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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Resistência Palestina


Globo, os palestinos não se veem por aí


Globo, os palestinos não se veem por aí. 19582.jpeg 
Em 19 de dezembro, foi ao ar na chamada "novela das oito" da TV Globo, intitulada "Amor à vida", uma cena que não deixa dúvidas a quem serve a emissora: aos interesses hegemônicos e ao império. A telenovela líder da audiência em âmbito nacional, seguida pelo Jornal Nacional, apresentou na trama um romance entre um palestino, Pérsio (Mouhamed Harfouch), e uma judia, Rebeca (Paula Braun). No capítulo em questão, o primeiro deles declara que pertenceu a uma "célula terrorista" e se diz arrependido: "Eu queria ser um homem bomba.
Achava que era um sacrifício justo pela causa do meu povo. Só não fui porque eu sou filho único, a minha mãe me procurou, insistiu demais pra eu desistir. Mas eu ajudei a organizar um atentado. Um amigo meu, um amigo próximo, foi o homem bomba. Ele entrou num ônibus em Jerusalém e explodiu, matando muita gente. Mulheres, crianças... crianças como o seu irmãozinho, RebecaEu me senti culpado, quando vi o seu irmão, quando falei com a sua família. Eu percebi que a guerra, o terrorismo, atinge pessoas indefesas, crianças. Vendo aquele menino sorrindo, eu percebi que um dia eu quis atacar crianças como ele. Como eu posso dizer que aquele menino é meu inimigo?." Alguns capítulos depois, no dia 30, em uma nova conversa, Rebeca se recusa a falar com Pérsio, a não ser profissionalmente, pelo que ele quis fazer com "seu povo". E em cena no dia 7 de janeiro último, a personagem busca conselhos junto a um rabino, já que teria se apaixonado por "um árabe, um palestino", pertencente a um "grupo terrorista".
O diálogo que inaugura essa farsa é permeado por desinformação, distorção e manipulação da verdade. Rebeca chega a afirmar que há muitos casais judeus e palestinos em Israel, como conviria a qualquer estado democrático. A verdade é que a própria convivência está comprometida.
 
O apartheid imposto aos palestinos impede até que vivam no mesmo bairro. Alguém poderia afirmar que conhece um caso assim na atualidade. Mas não é essa a regra. Os palestinos que vivem onde hoje é Israel (território palestino até 1948, ano da criação desse estado como exclusivamente judeu) são considerados cidadãos de segunda ou terceira categoria, discriminados cotidianamente - há 30 leis racistas contra essas pessoas, que lhes impedem ter os mesmos direitos.
Há dezenas de aldeias em que vivem que sequer são reconhecidas por Israel, o que significa que não lhes são assegurados serviços essenciais, como fornecimento de eletricidade, água, educação e saúde de qualidade.

Quem é o terrorista?
Em 1948, ano que na memória coletiva árabe é conhecido como "nakba", a catástrofe, foram expulsos de suas terras e propriedades cerca de 800 mil palestinos e aproximadamente 500 aldeias foram destruídas para dar lugar a Israel. Massacres exemplares são hoje comprovados. Os palestinos, desumanizados desde o início desse projeto de limpeza étnica e colonização de suas terras, não foram apagados da história graças a sua resistência - apresentada na telenovela da Globo como terrorismo. Resistência reconhecida pelo direito internacional como legítima diante da ocupação.
Ademais, os chamados atentados com homens bomba, atos desesperados perante o silêncio do mundo e a falta de alternativas, há muito foram abandonados. A contextualização histórica sobre o terror de Estado que fabricou esses "homens bomba", durante um tempo determinado, ficou fora da telinha. Assim como os contínuos ataques israelenses, que atingem sobretudo crianças e mulheres, com tecnologias de última geração vendidas depois ao mundo. Os laboratórios humanos em que se transformaram os palestinos no shopping center que se converteu Israel à venda de suas parafernálias militares também não encontraram lugar no diálogo que foi ao ar na "novela das oito".
O autor de "Amor à vida", Walcyr Carrasco, reforçou, assim, mitos que são denunciados pelo historiador israelense Ilan Pappe em seu artigo "Os dez mitos de Israel". Entre eles, de que a luta palestina não tem outro objetivo que não o terror e que Israel é "forçado" a responder à violência. Segundo ele, a história distorcida serve à opressão, à colonização e à ocupação. "A ampla aceitação mundial da narrativa sionista é baseada em um conjunto de mitos que, ao final, lançam dúvidas sobre o direito moral palestino, o comportamento ético e as chances de qualquer paz justa no futuro. A razão é que esses mitos são aceitos pela grande mídia no Ocidente e pelas elites políticas como verdade."
O Brasil não é exceção. Na contramão da campanha global por boicotes ao apartheid israelense, o governo federal se tornou nos últimos anos o segundo maior importador de tecnologias militares da potência que ocupa a Palestina e porta de entrada dessa indústria à América Latina. E sua cumplicidade com a opressão, ocupação e apartheid a que estão submetidos os palestinos é justificada a milhares de espectadores desavisados da novela da Globo, através de um discurso que reproduz a versão falsificada da história e se fortalece perante a representação orientalista - em que os árabes seriam "orientais" bárbaros e atrasados, ante cidadãos pacíficos e civilizados, segundo explicita o intelectual palestino Edward Said em seu livro "Orientalismo, o Oriente como invenção do Ocidente".

Democratização já!
Num cenário de concentração midiática, preconceitos como esse - não são os únicos - são especialmente graves. Assim como é bastante preocupante que o tradicional show natalino do cantor Roberto Carlos, exibido na mesma emissora ao final de 2013, tenha sido patrocinado pela marca Café Três Corações, que tem como acionista majoritária uma empresa israelense cuja colaboração com a opressão em terras palestinas já foi amplamente denunciada.
Apesar do crescimento acentuado de usuários da internet - que chegaram à marca de 94,2 milhões ao final de 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) -, a maioria da população brasileira ainda se informa sobretudo pela TV, presente em 96,9% dos domicílios, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pnad/IBGE). Enquanto a propaganda nesse meio é o principal impulsionador ao consumo, programas de entretenimento como as telenovelas igualmente moldam comportamentos, conceitos e ideias. E a produção desses encontra-se nas mãos de apenas seis famílias, detentoras das concessões públicas que lhes garantem espaço para difundir livremente preconceitos e falsificações históricas. Outorgas concedidas muitas vezes ao arrepio das leis vigentes, renovadas pelo governo brasileiro sem qualquer critério para garantir a pluralidade e diversidade na produção cultural.
Para transformar a realidade, é fundamental reforçar a luta pela democratização das comunicações e denunciar essas distorções que grassam na TV brasileira. É importante se somar às vozes que, nas manifestações de junho de 2013, protestaram contra o monopólio da mídia e elegeram para tanto o lema: "Globo, a gente não se vê por aqui".

Soraya Misleh* é jornalista, membro da diretoria do ICArabe, da Ciranda Internacional da Informação Independente e do Mopat (Movimento Palestina para Todos)

Fonte: Correio ICAbare

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A rede Globo e o sionismo mundial...


Globo, os palestinos não se veem por aí


Em 19 de dezembro, foi ao ar na chamada “novela das oito” da TV Globo, intitulada “Amor à vida”, uma cena que não deixa dúvidas a quem serve a emissora: aos interesses hegemônicos e ao império.

Por Soraya Misleh*, no Instituto da Cultura Árabe


  Resistência Palestina
  Resistência Palestina

A  telenovela líder da audiência em âmbito nacional, seguida pelo Jornal Nacional, apresentou na trama um romance entre um palestino, Pérsio (Mouhamed Harfouch), e uma judia, Rebeca (Paula Braun). No capítulo em questão, o primeiro deles declara que pertenceu a uma “célula terrorista” e se diz arrependido: “Eu queria ser um homem bomba. Achava que era um sacrifício justo pela causa do meu povo. Só não fui porque eu sou filho único, a minha mãe me procurou, insistiu demais pra eu desistir. Mas eu ajudei a organizar um atentado. Um amigo meu, um amigo próximo, foi o homem bomba. Ele entrou num ônibus em Jerusalém e explodiu, matando muita gente. Mulheres, crianças... crianças como o seu irmãozinho, Rebeca. Eu me senti culpado, quando vi o seu irmão, quando falei com a sua família. Eu percebi que a guerra, o terrorismo, atinge pessoas indefesas, crianças. Vendo aquele menino sorrindo, eu percebi que um dia eu quis atacar crianças como ele. Como eu posso dizer que aquele menino é meu inimigo?.” Alguns capítulos depois, no dia 30, em uma nova conversa, Rebeca se recusa a falar com Pérsio, a não ser profissionalmente, pelo que ele quis fazer com “seu povo”. E em cena no dia 7 de janeiro último, a personagem busca conselhos junto a um rabino, já que teria se apaixonado por “um árabe, um palestino”, pertencente a um “grupo terrorista”.

