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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Gênero e resistência na Palestina: a luta das mulheres contra a ocupação israelense

Leila Khaled participou do painel mediante teleconferência por skype | Por Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Samir Oliveira no SUL21

Tema bastante discutido no Fórum Social Mundial Palestina Livre, o papel das mulheres na luta pela construção de um Estado Palestino soberano foi retomado em um painel no início da tarde desta sexta-feira (30). Na quinta-feira (29), outra conferência havia exposto a situação das mães que lutam pela independência palestina.
Desta vez, o foco foi a discussão em torno da resistência protagonizada pelas mulheres – inclusive com fortes auto-críticas a essa atuação. O público questionou, por exemplo, até que ponto a luta de mulheres por libertação não acaba dominando a pauta de movimentos sociais e camuflando ações em torno de mudanças mais profundas nos governos e sociedades da região.
Uma das presenças mais ilustres no painel foi a de Leila Khaled, que participou via teleconferência por Skype, já que não pôde vir a Porto Alegre. Leila é uma das lideranças da Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP) – considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos e por Israel.
Em 1969, Leila e um outro colega da FPLP sequestraram o voo 840 da Trans World Airlines, que viajava de Roma em direção a Tel Aviv. O objetivo era tomar como refém o embaixador israelense nos Estados Unidos, Yitzak Rabin, que acabou não embarcando naquele avião. A ação terminou na Síria, onde a aeronave foi forçada a pousar, e não houve mortos ou feridos.
Atualmente, a FPLP integra a Organização Palestina pela Libertação (OLP), da qual faz parte do Fatah, partido que comanda a Cisjordânia e a Autoridade Nacional Palestina, com o presidente Mahmoud Abbas. Em sua fala no painel do Fórum Social Mundial Palestina Livre, Leila explicou que não há divisão de tarefas ou responsabilidades entre homens e mulheres na luta pela independência palestina.
Angela Davis tinha ligação com os Panteras Negras nos Estados Unidos | Por Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“A partir de 1967, muitas mulheres começaram a se engajar nessa luta, fazendo exatamente as mesmas coisas que os homens. No movimento pela libertação da Palestina, não há divisão de tarefas por gênero”, disse.
Ela acredita que, atualmente, é preciso que as mulheres ocupem cada vez mais os espaços de comando da resistência. E defendeu veementemente o direito de o povo palestino lutar – inclusive militarmente – pela soberania do seu território.
“Mulheres e homens palestinos não podem se sentir orgulhosos de sua identidade por qualquer outra via que não seja a resistência. É preciso resistir de todas as formas à ocupação israelense – inclusive através das armas, conforme assegura a ONU, quando diz que um povo tem o direito de se insurgir contra um governo opressor”, esclareceu.
Professora da Universidade Estadual de São Francisco, nos Estados Unidos, Rabab Abdulhadi é especialista em estudos étnicos e em diásporas do povo árabe e muçulmano. Ela falou sobre os estereótipos que as forças contrárias à causa Palestina tentam imprimir nas mulheres que resistem às ocupações.
“Dizem que a mulher se junta à luta porque sente atração pelas lideranças masculinas da resistência. Atribuem à mulher militante um caráter de não-feminilidade, alegando que elas têm pelos pelo corpo e são todas lésbicas”, explicou. Para a professora,”a revolução palestina não é uma exclusividade masculina”.
Também esteve presente no painel a ativista norte-americana Angela Davis. Líder do Partido Comunista dos Estados Unidos nos anos 1960, ela tinha vínculos muito próximos com os Panteras Negras, apesar de nunca ter integrado formalmente a organização. Atualmente, Angela é professora aposentada da Universidade da Califórnia. Em 1969, chegou a ser demitida da instituição a mando do presidente Ronald Reagan, devido à sua ligação com os comunistas.
Rabab Abdulhadi é especialista em diásporas árabes e muçulmanas na Universidade Estadual de São Francisco, nos Estados Unidos | Por Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Angela Davis chegou a criticar a organização da marcha de abertura do fórum. “Eu estive o tempo inteiro atrás de um caminhão de som. De todas as pessoas que falaram, nenhuma delas era uma mulher palestina. Parece que algumas coisas ainda não mudaram muito”, observou. A mesma crítica foi feita por uma refugiada palestina que estava na plateia e disse ter conseguido, depois de muito esforço, subir no caminhão para se pronunciar.
A ativista avalia que, atualmente, as mulheres palestinas ocupam um papel central na mobilização feminista ao redor do mundo. “Quero agradecer às mulheres palestinas. A luta delas trouxe à tona a mobilização contra o racismo, o apartheid e o colonialismo”, elogiou.
Provocada a fazer uma avaliação do governo de Barack Obama, a norte-americana qualificou como “horrendo” o apoio incondicional do país a Israel e lembrou da resolução da ONU que reconheceu, nesta quinta-feira (29), a Palestina como um Estado observador não-membro das Nações Unidas. “Israel ficou totalmente isolado do mundo inteiro e, ainda assim, os Estados Unidos os apoiaram. Esse voto contrário foi horrendo. Ainda temos muito trabalho a fazer”, disse.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

FSM - PALESTINA LIVRE

Inicia hoje o FSM PALESTINA LIVRE, mas desde ontem iniciou-se o encontro dos militantes de 36 países que vieram a Porto Alegre debater a questão palestina, estratégias e saídas para enfrentamento do genocídio que acontece na faixa de GAZA, promovido pelo sinismo israelense.No mesmo dia que será votado na ONU a participação efetiva do estado palestino nas resoluções mundiais, esse encontro na capital gaucha será de importância fundamental para o fortalecimento da causa palestina.

domingo, 25 de novembro de 2012

O Fórum Palestina Livre e o movimento sionista

 

 
Se há extremistas na Palestina, são os colonos judeus vindos da Eurásia e seus descendentes, que atacam os palestinos
 
