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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Uruguai: a aldeia gaulesa da América do Sul....


O Uruguai, a aldeia que salva o mundo


uruguai Renato Dalto (*)
Caía a tarde naquela praia pequena e os músicos davam o tom num palco improvisado. Até que um deles, o jovem bandoneonista de jeans e sem camisa, resolveu solar no tecladoAdios Noniño. Fez-se então aquele esparramar de notas melancólicas, aquela agudeza de dilacerar das notas de Piazzolla e a vida seguiu assim, na calma daquele crepúsculo. Em vez de buzinas, som bate-estacas, burburinho, viam-se na volta pais e filhos passeando na areia, cachorros brincando, as primeiras luzes ensaiando a noite e mais um fim de dia em Punta del Diablo. Naquela pequena aldeia, gente de todos os lados, como se buscasse apenas isso: um entardecer com notas suaves, uma noite descendo aos poucos, um elo perdido que deixou pra trás os silêncios, as caminhadas serenas, os passeios pela beira do mar. O mar de Galeano, que descreve o menino vendo-o pela primeira vez, agarrado à mão do pai, e faz um pedido diante da imensidão: “Me ajuda a olhar”.
Dizem que agora os olhos do mundo se voltam para esse país-aldeia de meninos e idosos que se dão ao luxo de andar sozinhos à noite na capital do país. Montevidéu é a vida em festa nas noites, tardes ou manhãs. Espoucam no sul brasileiro cartazes expondo um “Uruguay natural”, como se convidassem a uma visita ao que naturalmente se perdeu neste mundo de encontros virtuais, cartões de crédito, automóveis em excesso e níveis insuportáveis de monóxido de carbono. Poderia até haver outras chamadas dizendo, por exemplo: Venha ao Uruguai encontrar o que você achou que não existia mais.
O Uruguai expõe ao mundo um presidente, Pepe Mujica, que em seu discurso de posse anunciou: “Meu governo terá quatro prioridades: educação, educação, educação e educação”. Educação civilizatória, é bom que se diga. A Frente Ampla, um governo de esquerda, está em seu segundo mandato histórico no país. E desde então, os donos de sempre- banqueiros, latifundiários e privilegiados em geral – foram taxados em suas fortunas e vem se exercendo justiça tributária. E também as crianças da escola ganharam computadores, e nos rincões mais distantes há professores pagos pelo governo para ensinar filhos de camponeses. O poder dos salários dos trabalhadores aumentou e o salário do presidente, voluntariamente, diminuiu.
Mujica doa mais de 80% do que ganha às instituições de caridade, mora na sua pequena chácara, dispensa a liturgia e o formalismo e segue o que sempre foi: um homem fiel às ideias de justiça, igualdade e liberdade. Não exerce o poder em nome próprio, mas sim como o seguidor de uma cartilha que acredita. Uma das afirmações de Mujica: As ideias são mais importantes que os nomes.
Uma bela idéia de país, quase de um conto de fadas, é de que há direitos fundamentais não escritos mas que deveriam sempre ser respeitados. Como, por exemplo, ter consideração e cuidado com os mais velhos, ter liberdade de ir e vir sem temer assaltos, caminhar seguro pelas praças, respeitar e ser respeitado em lugares públicos. Na noite uruguaia, é comum se ver famílias inteiras se divertindo juntas, num saudável encontro de gerações. País pequeno e verde, campesino, produtor de carne, vinhos e lacticínios mas, sobretudo, produtor de bons hábitos e de direitos que envolvem reciprocidade e educação – o respeito começa em casa e se propaga pelas escolas, ruas e praças. Parece que nada é mais encantador do que essa batida da simplicidade regulando a vida.
A mídia que voltou os olhos para isso tem como o acender da fogueira a eleição doThe Economist, o jornal inglês dos ricos que elegeu o Uruguai o país do ano. Houve estranhamento nisso, observações pejorativamente preconceituosas, como se essa simplicidade toda incomodasse nessa guerra de informações e lorotas que virou o mundo e sua aldeia hi tech. O Uruguai é uma aldeia onde vale muito um aperto de mão, um olho no olho, um buenos dias sincero.
Volta a imagem de Adios Noniño, uma obra-prima de Astor Piazzolla cuja história remete a algo assim: um menino de 12 anos chamado Astor tocava na noite porteña, num bar. Todas as noites o avô, el noniño, o levava pela mão e ficava numa mesa, num canto, esperando o neto terminar de tocar. Depois o levava pra casa, pela mão, carregando também na outra mão o bandoneon. Quando Astor cresceu, e se tornou célebre, um dia recebeu a notícia da morte do avô. Estava longe demais, mas na noite melancólica daquela perda, se debruçou sobre o bandoneon e compôs Adios Noniño.
Essas notas do adeus, dilacerantemente belas e arrebatadoras, ganharam o mundo, os corações, comovendo gente em todos os lugares. Naquela praia pequena, de uma aldeia que agora ganha o mundo, aquele bandoneonista jovem e descontraído relembrava a céu aberto, respeitosamente, tudo o que essas notas significam. A tarde caiu mais bela nesse dia num pedaço de mar uruguaio. Um mar de respeito e silêncios. Um mar que a gente tem que aprender a olhar.
*jornalista

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Aniversário da morte de Charles Chaplin


RECENT ARTICLES

Hoje na História: 25/12/1977 - Morre Charlie Chaplin, ator e cineasta inglês



No dia 25 de dezembro de 1977 morria, em Corsier-sur-Vevey, na Suíça, Charles Spencer Chaplin, mais conhecido como Charlie Chaplin, mundialmente famoso pelas suas atuações nos filmes do cinema mudo. Ele também foi diretor, produtor, empresário, escritor, roteirista e músico. Nascido no dia 16 de abril de 1889, em Londres, ele fazia bastante uso da mímica e do pastelão. Chaplin atuou em filmes como “O Imigrante”, “O Garoto”, “Em Busca do Ouro”, “O Circo”, “Luzes da Cidade”, “Tempos Modernos”, “O Grande Ditador”, “Luzes da Ribalta”, “Um Rei em Nova York” e “A Condessa de Hong Kong”. Seu principal e mais famoso personagem ficou conhecido como Carlitos ou "O Vagabundo" no Brasil. Trata-se de um andarilho pobre de modos refinados. Com o seu bigodinho típico, ele vestia um fraque preto desgastado, assim como suas calças e sapatos, estes maiores do que o seu pé, além cartola e bengala. Em 1952, Chaplin deixou os EUA e nunca mais voltou, pois teve seu visto negado por conta da perseguição ideológica que sofria na época do macarthismo. Depois disso, ele decidiu viver na Suíça. Chaplin é o cineasta mais homenageado de todos os tempos. Ainda em vida foi condecorado Cavaleiro do Império Britânico, recebeu a Ordem Nacional da Legião da Honra (França), Doutor Honoris Causa (Universidade de Oxford) e ganhou o Oscar especial pelo conjunto da obra em 1972.

Mais que de máquinas, precisamos de humanidade.
A persistência é o caminho do êxito.
Nada é permanente nesse mundo cruel - nem mesmo os nossos problemas.
Por simples bom senso, não acredito em Deus. Em nenhum.