O diálogo que inaugura essa farsa é permeado por desinformação, distorção e manipulação da verdade. Rebeca chega a afirmar que há muitos casais judeus e palestinos em Israel, como conviria a qualquer estado democrático. A verdade é que a própria convivência está comprometida. O apartheid imposto aos palestinos impede até que vivam no mesmo bairro.

Alguém poderia afirmar que conhece um caso assim na atualidade. Mas não é essa a regra. Os palestinos que vivem onde hoje é Israel (território palestino até 1948, ano da criação desse estado como exclusivamente judeu) são considerados cidadãos de segunda ou terceira categoria, discriminados cotidianamente – há 30 leis racistas contra essas pessoas, que lhes impedem ter os mesmos direitos. Há dezenas de aldeias em que vivem que sequer são reconhecidas por Israel, o que significa que não lhes são assegurados serviços essenciais, como fornecimento de eletricidade, água, educação e saúde de qualidade.

Quem é o terrorista?
Em 1948, ano que na memória coletiva árabe é conhecido como “nakba”, a catástrofe, foram expulsos de suas terras e propriedades cerca de 800 mil palestinos e aproximadamente 500 aldeias foram destruídas para dar lugar a Israel. Massacres exemplares são hoje comprovados. Os palestinos, desumanizados desde o início desse projeto de limpeza étnica e colonização de suas terras, não foram apagados da história graças a sua resistência – apresentada na telenovela da Globo como terrorismo. Resistência reconhecida pelo direito internacional como legítima diante da ocupação.

Ademais, os chamados atentados com homens bomba, atos desesperados perante o silêncio do mundo e a falta de alternativas, há muito foram abandonados. A contextualização histórica sobre o terror de Estado que fabricou esses “homens bomba”, durante um tempo determinado, ficou fora da telinha. Assim como os contínuos ataques israelenses, que atingem sobretudo crianças e mulheres, com tecnologias de última geração vendidas depois ao mundo. Os laboratórios humanos em que se transformaram os palestinos no shopping center que se converteu Israel à venda de suas parafernálias militares também não encontraram lugar no diálogo que foi ao ar na “novela das oito”.

O autor de “Amor à vida”, Walcyr Carrasco, reforçou, assim, mitos que são denunciados pelo historiador israelense Ilan Pappe em seu artigo “Os dez mitos de Israel”. Entre eles, de que a luta palestina não tem outro objetivo que não o terror e que Israel é “forçado” a responder à violência. Segundo ele, a história distorcida serve à opressão, à colonização e à ocupação. “A ampla aceitação mundial da narrativa sionista é baseada em um conjunto de mitos que, ao final, lançam dúvidas sobre o direito moral palestino, o comportamento ético e as chances de qualquer paz justa no futuro. A razão é que esses mitos são aceitos pela grande mídia no Ocidente e pelas elites políticas como verdade.”

O Brasil não é exceção. Na contramão da campanha global por boicotes ao apartheid israelense, o governo federal se tornou nos últimos anos o segundo maior importador de tecnologias militares da potência que ocupa a Palestina e porta de entrada dessa indústria à América Latina. E sua cumplicidade com a opressão, ocupação e apartheid a que estão submetidos os palestinos é justificada a milhares de espectadores desavisados da novela da Globo, através de um discurso que reproduz a versão falsificada da história e se fortalece perante a representação orientalista – em que os árabes seriam “orientais” bárbaros e atrasados, ante cidadãos pacíficos e civilizados, segundo explicita o intelectual palestino Edward Said em seu livro “Orientalismo, o Oriente como invenção do Ocidente”.

Democratização já!

Num cenário de concentração midiática, preconceitos como esse – não são os únicos – são especialmente graves. Assim como é bastante preocupante que o tradicional show natalino do cantor Roberto Carlos, exibido na mesma emissora ao final de 2013, tenha sido patrocinado pela marca Café Três Corações, que tem como acionista majoritária uma empresa israelense cuja colaboração com a opressão em terras palestinas já foi amplamente denunciada.

Apesar do crescimento acentuado de usuários da internet – que chegaram à marca de 94,2 milhões ao final de 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) –, a maioria da população brasileira ainda se informa sobretudo pela TV, presente em 96,9% dos domicílios, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pnad/IBGE). Enquanto a propaganda nesse meio é o principal impulsionador ao consumo, programas de entretenimento como as telenovelas igualmente moldam comportamentos, conceitos e ideias. E a produção desses encontra-se nas mãos de apenas seis famílias, detentoras das concessões públicas que lhes garantem espaço para difundir livremente preconceitos e falsificações históricas. Outorgas concedidas muitas vezes ao arrepio das leis vigentes, renovadas pelo governo brasileiro sem qualquer critério para garantir a pluralidade e diversidade na produção cultural.

Para transformar a realidade, é fundamental reforçar a luta pela democratização das comunicações e denunciar essas distorções que grassam na TV brasileira. É importante se somar às vozes que, nas manifestações de junho de 2013, protestaram contra o monopólio da mídia e elegeram para tanto o lema: “Globo, a gente não se vê por aqui”.

*Soraya Misleh é jornalista, membro da diretoria do ICArabe, da Ciranda Internacional da Informação Independente e do Mopat (Movimento Palestina para Todos)



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

“A ANP está comprometida com Israel”


“A ANP está comprometida com Israel”

Companheira de líder da resistência palestina preso revela que polícia palestina se comporta como guarda do exército israelense