Baby Siqueira Abrão no BRASIL DE FATO
 
Representantes do movimento sionista no Brasil tentam por vários meios impedir o brilho do Fórum Social Mundial Palestina Livre (FSMPL), que será realizado entre 28 de novembro e 1º. de dezembro de 2012 em Porto Alegre, RS. O embaixador de Israel no Brasil e uma comitiva da Federação Israelita do Rio Grande do Sul chegaram a dizer, numa reunião com Tarso Genro, temer o ataque de “extremistas” palestinos a propriedades de judeus no Brasil.
O argumento é falso e os sionistas sabem disso. Sabem também que, se há extremistas na Palestina, são os colonos judeus vindos da Eurásia e seus descendentes, que atacam os palestinos, suas casas, plantações, rebanhos, com o apoio de soldados do Exército israelense. Sabem, igualmente, que o povo palestino há muito optou pela resistência não-violenta à ocupação – esta sim, violenta – militar a que Israel o submete. O objetivo tácito das declarações dos sionistas é criminalizar mais uma vez os palestinos, para justificar os crimes que os governos de Israel cometem contra o povo nativo, semita, da Palestina.
Seja como for, os sionistas venceram em alguns pontos. Persuadiram o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, a retirar o apoio que prometera dar ao Fórum. Até mesmo o local, a Usina do Gasômetro, foi negado. O Fórum só poderá usar um andar, o térreo. Esta semana foi a vez do presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Alexandre Postal, impedir que o FSMPL utilizasse espaços do prédio da Assembleia para a realização de algumas das mais de 100 atividades inscritas no Fórum por organizações de 36 países. O governador Tarso Genro, porém, manteve seu apoio à realização do Fórum.
Por isso mesmo, tornou-se alvo das críticas de um raivoso colunista, conhecido por suas ligações com o movimento sionista, em seu blogue numa revista que chegou a ser pautada pelo crime organizado. O colunista chegou a citar a Constituição brasileira, afirmando que Genro teria violado seu artigo 4o, sem se dar conta de que os princípios citados defendem tudo aquilo que os governos sionistas de Israel nunca observaram em relação aos palestinos: independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, concessão de asilo político. Vejam-se as resoluções das Nações Unidas sobre Israel – resoluções que o Estado sionista jamais cumpriu – e os vídeos e fotos feitos na Palestina que estão na internet para conferir as violações de Israel ao direito internacional.
A veiculação de comentários falaciosos sobre o Fórum tem o objetivo de, ao desinformar a população, tecendo críticas insensatas ao evento e ao povo palestino, colocar parte da opinião pública brasileira contra a causa palestina e suas iniciativas, bem como impedir que a narrativa palestina sobre a destruição de seu país, sobre o genocídio e a expulsão sofridos por sua população para que os sionistas pudessem criar ali um Estado, seja divulgada e conhecida pelos brasileiros.
Por ter o controle dos meios de comunicação dominantes, o movimento sionista vem divulgando há mais de 60 anos apenas a sua versão sobre a criação de Israel. A verdade, porém, é que essa versão é falsa, constituída sobre uma base histórica fantasiosa e distorcida, como provam os documentos dos próprios sionistas que foram desclassificados (liberados para conhecimento público) em meados dos anos 1970 e que corroboraram tudo aquilo que os palestinos já vinham contando sobre a catástrofe, a Nakba, que se abateu sobre eles com a chegada dos sionistas à Palestina. Um dos objetivos do FSMPL é, precisamente, dar voz à narrativa palestina, para reafirmar a justeza de sua causa: pôr fim à ocupação militar israelense e à violência que a caracteriza; ter de volta um país independente e soberano; reaver os direitos humanos básicos que lhes foram retirados por sucessivos governos de Israel; controlar seus recursos naturais e impedir a continuidade da devastação e do envenenamento de seu ambiente, hoje submetido à exploração comercial israelense e às substâncias tóxicas que o Exército de Israel atira em território palestino com mísseis e bombas que vitimizam civis inocentes; evitar a destruição de sua base econômica e de seu meio de vida – as plantações e as oliveiras –, alvos frequentes das violentas ações de colonos que vivem ilegalmente em território palestino; incrementar sua agricultura sem agredir a Natureza e buscar, de modo independente, outras formas de desenvolver sua economia, sufocada pelo controle exercido pelos governos sionistas; evitar que seu território e suas fontes de água sejam confiscados pelo governo israelense para a construção de colônias – ilegais, conforme entendimento do Tribunal Internacional de Justiça – exclusivamente habitadas por judeus, grande parte deles extremistas vindos de outros países.
Os palestinos, enfim, não exigem nada além daquilo que é garantido a todos os seres humanos – que, pelo simples fato de existirem, são portadores de direitos, assegurados pela legislação internacional. A diferença entre os palestinos e outros povos do mundo é que, no caso palestino, esses direitos são negados pelos governos sionistas de Israel. É por esse motivo que eles se mobilizam e lutam, com firmeza e dignidade, por autonomia, justiça e liberdade.
A causa palestina é hoje defendida por milhões de pessoas em todo o mundo, num movimento crescente de proteção da vida humana e da própria espécie, contra interesses financeiros que têm levado o planeta ao caos social, econômico, climático e ambiental. A sociedade civil internacional não aceita que, em pleno século XXI, um povo – o palestino – seja submetido a um regime de apartheid e de destruição de suas raízes sociais, históricas e culturais. Indivíduos e movimentos organizados em torno dos temas da paz, da justiça social, da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos decidiram organizar o Fórum Social Mundial Palestina Livre para pensar conjuntamente estratégias não-violentasque levem mais rapidamente ao fim da ocupação militar sionista da Palestina. Entre esses indivíduos e movimentos há judeus e israelenses inconformados com a violência e a repressão a que os governos sionistas de Israel submetem o povo palestino. O objetivo dessas estratégias é levar a uma convivência, entre os habitantes daquela parte do mundo, baseada no respeito, na tolerância, na diversidade e na paz.
Quaisquer outras coisas que digam os detratores do FSMPL não passa de propaganda sionista – a hásbara –, que procura por todos os meios deslegitimizar a causa palestina e seus milhões de apoiadores ao redor do mundo para justificar os crimes cometidos pelos governos israelenses contra a população palestina. É preciso mostrar aos sionistas que o povo brasileiro não permitirá que o Brasil seja transformado em palanque para sua pregação – uma pregação que procura criminalizar aqueles que, por estarem ao lado da justiça, dos direitos humanos, do respeito à multiculturalidade, à multietnicidade, à diversidade de crenças religiosas (e da não crença), apoiam sem restrições a causa palestina.

Baby Siqueira Abrão é correspondente do Brasil de Fato no Oriente Médio

Israel e a Operação Chumbo Impune

 



Por Eduardo Galeano, no sitio da Adital:
Para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que essa carnificina de Gaza que, segundo seus autores, quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los.


Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma ratoeira sem saída desde que o Hamas ganhou limpamente das eleições, em 2006. Algo parecido havia acontecido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e desde então viveram submissos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelita usurpou. E o desespero, à beira da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel; gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há anos, o direito à existência da Palestina.

Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel vai apagando-a do mapa.

Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa.

Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel ‘tragou’ um pedaço da Palestina, e os ‘almoços’ continuam. A ‘devoração’ se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou; pelos dois anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que os palestinos geram à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações e as resoluções das Nações Unidas; é o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais; o que se ri das leis internacionais; e é também o único país a legalizar a tortura dos prisioneiros.

Que lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança em Gaza? O governo espanhol não teria podido bombardear impunemente o País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico teria podido arrasar a Irlanda para liquidar a IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica em uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência ‘manda chuva’ que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por erro; mata por horror. As vítimas civis são denominadas ‘danos colaterais’, três são crianças. E os mutilados são milhares, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando exitosamente nessa operação de limpeza étnica.

E, como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense.

Gente perigosa, adverte o outro bombardeio, a cargo dos meios de comunicação em massa de manipulação que nos convidam a acreditar que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada comunidade internacional existe?

É algo mais do que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais do que o nome artístico que os Estados Unidos assumem quando fazem teatro?

Ante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas rendem tributo à sagrada impunidade.

Ante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos.

A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra lágrima enquanto secretamente celebra essa jogada mestra. Porque a caça de judeus sempre foi costume europeu; porém, há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada aos palestinos, que também são semitas e que nunca foram,nem são, antissemitas. Eles estão pagando, com sangue constante e sonante, uma conta alheia.

(Este artigo é dedicado a meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latino-americanas assessoradas por Israel).