Um dia sem rir é um dia desperdiçado.


Charlie Chaplin

Natal em Cuba: razões para comemorar


Socialismo continuará na ilha, e o propósito é que seja próspero e sustentável,
Créditos: OPERAMUNDI
O socialismo continuará na ilha, e o propósito é que seja próspero e sustentável, segundo os lineamentos aprovados pelo Partido Comunista de Cuba e que marcam o processo de mudanças na nação caribenha.

Trata-se de outro momento histórico no processo revolucionário cubano, que se tem sustentado na unidade da nação e na resistência à hostilidade de sucessivas administrações dos Estados Unidos.

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Cuba debate

Líder da Revolução Cubana, Fidel Castro recebeu Nicolás Maduro em Havana no último sábado

Não foi fácil chegar até aqui. Cuba tem suportado o bloqueio mais longo da história, pelo qual se nega ao país investimentos, financiamento, avanços tecnológicos, medicamentos e alimentos.

Os cubanos pagaram ademais um alto preço: mais de três mil pessoas morreram e semelhante quantidade ficou ferida ou mutilada por atos terroristas financiados e apoiados pelos EUA. Ataques armados, sabotagens, atentados aos líderes da Revolução, agressões biológicas, planos de subversão interna e de isolamento externo fizeram parte do arsenal contra a pequena ilha caribenha.

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Mas nada disto desviou um milímetro a trajetória do processo cubano que transformou quartéis em escolas, impulsionou a reforma agrária, liquidou o latifúndio e nacionalizou setores vitais da economia.

Não foi casual que o líder histórico dos cubanos, Fidel Castro, declarou em abril de 1961 o caráter socialista da Revolução, em vésperas da invasão mercenária pela Baía dos Porcos, cuja derrota foi qualificada em Cuba como a primeira derrota do imperialismo ianque na América Latina.

Desde então o caminho tem estado cheio de obstáculos, mas também de avanços e conquistas que hoje, em meio a dificuldades econômicas, se mantêm, e o propósito é torna-la mais eficientes.

Reprodução Cuba Magazine

Encontro histórico entre Barack Obama e Raúl Castro


Cuba encerrou o ano com a menor mortalidade infantil e materna de sua história, obra de um sistema de saúde pública que não só chega a todos os rincões do país, mas que se estende a numerosas nações.

A maior das Antilhas está entre os 50 países com maior proporção de pessoas com 60 anos ou mais, o que é interpretado como resultado da política de desenvolvimento social e direitos humanos.

Grande parte dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio está cumprida nesta terra, cuja vizinhança com a maior potência do planeta é uma espada de Dâmocles, em particular pela política de bloqueio.

Mesmo assim, seus indicadores situam Cuba como um país de elevado desenvolvimento humano, que ocupa o 51º lugar entre 187 países.

Por sua parte, a Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (Unesco) coloca Cuba no 14º lugar no mundo em seu Índice de Desenvolvimento da Educação para Todos.

De um país anteriormente de monocultura da cana de açúcar, a economia cubana se sustenta hoje mais em seu capital humano, especialistas em saúde, educação e outros que fazem dos serviços a fonte mais importante de receitas.

As transformações apontam a empresa socialista como a pedra angular do sistema econômico, mas abrem espaços a outras formas de produção que incluem as cooperativas e o trabalho por conta própria.

Uma particularidade é que os mais de 400 mil trabalhadores por conta própria têm garantida a seguridade social, diferentemente de outras nações onde os que vivem da chamada economia informal não têm esse direito.

A atualização da política migratória, o novo Código do Trabalho, a criação da Zona de Desenvolvimento Especial de Mariel (no oeste), a entrega de terras em usufruto, são algumas das medidas e passos das mudanças sem pausa, mas sem pressa, que têm lugar na ilha.

Ao mesmo tempo, o marco legal e institucional do país para a atualização do modelo econômico se constrói sobre a base da justiça social e da solidariedade.

Vinculado a toda esta atividade, Cuba conseguiu este ano importantes avanços na renegociação de sua dívida externa, em particular o acordo com a Rússia a respeito do perdão do débito existente com a antiga União Soviética.

O presidente Raúl Castro tem sido enfático na posição de princípios de honrar os compromissos financeiros do país, cuja credibilidade na matéria cresceu e abre novas possibilidades de investimentos e financiamento.

Segundo as autoridades, os dois próximos anos serão decisivos para o processo de atualização, com a consolidação de experimentos e a aplicação de outros, incluídos os primeiros passos para a unificação monetária e cambial que permitirá melhores controles dos parâmetros da economia.

Enquanto isso, os cubanos têm por estes dias razões para celebrar e esse espírito se respira nas ruas, centros de trabalho e estudo onde as felicitações, trocas de presentes e comemorações mostram confiança no futuro.

Assim ocorreu neste 24 de dezembro, onde o tema predominante é a celebração do Natal em família, antessala da despedida de 2013 e da chegada do 56º ano da Revolução.

(*)  Texto originalmente publicado no portal Cubadebate / Blog da Resistência e republicado pelo Portal Vermelho