José Coutinho Júnior
enviado especial à Palestina pelo BRASILDEFATO
“Tenho que trabalhar, cuidar da família e lutar pela libertação do meu marido”. Assim Abla Sa’dat define sua luta. Abla é esposa de Ahmad Sa’adat, líder do partido marxista palestino Frente Popular pela Libertação da Palestina, segundo homem mais influente na Organização Para a Libertação da Palestina (OLP), entidade que reúne os diversos partidos palestinos que buscam uma solução para a questão palestina e a principal liderança da esquerda palestina atualmente.
Por sua influência, Ahmad sempre foi perseguido pelo exército de Israel, vivendo como um fugitivo durante anos. Em 2002, já vivendo na clandestinidade, foi convocado pelo então presidente do governo da Autoridade Nacional da Palestina (ANP), Yasser Arafat. Ao chegar no local da reunião, foi emboscado e preso pelo governo. Os salários dos funcionários da Autoridade Palestina vêm da ONU, mas são entregues para Israel, que então repassa para o governo. Arafat alegou que Israel exigia sua prisão, senão reteria os salários. Sa’adat ficou em uma prisão palestina em Jericó até 2006, quando tropas israelenses invadiram o local, o capturaram e o levaram para uma prisão israelense. Desde então, está preso em Israel, sem saber se será solto algum dia. Abla é uma das principais vozes na luta pela liberação dos presos políticos palestinos, realizando campanhas internacionais de solidariedade e denunciando os abusos das autoridades Israelenses. Confira entrevista de Abla Sa’dat:
Brasil de Fato – Abla, onde o Ahmad está hoje, e como está a saúde dele?
Abla Sa’dat – Ele está preso na região do norte de Israel, ocupada em 1948. O Ahmad ficou isolado numa cela individual de 2009 a 2012, sem conexão e contato com as pessoas. Ele só saiu de lá porque os prisioneiros fizeram uma greve de fome para tirar 23 presos da solitária e acabar com a política de isolamento. Ele está bem de saúde. Se cuida fazendo exercícios físicos e parou de fumar. Se ele ficar doente e tiver de ir a uma clínica militar, voltará pior do que foi. Ele sofre com alergias, então mudam ele de celas constantemente de propósito para que ele pegue alergias e fi que doente.
Que motivos Israel alega para ter realizado a prisão e mantê-lo cativo?
Ahmed está preso por ser o líder da Frente Popular, essa é a única queixa, não há uma condenação concreta contra ele. Inclusive, a alegação do juiz para isolá-lo foi a de que “essa pessoa pode fazer os palestinos se voltarem contra Israel só com o olhar”.
As prisões são ilegais, pois os presos políticos lutam pela liberdade de uma terra ocupada. Mesmo as leis israelenses não justificam a prisão de Ahmad. É uma questão puramente política e ideológica. Realizamos de 17 a 24 de outubro deste ano uma campanha internacional de solidariedade, na qual organizações e pessoas solidárias enviaram cartas a ele e às autoridades israelenses, para pressionar por sua libertação.
Depois que Ahamad foi preso, como é sua vida, seu dia a dia?
Nos casamos em 1983 e vivi em paz com ele até 1985 apenas. Nos anos seguintes, ou ele estava na cadeia ou foragido. Temos duas filhas e dois filhos, que eu criei praticamente sozinha. Quando ele foi preso em 1987, fui presa também.
Tínhamos um fi lho de nove meses na época. Em 2003, fui presa novamente, quando ia para o Fórum Social Mundial em Porto Alegre – fiquei na prisão por quatro meses. Nesses períodos, nossa família viveu sem pai e mãe. É uma vida muito difícil. Tenho que trabalhar, cuidar da família e lutar pela libertação do meu marido. Mas como mulher palestina, é minha função com todo o povo.
Qual é a posição da ANP em relação à prisão de Ahmad?
Quem realizou a prisão foi a ANP [Autoridade Nacional Palestina], em Ramallah. Ahmad ficou três anos em Jericó, até o exército israelense invadir a prisão e o levar para Israel. O discurso do governo é de que se deve libertar os presos, mas na verdade eles estão comprometidos com Israel.
No começo de outubro, o exército israelense invadiu o campo de refugiados de Geni e prendeu cinco ativistas da Jihad islâmica. A polícia palestina não faz nada contra o exército, são guardas de Israel, que ajudam a prender os militantes que discordam e se opõem às políticas do governo, como os do Hamas, da Jihad e a esquerda palestina.
Como é o processo de visitas na prisão?
A humilhação começa antes de fazer a visita. De toda a nossa família, só eu e meu filho mais velho podemos visitá-lo, porque nós temos um cartão de identidade de Jerusalém. Os presos que são do norte são levados para cadeias do sul e vice-versa, para dificultar as visitas dos familiares. Temos que ir junto com a Cruz Vermelha, senão não entramos.
Quando chegamos, ficamos do lado de fora da prisão, não tem lugar para sentar. Preenchemos ali uma lista com os nomes de quem vamos visitar. Quando entramos, passamos por um detector de metais e uma revista corporal.
Não podemos levar comida ou mesmo cigarros conosco; existe uma loja na prisão, e se quisermos dar essas coisas aos presos, temos de comprar lá a preços muito altos, e se algum preso quiser assinar um dos três jornais de Jerusalém para se manter informado, deve pagar 800 dólares pela assinatura de um jornal que não custa nem um dólar. E os jornais geralmente chegam atrasados; os assinantes recebem todas as edições no final do mês.
É permitido levar livros, mas todos são lidos para checar se existe material subversivo antes de ser entregues. Como Ahmad gosta dos livros perigosos, eles costumam fi car retidos. Geralmente levo uns seis livros comigo e distribuo entre os outros visitantes. Caso os outros presos consigam receber, eles passam para o Ahmad. Só podemos levar roupas novas para eles duas vezes ao ano, quando as estações mudam.
Na hora da visita, 11 pessoas entram juntas na sala. Lá dentro, existe um vidro que separa o visitante do prisioneiro, a conversa é gravada, e depois de 45 minutos, a janela fecha e o telefone é desligado. Muitas vezes não dá nem para se despedir.
Fotos: Brigada Gassan Kanafani

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Especial Palestina: “Nós sempre estivemos nessa terra


Especial Palestina: “Nós sempre estivemos nessa terra”

Taha, um dos fundadores da UAWC, revela sua luta e desconstrói argumentos sionistas

José Coutinho Júnior
enviado especial à Palestina  do brasildefato
“Por que todas as cidades da Palestina são dividas entre velhas e novas?”, um visitante pergunta a Taha Jaber Rifaie, um dos fundadores da UAWC (sigla em inglês de União dos Comitês de Trabalho Agrícola). Receptivo, o veterinário de formação fala ao grupo de latino- americanos que havia chegado ao seu escritório, logo ao lado da entrada de sua casa, com calma: “antes vamos jantar. Responderei a todas as perguntas depois de comer”.
Ele abre uma sacola, cujo interior traz uma típica refeição palestina: falafels – um bolinho de grão de bico frito –, homus e pão sírio. Durante um breve momento, o assunto é a comida. Após todos terminarem de comer, Taha entra na casa para voltar, pouco depois, com dois narguilés: um para ele e outro para os visitantes. Calmamente, prepara o aparelho e após dar a primeira tragada, sorri e diz: “o gosto desse é de maçã”.
“Por que as cidades da Palestina são divididas entre velhas e novas, você perguntou? Bem, porque as nossas cidades são antigas e belas. Quando as cidades começaram a se expandir e se tornar mais modernas, quisemos preservar a beleza das cidades velhas, por isso a divisão. Se você percebeu, as cidades novas são construídas em volta das velhas”, responde.
Taha estudou veterinária na Síria, fez um mestrado nos Estados Unidos e outra especialização na Palestina. É casado com uma nicaraguense, e já visitou o Brasil – Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, à época do Fórum Social Mundial.
Sempre esteve envolvido na luta contra a ocupação e auxiliando os camponeses palestinos. Por causa de seu ofício era impedido pelo exército israelense de entrar nas vilas para tratar dos animais, então se infiltrava à noite nas vilas para realizar o tratamento de forma clandestina. Uma vez foi pego pelo exército, mas o soltaram sob uma alegação interessante: “sabemos que você é alguém grande, vamos te pegar por algo grande”.
ONGs
Grande parceiro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Taha foi um dos articuladores para tornar a UAWC parte da Via Campesina. Para ele, a Palestina precisa de um movimento social forte, para se contrapor à presença e atuação massiva de ONGs. “ONGs e o movimento social são similares. Ambos podem lutar pela mesma coisa. Mas o movimento social constrói e atinge seus objetivos com o povo, enquanto a ONG pensa e executa essas ações pelo povo, sem se importar se elas de fato são o que o povo quer, e sim com a sua agenda, que muitas vezes é a de prestar contas a empresas poderosas”, justifica.
Um exemplo, conta, ocorreu em uma vila na qual as mulheres precisavam sair de suas casas todos os dias para pegar água em um local longe, pela falta de saneamento básico. A ONG realizou um projeto que levou água à vila, e as mulheres imediatamente reclamaram do projeto, pois o momento de pegar a água era a única chance que tinham de sair de casa e socializar com outras mulheres. “O movimento social, pelo contrário, tem a tarefa de conhecer a realidade das pessoas, ver quais são suas necessidades e realizar um trabalho de base para conscientizar e organizar aquela população a lutar pelo que quer. A construção da Via Campesina aqui é fundamental para isso”, afirma.
Primeiros judeus
“A gente devia te convidar para falar em uma universidade na Argentina. Lá a comunidade sionista é muito forte, eles não iam reagir nada bem”, provoca um visitante argentino. “Pode convidar. Não tenho problema em falar com os sionistas. Pelo contrário, adoro desconstruir os argumentos deles”, brinca Taha, antes de contar uma história.
“Um dia a polícia israelense me convocou. Cheguei lá e o soldado disse para eu relaxar. Me sentei e ele começou a falar: ‘eu sei que você é um homem inteligente, só quero conversar gentilmente’. Se fosse para ‘conversarmos gentilmente’, não teria que ser convocado e vir aqui forçado, disse. Ele respondeu: ‘vamos esquecer essa parte. Você precisa entender que essa terra é nossa de direito. ‘Você é da onde?’ – perguntei, e ele falou que era israelense, surpreso. Insisti: ‘não, onde você nasceu?’. Ele afirmou ‘em Israel’, para depois contar que os pais eram da Polônia”.
“Pois bem. Se eu sou palestino e eu, meu pai, meu avô, meu bisavô, meu tataravô e assim por diante nunca saímos dessa terra, então nós fomos os primeiros judeus, que se converteram em islâmicos depois, não concorda? Vocês saíram daqui e agora voltam para cá, mas nós sempre estivemos nessa terra”. Os argumentos utilizados pelos sionistas de que retornaram à sua terra de direito também não fazem sentido, segundo Taha. “Nablus era parte das terras originais, e hoje não está incorporado em Israel. As áreas próximas do mar, por sua vez, eram árabes, e hoje Israel as incorpora. Isso não é religião, é capitalismo”.
Ele garante que a aparente paz que se presencia hoje na Palestina não passa de uma ilusão. “As coisas parecem pacíficas agora, mas não estão. O exército israelense esteve em Albire (território próximo a Ramallah) há alguns dias atrás, onde entrou com força nas casas para prender militantes palestinos”, conta.
Entre um trago e outro, acariciando um de seus gatos, o veterinário faz uma previsão. “Acredito que até 2025 vamos nos livrar da ocupação israelense. A situação está difícil, mas não tão difícil que não podemos superá-la”. 
Foto: Brigada Gassan Kanafani