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A criação do "Estado" de Israel - uma breve cronologia

 

 
Foi num 29 de novembro. Reunião da ONU. 1947. Bem longe da Palestina, onde Fátima colhia azeitonas, Marta recolhia as folhas do quintal e Rachid tomava seu chá de maravia à sombra do alpendre da casa simples. Eles não sabiam, mas naquele dia estava sendo decidido seus destinos
 
 
 
Foi num 29 de novembro. Reunião da ONU. 1947. Bem longe da Palestina, onde Fátima colhia azeitonas, Marta recolhia as folhas do quintal e Rachid tomava seu chá de maravia à sombra do alpendre da casa simples. Eles não sabiam, mas naquele dia estava sendo decidido seus destinos. Destino de violência, morte e dor. Havia acabado a segunda grande guerra, guerra feia, dura, grotesca. Nela, o governo alemão tinha promovido o massacre do povo judeu, dos ciganos e de outras gentes que apareciam à seus olhos como “diferentes”. Os judeus foram os mais atingidos, em função do grande número. Foi um holocausto. Por conta disso, no fim da guerra, os vencedores, comandados pelos Estados Unidos decidiram que havia de dar uma terra essa gente oprimida, roubada e esfacelada.
O lugar escolhido para a criação de um estado judeu foi a região da Palestina, por ali estar também o núcleo originário do povo hebreu. Naquele espaço haviam nascido as 12 tribos de Judá e era para onde os judeus sonhavam voltar. Mas, esse desejo nunca foi discutido ou compartilhado com as gentes que ali viviam há outras centenas de anos, os palestinos. Então, numa decisão vinda de cima para baixo, os 57 países que conformavam a ONU naquele então decidiram entregar 57% do território palestino para a formação do Estado de Israel. O argumento era de que lá não havia gente, era deserto, portanto, livre para ser ocupado. Mas, essa não era a verdade. Ali viviam milhares de seres, tal qual Fátima, Marta e Rachid. Ainda assim, numa sessão dirigida pelo brasileiro Osvaldo Aranha – qualificado por Alfredo Braga como um desonesto - 25 países votaram pelo sim, 13 foram contra e 17 se abstiveram. Nascia então, por desejo dos vencedores da grande guerra, o estado de Israel. Já para os palestinos, aquele dia ficou conhecido como o "dia da catástrofe".
Contam os historiadores que, naqueles dias que antecederam a votação – bastante tumultuada – diplomatas receberam cheques em branco, outros foram ameaçados e as mulheres dos políticos receberam casacos de visom. Portanto, foi alavancado na corrupção que vingou Israel.
A proposta da ONU foi de metade do território, o que deixa bem claro que todos sabiam que aquela não era uma terra vazia. A conversa nos corredores é de que também seria criado um Estado Palestino e cada povo seguiria seu rumo. Para os que viviam na terra doada aos judeus, os meses que se seguiram foi de terror. Famílias inteiras tiveram de deixar suas casas, seu olivais, sua história. A maioria foi desalojada na força, e muitos não entendiam o que se passava. Como suas terras tinham sido doadas? Naqueles tristes dias de nada adiantou o grito da gente palestina, não se soube dos mortos, nem da destruição. A informação demorava a chegar nos lugares. Quando o mundo se deu conta do terror, já era tarde demais.
Tão logo se instalou, o governo israelense decidiu ampliar seus domínios. Não aceitou a metade, queria mais e abocanhou, na força das armas, 78% do território. os palestinos tiveram de migrar, abandonar suas vidas e tudo o que era seu. O Estado da Palestina nunca foi criado.
Todo o terror imposto por Israel ao povo palestino não terminou por aí. No ano de 1967, o governo sionista, de novo com a força dos canhões, expandiu ainda mais o território em busca do domínio das regiões mais férteis, passando a ocupar mais de 80% da área,  massacrando outras tantas milhares de famílias palestinas.
Ao longo desses anos todos, por várias vezes Israel arremeteu contra o povo palestino, numa tentativa de dizimar a população. Sem conseguir, decidiu criar então um imenso campo de concentração à céu aberto. Praticamente todo o território ocupado por palestinos está cercado por enormes muros de concreto. As pessoas vivem como prisioneiras, muitas famílias foram separadas e não podem mais se ver. Muitos são os documentários que mostram as famílias se comunicando através dos muros e cercas de arame farpado, aos gritos, sem poderem se abraçar.
Nos últimos dias, Israel começou nova escala de violência, com bombardeios à Faixa de Gaza, onde se concentram os palestinos. O argumento que a televisão e as empresas de jornalismo passam é o que fala de "direito de defesa" de Israel. Vendem a ideia de que é esse estado militarizado e terrorista o que está sendo agredido.
Ora, qualquer pessoa de mediana inteligência sabe que a força de um menino com uma pedra é abissalmente inferior a de um canhão ou mísseis teleguiados. Israel quer destruir o povo palestino, quer "limpar a área", região absolutamente estratégica para a proposta de poder dos Estados Unidos, principal parceiro de Israel nesse massacre continuado.
A resposta dos palestinos é a resposta dos desesperados. Pessoas como Fátima, Rachid, Hadija ou Kaleb nada mais querem do que viver suas vidas, estudar, sonhar com algum amor, casar, ter filhos, comer azeitonas no cair da tarde. Uma vida como a de qualquer ser humano no mundo. Mas, eles não podem fazer isso. Estão continuamente humilhados,  ameaçados pelas balas, pelos soldados, pelos tanques, pelos bombardeios. Vivem em alerta 24 horas no dia. Quando podem, reagem. Com pedras, com bombas caseiras, com autoimolação. Sim, respondem às vezes com violência extrema, mas nada menos do que o que aprendem no cotidiano de uma vida de prisioneiro em sua própria casa, acossado pelo exército invasor.
Agora, nesses dias, as famílias palestinas estão vendo morrer seus filhos, crianças despedaçadas, jovens estraçalhados. Morrem mães e pais, avós, gente simples, que está no quintal varrendo as folhas. Garotinhos que brincam nas ruas de terra. Não são terroristas, nem carregam armas. São pessoas comuns, calejadas na opressão. Não é uma guerra, onde se batem os exércitos. É um genocídio, um massacre, no qual perecem as pessoas comuns.
Pelo mundo inteiro gritam as gentes, as imagens de dor se espalham pela internet, o mundo inteiro sabe o que acontece  no imenso campo de concentração que Israel criou. Mas, toda a ação das gente é inútil. As bombas seguem caindo, armas químicas são usadas (o fósforo, que queima inteira a pessoa) e o que se vê são os governantes do chamado "mundo livre" apoiando a ação de Israel. Os Estados Unidos, que invadiu o Iraque por uma "suspeita" de que estavam fabricando armas químicas por lá, observa o uso das mesmas sobre os palestinos e diz que é um "direito de defesa" de Israel. Ou seja, se quem usa armas químicas é amigos dos EUA, está tudo bem. Hipocrisia, cinismo.
Para os movimentos sociais e militantes da causa humana, o que fica é o absurdo sentimento de impotência. Desde tão longe só o que se pode fazer é gritar, denunciar, contar essa velha história para que ela não se perca no meios da mentiras que os noticiários contam todos os dias. O conflito Israel x Palestina nada tem de religioso. Usa-se a religião para legitimar determinadas ações, os judeus julgam-se o "povo eleito". Mas, o que se esconde por trás da aparência é a configuração geopolítica de poder. Os palestinos estão num espaço da terra que é muito importante para o projeto de dominação do Oriente Médio. Ficam na entrada principal e não são amigos dos Estados Unidos. Por isso é necessário que sejam extintos.
As bombas seguem caindo sobre as famílias palestinas, dor e morte é o que têm. Mas, os palestinos seguem defendendo sua terra e suas vidas. Não haverão de se extinguir. Estão por todo o mundo e nunca esquecerão sua história.  Cabe a nós solidarizar com esse povo valente porque nada no mundo justifica o que acontece hoje na Palestina ocupada. Israel haverá de responder à história pelos seus crimes. Mais dia, menos dia. Porque, se como dizia o grande poeta Mahmud Darwish, "ainda goteja a fonte do crime", há que estancá-la. 

GAZA NÃO ESTÁ SÓ. ESTAMOS EM GAZA! TODO MUNDO CONTRA O FRENESI ASSASSINO DE ISRAEL



Ahdaf Soueif, The Guardian, UK-PATRIALATINA

 
Israel é uma democracia cujos políticos podem ordenar o assassinato de crianças, como ‘ferramenta’ de campanha eleitoral. Sempre, claro, crianças palestinas.
Mas as multidões, em todo o mundo árabe, não são racistas.