sábado, 7 de dezembro de 2013

O Evangelho segundo Mandela

O Evangelho segundo Mandela
Não podemos nos esquecer que países como Israel, EUA e Inglaterra apoiaram durante décadas o regime do apartheid. Se dependesse deles, Mandela teria morrido na prisão, a África do Sul ficaria afundada no caos e o mundo não teria a oportunidade de fabricar a lenda do novo Messias
por Alain Gresh
Um herói do nosso tempo”, afirmava o Courrier Internacional de junho de 2010. “Ele mudou a história”, valoriza ainda mais a revista Le Nouvel Observateur de maio de 2010. Acompanhadas de fotos de Nelson Mandela sorridente, essas duas capas são o testemunho de uma adoração quase unânime, a qual o filme Invictus, do diretor Clint Eastwood, levou à apoteose. Com a Copa do Mundo de futebol, se intensifica o culto ao profeta visionário que rejeitou a violência e guiou seu povo em direção a uma terra prometida onde vivem, em harmonia, negros, mestiços e brancos. O presídio de Robben Island, onde ele ficou encarcerado por 18 anos, passou a ser lugar de visitação obrigatória para turistas estrangeiros, e lembra um passado um pouco nebuloso, do tempo em que oapartheid desonra e suscita condenação universal, em primeiro lugar, a dos democratas ocidentais.
Cristo foi morto na cruz há aproximadamente dois mil anos. Muitos pesquisadores se perguntam sobre a correspondência entre o Jesus dos Evangelhos e o Jesus histórico. O que conhecemos da vida terrestre do “filho de Deus”? De quais documentos dispomos para definir sua pregação? Os testemunhos resgatados no Novo Testamento são realmente confiáveis?
Diante de tantas questões, podemos presumir que é mais fácil definir o “Mandela histórico”, já que temos um Evangelho escrito por seu próprio punho1, além de várias testemunhas diretas. A lenda Mandela pareceria, então, um tanto quanto distante da realidade, como essa do Jesus dos Evangelhos, uma vez que seria intolerável admitir que o novo messias tivesse sido um “terrorista”, “aliado dos comunistas” e da União Soviética (aquela do “gulag”), um revolucionário determinado.
O Congresso Nacional Africano (CNA), aliado estratégico do partido comunista sul-africano, se lançou na luta armada, em 1960, depois do massacre em Sharpville, que deixou dezenas de mortos entre os negros que protestavam contra o sistema de pass(espécie de passaportes internos do país). Mandela, até então adepto da luta legal, acabou persuadido: jamais a minoria branca renunciaria pacificamente ao seu poder, às suas prerrogativas. Tendo, num primeiro momento, privilegiado as sabotagens, o CNA utilizou também, de maneira limitada, a arma do “terrorismo”, não hesitando em colocar algumas bombas em cafés.
Preso em 1962 e condenado, Mandela rejeitou, a partir de 1985, várias ofertas de libertação em troca da sua renúncia à violência. “Sempre é o opressor, e não o oprimido, quem determina a forma da luta. Se o opressor utiliza a violência, o oprimido não tem outra escolha do que responder com violência”, escreve ele em suas Memórias. E somente a violência, apoiada por mobilizações populares crescentes e sustentada por um sistema internacional de sanções cada vez mais coercitivas, pôde, com o passar do tempo, demonstrar a ineficiência do sistema repressivo e levar o poder branco ao arrependimento moral. Com o princípio “um homem, uma voz”, Mandela e o CNA souberam então mostrar flexibilidade na implementação da “sociedade arco-íris” e nas garantias concedidas à minoria branca.
A estratégia do CNA se beneficiou do apoio material e moral da União Soviética e da “facção socialista”. Vários dos seus dirigentes foram formados e treinados em Moscou e Hanói. O combate se estendeu por toda a África Austral, onde o exército sul-africano tentou estabelecer sua hegemonia. A intervenção das tropas cubanas em Angola, em 1975, e as vitórias que alcançaram, especialmente em Cuito-Cuanavale, em janeiro de 1988, contribuíram para desestabilizar a máquina de guerra do poder branco. A batalha de Cuito-Cuanavale constituiu, segundo Mandela, “um momento decisivo na libertação do nosso continente e do meu povo2”. Anos depois, em 1994, Fidel Castro foi um dos convidados de honra na posse de Mandela na presidência.
No choque entre a maioria da população e o poder branco, os Estados Unidos, o Reino Unido, Israel e a França (esta última até 1981) combateram do “lado errado”, o lado dos defensores do apartheid, em nome da luta contra o perigo comunista. Chester Croker, principal homem da política de “compromisso construtivo” do presidente Ronald Reagan na África Austral, escreveu à época: “Por sua natureza e história, a África do Sul faz parte da experiência ocidental e é parte integrante da economia ocidental”. Washington, que tinha apoiado Pretória em Angola, em 1975, não hesitou em contornar o embargo sobre as armas e colaborar estreitamente com os serviços de informação sul-africanos, rejeitando qualquer medida coercitiva contra o poder branco. Esperando uma evolução gradual, a maioria negra teve que adotar uma postura moderada.
Em 22 de junho de 1988, 18 meses antes da libertação de Mandela e da legalização do CNA, o subsecretário do Departamento de Estado americano, John C. Whitehead, ainda explicou para a comissão do Senado: “Nós devemos reconhecer que a transição para uma democracia não racial na África do Sul tomará inevitavelmente mais tempo do que gostaríamos”. Ele pretendia que as sanções não tivessem nenhum “efeito desmoralizador sobre as elites brancas” e que penalizassem, em primeiro lugar, a população negra.
No último ano do seu mandato, Ronald Reagan tentou uma última vez – e sem sucesso – impedir o Congresso americano de punir o regime do apartheid. Foi na época em que ele celebrava “os combatentes da liberdade” afegãos e nicaraguenses e denunciava o terrorismo do CNA e da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

Terroristas?

O Reino Unido não ficou de fora; o governo de Margaret Thatcher recusou qualquer encontro com o CNA até a libertação de Mandela, em fevereiro de 1990. Na reunião internacional do Commonwealth em Vancouver, Canadá, em outubro de 1987, ela se opôs à adoção de sanções. Interrogada sobre as ameaças do CNA em prejudicar os interesses britânicos na África do Sul, respondeu: “Isso mostra o quão banal é esse grupo terrorista [CNA]”. Nesse período, a associação de estudantes conservadores filiados ao seu partido, distribuiu panfletos proclamando: “Enforquem Nelson Mandela e todos os terroristas do CNA! São carniceiros”.
Agora, em 2010, o novo primeiro-ministro conservador, David Cameron, decidiu enfim se desculpar por esse comportamento. Mas, rapidamente, a imprensa britânica refrescou sua memória, lembrando que ele mesmo foi à África do Sul, em 1989, a convite de um lobbyantissanções.
Já Israel permaneceu até ao fim como aliado indefectível do regime racista de Pretória, fornecendo-lhe armas e ajudando em seu programa militar nuclear e de mísseis. Em abril de 1975, o atual presidente israelense, Shimon Peres, então ministro da Defesa, assinou um acordo de segurança entre os dois países. Um ano mais tarde, o primeiro-ministro sul-africano, Balthazar J. Vorster, antigo simpatizante nazista, foi recebido com todas as honras em Israel. Os responsáveis pelos dois serviços de informação se reuniam anualmente e coordenavam a luta contra “o terrorismo” do CNA e da OLP.
E a França? Bem, aquela do general De Gaulle e de seus sucessores de direito teceu relações tranquilas com Pretória. Numa entrevista publicada no Nouvel Observateur, Jacques Chirac se glorificava do seu antigo apoio a Mandela. Ele tem, assim como muitos políticos da direita, memória curta. Primeiro-ministro em 1974 e 1976, Chirac sancionou, em junho de 1976, o contrato com a Framatome para a construção da primeira central nuclear na África do Sul. Nessa ocasião, o editorial do Le Monde observou: “A França está em curiosa companhia entre o pequeno pelotão de parceiros julgados ‘de confiança’ por Pretória”. “Viva a França. A África do Sul se torna uma potência atômica”, dizia na ocasião o jornal sul-africano Sunday Times. Se, claramente sob pressão dos países africanos, Paris decidiu, em 1975, não vender mais armas diretamente à África do Sul, a França honrou por muitos anos ainda os contratos em andamento, enquanto seus blindados Panhard e helicópteros Alouette e Puma eram construídos localmente com a devida autorização.
Apesar do discurso oficial de condenação ao apartheid, Paris manteve, até 1981, várias formas de cooperação com o regime racista. Alexandre Marenches, o homem que dirigiu o serviço de documentação exterior e de contraespionagem (SDECE) entre 1970 e 1981, resume a filosofia da direita francesa: “O apartheid é, certamente, um sistema que devemos lastimar, mas é preciso fazê-lo evoluir calmamente”3. Se o CNA tivesse escutado seus conselhos de “moderação” (ou aqueles do presidente Reagan), Mandela teria sido morto na prisão, a África do Sul teria se afundado no caos e o mundo não teria a oportunidade de fabricar a lenda do novo messias.
Alain Gresh é jornalista, do coletivo de redação de Le Monde Diplomatique (edição francesa).

