nas eleições de 2012, mesmo sendo por pequena margem de votos, teve um efeito desmobilizador dramático  na Grécia, facilitando a sangria conservadora.

Quem considera indiferente no Brasil a vitória de Dilma, Campos ou  Aécio deve abrir os olhos à experiência da história.

 ‘Os tempos são muito duros, porque foram implementadas as mesmas políticas, a sociedade está ainda mais traumatizada do que há um ano e meio, os fascistas tornaram-se a terceira força política;  existe uma corrida entre as alternativas progressistas, como a do Syriza, ou soluções extremamente perigosas e autoritárias, como as defendidas não só pelos fascistas, mas também por todo um setor do Estado e das forças políticas dominantes’, adverte Kouvelakis.

A tragédia grega exacerba uma marca do nosso tempo.

A mesma que perambula dissimuladamente como virtude no discurso conservador brasileiro. Às vezes fantasiada da leveza verde.

 Esse é um tempo em que a saúde dos mercados e a deriva da sociedade e do seu desenvolvimento  não são  realidades contraditórias.

Antes, exprimem uma racionalidade impossível de se combater sem uma intervenção política que enquadre os mercados e instrumentalize o Estado para agir nessa direção.

Sintomas dessa dualidade funcional podem ser pinçados nesse momento na Espanha, por exemplo.

A austeridade  jogou 26% da força de trabalho na rua (seis milhões de pessoas), mas os banqueiros saúdam ‘a recuperação’.
 
Despejos atingiram milhares de famílias espanholas, enquanto 750  mil imóveis novos encontram-se encalhados  e mais 500 mil inconclusos.

Segundo o jornal ‘El país’, especialistas discutem a conveniência de se demolir uma parte dessa ‘sobra’.

Para recuperar os preços do mercado imobiliário.

O absurdo foi implementado  nos EUA e na Irlanda. Com bons resultados, dizem os analistas de negócios.

O que parece ser exceção é a norma.

Corporações saudáveis, nações devastadas. Populações acuadas, ambientes asfixiados pela desigualdade, a violência e o desalento.

O que importa reter, das lições ecoadas no II Congresso Karl Marx,  é a tendência mais geral de um capitalismo que, deixado à própria sorte, mais que nunca vai operar em condições de baixa demanda efetiva e elevado desemprego.

Ou não será exatamente isso, deixa-lo à vontade para funcionar assim, o que tem pregado a agenda conservadora  no Brasil?

Duas em cada três manchetes do jornalismo econômico que a ecoa manifestam  irritação com o pleno emprego, com o fomento ‘desenvolvimentista do BNDES’, com as exigências de índice de nacionalidade nas encomendas do pré-sal, com a fórmula ‘inflacionária’ de reajuste do salário mínimo, com a baixa alocação de superávit fiscal aos rentistas   e a ‘gastança’ dos programas sociais.

Comandar socialmente o investimento, puxando-o pelas rédeas do Estado, como se inclina a fazer o governo, desde 2008, sem dúvida é uma dos antídotos ao arrocho que devasta a Europa e alguns querem trazer  ao Brasil.

Mas ser keynesiano em tempos de capital monopolista e desordem neoliberal tem um preço que o governo brasileiro hesita em pagar.

O keynesianismo em si  tornou-se  uma teoria desprovida de  conteúdo histórico.
A democracia precisa avançar sobre a supremacia dos mercados para abrir espaço de coerência à macroeconomia necessária ao fomento da  produção e da justiça social em nosso tempo.

Em outras palavras, o desenvolvimento que afronta a coagulação histórica do capital requer um projeto social  que o conduza.

Logo, um protagonista coletivo que o lidere.

Essa defasagem da democracia brasileira explica, em boa medida, o difícil parto do passo seguinte da história nesse momento.

Esgotada a fase alegre dos consensos, como é o caso, e o será cada vez mais, uma sugestão ao governo é de que aproveite a boa fase atual e se articule.