Protestos em Londres e em mais de 100 cidades em todo o mundo exigem o fim do ataque de Israel contra Gaza e o fim do cerco.
http://stopwar.org.uk/index.php/palestine-and-israel/2038-gaza-is-no-longer-alone-as-it-faces-israels-killing-spree

Martírio em Gaza: Vídeo de um cineasta e ativista britânico, filmado na cidade de Gaza

http://www.youtube.com/watch?v=B27HH6CFAOU&feature=player_embedded

Gaza Sob Ataque: Emergência! Proteste!
Sábado, 17/11, das 14h às 16h
Embaixada de Israel em Londres (2 Palace Green)
London W8 4QB

http://stopwar.org.uk/index.php/action-a-events/national-events/2033-november-17-gaza-emergency-demonstration-march-from-hyde-park-to-israeli-embassy 

SE VOCÊ CLICAR 
emhttp://audioboo.fm/users/578060/boos, ouvirá os ataques de Israel contra Gaza.

Ouvem-se as explosões, o zunido dosdrones, a sirene das ambulâncias. É a trilha sonora da vida dos palestinos nesse exato momento. Os sons estão sendo gravados e retransmitidos e ouvidos em todo mundo. Todo o mundo árabe está ouvindo. Todos os amigos de Gaza, em todo o planeta, tremem de indignação. Gaza não está só.

Todos passamos a noite lendo e repassando tuítes e distribuindo matérias de blogs de jovens palestinos, em Gaza e em todo o mundo, e todos estamos vendo as imagens que eles distribuem.

Naquele mesmo hospital Shifa em Gaza (
http://www.guardian.co.uk/world/2012/nov/16/gaza-hospital-emergency-reserves), hoje cedo, o primeiro-ministro do Egito, Hisham Kandil, pela primeira vez em 42 anos, estava onde os egípcios querem ver seu primeiro-ministro: solidário ao povo palestino.

Pela primeira vez em 42 anos, um representante do governo egípcio não mentiu ao falar primeiro ao povo egípcio, antes até de se dirigir ao presidente do Egito
. Antes disso, Mursi falara de“coordenar a segurança” com Israel no Sinai; começou por fechar os túneis, que são o único canal de sobrevivência para os que vivem sitiados em Gaza; rejeitou a propostas de uma área de livre comércio na fronteira entre Egito e Gaza; e enviou um embaixador a Telavive com uma carta a Shimon Peres (http://www.thejc.com/news/world-news/87069/letter-morsi-peres-prompts-disbelief). E assim se viu muito inconfortavelmente associado aos restos do governo Mubarak e seus seguidores da ditadura militar.

O pessoal da Fraternidade Muçulmana e seu partido Liberdade e Justiça muito se empenharam em justificar as ações de seu representante no palácio presidencial, ante o resto do país.

Progressistas e todo o campo da esquerda no Egito zombaram do muito que eles falavam e do nada que faziam para defender os palestinos ao longo dos anos em que viveram na oposição, tanto quanto do espantoso silêncio que sobreveio, depois que chegaram ao poder. Os muros e paredes do Cairo cobriram-se de grafitis que zombavam da “carta de amor” que Morsi enviara a Peres. A zombaria que começou nos muros da cidade alastrou-se online e na blogosfera.

Agora, afinal, os próprios israelenses decidiram por Morsi. Agora, afinal, o presidente do Egito poderá dar melhor sentido à sua presidência, mais sintonizada com o desejo do povo egípcio.

Grandes caravanas de jovens egípcios já marcham em direção a Gaza. Com eles vai também minha sobrinha mais jovem. Toda a sociedade civil em todo o planeta está mobilizada; já partiram vários barcos em direção a Gaza, civis egípcios, de todo o país, estão em viagem para Gaza.

No plano mais ‘oficial’, o governo egípcio já enviou médicos, enfermeiros e remédios, que já chegaram a Gaza. Abdel Moneim Aboul-Fotouh, que é médico e foi candidato a presidência do Egito já partiu para Gaza (
http://www.guardian.co.uk/world/feedarticle/10132171) – como também fez em 2008, durante a “Operação Chumbo Derretido”, muito antes de pensar em concorrer à presidência do Egito. O Sindicato de Médicos Árabes já está organizando o transporte de doações e de médicos voluntários para Gaza.

Israel sempre tentou vender-se à opinião pública ocidental como se fosse a única democracia, num mar de fanáticos. A Primavera Árabe desmentiu e destruiu essa narrativa, talvez para sempre. Então os políticos israelenses passaram a trabalhar a favor de uma guerra contra o Irã. E, enquanto esperam, entraram num frenesi de assassinatos em massa em Gaza.

Se Israel queria instigar violência crescente contra o próprio governo, não poderia ter encontrado meio mais garantido do que assassinar Ahmed al-Jaabari, comandante do Hamás que, pelos últimos cinco anos, trabalhou para impedir ataques contra Israel.

Assassinado o comandante Jaabari, imediatamente recomeçaram os ataques, exatamente o que se vê agora.

Assim, Israel supõe que possa sequestrar a narrativa da Primavera Árabe e fazer andar para trás o relógio da história. Israel quer voltar ao tempo em que ainda havia quem acreditasse em “terroristas islamistas versus israelenses civilizados”. Simultaneamente, desviam o foco do morticínio na Síria e, claro, ganham pontos para a política de linha duríssima de Binyamin Netanyahu e Ehud Barak, em período de campanha eleitoral, em população anestesiada pela propaganda.

De fato, a única coisa que conseguiram foi expor ao mundo a prova definitiva de que Israel é uma democracia em que os políticos podem ordenar o assassinato de crianças, para vencer eleições. Sempre crianças palestinas, é claro.

Os cidadãos do mundo já não se deixam enganar. Na 5ª-feira começaram protestos em todo o mundo em defesa de Gaza. Continuam na 6ª-feira e no sábado. E isso é apenas o começo.

Em todos os países árabes nos quais a população levantou-se para exigir respeito aos seus direitos, as multidões voltam às ruas para exigir respeito também aos direitos dos palestinos. A Tunísia já informou que seu ministro de Relações Exteriores já está em Gaza. Na Jordânia, hoje, centenas de milhares estão nas ruas e, ali também, ao mesmo tempo em que exigem o fim da monarquia jordaniana, exigem justiça para o povo palestino. Há protestos na Líbia. Do Egito já partiram várias caravanas e outras preparam-se para partir para Rafah e, dali, para Gaza.

Essas multidões em movimento carregam a verdadeira representação popular e manifestam o desejo dos povos da região. Daqui em diante, os governos terão de trilhar o caminho que está sendo aberto, hoje, pelos homens e mulheres que caminham rumo a Gaza, para defender Gaza.
 
Tradução Vila Vudu

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A democracia e o Estado Judeu

 



Por Jair de Souza.

Israel é a quarta maior potência militar do planeta. Os palestinos são provavelmente o povo mais desarmado do planeta. Ainda assim, não dá para aceitar a opinião de Francisco Carlos Teixeira (http://www.viomundo.com.br/politica/francisco-carlos-teixeira.html) de que Israel é uma realidade política (e militar) intocável. Isto está totalmente contrário à lógica da realidade. Todo sionista sabe que este Israel que eles construíram, com o apoio e cumplicidade de todas as potências europeias (incluindo a ex-URSS) e os Estados Unidos, não poderá subsistir por muito tempo a partir da introdução da democracia. Sim, é a democracia o verdadeiro fator que vai levar ao fim de Israel como o Estado judeu que os sionistas delinearam.