Ilustração: Daniel Kondo


“1Long walk to freedom, Little Brown, Estados Unidos, 1995.
2 Ronnie Kasrils, “Turning point at Cuito Cuanavale”, 23 de março de 2008, www.iol.co.za/.
3 Christine Ockrent, Alexandre de Marenches, Dans le secret des princes (Dentro do segredo dos príncipes), Stock, Paris, 1986.

domingo, 1 de dezembro de 2013


10 mulheres fantásticas que lideraram rebeliões


Homens revolucionários como Che Guevara são rotulados como heróis por liderarem as principais rebeliões contra “o Homem”. Porém, esquecidas pela história são mulheres que assumiram poderes muito maiores do que Fulgencio Batista. Ao longo dos séculos, elas estiveram à frente de rebeliões e revoluções que tomaram o poder do Império Romano e da grande riqueza da Companhia Britânica das Índias Orientais. Confira:

10. Yaa Asantewaa

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Yaa Asantewaa, descrita como a Joana D’Arc africana, foi Rainha Mãe da região Edweso, parte do antigo Reino Asante e agora Gana moderna. Nascida por volta de 1830, ela era a irmã de Kwasi Afrane Panin, que se tornou chefe de Edweso quando Yaa era jovem. Nas proximidads ficava a chamada Costa do Ouro, de onde os britânicos conduziram uma campanha contra o Império Asante, taxando, convertendo e tomando o controle de grandes áreas de seu território tribal, incluindo minas de ouro.

Quando o Asante começou a resistir à dominação britânica, o governador Lord Hodgson decidiu tomar o Sika ‘dwa, uma espécie de trono sagrado daquele povo e símbolo de sua independência. Para impor as suas exigências, o capitão C. H. Armitage foi enviado para intimidar a população. Armitage ia de aldeia em aldeia batendo em crianças e adultos, na esperança de obter o trono. Eventualmente, o Rei de Asante, Nana Osei Agyeman Prempeh I, junto com 55 de seus chefes e parentes, foram forçados ao exílio.
Pouco tempo depois, em 28 de março de 1900, o que restou da monarquia foi reunido e o capitão britânico exigiu mais dinheiro. Yaa, a única mulher presente, fez um famoso discurso para os britânicos, no qual se recusava a pagar mais de seus impostos. Ela também ofereceu suas roupas íntimas em troca das tangas de qualquer chefe Asante não disposto a lutar governo imperial tirânico.
Este discurso provocou a Guerra de Independência Yaa Asantewaa, que começou naquele mesmo dia. Como líder da revolução, Yaa montou um exército pessoal de mais de 4.000 soldados. Durante três meses, ela foi capaz de sitiar a fortaleza britânica em Kumasi. Depois de sofrerem baixas no combate inicial, reforços britânicos da Nigéria precisaram ser chamados para lidar com a problemática Yaa. Utilizando tecnologia superior, a tática da terra arrasada e recompensas financeiras para os traidores, a Rainha Mãe foi presa em 3 de março de 1901. Ela foi enviada para o exílio, onde acabou por morrer aos 90 anos.

9. Corazon Aquino

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Corazon “Cory” Aquino era uma mulher filipina que, em 1986, liderou o primeiro governo democraticamente eleito das Filipinas desde antes da ocupação japonesa. Nascida em 1933, casou-se com Benigno “Ninoy” Aquino depois de se formar na Mount St. Vincent College, em Nova York (EUA). Ninoy Aquino tornou-se um crítico ferrenho do ditador das Filipinas, Ferdinand Marcos, que estava no controle do país desde 1965. Em 1972, Ninoy foi detido pela polícia, preso por oito anos e depois exilado para os EUA. Quando ele foi autorizado a voltar para casa, em 1983, foi assassinado pelo governo no momento em que chegou.

Esta execução sangrenta, juntamente com uma economia em declínio, deram à oposição de Ferdinand um impulso. Cory, indignada com a morte do marido, assumiu o controle da oposição, apesar da possibilidade de estar potencialmente enfrentando o mesmo destino que ele. Em 1985, uma eleição encenada foi realizada para legitimar o governo de Marco. Relutante em se candidatar num primeiro momento, ela só fez isso depois de receber um livro de um milhão de assinaturas que expressavam apoio à sua campanha.
Durante um debate, depois de ter sido agredida verbalmente por seu gênero e inexperiência política, Cory mostrou um dedo do meio metafórico a Marco, concordando que ela “não tinha experiência em enganar, mentir para o povo, roubar o dinheiro do governo e matar adversários políticos”.
No final da eleição, em fevereiro de 1986, Marco “ganhou” com uma grande porcentagem dos votos. O Senado dos EUA e Igreja Católica acusaram o ditador de fraude eleitoral e Cory pediu protestos pacíficos, greves e boicotes. O movimento ficou conhecido como People Power Revolution – freiras e famílias inteiras, incluindo crianças, participaram do momento histórico. Em uma última tentativa de recuperar o controle da população, Marcos ordenou ao exército disparar contra os revolucionários pacíficos. Os militares se recusaram a seguir suas ordens e muitos desertaram ou retornaram às suas bases.
Até o final de fevereiro, o ditador foi forçado a fugir e Corazon Aquino tornou-se presidente de um governo democraticamente eleito.

8. Laskarina Bouboulina

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Laskarina Bouboulina era uma comandante naval grega e capitã revolucionária que lutou na bem-sucedida Guerra da Independência grega contra os otomanos. Em maio de 1771, Laskarina nasceu durante a visita de sua mãe a uma prisão de Constantinopla. A menina era filha de um capitão naval grego que tinha sido preso e separado de sua esposa grávida durante um golpe de Estado fracassado contra o Império Otomano.

Após a morte de seu pai, Laskarina mudou com sua mãe para a ilha de Spetses. Foi lá que se casou duas vezes, ambas em famílias ricas. Usando o dinheiro que ela tinha recebido a partir dessas relações, construiu quatro navios, incluindo o Agamenon, um dos maiores navios da época. Bouboulina tornou-se a única mulher a participar do Filiki Etairia, um movimento revolucionário grego que tinha o intuito de expulsar os otomanos. Em 13 de março de 1821, 12 dias após o grupo começar a Guerra da Independência, Laskarina levantou a primeira bandeira revolucionária do conflito sobre a ilha de Spetses.
Em 3 de abril, Spetses se juntou à revolução, seguida pelas ilhas de Hydra e Psara. Agora comandando oito navios, Laskarina juntou-se ao bloqueio da fortaleza otomana em Nafplion. Mais tarde, ela atacou Monemvasia e Pylos, gastando quase toda sua enorme fortuna apenas nos dois primeiros anos da guerra que, ao final, levou à criação de um Estado grego.
Como a Grécia tornou-se fragmentada em facções, Laskarina foi presa duas vezes antes de ser exilada em Spetses. Sem um fim heróico, ela mais tarde foi baleada em uma disputa familiar. Não há dúvida, porém, que sem os seus navios, dinheiro e comando, a revolução poderia não ter sido bem sucedida.