domingo, 22 de dezembro de 2013

CARTA ABERTA À REDE GLOBO CONTRA A MENTIRA SOBRE OS PALESTINOS


CARTA ABERTA À REDE GLOBO CONTRA A MENTIRA SOBRE OS PALESTINOS


Federação Árabe Palestina do Brasil
A REDE GLOBO, DIREÇÃO E AUTOR DA NOVELA "AMOR À VIDA", PRESTAM UM TRIBUTO AO ÓDIO E PRECONCEITO AO EXIBIR CENA ONDE TRANSMITE O CONCEITO DE QUE TODOS OS PALESTINOS SÃO TERRORISTAS.
ISSO DEMONSTRA O QUANTO ESSA EMISSORA ESTÁ TOTALMENTE DESCONECTADA COM A REALIDADE DO CONFLITO PALESTINO ISRAELENSE OU ESTÁ CONECTADA COM SETORES MINORITÁRIOS DA SOCIEDADE BRASILEIRA QUE PREGAM A DISCRIMINAÇÃO RACIAL, ÉTNICA E RELIGIOSA COMO FILOSOFIA DO AGIR E PENSAR.
MAL SABEM ESSES SENHORES DESSA EMISSORA QUE OS PALESTINOS SÃO ÁRABES E QUE NO BRASIL HÁ MAIS DE 12 MILHÕES DE ÁRABES E SEUS DESCENDENTES(LIBANESES, SÍRIOS, LIBANESES, EGÍPCIOS, JORDANIANOS E OUTRAS NACIONALIDADES ÁRABES).
MAL SABEM ESSES SENHORES QUE AO OFENDER E DISCRIMINAR O POVO PALESTINO ESTÃO DISCRIMINANDO NÃO SÓ OS BRASILEIROS ÁRABES, MAS TODA A NAÇÃO BRASILEIRA QUE RECEBEU DE BRAÇOS ABERTOS ESSES ÁRABES QUE SEMPRE CONTRIBUIRAM PARA O DESENVOLVIMENTO E CONSTRUÇÃO DO BRASIL.
A HISTÓRIA DA PRESENÇA ÁRABE NO BRASIL ESTÁ PRESENTE DESDE A CHEGADA DE PEDRO ÁLVARES CABRAL. EM TODOS OS RAMOS DA ATIVIDADE HUMANA ESTÃO PRESENTES OS BRASILEIROS DE ORIGEM ÁRABE: CULTURA, CULINÁRIA, ECONOMIA,MEDICINA, ENGENHARIA, POLITICA, COMÉRCIO E TANTAS OUTRAS ATIVIDADES.
EM VEZ DE PREGAR A PAZ ENTRE ISRAELENSES E PALESTINOS, ENTRE ÁRABES E JUDEUS NO BRASIL, A DIREÇÃO DA REDE GLOBO PREGA O CONFLITO, IMPORTA O CONFLITO DE MANEIRA IRRESPONSÁVEL E ENGAJADA. ÁRABES E JUDEUS NO BRASIL NUNCA TIVERAM NENHUM TIPO DE PROBLEMA DE CONVIVÊNCIA E DIÁLOGO AQUI NO BRASIL. A DIREÇÃO DA GLOBO NÃO QUER QUE CONTINUE ASSIM? A QUEM ESTÁ PRESTANDO ESSE SERVIÇO DE GERAR ÓDIO E CONFLITO?
REPUDIAMOS, CONDENAMOS TAL LINHA DE AÇÃO E EXIGIMOS QUE OS RESPONSÁVEIS PELA CENA SE RETRATEM E SE SE DESCULPEM COM OS PALESTINOS E OS ÁRABES. É O MINIMO QUE PODERÃO FAZER PARA REPARAR ESSA DESASTROSA CENA VISTA POR MILHÕES DE BRASILEIROS.
FEDERAÇÃO ÁRABE PALESTINA DO BRASIL
Representante da comunidade palestino brasileira

Eu não sou terrorista - I am not a  terrorist
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PARA QUEM QUISER E PUDER ENVIAR SEU PEDIDO DE RETRATAÇÃO POR PARTE DO AUTOR DA NOVELA EM RELAÇÃO A EPISÓDIO LAMENTÁVEL, LIGAR PARA A GLOBO, O TELEFONE É 400-22884, SEM DDD. É SÓ CHAMAR DIRETO E FAZER A CRÍTICA.
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PARA ENTENDER MELHOR O FATO:
Não costumo assistir televisão e confesso que não é raro eu me surpreender com algum tipo de discussão envolvendo algum episódio,personagem ou desinformação sendo difundida de forma no mínimo leviana pela televisão brasileira. Se considerarmos que as telenovelas também são possuidoras de uma importância cultural e política, tendo em vista sua grande audiência e o fato de que elas deixaram de ser apenas voltadas para o lazer para se tornarem um espaço cultural de intervenção para a discussão e introdução de hábitos e valores, talvez seja possível percorrer mais um caminho para se compreender a forma como os árabes - e mais recentemente, os muçulmanos, são vistos no Brasil.
Em 2010, realizei um levantamento exploratório com o intuito de verificar a quantidade de novelas em que havia presente um ou mais personagens árabes. O objetivo foi averiguar possíveis mudanças na forma como eles estão presentes no imaginário social da população brasileira. Tal levantamento permitiu constatar que entre 1967 e 2009 personagens árabes apareceram com algum destaque em cerca de 10 telenovelas nacionais. Desse total, os árabes adquiriram status de protagonistas principais em apenas duas delas, a saber: "O Sheik de Agadir" (1967) e "O Clone" (2001).
Um dos aspectos que mais chamou a atenção foi que após 2001, ou seja, período correspondente àquele do atentado de 11 de setembro ao World Trade Center nos EUA, a teledramaturgia brasileira levou quase uma década até contar novamente com algum personagem de origem árabe.
Curiosamente – ou não-, em 2009, a emissora de televisão Record lançou "Poder Paralelo",uma novela que contou com dois personagens de origem árabe, os quais inauguraram uma nova forma de representá-los na teledramaturgia brasileira aos caracterizá-los como terroristas.
De lá para cá, eu não pude acompanhar com a devida atenção o eventual aparecimento de personagens árabes (e/ou muçulmanos) em novelas brasileiras, mas hoje me surpreendi ao ver uma discussão no grupo Somos Árabes sobre um episódio ocorrido em um folhetim exibido atualmente: "Amor à vida".
Como eu desconhecia atrama, tentei ler os comentários deixados no grupo enquanto que me situava um pouco melhor em relação ao assunto que teria gerado a polêmica. Por fim, após pesquisar um pouco - provavelmente não com a atenção necessária, pois meu dia foi super corrido, eu percebi que novamente a televisão brasileira tem prestado um desserviço à população disseminando uma série de desinformações e estereótipos, caricaturas e contribuindo para reforçar aquilo que o intelectual palestino Edward Said já chamava atenção no final da década de 1970: o fato de que cada vez mais o árabe aparece por toda a parte como algo ameaçador.
Se no Brasil esse imaginário demorou algumas décadas até ganhar força, atualmente, parece que a nossa televisão brasileira não tem se esforçado muito para esclarecer à população o quão prejudiciais esses imaginários criados a respeito de culturas estrangeiras, religiões etc. podem ser.
Lamento muito que o autor da novela exibida atualmente, o senhor Walcyr Carrasco, não tenha sido capaz de romper com esse ciclo de preconceito e desinformação a respeito do povo palestino. Inacreditável pensar que cenas como essa que pode ser vista clicando no link entre parênteses (http://extra.globo.com/tv-e-lazer/telinha/amor-vida-persio-revela-que-foi-terrorista-cogitou-ser-homem-bomba-10926733.html)sejam exibidas de forma irresponsável, e que não gerem no mínimo um repúdio por parte de uma sociedade como a nossa, que convive com distintas presenças árabe sem tantas esferas do cotidiano e, a meu ver, deveria possuir esclarecimento suficiente para compreender que o sofrimento de um povo e as dramáticas consequências devem ser tratadas com o devido cuidado e respeito.
Do contrário,enquanto continuarem difundindo desinformação, mais ódio nascerá nos corações das pessoas e mais distante da paz esse povo ficará.
Deixo aqui, em nome do Presença Árabe no Brasil esta nota de repúdio ao autor da novela, sugerindo ainda, que este senhor pesquise melhor sobre aquilo a que se propõe escrever,tratando com respeito e responsabilidade assuntos sérios que envolvem tanto sofrimento e dor. Demonizar uma religião ou um povo é um ato grave,irresponsável e possui consequências desastrosas.
Patricia El-moor –Presença Árabe no Brasil