Segundo o historiador israelense Ilan Pappe, Israel é o único país racista do Oriente Médio. Por ali, o que menos existe são países onde prime a democracia. Os principais aliados dos EUA e da Europa capitalista (Arábia Saudita, Jordânia, Qatar, Emirados,…) são países governados pelas mais ferrenhas oligarquias, por monarquias absolutistas que não estão submetidas a nenhum controle democrático. Mas, nenhum deles se caracteriza por ser racista. O único país claramente racista que existe na região é Israel.

Como todos sabem (ou deveriam saber), a democracia moderna não pode admitir uma sociedade onde haja discriminação de raças, uma sociedade onde os direitos são atribuídos em ordem preferencial segundo à etnia (ou religião) de seus habitantes. Então, este Israel como Estado judeu deixará de existir a partir do momento em que todos seus cidadãos passarem a ter os mesmos direitos e as mesmas obrigações. A partir do momento em que um cidadão israelense de qualquer etnia (por exemplo, um palestino) puder usufruir dos mesmos direitos que goza um cidadão israelense de religião judaica, podendo inclusive postular-se ao governo do país e ser eleito (se a maioria dos votantes assim o decidir), a partir de então, o Estado judeu como tal deixará de existir.

Todos os sionistas sabem disto. E é exatamente por esta razão que eles (especialmente os autodenominados sionistas de “esquerda”) têm pavor a qualquer alteração que transforme Israel num Estado de todos os seus cidadãos e não o mantenha como um Estado exclusivamente dos judeus. Ou seja, eles sabem que a introdução de uma democracia de verdade, que seja válida para todos seus cidadãos (não a democracia só para os judeus) significará a morte do Estado racista e exclusivista que eles construíram.

Embora eu entenda que o mais lógico seria a existência de um só Estado na região que engloba Palestina e Israel, não vejo como um entrave ao avanço a criação de dois estados. Há muitos lugares do mundo onde dois ou mais estados foram formados para atender às peculiaridades políticas do momento, apesar de que seus habitantes não se constituíam em povos com diferenças significativas. Basta observar o caso do Uruguai. Que diferenças significativas de caráter étnico existem entre os uruguaios e os argentinos? No entanto, como forma de evitar o confronto entre duas outras potências maiores (Brasil e Argentina), o Uruguai foi transformado em um país independente. E continua assim até hoje. Israel e Palestina também podem seguir a mesma trilha.

O fundamental, em meu entender, é defender o direito dos palestinos estabelecerem livremente seu Estado e, ao mesmo tempo, exigir que o Estado de Israel passe a ser um Estado democrático para todos os seus cidadãos. Ou será que a democracia só serve como motivação de campanhas internacionais quando é para derrubar governos enfrentados com as grandes potências capitalistas do ocidente?

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O que acontece na Faixa de Gaza?



Foto: AP/Ashraf Amra
Por Marina Mattar, no sítio Opera Mundi:

A atual investida de Israel contra a Faixa de Gaza, denominada de “Pilar Defensivo”, tem como suposto objetivo defender o povo israelense dos mísseis lançados por combatentes do Hamas que atingem o sul do país. Mas será que é apropriado chamar de guerra ou de defesa quando um dos lados é uma superpotência militar e o outro, um grupo político armado sem a organização e a estrutura de Forças Armadas?

É verdade que a organização palestina dispara foguetes contra o território de Israel, mas é preciso analisar a sua verdadeira capacidade militar. Desde que o conflito teve início, na quarta-feira (14/11), três israelenses foram mortos pelos mísseis, enquanto pelo menos 95 palestinos perderam suas vidas e centenas ficaram feridos. Ao longo deste ano, nenhum israelense foi vítima dos projéteis e apenas alguns ficaram feridos em comparação a dezenas de palestinos mortos que, em sua vasta maioria, eram civis.

Os projéteis lançados pelos palestinos procedem de diferentes locais e estão longe de integrar o moderno mercado de armas. Enquanto muitos são produtos domésticos, outros são equipamentos da década de 1990. Com alcance de 6 a 25 milhas, esses mísseis não possuem a tecnologia necessária para mirar alvos no território israelense e acabam por atingir, muitas vezes, terrenos inabitados. Além disso, na maior parte dos casos, os militares israelenses conseguem interceptar os foguetes pelo seu avançado sistema de defesa, mantendo uma taxa de 90% de sucesso nos casos. Nos últimos seis dias, cerca de 740 misseis foram lançados e apenas 30 atingiram Israel. 

Além de possuir poucos recursos financeiros, o Hamas encontra grande dificuldade em comprar armas por conta do bloqueio israelense nas fronteiras da Faixa de Gaza. Tudo o que consegue provém de túneis ilegais. O grupo palestino tão pouco possui uma estrutura militar comum às Forças Armadas, com treinamento regular e corpo de oficiais. Seus combatentes não atuam em batalhas, mas sim em ações de guerrilha. 

É este o corpo organizacional que uma das Forças Armadas mais potentes do mundo enfrenta hoje. Com orçamento militar anual ao redor dos US$ 12 bilhões, Israel recebe ajuda de US$ 3 bilhões dos Estados Unidos para investir em equipamentos. Jatos de tecnologia militar de última geração bombardeiam a Faixa de Gaza e sistemas de defesa aprimorados derrubam os projeteis. 

Há uma imensa assimetria na capacidade de cada um dos lados de infligir danos e sofrimento devido ao domínio militar total de Israel na região. Esse fato transparece no número desproporcional de mortos e destruição afligida. Até agora, mais de um terço das vítimas palestinas são civis, incluindo crianças e idosos, e o número parece estar apenas aumentando.

Se Israel é tão superior militarmente ao Hamas e em poucos dias já conseguiu destruir grande parte do território palestino, por que realizar uma operação? Se o objetivo das autoridades era atingir o grupo, por que não optar apenas por ações de seu desenvolvido serviço de inteligência contra seus líderes? 

Essas perguntas parecem ingênuas, mas, com certeza, foram consideradas pelo governo e pelos chefes de segurança do país, que escolheram deliberadamente a opção militar. Não podemos nos esquecer da afirmação de Eli Yishai, vice-premiê de Israel, de que o objetivo da operação "é mandar Gaza de volta para a Idade Média". 

Longe de ser uma ruptura com a política israelense para a Faixa de Gaza, a nova investida integra as iniciativas de ocupar e sitiar o território palestino que vão desde o bloqueio econômico e militar à expansão de assentamentos israelenses.

E, para aqueles que não se lembram, essa não é a primeira vez que as Forças Armadas atacam a Faixa de Gaza em uma suposta luta contra o Hamas. Em 2009, as autoridades realizaram a operação “Chumbo Fundido”, que, em apenas 22 dias, deixou 1.434 palestinos mortos, incluindo 1.259 civis.

Até os dias atuais, os palestinos não conseguiram se recuperar desses ataques pela falta de materiais de construção disponíveis, que permanecem bloqueados por oficiais israelenses nas fronteiras. De acordo com relatório das Nações Unidas de setembro deste ano, apenas 25% dos edifícios danificados na investida foram reconstruídos. 

Analisando os dados da operação, o professor norte-americano Norman Filkenstein conclui que não houve uma guerra, mas sim um massacre contra o povo palestino. Será que o que estamos assistindo nesses últimos dias na Faixa de Gaza não deve receber essa conotação, em vez de “guerra” ou “ação defensiva”?