A disputa de 2014 pode ser uma oportunidade para recuperar o tempo perdido nesse quesito incontornável: erguer pontes de compromissos e políticas que harmonizem a democracia política com as tarefas sociais e econômicas de um novo ciclo de desenvolvimento.

A ver.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Por uma PALESTINA LIVRE!!!!!!!


                                     Palestina, Palestina
Georges Bourdoukan
                  Para aliviar a culpa de seus anti-semitas, o Ocidente está destruindo uma nação semita...

Às profundezas da história,
À impiedade e ao medo,
À realidade invisível,
À ocupação e à exclusão,
Ao Ocidente que buscou aliviar
a culpa de seus anti-semitas,
Uma nação torturada resiste!

O coração palestino palpita.
Tentam abafar seu grito de liberdade,
Suas pedras revidam contra a injustiça,
Contra o racismo e a intolerância!

A estrela busca a purificação com sangue
E ao muro dirige suas preces.
Existirá um limite para a brutalidade?
Existirá um limite para a indiferença?

Palestina, Palestina
Até quando, até quando?

Transgêneros ganham direito de usar nome social na universidade

Transgêneros ganham direito de usar nome social na universidade

Adital

Travestis e transexuais já podem incluir seu nome social em registros funcionais e acadêmicos da Universidade Federal do Ceará. A resolução que trata do assunto foi aprovada por unanimidade em reunião do Conselho Universitário (Consuni), na última sexta-feira (4), e estabelece que o nome social deve ser registrado em documentos de servidores e discentes da UFC, seguido pelo nome de registro civil entre parênteses.

O nome social é aquele pelo qual transgêneros se identificam e desejam ser reconhecidos e denominados pela sociedade. A resolução permite que esses cidadãos tenham o nome social registrado em documentos da universidade, exceto diplomas, declarações, certificados e atas de colação de grau de discentes, que deverão conter apenas o nome civil para o reconhecimento. Nas cerimônias de colação de grau, no entanto, a outorga será realizada considerando o nome social.
Em documentos de uso interno da Universidade, de visualização aberta ao público, somente deve ser registrado o nome social, acompanhado do número de matrícula (para estudantes) ou do SIAPE (para servidores). A norma vale também para as listas de chamada dos alunos. Em documentos de identidade estudantil, endereço de correio eletrônico e nome de usuário em sistemas de informática devem constar apenas o nome social.
A resolução determina ainda que as pessoas que optarem pela inclusão do nome social em seus registros deverão ser chamadas oralmente somente por ele, sem menção ao nome civil, no tratamento institucional. Ao participar de conselhos ou comissões institucionais, porém, as respectivas atas trarão apenas o nome civil. Processos de seleção internos da UFC passam a aceitar documentos que contenham o registro civil e nome social.
A inserção do nome social de transgêneros nos registros acadêmicos e funcionais é um instrumento que visa à garantia do respeito aos direitos humanos, combatendo o preconceito e a intolerância na Instituição. Segundo o Reitor da UFC, Prof. Jesualdo Pereira Farias, "a Universidade vem buscando sempre compreender e adotar medidas para todo tipo de inclusão e não deve admitir nenhuma forma de discriminação".
A Diretora do Centro de Humanidades, a Profª Vládia Maria Cabral Borges, elogiou a iniciativa. Ela contou que presenciou vários casos de constrangimento entre alunos transgêneros da Instituição em suas atividades mais rotineiras, como a resposta à chamada de aula. "Vejo alunos que sofrem cotidianamente por terem um nome que não condiz com sua identidade e fico feliz por ver essa resolução aprovada", disse.
PROCEDIMENTOS – Para inclusão do nome social, as pessoas interessadas precisam solicitar o requerimento na instância apropriada na Universidade. Alunos de graduação e pós-graduação devem procurar, respectivamente, a Pró-Reitoria de Graduação e a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. No caso de servidores docentes e técnico-administrativos, o requerimento é feito na Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep). Para os menores de 18 anos, o requerimento deve ser acompanhado de termo de autorização por escrito dos pais ou responsáveis legais, reconhecido em cartório.
COMISSÃO – A iniciativa surgiu a partir da solicitação feita por parte da comunidade acadêmica que desejava utilizar o nome social em sua documentação e vai ao encontro das recomendações feita pela Comissão Especial de Direitos Humanos da UFC. A comissão iniciou seus trabalhos no dia 31 de maio com o objetivo de apresentar um conjunto de propostas para a política de promoção e defesa dos direitos humanos na Instituição.
O documento foi apresentado na última reunião do Consuni e reúne orientações para o estímulo do respeito à diversidade de orientação sexual, étnica, cultural, ideológica e religiosa entre a comunidade universitária. O relatório final inclui propostas de ações que visem à atualização dos marcos regulatórios e normativos que sustentem a livre expressão e a promoção dos direitos humanos em sua concepção mais ampla e que, ao mesmo tempo, coíbam comportamentos ilegais e criminosos.
De acordo com o Reitor Jesualdo Pereira Farias, a Comissão Especial de Direitos Humanos da UFC referendou o que já era a política da Universidade. Ele acrescentou que o próximo passo é institucionalizar essa política. "Vamos trabalhar na perspectiva de implementar uma comissão permanente (de Direitos Humanos), escolhendo seus membros e elaborando seu regimento interno", afirmou.
*Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da UFC