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Por uma PALESTINA LIVRE!!!!!!!


                                     Palestina, Palestina
Georges Bourdoukan
                  Para aliviar a culpa de seus anti-semitas, o Ocidente está destruindo uma nação semita...

Às profundezas da história,
À impiedade e ao medo,
À realidade invisível,
À ocupação e à exclusão,
Ao Ocidente que buscou aliviar
a culpa de seus anti-semitas,
Uma nação torturada resiste!

O coração palestino palpita.
Tentam abafar seu grito de liberdade,
Suas pedras revidam contra a injustiça,
Contra o racismo e a intolerância!

A estrela busca a purificação com sangue
E ao muro dirige suas preces.
Existirá um limite para a brutalidade?
Existirá um limite para a indiferença?

Palestina, Palestina
Até quando, até quando?

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Brasil financia política de Apartheid israelense, diz integrante do Stop The Wall


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Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Maren Mantovani está no Brasil desde agosto do ano passado | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Samir Oliveira e Débora Fogliatto no SUL21

A italiana Maren Mantovani está no Brasil desde agosto de 2012 para articular apoios à causa Palestina. Coordenadora de Relações Internacionais do movimento Stop The Wall, ela, que viveu durante dez anos em Ramallah, se dedica agora, à estruturação do grupo na América do Sul.
Maren explica que o foco no Brasil é importante, pois, de acordo com o Stop The Wall, o país financia as políticas repressivas de Israel em relação aos palestinos. A principal forma de apoio se dá através de acordos militares para compra de armas de empresas como a Elbit, que está diretamente envolvida na construção do muro que divide os territórios palestinos.
Nesta entrevista ao Sul21, Maren fala sobre as relações econômicas e militares entre Brasil e Israel e comenta, também, o acordo que o governo gaúcho firmou com a Elbit em abril deste ano. “O que aconteceu no governo do Rio Grande do Sul é o que também acontece a nível federal. Há uma linha política e se esquece completamente, ou se ignora, que a economia é política também. Eles dizem: ‘Fizemos um contrato. Onde está o problema político de se fechar um negócio?’. Mas acordos econômicos – se também são internacionais – sempre afetam seres humanos e podem, também, afetar seus direitos”, critica.
“O muro separa os palestinos de seus campos, de suas escolas, de seus hospitais”

Sul21 – Como tu começaste a te envolver com o movimento Stop The Wall?
 
Maren – Iniciei o trabalho com o Stop the Wall praticamente quando as relações internacionais do movimento começaram a se desenvolver. Nossa campanha começou em 2002, alguns meses depois de a construção do muro ter início. Naquela época, ninguém sabia o que estava acontecendo. Foi diretamente depois da re-insavasão da Cisjordânia e do massacre de Jinin. As escavadeiras simplesmente chegaram e destruíram os campos palestinos. Sabíamos que era um projeto grande, porque muita terra foi destruída, mas Israel não explicou nada. O primeiro mapa (da construção do muro) só foi divulgado mais de um ano depois do início da obra.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Movimento Stop the Wall tenta esclarecer o mundo sobre muro erguido por Israel para isolar palestinos | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – Como foi o trabalho de vocês neste primeiro momento?
 
Maren – Uma das primeiras coisas que fizemos foi investigar o que estava acontecendo, buscar informações sobre que projeto estava sendo posto em prática. A nível nacional, o trabalho que fazemos é de organização de comitês populares e de apoio às lutas nas aldeias. A nível internacional, a primeira tarefa foi explicar ao mundo o que estava acontecendo. As pessoas não acreditavam que isso estivesse ocorrendo: a construção de um muro de oito metros de altura e quase 800 quilômetros de comprimento. Quando ouviam isso pela primeira vez, diziam que não era possível.

Sul21 – O que representa, para os palestinos, a construção desse muro?
 
Maren – Não é uma barreira de segurança. Não divide Israel da Cisjordânia. O muro separa os palestinos de seus campos, de suas escolas, de seus hospitais. O segundo passo do movimento Stop The Wall foi pensar em como podemos nos organizar para trabalhar juntos, em solidariedade, de uma forma que seja eficaz para derrubar o muro. Em 2004, tivemos a decisão da Corte Internacional de Haia, que disse que Israel precisa parar de construir o muro, que é algo ilegal. A segunda parte da decisão diz respeito à responsabilidade de outros países: outros estados não podem ajudar na construção do muro. Isso significa que não podem fazer contratos com empresas que estão envolvidas na construção do muro, dos assentamentos e de outras violações graves que Israel comete diante da lei internacional. A decisão de Haia prevê que devem ser impostas sanções para que Israel encerre essa política. Então surge, em 2004, o primeiro chamado à campanha por Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) em Israel. Em 2005, toda a sociedade civil e partidos políticos palestinos se unem a esse chamado.

Sul21 – Vocês acreditam que esta campanha possa ter o sucesso que teve a campanha por BDS em relação à África do Sul, na época do Apartheid?
 
Maren – A campanha por BDS em Israel tem um apelo muito mais forte e em muito menos tempo do que foi o caso da África do Sul. As pessoas sempre recordam da campanha de boicote contra a África do Sul no final dos anos 1980. Mas essa campanha começou no início dos anos 1960. Conversando com os ativistas que a organizaram, eles disseram que nunca conseguiram, em 20 anos, o que nós já estamos conseguindo em apenas oito anos. Isso se deve a vários fatores. De um lado, hoje podemos nos comunicar melhor. E a causa palestina já possui décadas de apoio sobre o qual se construiu a campanha de BDS. Isso é uma vantagem e um desafio. A África do Sul tinha, basicamente, como parceiros econômicos, somente a Inglaterra, a Europa e os Estados Unidos. Hoje, esta campanha pelo BDS é global. E está forte na Europa e fazendo progressos muito importantes nos Estados Unidos – na sociedade civil e nas universidades. Mas, se quisermos ter força, precisamos do apoio do Sul do mundo, da América do Sul e da Índia. É aí que Israel está encontrando seus mercados mais importantes, sobretudo porque Europa e Estados Unidos estão em crise.
”O Brasil se tornou uma das linhas de sustentação econômica que possibilitam a política de Israel”

Sul21 – Que países apoiam, hoje, direta ou indiretamente, a construção do muro?
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
” A cada compra dessas armas, o Brasil dá sustentabilidade às guerras e ocupações de Israel”, diz Maren Mantovani | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Maren – O mundo inteiro. Neste momento, são muito poucos os países que têm uma postura condizente com a legislação internacional. O Brasil fornece muita ajuda e assistência a essa e a outras violações cometidas por Israel. Dessa forma, acaba dando reconhecimento aos assentamentos israelenses e ao muro. Isso é uma completa contradição com a política do Itamaraty, que reconhece o Estado da Palestina nas fronteiras de 1967. O Brasil apoia o respeito à lei internacional e às resoluções da ONU. Por outro lado, por parte das relações econômicas, ocorre exatamente o contrário. O Brasil se tornou uma das linhas de sustentação econômica que possibilitam a política de Israel.