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Gaza: “Guerra” é inadequado. Terrorismo de Estado soa melhor

 



Desde o início da operação “Pilar Defensivo”, teriam sido mais de 90 palestinos mortos e 700 feridos na faixa de Gaza. Segundo a administração do território, 70% dos feridos e metade dos mortos eram civis. Pelo menos três civis israelenses tombaram no mesmo período, vítimas de mais de 80 foguetes que atingiram seu território dentre centenas lançados a partir de Gaza.
Por enquanto, dá 30 para 1, mas a tendência é aumentar. Número de mortes não deveriam ser comparadas, pois a dor não é algo mensurável. Mas isso serve para ranquear nossa ignorância e estupidez. Se fosse uma ação violenta da polícia carioca junto a favelas, mesmo as classes mais abastadas – muitas vezes lenientes com a morte dos mais pobres – já teria chamado a situação de chacina ou massacre. Nesse caso, relutamos em falar em banho de sangue. O próprio recém-eleito Barack Obama saiu em defesa de seu aliado no Oriente Médio: “nenhum país do mundo toleraria una chuva de mísseis sobre seus cidadãos”. Refere-se a Israel, mas poderia se aplicar à Palestina se os Estados Unidos a reconhecem como país.
Podemos chamar de guerra quando um dos lados é tão superior militarmente ao outro, fato que se traduz na contagem de corpos, como no caso dos ataques israelenses? Considerar normal uma taxa de 50% de “danos colaterais”, ou seja, de morte de civis em confronto? Por que não montamos um placar eletrônico de vez? Ou, melhor ainda, que tal uma tela de LCD gigante, diante da sede das ONU em Nova Iorque, mostrando – em tempo real – quantos anos o Exército israelense está roubando do futuro dos palestinos, tornando real a promessa de seu ministro do Interior, Eli Yishai, de que o país pretende “mandar Gaza de volta à Idade Média”?
Concordo quando dizem que não há crise humanitária em Gaza, aquela pequena faixa de terra entre Israel e o Egito ocupada por palestinos. Crise humanitária existia antes do bloqueio decretado por Israel devido à eleição do Hamas e ao lançamento de foguetes contra seu território anos atrás. Hoje, o que há é algo próximo ao que ficou conhecido como campo de concentração.
Em 2010, uma pequena frota de barcos com ativistas tentava amenizar, levando produtos de primeira necessidade, quando foi atacada pelas forças armadas israelenses, resultando em, ao menos, dez mortos e mais de 30 feridos. Ah, é claro, os barcos também levavam armas de destruição em massa, como estilingues e bastões, com os quais os pobres soldados, armados de simples metralhadoras, foram atacados ao abordá-los. As forças israelenses quase não resistiram às terríveis rajadas de bolas de gude, mais letais que as terríveis pedras lançadas manualmente por palestinos nos protestos em terra.
Presenciamos um massacre unilateral e não uma guerra – dezenas de civis, inclusive mulheres e crianças, morreram desde o início da última operação miliar contra Gaza. E tendo em vista a intensidade e a forma desse cerceamento, o que estamos presenciando soa mais como (mais uma etapa de) genocídio do que crise. Guerra é inadequado, terrorismo de Estado seria melhor.
Se de um lado, estúpidos extremistas palestinos não aceitam a existência de Israel, do outro estúpidos extremistas israelenses reivindicam Gaza e Cisjordânia como parte de seu território histórico. Para estes, árabes em geral são bem aceitos no seu território, desde que sirvam para mão de obra barata. A diferença entre esses dois grupos é que Israel tem poder de fogo para levar esse intento adiante, enquanto o outro lado não.
O certo é que o islamismo radical vai ficando mais forte do que antes. E o Hamas não é o verdadeiro problema nessa equação, há outros grupos mais radicais que não obedecem a sua autoridade. Mesmo que a maioria dos seus líderes morram, surgirão outros, lembrando que as condições de vida em Gaza são uma tragédia, com crianças revoltadas diante de tanta violência social e física, prontas para serem cooptadas por grupos fundamentalistas.
Os dois lados devem parar, mas é estúpido dizer que há um conflito com partes iguais e responsabilidades iguais. Israel acha que vai conseguir controlar os ataques contra seu território com mais porrada? Aliás, será que o governo considera que não foi ele mesmo quem, historicamente, criou essa situação? Portanto, caos queira seguir a política que adotou até agora, não é à Idade Média que Israel terá que mandar Gaza para se sentir segura e sim extirpar um povo do mapa. O tempo passa, os papeis se invertem.
Quais as chances de jovens que vêem seus pais, irmãs, namoradas serem mortos hoje não tentarem vingar suas mortes amanhã?
Nenhuma.

sábado, 17 de novembro de 2012

“A guerra contra o Antissemitismo Global” na Era da Islamofobia

“A guerra contra o Antissemitismo Global” na Era da Islamofobia

 

Julie Lévesque


(Traduzido ao português por Jair de Souza-http://www.youtube.com/user/josespa1)

 

Esqueçam a desenfreada islamofobia a nível mundial e a demonização dos árabes. O jornal Haaretz informa que a Agência para Democracia, Direitos Humanos e Trabalho, do Departamento de Estado dos EUA, “institucionalizou a luta contra o antissemitismo global”, muito embora os Estados Unidos e seus aliados estejam há mais de uma década destruindo países habitados principalmente por muçulmanos. Ou, não seria, talvez, precisamente para apoiar a guerra contra o Islã e o mundo árabe – isto é, “a guerra contra o terrorismo” – que esta “guerra contra o antissemitismo global” tenha sido lançada? (Leaving post, U.S. official reflects on a new definition of anti-Semitism, Haaretz, October 17, 2012.)
 

A Agência de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho, que se apresenta como líder dos “esforços dos EUA para promover a democracia, proteger os direitos humanos e a liberdade religiosa internacional e para impulsar globalmente os direitos trabalhistas”, exige agora que os funcionários do Departamento de Estado frequentem um “curso de 90 minutos sobre antissemitismo no Instituto de Relações Exteriores (Foreign Service Institute), a escola de preparação de diplomatas.” (Ibid.)
 
Por conveniência, “uma definição de antissemitismo de 341 palavras” foi redigida, a qual “incluía não apenas as formas tradicionais – injúrias de origem racial, estereótipos – mas também novas formas, como a negação do Holocausto e a relativização do Holocausto”,  explicou Hannah Rosenthal, ex-monitora de antissemitismo no Departamento de Estado. (Ibid.)
 
Rosenthal, que comandou por duas vezes o Conselho Judaico para Questões Públicas e é agora presidenta e diretora executiva da Federação Judaica de Milwaukee, também indicou que sua equipe “conseguiu incluir (na definição) situações nas quais a crítica legítima a Israel se torna antissemitismo”. (Ibid.)
 
Esta iniciativa é mais uma demonstração do “monopólio judaico da vitimização”. No mundo pós 11/9, no qual muçulmanos e árabes são vítimas de discriminação racial e religiosa nos países ocidentais, uma decisão deste tipo é logicamente injustificável. A caça aos “radicais islamistas”, retratados pelo Departamento de Estados dos EUA como a máxima ameaça, independentemente de qual partido esteja no governo, transformou todos os muçulmanos e árabes em suspeitos e inimigos potenciais. A “guerra contra o antissemitismo global” não é nada mais do que um outro instrumento de engano da “guerra contra o terror” dos EUA, a qual indubitavelmente favorece a Israel.
 
Este novo curso sobre antissemitismo para funcionários estadunidenses é também um peixe pequeno no oceano da “Indústria do Holocausto”. Os lobbies pró-israelenses/judaicos estão decididos em sua missão de erradicar quaisquer críticas legítimas ao Estado de Israel. No entanto, Rosenthal tentou mostrar-se tolerante ao dizer que “as críticas a Israel similares àquelas niveladas contra quaisquer outros países não poderão ser consideradas como antissemitas.”
 