terça-feira, 17 de setembro de 2013

‘Precisamos rediscutir o modelo de sociedade, antes de determinar a forma de eleição de políticos’



ESCRITO POR VALÉRIA NADER E GABRIEL BRITO, DA REDAÇÃO
 do CORREIO DA CIDADANIA





Ainda estamos no calor da onda de manifestações que fazem crer em novos rumos para o país, a despeito do desconcerto que ainda afeta os governos instituídos, incapazes sequer de abrir mão da repressão militar nas ruas, enquanto desengavetam propostas há muito tempo fora de suas pautas, postas à mesa com pressa jamais vista.

Para comentar um pouco sobre o mês que abalou as estruturas do país, e também sobre a propalada reforma política, agora entusiasticamente oferecida por Dilma, o Correio da Cidadania entrevistou o jurista e livre docente da USP, Jorge Luiz Souto Maior.

Para Souto Maior, o atual momento “ficará para a história como um momento de ruptura, de transformação por parte sociedade brasileira, que não será mais a mesma, certamente. Também não serão mais as mesmas as instituições brasileiras, que sentiram fortemente o peso da manifestação popular”, resume.
O jurista enfatiza, no entanto, que as manifestações populares exigem, em seu fundo, uma maior intervenção social do Estado, no sentido de organizar e promover adequadamente os serviços públicos e essenciais. Além de mencionar que os acenos dados até agora pelo governo neste sentido são muito genéricos, faz uma importante  advertência quanto ao tema para o qual mais se voltou o governo até o momento, e aquele que tem recebido maior cobertura na mídia corporativa,  a reforma política.  “Precisamos discutir que modelo de sociedade nós queremos, pra determinar a medida da atuação que se deseja dos políticos e do governo. Penso que a questão, já posta na mesa, sobre a participação mais ativa do Estado nos temas que dizem respeito aos direitos sociais e à economia é algo mais importante do que simplesmente determinar a forma de eleição dos políticos”.

Quanto à ideia de uma Assembleia Constituinte para levar adiante uma reforma política, seja ela instituída de forma ampla  - uma forma de, justamente, levar a cabo uma revisão mais profunda do modelo de sociedade -, seja de forma específica - convocada por Emenda Constitucional, de acordo com a Constituição -, Souto Maior não a enxerga como oportuna. “Creio que essa reforma política pode ter a necessidade de uma constituinte, mas a proposta parcial – fora de um contexto, digamos, revolucionário, e pura e simplesmente dentro de um acerto do modelo de sociedade que aí está – é muito perigosa, na medida em que se abre a porta para a fragilidade da Constituição como um todo, tanto daquilo que ela tem de ruim como também daquilo que tem de bom. E a Constituição de 1988, é importante lembrar, fez parte de um pacto de reconstrução da sociedade brasileira, na forma de um Estado Social-democrático, que na realidade ainda não foi implantado (...) Ainda precisamos implantar a Constituição de 1988”.