Sul21 – Vocês estudam as relações militares entre Brasil e Israel. De que forma elas ajudam os atos de Israel?
 
Maren – Israel é um país permanentemente em guerra, portanto a indústria militar tem uma importância fundamental – seja para que continuem suas guerras ou para a economia em geral. Toda produção militar de tecnologia e segurança nacional é muito importante para a economia israelense. Até 80% dessa produção é exportada. É claro que não existe mercado suficiente para isso em Israel, que possui seis milhões de habitantes. Então Israel exporta sua produção militar para o Sul do mundo. A índia é o maior importador de armas israelenses e o Brasil é o quarto. Em todas as Américas, somente a Colômbia compra mais armas de Israel. A cada compra dessas armas, o Brasil dá sustentabilidade às guerras e ocupações de Israel. Essas empresas militares israelenses, como a Elbit – que está localizada também em Porto Alegre -, não constroem somente os Drones (aviões não tripulados) que matam os palestinos. Constroem o muro e fazem parte de um sistema de ocupação.

Sul21 – Como está a reação – econômica e política – a essas empresas hoje no mundo?
 
Maren – Existe uma campanha global de boicote contra elas, especialmente contra a Elbit. Na Noruega, em 2009, o Ministério das Finanças decidiu pedir ao Fundo Nacional Pensionístico para desinvestir nessa empresa, em particular porque ela está construindo o muro e é parceira de um crime de guerra. Após essa decisão, outras instituições financeiras decidiram desinvestir na Elbit, incluindo 12 bancos nacionais europeus. Em 2012, o relator especial das Nações Unidas para os direitos humanos nos territórios ocupados na Palestina, Richard Falk, lançou um informe sobre as responsabilidades das empresas nos crimes de guerra de Israel. Novamente a Elbit foi nomeada como uma das empresas que precisamos boicotar. Isso foi dito na Assembleia Geral da ONU.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
“Claramente, Israel já possui poder de veto sobre a política externa do Brasil” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – Como tem sido a relação do movimento Stop the Wall com o governo brasileiro? Há uma crítica ao ministro Celso Amorim, que, quando estava no Itamaraty, adotava uma posição pró-Palestina e, agora, no Ministério da Defesa, continua comprando armas de Israel.
 
Maren - Celso Amorim se encontra em uma situação bastante difícil. Quando estava no Itamaraty, ele criou uma política de fortalecimento e integração da América do Sul e de relacionamento com o mundo árabe. Agora está em um ministério que tem toda essa relação militar com Israel. O Brasil não pode nem vender armas brasileiras para Venezuela e Bolívia – com as quais havia feito um pacto de defesa – porque existe esse acordo com Israel, então Israel veta (as vendas). O Brasil quer desenvolver sua indústria militar para fortalecer sua soberania nacional, mas com esses acordos com Israel, está derrubando completamente esses objetivos. O Itamaraty trabalha com alianças Sul-Sul e com o mundo árabe. O Brasil quer ter relações estratégicas com países que são considerados inimigos por Israel. Mas, com essas parcerias com Israel, sempre se encontrará em uma situação em que Israel impedirá suas políticas. Claramente, Israel já possui poder de veto sobre a política externa do Brasil.
“Os trabalhadores da Taurus estão sendo obrigados a produzir um rifle desenvolvido no sangue dos palestinos”

Sul21 – Houve tentativa de diálogo com Amorim quando ele asusmiu o Ministério da Defesa?
 
Maren – Partidos políticos e movimentos sociais da Palestina escreveram a ele, dizendo que sabiam que suas políticas eram diferentes do que vinha sendo adotado nos últimos oito anos pelo ministério. Eles pediram: “Por favor, leve em consideração não só as estratégias, mas também a responsabilidade com a lei internacional e os direitos dos palestinos. Acabe com essas relações militares entre Brasil e Israel”. E isso não está acontecendo. A sociedade civil brasileira tem um papel muito importante para pressionar o governo neste sentido. Atualmente, por exemplo, Israel está produzindo o rifle Tavor. Esse rifle começou a ser produzido no início da segunda Intifada e aprimorado no massacre de Gaza, em 2008 e 2009. O Exército brasileiro quer novos rifles. Então a Taurus estava desenvolvendo um novo protótipo para oferecer, mas o Exército disse que queria o rifle Tavor. O resultado, então, é que o Brasil tem um rifle que, em termos de produção de tecnologia, não é seu. Não sei como é exatamente o contrato entre a Taurus e a IMI, empresa israelense que fabrica este rifle, mas certamente eles recebem uma parte do valor dos rifles vendidos aqui. E os trabalhadores da Taurus estão sendo obrigados a produzir um rifle desenvolvido no sangue dos palestinos. Em seus sites, as empresas militares de Israel demonstram o quanto seus produtos são field-tested, testados em campo, no sangue dos palestinos. Eles dizem claramente que a guerra é uma grande oportunidade para a propaganda desses produtos.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
De acordo com Maren, “a cada jogo da Copa, a Palestina perderá sem nem entrar em campo” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – Com todos os investimentos feitos em segurança em função da Copa do Mundo de 2014, você acredita que as relações militares entre Brasil e Israel tendem a se intensificar nesse período?
 
Maren – Claro, isso já está acontecendo. Já sabemos que os VANT (Veículos Aéreos Não Tripulados) israelenses foram utilizados nos jogos Pan-americanos, no Rio de Janeiro. Foi apenas um teste para a Copa do Mundo. Na Inglaterra e na África do Sul, durante os megaeventos, as empresas israelenses fizeram a segurança e tiveram um lucro muito grande. É importante que se fale disso, que se faça pressão sobre isso. Porque senão, na Copa do Mundo, cada jogo vai se tornar um jogo em que a Palestina perde sem nem entrar em campo.

Sul21 – Como você avalia o acordo feito no dia 29 de abril entre o governo gaúcho e a Elbit para investimentos no polo aeroespacial do Rio Grande do Sul? Foi firmado um empreendimento que deverá construir no Estado a segunda base nacional para lançamento de satélites.
 
Maren – Primeiramente, quero destacar que quando Tarso Genro foi à Palestina, todo mundo, desde o primeiro-ministro Salam Fayyad, até toda a sociedade civil, mandou uma mensagem clara e unificada: “Esse contrato financia quem constrói o muro na Palestina e viola nossos direitos”. Como é possível que alguém que se colocou como nosso amigo, que comprou a briga para realizar o Fórum Palestina Livre – e todo mundo sabe que não foi fácil politicamente – tenha feito isso? Para nós, foi muito importante ele ter ido à Palestina. Todos, das autoridades ao povo, queriam hospedá-lo da melhor forma possível, para agradecer tudo o que ele tinha feito. Quando chegou a notícia desse contrato com a Elbit, nos sentimos apunhalados. O que aconteceu no governo do Rio Grande do Sul é o que também acontece a nível federal. Há uma linha política e se esquece completamente, ou se ignora, que a economia é política também. Eles dizem: “Fizemos um contrato. Onde está o problema político de se fechar um negócio?”. Mas acordos econômicos – se também são internacionais – sempre afetam seres humanos e podem, também, afetar seus direitos.
“Quem gasta dinheiro são os governos do Rio Grande do Sul e federal para financiar uma empresa israelense que constrói o muro e viola os direitos dos palestinos”
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Governo gaúcho está gastando dinheiro para financiar uma empresa que constrói o muro contra Palestina, diz integrante do Stop the Wall | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – Além de vocês criticarem politicamente o acordo, acreditam que trata-se de um investimento de risco?
 