Embora esta declaração possa parecer justa e equilibrada, não o é, e também não é lógica. Resulta ser não somente impossível equilibrar as críticas entre países, senão que Israel e os EUA são os campeões de crítica não-equilibrada. O melhor exemplo disto é sua crítica ao Irã, que, diferentemente dos EUA e Israel, não ocupa nenhum outro país no momento, não está empregando suas forças armadas contra nenhuma outra nação e não possui nenhum armamento nuclear comprovado. Apesar destes fatos, vem sendo apresentado como a mais perigosa ameaça do planeta.
 
Nivelando a crítica e normalizando a islamofobia
 
Tenha ou não sido usada de propósito, a expressão “niveladas contra outros países”,  em lugar de “dirigidas” ou “destinadas”, traduz o desejo de minimizar a crítica contra Israel. A “nivelação da crítica” serve a um propósito de primeira linha relacionado a sua ocupação da Palestina: justificar o injustificável; dar a impressão de que está se protegendo de um inimigo que combate com meios equiparados aos seus e que está colocando sua sobrevivência em grande perigo. Serve para justificar a ocupação de várias décadas, a punição coletiva dos palestinos, o que é um crime de guerra com base nos Princípios de Nuremberg, os quais foram elaborados na onda dos julgamentos aos nazistas. Quando se trata de Israel e Palestina, não é logicamente possível criticar igualmente aos dois países: como pode um país ocupado, sem forças armadas, ao qual são negados o direito de autodeterminação e os direitos humanos básicos, ser criticado tanto quanto seu brutal e super armado ocupante?
 
Há uma frase superficial estereotipada que os chamados “comentaristas neutros” costumam usar muito para “nivelar sua crítica”: “O conflito Israel-Palestina é complicado”. Primeira e principalmente, não se trata de um conflito. É uma guerra. Uma guerra travada com meios desproporcionais, na qual toda uma população está sendo punida e o agressor é vitimizado. Em segundo lugar, não é complicado. É muito simples. Israel ocupa um território e comete crimes de guerra de forma regular, enquanto que a “comunidade internacional” permanece sentada sem fazer nada, já seja porque Israel é seu aliado ou simplesmente porque seus interesses não estão em risco.
 
Esta “nivelação de críticas” faz parte do legendário processo de legitimação da injustiça e dos crimes de guerra. Na passada década de 1990, os Acordos de Oslo trivializaram a ocupação israelense da Palestina. Recentemente, o futebolista palestino Mahmoud Sarsak se tornou um ícone da luta contra a normalização. Ele foi preso numa passagem fronteiriça, encarcerado em Israel e libertado somente depois de uma greve de fome de 96 dias. Adie Mormech escreve:
 
O Dr. Haidar Eid denominou a luta pela libertação da Palestina em oposição à normalização com Israel de “A des-Osloização da mente dos palestinos”. Ele descreveu o posicionamento de Mahmoud Sarsak (o futebolista palestino) ao recusar ser recepcionado pelo F.C. Barcelona juntamente com o soldado israelense Gilad Shalit de a luta contra o “Vírus de Oslo”.
 
O “Vírus de Oslo” se refere ao que estava por trás da série de iniciativas de normalização que começaram de forma séria em 1993, no auge dos Acordos de Oslo, e o acordo feito entre a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e o governo trabalhista de Israel de então.
 
Edward Said, que vira de imediato os perigos da normalização sem justiça, escreveu em 1995 sobre a decisão da liderança palestina de aprovar o acordo de Oslo. “Pela primeira vez no século XX, um movimento de libertação anticolonialista não somente descartou suas consideráveis conquistas, senão que fez um acordo de cooperar com uma ocupação militar antes de a ocupação ter terminado” (Adie Mormech, De-Osloization and the fight against Normalisation, Scoop, October 25, 2012.)
 
Sarsak explicou sua decisão da seguinte maneira:
 
“Há uma diferença entre uma pessoa aprisionada com sua arma, com uniforme militar, de dentro de seu tanque... e a prisão numa passagem fronteiriça de um atleta que estava a caminho de seu clube esportivo profissional na Cisjordânia. Eu anuncio minha disposição de me reunir com o Barcelona ou qualquer outro clube espanhol fora do contexto de um convite conjunto a Gilad Shalit, se me convidarem como um atleta palestino que experimentou... o sofrimento de uma greve de fome pela liberdade e pela dignidade.” (Adie Mormech, Mahmoud Sarsak and the end of Oslo-era normalization, Mondoweiss, October 26, 2012)
 
A narrativa segundo a qual o “conflito” entre a Palestina e Israel é complicado é parte da trivialização da brutal e ilegal ocupação da Palestina por Israel. Por uma distorção absurda e macabra da realidade, somos levados a crer que os israelenses são as únicas vítimas de racismo e discriminação.
 
A injustiça foi vulgarizada e minimizada a tal ponto que, segundo um levantamento recente, a maioria dos israelenses aceitam e admitem que há uma forma de apartheid em seu próprio país, e cerca de 50% da população apoia a segregação e a discriminação contra os árabes.
 
Uma nova enquete revelou que a maioria dos israelenses judeus acreditam que o Estado Judaico pratica “apartheid” contra os palestinos, com muitos apoiando abertamente as políticas discriminatórias contra seus cidadãos árabes.
 
Um terço dos que responderam creem que os cidadãos árabes de Israel não deveriam ter direito a voto, ao passo que quase a metade – 47 por cento – gostaria que lhes fossem retirados seus direitos de cidadania e que fossem postos sob o controle da Autoridade Palestina (...)
 
A enquete, conduzida pelo grupo de pesquisa israelense Dialog, concluiu que 59% de 503 pessoas consultadas gostaria de ver os judeus receberem preferência para os empregos no setor público, ao passo que a metade gostaria de ver os judeus melhor tratados do que os árabes.
 
Um pouco mais de 40% gostaria de ver moradias e salas-de-aulas separadas para judeus e árabes. (Catrina Stewart, The new Israeli apartheid: Poll reveals widespread Jewish support for policy of discrimination against Arab minority, The Independent October 23, 2012)
 
Noam Sheizaf, um jornalista israelense, escreveu que as “descobertas refletem a noção generalizada de que Israel, como um Estado Judaico, deveria ser um Estado que favorecesse os judeus. Elas são também o resultado da ocupação... Após quase meio século de dominação sobre outro povo, não é nenhuma surpresa que a maioria dos israelenses não pense que os árabes mereçam os mesmos direitos.” (Ibid.)
 
Esta dominação dos palestinos pelos israelenses vem sendo estimulada e mantida por países que alegam defender a liberdade, os direitos humanos e a democracia.
 
A Autoridade Palestina foi criada com os Acordos de Oslo em 1994 como um organismo de governo provisório com poderes limitados e com independência geográfica ainda mais limitada de Israel, cuja duração deveria ter sido de apenas cinco anos, de acordo com a linha de tempo estipulada pela qual os “acordos de status final” deveriam ter sido alcançados.
 
Dezenas de milhões de dólares jorraram sobre a Autoridade Palestina (AP) vindos de ardentes partidários de Israel, tais como os Estados Unidos e a União Europeia, e investimentos similares prosseguiram em projetos conjuntos Israel-Palestina que, uma vez mais, não fizeram nenhum esforço para mudar o status quo político e econômico da vida palestina concreta.
 
O discurso proeminente em relação a grupos recentemente formados, tais como One Voice (Uma Voz) e outras colaborações, era que o “conflito” Israel-Palestina era um problema de ignorância e preconceito em oposição a uma questão de injustiça e do continuado despojo e subjugação de um povo por outro. (http://www.maan-ctr.org/pdfs/Boycott.pdf)
 
A onda de colaborações que veio após Oslo aumentaram a legitimidade global de Israel de tal modo que os acordos bilaterais com a União Europeia e outros países se multiplicaram, assim como outros acordos que incluíam laços mais próximos com a OTAN e a OCDE. Entre 1994 e 2000, houve um acréscimo de seis vezes no investimento estrangeiro direto em Israel, de US$ 686 milhões para aproximadamente US$ 3,6 bilhões. (De-Osloization and the fight against Normalisation, op. cit.)
 