7. Rainha Mavia da Arábia

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Mavia era uma rainha guerreira que enfrentou o poder de Roma e venceu. Após a morte de seu marido, al-Hawari, que não tinha herdeiro do sexo masculino, Mavia tornou-se rainha dos sarracenos que habitavam o sul da Palestina e norte do Sinai em torno de 375 aC. Até aquele momento, a tribo de Mavia tinha sido constantemente subjugada pelo poder do Império Bizantino, a frente leste do Império Romano.

Quando o Imperador Romano Valens solicitou que Mavia mandasse soldados mercenários para lutar contra os godos, surgiu um conflito a respeito dos termos do acordo. A revolta eclodiu à medida que Mavia procurava provar-se competente, enfrentando a superpotência de Roma. A revolta foi tão rápida e eficaz que tem sido comparada à Blitzkrieg alemã.
Cidades nas fronteiras da Palestina e da Arábia sucumbiram rapidamente sob ataque de suas forças. Ataques surpresa seguidos por massacres foram decretados contra Fenícia, Palestina e até mesmo lugares tão distantes quanto o Egito. Províncias romanas foram reduzidas a ruínas e os exércitos romanos enviados às pressas para lidar com Mavia foram derrotados ou obrigados a fugir. Em um mosteiro no Sinai, os exércitos da rainha foram capazes de massacrar os monges relativamente sem oposição.
Enfraquecido e incapaz de conter a rainha guerreira, Valens foi forçado a fazer um acordo de paz nos termos de Mavia. Um monge local escolhido pela rainha foi eleito como bispo da região, dando à tribo muito mais liberdade. Sua filha também foi casada com um oficial militar proeminente de Valens, dando a Mavia acesso interno à administração romana.

6. Kittur Rani Chennamma

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Kittur Rani Chennamma era uma rainha indiana que lutou contra a Companhia Britânica das Índias Orientais. Ela nasceu na pequena aldeia de Kakati em 1778. Desde tenra idade, andava a cavalo e treinava arco e flecha e esgrima. Aos 15 anos, casou-se com Chennamma Mallasarja Desai, governante de Kittur, um pequeno principado indiano. Seu marido morreu em 1816 e seu único filho morreu pouco depois.

Chennamma, agora o governante legítima, mas não reconhecida, de Kittur, adotou um filho na tentativa de continuar a linhagem real. No entanto, para assumir o controle da Índia, o governo britânico e a Companhia das Índias Orientais aplicaram a Doutrina da Preempção.
Esta declaração proibia governantes nativos de adotar crianças se não tivessem nenhum filho biológico. Ou seja, após a morte do governante, a terra se tornaria território britânico. Não reconhecendo a criança adotada como governante, o Estado de Kittur caiu sob o controle da insanamente poderosa Companhia Britânica das Índias Orientais, sob as ordens do Sr. Chaplin, comissário da região. Rani se recusou a reconhecer o governo britânico de seu povo e encontrou as forças britânicas com um exército próprio quando elas entraram em Kittur.
Centenas de soldados britânicos foram mortos na batalha que se seguiu, juntamente do Sr. Thackeray, o governante de Kittur indicado pelo governo britânico. Eventualmente, exércitos imperiais muito maiores de Mysore e Sholapur cercaram a rainha em sua fortaleza. Ela segurou o cerco britânico por 12 dias, até que traidores sabotaram seus suprimentos de pólvora. Depois de sua derrota, Kittur Rani Chennamma foi mantida presa até sua morte, em 1829. Apesar de não ter obtido sucesso, Chennamma agiu como uma heroína e foi um símbolo durante o Movimento de Libertação.

5. Leymah Gbowee

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Leymah Gbowee, juntamente com as mulheres da Libéria, organizou um movimento pacífico que conseguiu pôr fim a uma guerra civil que matou mais de 250 mil pessoas em 14 anos. O presidente Charles Taylor chegou ao poder após uma revolução sangrenta que ocorreu no período de 1980 até 1995. Logo após sua eleição, Taylor começou a apoiar matanças étnicas e peculato. Isso levou a um novo conflito no país, a Segunda Guerra Civil da Libéria, que começou em 1999 e foi caracterizada por sua brutalidade e o uso de crianças como soldados.

Nascida na região central da Libéria em 1972, Leymah rapidamente se tornou envolvida na violência que se alastrou e destruiu o país. Ela recebeu treinamento para ser conselheira de trauma para meninas e mulheres estupradas por milícias, também trabalhando na conturbada República Democrática do Congo. Em 2002, Leymah organizou o movimento Women of Liberia Mass Action for Peace. Mulheres de diversas origens se reuniram para orar e cantar em público, exigindo paz. Fazendo piquetes, jejuando e ameaçando uma “greve de sexo”, as mulheres arriscaram suas vidas em protestos na capital, para exigir que Charles Taylor fizesse algo para acabar com o conflito.
Depois da pressão feminina e condenação internacional, o presidente brutal finalmente voou para a região neutra de Gana para as negociações de paz. As mulheres o seguiram até lá para continuar os seus esforços. A violência terminou em 2003, com Taylor forçado a renunciar e preso por Haia por crimes contra a humanidade. Eleições democráticas em 2005 levaram ao poder Ellen Johnson Sirleaf, eleita pelo povo como a primeira mulher chefe de Estado em um país africano.
Leymah Gbowee recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2011.

4. Condessa Emilia Plater

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A condessa Emilia Plater, nascida de patriotas poloneses em Wilno (Lituânia) em 13 novembro de 1806, cresceu ressentindo a Rússia, que estava governando faixas da Polônia e suprimindo costumes poloneses durante o século XIX. Os pais de Emília se separaram quando ela era jovem e seu pai, o conde, tinha pouco contato com ela. Ela aprendeu a lutar com seus primos, tornando-se uma boa esgrimista. Em 1831, a notícia da Insurreição de Varsóvia, em fevereiro de 1830, chegou a Wilno. Patriotas começaram a planejar sua própria rebelião, não permitindo Emilia em suas reuniões por causa de seu gênero.

Ela cortou os cabelos e preparou um uniforme para si mesma para que pudesse se juntar à revolução. Às suas próprias custas, reuniu e montou uma força de 500 combatentes lituanos. Em 30 de março de 1831, seu exército enfrentou uma patrulha da cavalaria russa. Mais tarde, em 2 de abril, ela forçou uma divisão de infantaria a recuar.
Em sua maior façanha, Emilia e seu grupo tomaram a cidade de Jeziorosy. Mais tarde, ela juntou forças com Karol Zaluski, outro líder de uma unidade revolucionária. Junto com os homens de Konstanty Parczewski, Emilia provou-se nas batalhas de Kowno e Szawle, ganhando o posto de capitã em campo. Em 23 de dezembro de 1831, a Condessa da Revolução faleceu depois de ficar fatalmente doente durante a revolta infrutífera.

3. Nanny dos quilombolas

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Nanny, ilustrada na nota de 500 dólares jamaicanos, foi a líder de um grupo de escravos que se revoltaram contra seus opressores britânicos. A rainha Nanny nasceu na escravidão em algum momento durante a década de 1680, uma filha da Costa do Ouro, que atualmente é Gana. Em algum momento Nanny, supostamente de sangue real, foi capaz de escapar de uma colônia britânica na Jamaica e levar um grupo de escravos às áreas montanhosas no interior da ilha. Logo, grandes comunidades de ex-escravos, que se autodenominavam quilombolas, tinham nascido. Nanny Town, fundada por volta de 1723, foi a primeira e, de longe, a maior dessas comunidades. A partir desta cidade, Nanny foi capaz de conduzir ataques contra as plantações, a fim de libertar escravos.