O jurista não teme, finalmente, por retrocessos, uma vez que, acima de tudo, o povo tomou as ruas para colocar suas urgências em pauta, como há muito não se via. “Tais reivindicações de massa representaram uma espécie de sepultamento da lógica neoliberal”, completa, complementando que o atual momento deve ser visto também pela perspectiva da crise internacional do capitalismo e seu modelo de sociabilidade e produção, em última análise, o autêntico estopim da revolta.

A entrevista completa com Jorge Luiz Souto Maior pode ser lida a seguir.
Correio da Cidadania: Como o senhor tem visto e o que significa, em sua análise, o desenrolar dos acontecimentos políticos desde o início das manifestações até o seu atual estágio?
Jorge Luiz Souto Maior: Eu vejo o momento muito positivamente, porque é uma demonstração clara e evidente de que as pessoas em geral perceberam que toda mobilização precisa de luta. E, sobretudo, a população tem utilizado a mobilização para pleitear, com mais força, uma maior participação do Estado na vida social, no sentido da melhoria dos serviços sociais. De certa forma, o momento representa um pouco de saída daquela situação vivenciada até aqui, de isolamento, individualismo e certo egoísmo, trazendo um pouco dos valores da solidariedade a essa sociedade, os quais ela tanto precisa. Eu vejo tudo que ocorreu muito positivamente, do ponto de vista democrático, político e também pela conotação social relevante.

Correio da Cidadania: Acredita que este momento mais efervescente já sofreu algum recuo, um arrefecimento?

Jorge Luiz Souto Maior: A efervescência ainda está presente, mas acho que a tendência é diminuir, pelo que tenho visto. Não porque eu queira que diminuam os volumes de manifestações. De toda forma, o que já ocorreu não ficará para a história como algo que passou, simplesmente. Ficará para a história como um momento de ruptura, de transformação por parte sociedade brasileira, que não será mais a mesma, certamente. Também não serão mais as mesmas as instituições brasileiras, que sentiram fortemente o peso da manifestação popular.

O sentimento de força, adquirido pelas manifestações, certamente não ficará perdido mais adiante. Muitas conquistas concretas vieram, embora as reivindicações sejam bastante diversificadas. Houve conquistas e avanços concretos, que se anunciam ainda maiores, como poderemos ver através de uma eventual reforma política. Consequentemente, esses avanços a serem obtidos ficarão como demonstração clara de que as mobilizações sociais são relevantes.

Correio da Cidadania: Quanto à reação e medidas que têm tomado os mandatários, prefeitos, governadores e presidente da República, o que teria a comentar?

Jorge Luiz Souto Maior: Acho que as reações dos governantes, independentemente dos partidos – todos eles, é importante frisar – demonstram uma evolução das manifestações, evidenciando exatamente a conquista do movimento. Porque, num primeiro momento, os governantes desprezaram a força das mobilizações ou quiseram abafá-las, utilizando antigas estratégias de repressão. E tiveram que mudar sua postura, foram forçados a mudar a postura, diante dos eventos que se sucederam e passaram a ser notícia mundial, levando-os a tomarem medidas concretas no sentido de acolher as reivindicações, ou pelo menos parte delas.

Isso mostra, consequentemente, que as mobilizações representaram muitas vitórias e uma delas é exatamente essa: a evolução dos próprios governantes diante das mobilizações sociais, aceitando agora o desafio futuro, em relação ao que vem daqui por diante. Porque as questões colocadas em jogo se anunciam para brevemente, já estão prestes a ocorrerem, ao menos de acordo com o discurso dos próprios políticos.