De certo modo, o “Vírus de Oslo” normalizou o ostracismo de todos os árabes e muçulmanos, e o maltrato aos palestinos era um prelúdio para a aceitação da atual e patente islamofobia e arabofobia (E como os árabes também são semitas, a arabofobia também é antissemitismo, mas é virtualmente impossível usar essa expressão em relação com os sentimentos anti-árabe em razão de sua forte conotação judaica.)
 
O mundo ocidental aceita as ocupações dos EUA e Israel sobre terras árabes e muçulmanas para proteger interesses estratégicos e financeiros, e a “guerra global contra o antissemitismo” assim como a “guerra global ao terror” são os pretextos escolhidos para a invasão militar, onde quer que a “intervenção humanitária” se mostre inadequada. Aqueles que resistem a ocupação estadunidense no Afeganistão ou a ocupação israelense da Palestina são retratados como terroristas. Aqueles que matam civis e funcionários governamentais eleitos na Síria são apresentados como combatentes da liberdade. Se você resiste a ocupação, você será bombardeado. Se você combater por ela, você será armado.
 
O antissemitismo e a islamofobia como instrumentos da guerra de propaganda dos EUA
 
Alguns argumentam que Israel não passa de posto avançado do imperialismo estadunidense: “Os Estados Unidos estão alinhados com Israel fundamentalmente porque usam Israel para projetar sua influência imperial na região rica em recursos.” (Michael Fiorentino Israel: An outpost of empire, SocialistWorker.org, April 16, 2010.). Com isto em mente, a “guerra global contra o antissemitismo” pode ser vista como um instrumento da guerra de propaganda imperial dos Estados Unidos.
 
Em A Indústria do Holocausto, Norman Finkelstein escreve: “Assim como as organizações judeo-estadunidenses dominantes negligenciaram o holocausto nazista nos anos subsequentes à Segunda Guerra Mundial para ajustar-se às prioridades do governo dos EUA na Guerra Fria, também sua atitude quanto a Israel manteve-se em linha com a política estadunidense nos EUA.” Com a guerra árabe-israelense de 1967, “O Holocausto se tornou uma fixação na vida do judeu estadunidense”. (Finkelstein, Norman. The Holocaust Industry. New York: Verso, 2003, p. 16-17.)
 
Não é segredo para ninguém que os EUA querem expandir e manter sua hegemonia, e o infame Projeto para um Novo Século Estadunidense (Project for a New American Century) expôs claramente o que deve ser feito para tal efeito.
 
O papel das forças militares durante a Guerra Fria era dissuadir o expansionismo soviético. Hoje sua tarefa é garantir e expandir as “zonas de paz democrática”, dissuadir o surgimento de uma nova grande potência competidora, defender regiões chave da Europa, Ásia Oriental e Oriente Médio, e preservar a proeminência dos Estados Unidos mediante a próxima transformação da guerra viabilizada por novas tecnologias (...)
 
A liderança global dos Estados Unidos (...) baseia-se na segurança da pátria estadunidense, a preservação de um equilíbrio de forças favorável na Europa, no Oriente Médio e nas circundantes regiões produtoras de energia, assim como na Ásia Oriental. (Rebuilding America’s Defenses, Project for a New American Century, September 2000.)
 
Chama muito a atenção de que expandir as “zonas de paz democrática” seja o único objetivo entre parênteses, posto que estes em geral denotam sarcasmo e ironia. Afora de “paz democrática”, os objetivos hegemônicos estão muito claros e a nova “guerra contra o antissemitismo global” só pode contribuir ainda mais para o projeto imperial dos Estados Unidos, do qual Israel é tanto uma ferramenta de uso como um beneficiário.
 
Fortemente armados pelos Estados Unidos, a política exterior de Israel é uma extensão da política exterior dos Estados Unidos. Desde a criação de Israel fomos acostumados ao maltrato dos palestinos: isto foi “normalizado”. A punição coletiva infligida aos palestinos por Israel, um crime que os judeus sofreram sob o regime nazista, é aceito e perpetuado pelos Estados Unidos. Sem a ajuda e a permissão dos Estados Unidos e a aceitação da chamada “comunidade internacional”, os palestinos não seriam perseguidos.
 
Da mesma forma que Israel usa o Holocausto para justificar a punição coletiva dos palestinos e a agressão a seus vizinhos, os Estados Unidos usam o 11/9 para justificar a punição coletiva dos muçulmanos no mundo inteiro e várias invasões militares. Muito antes dos Memorandos da Tortura da administração Bush que avalizam a tortura, Israel já tinha oficialmente autorizado a tortura através do Relatório Landau, em 1987. A islamofobia é sem dúvida a forma mais aceita de discriminação na atualidade e, neste contexto, a institucionalização da “guerra global contra o antissemitismo” é claramente uma outra expressão distorcida da mesma.
 
Em The Islamophobia Industry: How the Right Manufactures Fear of Muslims (A indústria da islamofobia: Como a Direita Fabrica o Medo aos Muçulmanos), Nathan Lean “traça o arco do sentimento islamofóbico que aflorou no ocidente”, o qual está fortemente ligado à “Indústria do Holocausto”.
 
“Ele expõe a multimilionária indústria dos traficantes do medo e a rede de financiadores e organizações que bancam e perpetuam o fanatismo, a xenofobia e o racismo, e criam um clima de medo que sustenta um ameaçador câncer social” (...)
 
“Trata-se de uma relação de benefícios mútuos, na qual ideologias e afinidades políticas convergem para levar adiante a mesma agenda.” (...)
 
Elas provêm principalmente do sionismo direitista e do cristianismo evangélico, que se unem para formar uma frente judeo-cristã em suas batalhas contra o Islã. Seus financiadores também provêm desses mundos – embora o mundo sionista de direita tenha gerado a maioria dos ativistas anti-muçulmanos (...)
 
É este sionismo cristão que liga estreitamente direitistas evangélicos com fortes partidários do Estado Judeu. Os sionistas que espalham o fanatismo anti-islâmico podem ser alocados em três campos, segundo Lean: o sionismo religioso (judeu), o sionismo cristão e o sionismo político. “Para os sionistas religiosos, a profecia é o principal instigador de seu fervor islamofóbico. Para eles, os palestinos não são apenas habitantes indesejados; não são apenas árabes em terras judaicas. Não são sequer apenas muçulmanos. Eles são forasteiros não-judeus feitos de tecido diferente – e as ordens de Deus em relação a eles são bem claras”, ele escreve.  E há o sionismo político, que se abstém da linguagem religiosa, mas continua sendo hostil para com os muçulmanos. Como Max Blumenthal escreveu, estes personagens, alguns dos quais são neoconservadores, creem que “o Estado Judeu (é) um Forte Apache do Oriente Médio nas linhas de frente da Guerra Global ao Terror.” (Alex Kane, Islamophobia: How Anti-Muslim bigotry was brought into the American mainstream, Mondoweiss, October 29, 2012.)
 
Os Estados Unidos estão usando Israel para suas guerras sujas e, por sua vez, Israel está usando os Estados Unidos para combater seus vizinhos. Eles são aliados inseparáveis, cada qual acumula poder e expande seu controle sobre territórios estrangeiros e suas populações, e seus aliados se beneficiam disso. Qualquer que seja o pretexto usado, a razão para deflagrar guerras permanece a mesma: poder e dinheiro. E isto sempre se consegue com a demonização de quem estiver no caminho.