Maren – Se tentou acusar os que se opunham ao contrato – tanto palestinos quanto movimentos sociais brasileiros – se não darem conta do desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Mas pedíamos apenas que tomassem em consideração mais critérios no debate e respeito aos direitos humanos, à lei internacional e às prioridades do Itamaraty. Hoje, as agências, bancos e institutos financeiros da Europa se opõem aos investimentos e envolvimentos nas ocupações israelenses. Não se importam com a Palestina, mas consideram esses investimentos um fator de risco. Existem fatores políticos de risco econômico. E também poderia ter-se vantagens realizando uma política econômica alinhada com os princípios estratégicos do Itamaraty. Apenas responder que “o Itamaraty não disse que não” não é o suficiente para se obter as vantagens que uma ação alinhada com as prioridades do Ministério das Relações Exteriores poderia gerar. Ao mesmo tempo, não isenta (o governo gaúcho) de responsabilidade. Afirmar que outros também realizam contratos com a Elbit apenas ressalta que outros também desrespeitam a lei internacional. Muitos pensam que é um investimento (da Elbit) no Estado, ou uma transferência de tecnologia ao Estado. Mas, pelo que sabemos, é um projeto de pesquisa e desenvolvimento. Então quem gasta dinheiro são os governos do Rio Grande do Sul e federal para financiar uma empresa israelense que constrói o muro e viola os direitos dos palestinos – e para criar, junto com as universidades gaúchas, tecnologia que Elbit ainda não possui, mas que, uma vez desenvolvida, provavelmente ficará sob seu controle, no que diz respeito ao uso e provável exportação dessa tecnologia.

Sul21 – Existem outras empresas com a mesma capacidade militar e tecnológica com as quais Brasil e Rio Grande do Sul poderiam construir parcerias?
 
Maren – O interessante é que Rio Grande do Sul, que não sabe construir satélites, fez uma parceria com a Elbit, que também não sabe construir satélite, para realizar um projeto aeroespacial. Então, de uma maneira ou outra, isso responde a pergunta. Claro que existem outras opções. A África do Sul está esperando por parcerias neste sentido com o Brasil. Já existem contratos importante com a Ucrânia, que, sim, sabe como funcionam os satélites. Mais do que discutir as características dos produtos de diferentes empresas, temos que discutir o que significa um desenvolvimento e pesquisas em parceria com Israel. É evidente que Israel nunca vai permitir que o Brasil detenha as propriedades de sua alta tecnologia. Isso porque o Brasil ainda possui – e espero que continue assim – relações com Venezuela, Bolívia, o mundo árabe e outros países considerados inimigos por Israel. Enquanto for assim, relações militares entre Brasil e Israel sempre vão constituir um problema de independência e de soberania nacional ao Brasil.

Sul21 – Se existem outras opções, porque o Brasil firma tantas parcerias neste sentido com Israel?
 
Maren – Altamiro Borges, em uma fala, disse: “No Brasil, a esquerda vence as eleições, mas quem tem o poder é a direita”. Creio que isso não é totalmente verdade. Existem mudanças e coisas que foram feitas nos últimos dez anos. Mas também é verdade que em todos os governos de coalizão há contradições nos ministérios. Se olharmos para o Ministério da Defesa, veremos que ainda existem generais da época da ditadura, porque não foi feita uma limpeza neste sentido. O PT entrou neste ministério somente com Celso Amorin. Em todos os governos, como no Rio Grande do Sul, existem contradições internas e diferentes visões.
“Os palestinos são muito mal representados na grande mídia – ou nem são representados. É a mesma lógica com a qual os movimentos sociais brasileiros são tratados”

Sul21 – Como tu avalias a realização do Fórum Social Mundial Palestina Livre em Porto Alegre, no ano passado?
 
Maren – Este fórum social foi muito importante para o movimento de solidariedade à Palestina. No Rio Grande do Sul e no Brasil em geral existe muita consciência e interesse de se fazer as coisas. A partir do Fórum Social Mundial Palestina Livre, se começou a criar uma coordenação de movimentos de solidariedade na América do Sul. Uma série de iniciativas e campanhas estão sendo geradas a partir do fórum. Ainda que não tenha sido o maior fórum social já realizado, em termos numéricos, o nível de qualidade dos participantes foi muito bom. As pessoas mais envolvidas neste tema, no mundo inteiro, de forma prática e estratégica, estiveram aqui. Mas, ao mesmo tempo, penso também que o fórum foi um momento de agregação. Agora, precisamos de um momento de dispersão: sair pelo mundo com essas ideias e planos, articulá-las e implementá-las em diversos países, cidades, regiões e universidades, empresas. Provavelmente, em um certo período de tempo, teremos de novo um momento em que essa centralização será necessária.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
” Com o reconhecimento do Estado da Palestina, a única coisa que Israel fez foi acelerar a construção dos assentamentos” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – Como a mídia tradicional trata o tema da Palestina?
 
Maren – Evidentemente, a grande mídia não diz o que queremos que diga. Mas as pessoas, às vezes, vêm com teorias da conspiração, afirmando que os judeus detêm o controle de toda a mídia. Isso não tem nada a ver com a religião, mas, sim, com a estrutura econômica. É evidente que a grande mídia não dará o ponto de vista de quem está sendo oprimido. A grande mídia é um instrumento do sistema capitalista e dá a visão do que interessa ao capitalismo e à manutenção do status quo. Os palestinos são muito mal representados na grande mídia – ou nem são representados. É a mesma lógica com a qual os movimentos sociais brasileiros são tratados. Nem é preciso fazer uma grande análise. Sofremos todos do mesmo problema. Esses veículos não falam de quem luta e de quem está oprimido. Falam de quem os paga.

Sul21 – Como o movimento Stop The Wall começou a voltar seus olhos para o Brasil e para a importância que as relações militares e econômicas do país com Israel possui para a causa palestina?
 
Maren – O movimento, desde muito tempo, tem esta visão de que é importante trabalhar com o tema da solidariedade Sul-Sul. Nos demos conta de que esta não é uma visão ideológica. Trata-se de uma urgência política, porque, analisando um pouco os fluxos econômicos e militares, se vê quanto os BRICs são importantes para Israel. Nem sequer precisamos fazer muitas pesquisas. Há documentos e claras manifestações dos ministros israelenses, que dizem que o interesse é nestes países. Particularmente, desde o início da crise econômica, em 2007 e 2008.

Sul21 – O reconhecimento pela ONU da Palestina como Estado observador não-membro das Nações Unidas foi bastante aclamado. Mas também é dito que o que é necessário é que Israel reconheça a Palestina.
 
Maren – Com o reconhecimento do Estado da Palestina, a única coisa que Israel fez foi acelerar a construção dos assentamentos. Creio que esse reconhecimento foi importante, pois comprometeu uma série de países com o apoio ao Estado Palestino. Com isso, eles têm a responsabilidade de não firmar contratos com empresas que estão destruindo esse Estado. Ao mesmo tempo, esse reconhecimento leva em consideração apenas uma parte dos problemas palestinos. Não leva em conta o problema dos refugiados palestinos e o fato de que existem palestinos que são cidadãos de Israel e vivem em uma situação de verdadeiro Apartheid. Israel não é uma democracia: ou se é judeu, ou não se tem os mesmos direitos. Existe um sistema institucionalizado do Apartheid. Cerca de 20% dos cidadãos de Israel são palestinos que vivem sob esse regime. Reconhecer o Estado da Palestina é apenas um passo, mas é evidente que não mudará nada para Israel. Israel não fará negociações sobre este tema se não houver pressões. Qualquer sindicalista entende que não se pode pensar que o empregador deixará de lucrar com o trabalho dos empregados somente com um pedido de aumento salarial. É preciso entrar em greve, o empregador precisa perder os lucros, e então se abre a negociação. É isso que queremos: que eles percam seus lucros, para que podemos ter alguma conquista.

domingo, 9 de junho de 2013

Israelenses falsificam documentos para confiscar terras palestinas

Israelenses falsificam documentos para confiscar terras palestinas

documentos-falsosRamallah – Autoridades palestinas detectaram dezenas de falsificações de documentos por companhias israelenses para expropriar terras e construir assentamentos paramilitares, afirmou um porta-voz oficial hoje.
Os títulos falsificados incluem 25 na aldeia de Marda, no nordeste da Cisjordânia, precisou Mohammad Elias, encarregado do governo palestino de rastrear casos relacionados com o chamado muro da ignominia e os assentamentos.
Documentos similares foram encontrados na aldeia de Qarawat Bani Hassan depois que na quinta-feira passada as autoridades da ocupação anunciaram a construção de uma estrada entre o assentamento de Maale Adumin e Jerusalém, levado à aprovação do comitê de planejamento do governo israelense, segundo o jornal Haaretz.
Estamos procurando todas as ferramentas legais para resistir as tentativas das companhias construtoras israelenses encarregadas de controlar e confiscar terras, disse Elias.
A construção de assentamentos paramilitares para emigrantes ultra-sionistas é um dos principais obstáculos para a retomada das conversas de paz, estancadas desde 2010.
Fonte: Prensa Latina

sexta-feira, 3 de maio de 2013

É preciso contar a verdadeira história da Palestina


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Palestina - Brasil de Fato- Deir Yassin, como acontecimento e como representação política, permanece como componente decisivo da luta palestina por liberdade, mas a história da qual o massacre faz parte continua a sujeitar-se ao preconceito – ou, mais especificamente, ao racismo – da academia e da mídia.