Qual será a postura dos governantes diante de mobilizações sociais, com reivindicações mais emergentes e mais urgentes, vindas das periferias das cidades, das classes sociais, sobretudo dos trabalhadores? Os movimentos sociais que em grande parte são criminalizados têm agora a importante possibilidade de serem vistos através de suas reivindicações democráticas e também suas mobilizações, dando um impulso ao diálogo e à evolução concreta dos arranjos sociais, políticos e econômicos. Teremos de ver como tudo sucederá. Em princípio, parece que, necessariamente, terá de haver avanços.

Correio da Cidadania: No que se refere especificamente às medidas anunciadas pela presidência da República, para saúde, educação, transportes e sistema político, como você as recebeu, no geral?
Jorge Luiz Souto Maior: É evidente que algumas soluções exigidas nas reivindicações, quanto à saúde pública, educação pública e, sobretudo, o transporte com tarifa zero, não se resolvem de uma hora pra outra. De todo modo, o governo acenou com algumas soluções, que não são nem definitivas nem amplamente satisfatórias, cabendo verificar daqui por diante a eficácia de tais medidas em curto espaço de tempo, a fim de compreendermos se efetivamente representam algum avanço, na perspectiva das reivindicações populares.

Pessoalmente, não sei dizer se as medidas oficiais vão conduzir aos avanços, acho que devem ser feitos acenos maiores, mais abrangentes, mais definitivos. Mesmo assim, essa é uma verificação a ser feita na sequência, pra sabermos se algum desses anúncios representa evolução. Pessoalmente, acredito que são acenos genéricos demais e precisariam de definições mais concretas.

O debate apenas se iniciou e precisa ser aprofundado, não é possível ficar apenas na promessa de que serão destinados, futuramente, determinados valores dos royalties do petróleo, um percentual ‘xis’ do orçamento, para a educação e a saúde. É preciso saber quanto será administrado, de fato, para a educação, a saúde, e como esse dinheiro efetivamente vai ser empregado, quais são as políticas concretas para viabilizar a educação pública de qualidade e o acesso a ela, seja no ensino fundamental, médio ou superior.

Como será, de fato, o acesso à política, à educação e à saúde pública, sobretudo frente ao interesse privado nas áreas da saúde e também da educação?

São questões bastante relevantes para serem tratadas, de forma que não basta apenas destinar dinheiro. É preciso saber concretamente como e se o dinheiro será usado, quais serão exatamente as políticas para a resolução do quadro atual etc.

Correio da Cidadania: No sentido de novas providências a serem tomadas, a reforma política é o tema para o qual mais se voltou o governo até o momento e aquele que tem recebido maior cobertura na mídia corporativa – e, para a sua consecução, foi anunciada pela presidente Dilma até mesmo a tão criticada, e já descartada, Assembleia Constituinte. Como enxerga a necessidade e urgência de se promover uma reforma política em nosso país?
Jorge Luiz Souto Maior: Não tenho conhecimento profundo dessa questão. Eu tenho visto e lido bastante coisa, em geral com as pessoas pautando a reforma política como forma de gerar benefícios ao país, na perspectiva de melhorar as formas de representação. Vejo discussões sobre como os políticos poderiam representar mais democraticamente a sociedade, como a eleição poderia ser feita de forma a encontrar representantes ou políticos mais conectados com a vontade popular etc.

De todo modo, não sei se basta. Precisamos discutir que modelo de sociedade nós queremos, pra determinar a medida da atuação que se deseja dos políticos e do governo. Penso que a questão, já posta na mesa, sobre a participação mais ativa do Estado nos temas que dizem respeito aos direitos sociais e à economia é algo mais importante do que simplesmente determinar a forma de eleição dos políticos.