No entanto, a revolução rapidamente chamou a atenção dos britânicos. Uma série de campanhas contra os quilombolas problemáticos foram lançadas e Nanny foi forçada a liderar seu povo em uma operação de defesa da guerrilha. Para explorar a natureza defensiva do interior da Jamaica, Nanny assegurou que os assentamentos dos quilombolas fossem construídos no alto das montanhas. Muitas vezes, eles tinham apenas um acesso, o que significa que soldados britânicos eram facilmente abatidos por um pequeno número de quilombolas para quem Nanny tinha ensinado a arte da camuflagem.
Nanny Town, em si, foi atacada em várias ocasiões: em 1730, 1731, 1732, e por diversas vezes em 1734. Um ataque britânico em 1734 conseguiu assumir o controle do local, o que obrigou Nanny e os sobreviventes a fugirem e encontrarem um novo campo, a partir do qual se mostraram ainda mais desafiadores. Alguns historiadores sugerem que Nanny foi treinada na arte de pegar balas com as mãos.
Embora Nanny e seu povo tenham enfrentado ataques quase constantes e a fome, eles permaneceram unidos e fortes contra os britânicos. Em 1739-1740, estes assinaram um tratado de paz com os quilombolas, dando-lhes 500 hectares de terra para chamar de seus. Nanny, uma heroína nacional da Jamaica, recebe os créditos pela preservação da cultura e da liberdade de seu povo e é um poderoso símbolo da resistência à escravidão.

2. Toypurina

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Toypurina era uma curandeira nativa norte-americana que se opôs a colonização espanhola de suas terras tribais. Em 1771, quando apareceu o primeiro espanhol, Toypurina era uma menina de 10 anos de idade que testemunhou em primeira mão o sofrimento que o seu povo, a Nação Kizh, encarou nas mãos deles. Em um exemplo, depois que os colonos tinham reivindicado terreno para construir a missão de San Gabriel Arcanjo, a esposa de um chefe local foi estuprada por soldados da missão espanhol. Quando o chefe protestou, ele foi morto e teve a cabeça presa em uma lança como um exemplo.

Após a construção da missão, Toypurina viu mais de mil nativos norte-americanos serem subornados ou forçados a se converter ao cristianismo. Estes convertidos eram frequentemente utilizados como escravos no trabalho agrícola.
Conforme Toypurina cresceu, se tornou uma influente curandeira e xamã. Em 1785, um membro indígena da missão, Nicolas Jose, contactou Toypurina. Jose estava irritado porque a missão proibia a dança tradicional da tribo. Juntos, eles conspiraram para provocar uma rebelião contra os espanhóis. Também receberam o apoio do irmão de Toypurina, de um chefe da nação Kizh e guerreiros de oito aldeias.
Para ter alguma chance contra os mosquetes e artilharia dos espanhóis, Toypurina planejava matar os líderes da Igreja espanhola com magia, permitindo que guerreiros nativos facilmente tomassem a força de defesa. Certa noite, escalando a parede com dezenas de guerreiros em uma noite sem lua, o grupo de ataque correu para os quartos dos sacerdotes da missão. Duas figuras estavam imóveis no chão, como se a magia do xamã tivesse funcionado. De repente, os corpos se levantaram – os dois padres mortos eram, na verdade, soldados espanhóis disfarçados, que soltaram um grito de reforços. Em segundos, os rebeldes nativos americanos foram cercados.
Os espanhóis haviam sido avisados sobre o ataque e, no final das contas, a magia não é uma arma muito eficaz. Dois meses mais tarde, quando os líderes rebeldes foram levados a julgamento, eles se voltaram contra Toypurina, dizendo que ela era uma bruxa que os tinha controlado. Toypurina usou o julgamento para dizer a seu povo para lutar contra os homens brancos que invadiam suas terras e espoliavam suas tradições e também aconselhou que não tivessem medo dos “pedaços de madeira espanhóis que cospem fogo”. Toypurina foi condenada ao exílio e, possivelmente, ao batismo forçado em uma missão espanhola, onde passou o resto de sua vida.

1. Margarita Neri

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A Revolução Mexicana começou em 20 de novembro de 1910 e se prolongou até a década de 1920. Foi uma tentativa dos revolucionários de derrubar o governador e ditador Porfirio Díaz Mori e implementar uma Constituição, que teria como objetivo garantir vida mais justa para as classes agrícolas. O conflito foi sangrento, com cerca de 900 mil pessoas perdendo suas vidas. Essa vastidão de morte e destruição significava que ambos os lados estavam mais do que dispostos a envolver as mulheres e crianças no combate.

Um exército de 5.369 revolucionários inspecionados por autoridades norte-americanas incluía 1.256 mulheres e 554 crianças. Enquanto as crianças principalmente faziam pilhagens e cozinhavam, as mulheres geralmente eram armadas e lutavam ao lado dos homens. Apesar de enfrentar a desigualdade constante e o sexismo, as mulheres ainda estavam dispostas a desempenhar um papel importante na eventual queda de Mori. Essas soldados do sexo feminino que o lado revolucionário trouxe à ação foram chamadas de soldaderas.
Talvez a mais famosa de todas as soldaderas foi Margarita Neri, que não só lutou na guerra, mas também atuou como comandante. Descendente de maias e holandeses de Quintana Roo, a partir de 1910 ela comandou uma força de mais de mil que varreu Tabasco e Chiapas saqueando, queimando e matando. Neri foi tão eficaz em sua matança de tropas antirrevolucionárias, que o governador de Guerrero se escondeu em uma caixa e fugiu da cidade assim que soube de sua aproximação. Se Margarita lutou pela revolução diretamente, sob o comando de Francisco Madero, ou se sua unidade trabalhou independentemente, permanece um mistério. O que é claro como o dia é que ela e seus soldados eram uma séria ameaça para o governo, com Neri prometendo ela mesma decapitar Diaz. [Listverse]

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Reflexões brechtianas



Bertolt Brecht Bertolt Brecht

Reflexões brechtianas


Bertolt Brecht, poeta e dramaturgo alemão, nasceu na cidade de Augsburg, na Baviera, em 1898, numa família de classe média -- seu pai era diretor de uma fábrica de papel. Em 1917, matricula-se na Universidade de Munique, para estudar Medicina, mas no ano seguinte é convocado pelo exército e atua como enfermeiro numa clínica militar em sua cidade natal.

Por Claudio Daniel
no vermelho


A Europa vive então a I Guerra Mundial, conflito entre as principais potências imperialistas, que resulta em 20 milhões de mortos. Em 1918, a Alemanha é vencida, e as forças aliadas impõem, no Tratado de Versalhes, uma série de compensações econômicas e territoriais ao país derrotado, que mergulha em profunda crise.