No início de abril os palestinos do mundo inteiro relembraram o massacre de Deir Yassin, ocorrido em 9 de abril de 1948. Na consciência palestina, o massacre, que tirou a vida de mais de 100 pessoas inocentes, representou a face cruel do sionismo – a base ideológica sobre a qual o Estado de Israel foi fundado. Ao longo dos anos, as lembranças aterradoras associadas a Deir Yassin transformaram-se em algo mais do que sua representação imediata como ato criminoso deliberado, com objetivos políticos, e sobreviveram como uma cicatriz permanente no centro de uma memória coletiva carregada de muitos massacres como o de Deir Yassin.
Deir Yassin, como acontecimento e como representação política, permanece como componente decisivo da luta palestina por liberdade, mas a história da qual o massacre faz parte continua a sujeitar-se ao preconceito – ou, mais especificamente, ao racismo – da academia e da mídia.
O massacre de Deir Yassin é amplamente aceito no pensamento israelense e ocidental porque os líderes sionistas da época desejavam destacá-lo como uma tática terrorista bem-sucedida para tirar centenas de milhares de palestinos das terras que lhes pertenciam. Entretanto, outros massacres cometidos pelas forças sionistas durante a Nakba (catástrofe) palestina passam ao largo do conhecimento israelense e ocidental sobre a Palestina e sua história encharcada de sangue, e isso porque esses massacres foram contados, em sua maioria, apenas pelos palestinos.
Trata-se de uma tragédia na qual nem a vítima obtém justiça nem sua vitimização é admitida por aquilo que foi e é. Muitos massacres cometidos contra palestinos estão ocultos porque, a menos que sejam reconhecidos por historiadores israelenses, para as audiências ocidentais é como se eles nunca tivessem acontecido.
Somente quando o jornalista israelense Amir Gilat decidiu publicar um artigo, alguns anos atrás, no jornal israelense Ma'ariv, citando a pesquisa de Theodore Katz, estudante de pós-graduação de Israel, foi que a mídia ocidental reconheceu, ou ao menos concordou em debater, o massacre de Tantura. Pouco lhes importou que descendentes e familiares das 240 vítimas dessa vila destroçada, assassinadas a sangue-frio pelas tropas da Brigada Alexandroni, nunca cessassem de relembrar seus entes queridos.
Ao longo dos 65 anos da conquista sionista da Palestina e do início do "problema dos refugiados palestinos" – que também pode ser lido como "genocídio" por quem ousa enfrentar as sensibilidades israelenses-ocidentais –, a história da Palestina vem sendo filtrada pelos mesmos mecanismos de décadas atrás. No entanto, é hora de o direito à narrativa verossímil, até agora reservado aos historiadores israelenses, ser assumidamente desafiado.
Quem cavar fundo o texto histórico palestino ficará admirado com a história verdadeira de seu povo, suas muitas tragédias e suas volumosas, fascinantes narrativas de uma civilização profundamente arraigada, insuperável em suas singularidade e continuidade históricas. A representação – ou falsificação – da narrativa palestina, porém, existe na academia, na mídia e até mesmo na imaginação popular ocidentais, tecida por um "conhecimento" cuidadosamente fabricado com o qual os narradores israelenses gentilmente decidiram revesti-la. Remova-se o vínculo israelense com a compreensão ocidental sobre tudo o que diz respeito à Palestina e ter-se-á um espaço vazio de textos desconexos que têm muito pouco de um discurso alternativo.
O caso de Deir Yassim foi largamente aceito como massacre porque historiadores israelenses como Benny Morris – um pesquisador razoavelmente honesto que permaneceu comprometido com o sionismo, a despeito da história macabra que ele mesmo descobriu – admitiram sua existência como fato histórico. "Famílias inteiras foram perfuradas por balas [...] homens, mulheres e crianças foram chacinados à medida que saíam de suas casas; indivíduos eram postos de lado e assassinados. A inteligência da Haganah relatou: 'Havia pilhas de mortos. Alguns dos detidos, levados a locais de encarceramento, incluindo mulheres e crianças, eram cruelmente assassinados por seus captores [...]".
Foram as milícias sionistas do Irgun, de Menachem Begin, e da Stern Gang, lideradas por Yitzhak Shamir, que receberam o crédito pela infâmia cometida naquele dia – e ambos os líderes foram generosamente recompensados pela atrocidade de seus atos. Anos depois, esses homens passaram da condição de criminosos procurados para a de primeiros-ministros.
O massacre de Tantura tem uma boa chance de deixar de ser mera ficção palestina e tornar-se história verdadeira porque um estudante israelense resolveu desafiar o discurso oficial de seu país, que insiste em retratar Israel como um oásis de democracia e de pureza histórica.
Numerosas vilas palestinas e seus habitantes, submetidos ao genocídio de 1948 (conhecido, nos círculos polidos, como "limpeza étnica"), não conseguiram fazer o corte histórico, como se continuassem a esperar que um historiador israelense validasse a afirmação de que esse genocídio realmente ocorreu.
Numa comunicação recente, o dr. Salman Abu Sitta, um dos principais historiadores palestinos da Nakba, disse: "A ironia é que aquilo que o suspeito Benny Morris e o respeitado Ilan Pappé escreveram é o que os palestinos vêm dizendo há mais de seis décadas. A mídia dominada pelo sionismo é surda e muda. Trata-se do orientalismo em sua pior forma". Sem dúvida.
Massacre de Tantura
O assunto, entretanto, é tão relevante hoje como era há 65 anos. Os descendentes dos que sobreviveram à Nakba e às subsequentes guerras e massacres são, em sua maioria, refugiados na própria Palestina ou em outros países do Oriente Médio e do mundo. Nem seus ancestrais receberam justiça, nem a geração atual obteve a restituição do que pertencia a seus ascendentes. De Deir Yassim a Tantura, de Ain Al Hilweh a Yarmouk e Jabalya, a escala de sofrimento é a mesma, e permanente.
Mas isso precisa mudar. Sem uma narrativa palestina autêntica, isenta de adulterações, nenhum entendimento verdadeiro da Palestina e de seu povo – até mesmo por aqueles considerados simpáticos à causa palestina – pode ser alcançado. Uma narrativa centrada em relatos que reflitam a história, a realidade e as aspirações da gente comum permitirá uma compreensão genuína da verdadeira dinâmica que move o conflito. Essa narrativa, que faz justiça a toda uma geração de palestinos, é poderosa o bastante para desafiar a parcialidade e a polarização atuais.
Deir Yassin deve ser tão relevante para o presente como essencial para revelar o passado. Não apenas existiram muitos massacres como Deir Yassin, de variadas formas, como Deir Yassim é o microcosmo de um drama muito maior, que continua acontecendo na Palestina. Se o Deir Yassin original, e outros massacres, forem desprezados, considerados anomalias históricas irrelevantes, então o presente permanecerá contaminado e incompreendido.
É tempo de os historiadores palestinos darem um passo adiante e reivindicarem o que é, essencialmente, a sua narrativa, desafiando os preconceitos da mídia e avançando, com coragem, além dos limites permitidos por Israel, desafiando também, portanto, o controle intelectual sobre o discurso palestino.
*Ramzy Baroud, palestino da diáspora, é colunista internacional e editor do site Palestine Chronicle (http://palestinechronicle.com). Seu mais recente livro é My Father Was a Freedom Fighter: Gaza's Untold History [Meu pai era um revolucionário: a história não contada de Gaza], publicado pela Pluto Press.