Parece também que se corre o risco de considerar todos os problemas vivenciados na sociedade, em geral, frutos da política e sua representação, como se os problemas decorressem somente da classe política partidária, deixando de lado as discussões mais relevantes, em torno da crise econômica nacional e mundial, que passa pelo modelo capitalista de produção. Ou seja, falta a perspectiva econômica e social, que transcende a atuação coletiva, pura e simples, dos políticos.

A sociedade precisa participar mais ativamente do debate a respeito do modelo de gestão de sua vida, dada a estagnação vivenciada, em nível mundial, pelo modo capitalista de produção, o que consequentemente requer, no mínimo, uma remodelação, chegando à sua reavaliação profunda.

Correio da Cidadania: Ainda a respeito da reforma política, muitos advogam que seria de fato mais efetiva uma Constituinte do que um instrumento limitado, para muitos oportunista, como o plebiscito: existem dede os que defendem uma ampla Constituinte -  uma forma de, justamente, levar a cabo uma revisão mais profunda do modelo de sociedade -, até aqueles que propõem uma “assembleia constituinte (revisora) específica, convocada conforme a Constituição, por Emenda Constitucional, para conectar as instituições políticas da República com o povo, que é o poder constituinte real” - conforme chegou a clamar o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Como o senhor se posiciona nesse debate?
Jorge Luiz Souto Maior: O momento de realizar uma constituinte, pelo que tenho visto, em termos de necessidade, parece não existir. Creio que essa reforma política pode ter a necessidade de uma constituinte, mas a proposta parcial – fora de um contexto, digamos, revolucionário, e pura e simplesmente dentro de um acerto do modelo de sociedade que aí está – é muito perigosa, na medida em que se abre a porta para a fragilidade da Constituição como um todo, tanto daquilo que ela tem de ruim como também daquilo que tem de bom. E a Constituição de 1988, é importante lembrar, fez parte de um pacto de reconstrução da sociedade brasileira, na forma de um Estado Social-democrático, que na realidade ainda não foi implantado. Vejo muito por esse aspecto: ainda precisamos implantar a Constituição de 1988, de fato, na sociedade, realizando melhorias na vida através dela.

Ressalto que a melhoria do atual modelo de sociedade requer outras avaliações, requer uma reparticipação, uma repactuação, que precisaria ser muito discutida, muito pensada e muito idealizada, passando por uma avaliação profunda da sociedade brasileira. E simplesmente utilizar uma Constituinte, numa perspectiva parcial, sem uma discussão mais ampla, não é o melhor caminho.

Encaminhar o plebiscito, sugerido pela presidente, me parece melhor e mais adequado, podendo também surtir efeitos relevantes, neste caso atraindo as pessoas para as ruas para um debate político concreto, elevando o nível da discussão. Isso tem efeito importante. Vejo algumas manifestações contrárias ao plebiscito, pois existem questões complexas sugeridas, e que seriam direcionadas ao voto direto da população. Mas creio que, nesse aspecto, há um certo pré-conceito quanto às possibilidades de compreensão da sociedade, em geral, a respeito de seus próprios problemas.

Penso que a sociedade de hoje, sobretudo os estudantes e jovens, é muito apta e rápida na compreensão das coisas, muito mais inteligente do que já foi no passado, e bastante comprometida, embora tenha quem diga o contrário, que tais jovens não estão aí para nada. Não é verdade. Há certa subestimação sobre o que representa essa movimentação política para os jovens. Creio, portanto, que eles são bastante aptos para conduzirem a discussão.

Correio da Cidadania: Abordando alguns detalhes de uma eventual reforma política, fala-se de voto distrital, voto proporcional em lista fechada, financiamento público de campanha, dentre outros aspectos. O que o senhor comentaria a respeito desses pontos ou priorizaria como elementos essenciais para um reforma política no país?

Jorge Luiz Souto Maior: Escolhendo um ponto, me parece que a questão do financiamento público de campanha é a mais relevante a ser avaliada. Mas, de fato, todos os pontos mencionados têm sua importância.