Brecht, que vivencia esses trágicos acontecimentos, logo se entusiasma pela Revolução Russa e torna-se marxista, ao mesmo tempo que se interessa pelo teatro, participando do cabaré político do comediante Karl Valentin, em Munique. Durante o curto período democrático da República de Weimar, na década de 1920, que antecedeu a ascensão do nazismo, Brecht realiza os seus primeiros trabalhos dramáticos, como as peças Baal (1918) e Tambores da noite (1922).

Nesse período surge uma nova geração de poetas, cineastas, músicos, arquitetos, fotógrafos e artistas visuais, interessados na renovação estética e na denúncia da realidade social, como Fritz Lang, diretor do filme Metrópolis, o poeta August Stramm, os pintores do grupo Der Blaue Reiter (O cavaleiro azul) e músicos como Paul Hindemith e Kurt Weill (este último, futuro parceiro de Brecht em canções de conteúdo político e social). Os artistas da vanguarda alemã afastavam-se dos modelos clássicos, românticos e realistas e criavam novas formas estéticas que retratassem a miséria social, a crise de valores espirituais, a incerteza quanto ao futuro e a fragmentação da sociedade, cada vez mais sacudida por conflitos entre a classe operária e a burguesia alemã -- cujo ponto máximo foi a tentativa de revolução socialista liderada por Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, em 1918.

Epitáfio, 1919


A Rosa Vermelha desapareceu

Para onde ela foi, é um mistério

Porque ao lado dos pobres combateu

Os ricos a expulsaram de seu império

(Tradução: Paulo César de Souza)

 
O estilo artístico que sobressai nessa época, especialmente no cinema, na poesia e no teatro é o Expressionismo, que incorpora a paisagem urbana, o mundo das máquinas e da indústria, a caricatura grotesca de tipos sociais e o humor negro, mesclados à herança das lendas medievais e do romantismo alemão, à temática sobrenatural, exótica ou perversa. O Expressionismo não é um espelho do real, mas uma deformação voluntária das formas (por exemplo, a geometria irregular dos cenários do filme O gabinete do dr. Caligari, de Robert Wiener), expressão subjetiva do artista, que observa o mundo com angústia e revolta. Frank Wedekind e Georg Buchner foram dois autores teatrais expressionistas que influenciaram a concepção artística de Brecht, assim como as peças populares da era vitoriana, o teatro chinês e os musicais de cabaré. Frederic Jameson aponta ainda ressonâncias de James Joyce, Eisenstein e do cubofuturismo russo na obra dramática do autor alemão, que desenvolveu uma nova forma de teatro, que integrava cenografia, montagem, poesia, narração, dança, música e a interpretação dos atores para envolver os sentidos e a inteligência do público (in Jameson, 1999: 110).


Comentando a peça Santa Joana dos Matadouros, Roberto Schwartz observa que “o ritmo da dicção é submetido ao andamento argumentativo, que tem musicalidade específica, a qual vai primar também sobre a musicalidade da palavra” (in Brecht: 2009,12). Anatol Rosenfeld, no posfácio que escreveu para a edição brasileira de Cruzada das crianças, observa: “O que Brecht exige é a transformação produtiva das formas, baseada no desenvolvimento do conteúdo social. Mas este desenvolvimento material, por sua vez, exige a transformação dos processos formais” (in Campos, 1997: 139). Conforme o estudioso brasileiro, “isto explica a pesquisa incansável de Brecht, no terreno da palavra, do estilo, do verso, do ritmo, da cena, do desempenho do ator, da estrutura de sua arte”.

A estratégia criativa de Brecht aproxima-se da concepção do poeta russo Vladimir Maiakovski, para quem “não existe arte revolucionária sem forma revolucionária”. Para os dois autores, comprometidos com a transformação estética e com a transformação do mundo, “a consciência social e a consciência estética se lhe afiguram inseparáveis” (idem).

Eu, que nada mais amo


Eu, que nada mais amo

Do que a insatisfação com o que se pode mudar

Nada mais detesto

Do que a profunda insatisfação com o que não pode ser mudado.

(Tradução: Paulo César de Souza)

 

Brecht não quer causar impacto emocional na platéia, mas levá-la a uma reflexão política, incentivando o seu espectador a tomar o partido dos oprimidos contra os opressores. É um teatro épico, revolucionário. Anatol Rosenfeld afirma: “Foi desde 1926 que Brecht começou a falar de ‘teatro épico’, depois de pôr de lado o termo ‘drama épico’, visto que o cunho narrativo da sua obra somente se completa no palco" (Rosenfeld, 1985, p. 146). O primeiro texto teórico de Brecht sobre o teatro épico aparece no prefácio à montagem de Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny, sátira política com texto de Brecht e música de Kurt Weill, encenada pela primeira vez em Leipzig, em 1930, e depois em Berlim, em 1931. Ao contrário do teatro dramático, fundamentado na Poética de Aristóteles, o teatro épico rompe com as noções lineares de tempo e espaço e deixa de lado a catarse, o envolvimento emocional do público, e a mimese, ou imitação fiel da realidade, que na opinião de Brecht deixariam o homem passivo em relação ao mundo. O drama épico, que deixa explícita a diferença entre a peça representada e o mundo, quer provocar uma reação intelectual no espectador, motivá-lo a questionar os valores e estruturas vigentes no mundo, que podem e devem ser transformadas.

Uma peça que se destaca na dramaturgia brechtiana é Santa Joana dos Matadouros (1929-31), cujo tema, segundo Roberto Schwartz, é “a crise do capitalismo, cujo ciclo de prosperidade, superprodução, desemprego, quebras e nova concentração do capital determina as estações do entrecho” (in Brecht: 2009, 9). Os personagens dessa obra insólita, continua o autor, são “a massa trabalhadora, empregada ou desempregada, os magnatas da indústria da carne, os especuladores e – disputando as consciências – os comunistas e uma variante do Exército da Salvação (os Boinas Pretas)”.

Brecht retrata a luta de classes e a situação miserável das camadas mais pobres da população sem cair numa estética de tipo naturalista, mais frequente nas peças de agitação política. Podemos observar, em sua técnica narrativa, uma semelhança com o cinema de Eisenstein, como o filme Encouraçado Potemkin, em que a montagem das cenas obedece a uma ordem associativa, metafórica, analógica, como acontece na estrutura do ideograma japonês. A este respeito, observa Haroldo de Campos: "A influência da técnica de composição sino-japonesa em Brecht é evidente, seja no seu teatro, que pode buscar uma linhagem na estrutura das peças nô, seja na sua poesia, especialmente na da última fase, de extremo despojamento e de arquitetura elíptica, à maneira do haicai da tradição nipônica" (Campos, 1997: 140).

A estrutura das peças de Brecht, ao romper com a linearidade de tempo e de espaço e adotar uma ordem analógica, produz um efeito anti-ilusionista. Conforme Walter Jens, no posfácio aos Poemas Escolhidos do autor alemão, citado por Campos, "este efeito se encontra especialmente em poemas escritos no exílio (...), no fim da década de 1930. Nessas composições lacônicas (Hollywood é um exemplo paradigmal), o poeta, trabalha preferencialmente com reduções, com rarefações e abreviaturas estilísticas, de uma tal audácia que o contexto omitido compensa a dimensão escrita do texto".