Correio da Cidadania: Acredita que o atual momento crie circunstâncias políticas favoráveis para se levar a cabo uma reforma política que, ainda que circunscrita pela ordem burguesa, tenha um cunho mais progressista, que combata firmemente a “privatização dos mandatos”, consequentemente contrariando os próprios interesses do sistema econômico vigente?

Jorge Luiz Souto Maior: Eu tenho impressão que sim. Tenho impressão que as forças sociais ou a consciência atual tende, mesmo, para o lado da reivindicação social, dos direitos sociais e uma participação mais ativa do Estado na economia e na realidade social, no sentido da diminuição das desigualdades, evitando a diminuição dos direitos sociais, tal como estamos vivenciando.

Acredito que a sociedade tenderá a uma reforma que vise aquilo que ela desconhecia, e não simplesmente a reafirmação de um modelo econômico neoliberal, o que, afinal, mostrou o momento que estamos vivendo. Acho que tais reivindicações de massa representaram uma espécie de sepultamento da lógica neoliberal.

Desse ponto de vista, a gente só pode ser otimista quanto ao que virá. De todo modo, sendo pessimista ou otimista, acho que o problema não é este. Penso que temos de nos dar a chance de conhecer a fundo a sociedade em que vivemos. Não dá pra ter medo do que virá das manifestações populares, porque, no fim das contas, precisamos conhecer a fundo a nossa sociedade.

Correio da Cidadania: O que vislumbra, finalmente, como o decorrer destes intensos acontecimentos das últimas semanas, para curto e médio prazos?

Jorge Luiz Souto Maior: É muito difícil imaginar. Já é difícil entender o presente, mais difícil ainda prever o futuro. Se nós conversássemos há um mês, arrisco-me a dizer que não estaríamos aqui hoje com essa conversa, com todos os fatos que já ocorreram. Na verdade, não só a sociedade brasileira, mas o modelo de sociedade mundial, caminha a passos largos em direção ao estado de estagnação, em nível de caos mesmo. Bastaria um estopim pra que as coisas se apresentassem, mais precisamente no que diz respeito à realidade social. Foi o que acabou ocorrendo, de certa forma a previsão não era tão difícil de ser feita. Mas, agora, prever o que virá por diante, depois de tudo que aconteceu, é difícil. A única coisa que posso dizer, com muita segurança, é que não haverá um passo pra trás, só para a frente, adiante.

A pior leitura que se pode fazer é dizer que tudo vai voltar ao que era, que nada disso valeu a pena, foi só um fogo de palha. De fato, não vai, e acho que essa previsão é possível fazer. Mas saber qual o limite é uma grande dificuldade, porque acho que os problemas identificados não serão resolvidos rapidamente, a insatisfação permanecerá, outros problemas de natureza social tendem a se manifestar, ainda mais dentro da atual lógica econômica.

A reivindicação sempre vem dentro de outra perspectiva econômica, a de avançar sobre os direitos dos trabalhadores. Se isso se repetir, de que forma os trabalhadores reagirão, de que forma a sociedade vai se mobilizar contra, como se portarão os movimentos sociais, reivindicando moradia, reivindicando justiça social, reivindicando melhores condições de vida, de trabalho, como as respostas serão efetivamente dadas, é toda uma dinâmica que está posta na mesa, ainda sem conclusões.

É uma dinâmica que vai gerar efeitos múltiplos e imprevisíveis. Porque, de toda forma, fingir que essas coisas não estão acontecendo, tal como vivenciávamos até então, fazendo de conta que a sociedade estava coesa, bem unida a partir de um bem comum etc., não é mais uma postura sustentável. Em certo sentido, a sociedade está unida, mas, neste caso, pela busca de uma outra sociedade, uma sociedade que supere todos os problemas que estão postos e identificados. Não é mais possível fingir que tais problemas não existem. De que forma as pessoas mobilizadas se contentariam, eventualmente, com uma não solução dos problemas é algo que não dá pra prever. Mas, certamente, tal dinâmica continuará se desenvolvendo.

Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.