Hollywood


Toda manhã, para ganhar meu pão

Vou ao mercado, onde se compram mentiras.

Cheio de esperança

alinho-me entre os vendedores.

(Tradução: Haroldo de Campos)

 
O método poético adotado por Brecht nestas composições, continua Jens, consistiria em “enfileirar frases justapostas, entre as quais o leitor, para compreender o texto, deve inserir articulações”. Anatol Rosenfeld, analisando esse procedimento à luz do Verfremdungseffekt (“efeito de alienação”), típico do teatro brechtiano, acrescenta: “O choque alienador é suscitado pela omissão sarcástica de toda uma série de elos lógicos, fato que leva à confrontação de situações aparentemente desconexas e mesmo absurdas. Ao leitor assim provocado cabe a tarefa de restabelecer o nexo” (idem, 140-141). Um bom exemplo desta técnica é o poema O primeiro olhar pela janela de manhã, traduzido por Haroldo de Campos:


O primeiro olhar pela janela de manhã


O primeiro olhar pela janela de manhã.

O velho livro redescoberto.

Rostos entusiasmados.

Neve, o câmbio das estações.

O jornal.

O cão.

A dialética.

Duchas, nadar.

Música antiga.

Sapatos cômodos.

Compreender.

Música nova.

Escrever, plantar.

Viajar, cantar.

Ser cordial.

Haroldo de Campos, no livro O Arco-Íris Branco, apresenta um interessante ensaio – O duplo compromisso de Bertolt Brecht – acompanhado de várias traduções da poesia do autor alemão, com ênfase nas peças mais elípticas, enigmáticas e lacunares, como estas, de nítidas ressonâncias da poética chinesa e japonesa:

Epitáfio


Escapei aos tigres

Nutri os percevejos

Fui devorado

Pela mediocridade


A máscara do mal


Na minha parede, a máscara de madeira

de um demônio maligno, japonesa –

ouro e laca.

Compassivo, observo

as túmidas veias frontais, denunciando

o esforço de ser maligno.


Sobre um leão chinês de rais de chá


Os maus temem tuas garras.

Os bons alegram-se com teu garbo.

O mesmo

quero ouvir

de meus versos.

Claro – esta é uma das facetas da obra poética de Brecht, que é bastante variada na temática e na arquitetura estilística, embora seja menos conhecida e estudada do que o conjunto de suas peças para o teatro. Otto Maria Carpeaux, no livro A literatura alemã, declara: “Muitos o consideram como o maior dramaturgo do século XX. Enquanto isso, fala-se muito menos de sua poesia lírica que, sendo dificilmente traduzível, pouco se conhece no estrangeiro. É, porém, necessário salientar que Brecht foi antes de tudo um grande poeta (...). É um dos poetas mais tipicamente alemães da literatura alemã”. (Carpeaux: 1994: 285)

Willi Bolle considera que “Bertolt Brecht trouxe para a poesia urbana a proposta de uma nova sensibilidade, caracterizada por um olhar sóbrio sobre o cotidiano. Seus poemas falam do ritual de se lavar, da leitura do jornal ao fazer o chá, do pequeno aparelho de rádio, do dinheiro, do desemprego, do registro das ‘palavras que gritam aos outros’. A poesia de Brecht é política no sentido próprio da palavra: propõe elucidar as leis da convivência entre os homens na ‘polis’, a metrópole contemporânea, que já não é cidade-mãe, mas praça mercantil ‘onde se negocia o ser humano’.” (in Brecht, 2001). A lírica brechtiana também aborda temas como a natureza, a fuga, o exílio, a morte, o amor, o Oriente, mas, como adverte Willi Bolle, “há uma decidida ruptura com os moldes românticos. (...) O que o poeta diz do amor? ‘Do amor cuidei displicente’ – ao contrário do que pode sugerir este verso, que representa um papel, não uma confissão, Brecht dedicou muita atenção ao amor. Certamente mais do que os editores alemães, que retardaram a publicação dos poemas eróticos e os separaram do resto da obra”.

Canto de uma amada


1. Eu sei amada: agora me caem os cabelos, nessa vida dissoluta, e eu tenho que deitar nas pedras. Vocês me vêem bebendo as cachaças mais baratas, e eu ando nu no vento.


2. Mas houve um tempo, amada, em que era puro.


3. Eu tinha um mulher mais forte que eu, como o capim é mais forte que o touro: ele se levanta de novo.


4. Ela via que eu era mau, e me amou.


5. Ela não perguntava para onde ia o caminho que era seu. e talvez ele fosse para baixo. Ao me dar o seu corpo, ela disse: Isso é tudo. E seu corpo se tornou meu corpo.


6. Agora ela não está mais em lugar nenhum, desapareceu como nuvem após a chuva, ela caiu, pois este era seu caminho.


7. Mas a noite, às vezes, quando me vêem bebendo, vejo o rosto dela, pálido no vento, forte, voltado para mim, e me inclino no vento.

(Tradução: Paulo César de Souza).

 
Brecht escreveu versos durante a vida toda. Seu primeiro livro de poemas, publicado em 1925, foi Hauspostille, título de difícil tradução, que remete aos breviários, ou livros de devoção, que os protestantes costumavam ler em casa (recordemos que a mãe de Brecht era luterana devota). Esta obra, como ressalva Carpeaux, “é evidentemente o contrário de um livro de devoção. São baladas em estilo popular sobre crimes célebres da época, sendo invariavelmente os criminosos elogiados e a Justiça e a moral burguesa vilipendiadas. (...) Essa poesia de cabaré engagé é, como disse um crítico católico, o ‘breviário do diabo’. Mas não é poesia revolucionária, apesar de todos os ataques às convenções religiosas, apesar de todos os ataques às convenções religiosas e políticas. É a expressão de um niilismo total” (Carpeaux, 1994: 285-286).


Um poema que se destaca no livro de estreia de Brecht é A infanticida Marie Farrar, que vamos ler agora, na tradução de Paulo César de Souza:

1


Marie Farrar, nascida em abril, menor

De idade, raquítica, sem sinais, órfã

Até agora sem antecedentes, afirma

Ter matado uma criança, da seguinte maneira:

Diz que, com dois meses de gravidez

Visitou uma mulher num subsolo

E recebeu, para abortar, uma injeção

Que em nada adiantou, embora doesse.

Os senhores, por favor, não fiquem indignados.

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.


2


Ela porém, diz, não deixou de pagar

O combinado, e passou a usar uma cinta

E bebeu álcool, colocou pimenta dentro

Mas só fez vomitar e expelir

Sua barriga aumentava a olhos vistos

E também doía, por exemplo, ao lavar pratos.

E ela mesma, diz, ainda não terminara de crescer.

Rezava à Virgem Maria, a esperança não perdia.

Os senhores, por favor, não fiquem indignados

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.


3


Mas as rezas foram de pouca ajuda, ao que parece.

Havia pedido muito. Com o corpo já maior

Desmaiava na Missa. Várias vezes suou

Suor frio, ajoelhada diante do altar.

Mas manteve seu estado em segredo

Até a hora do nascimento.

Havia dado certo, pois ninguém acreditava

Que ela, tão pouco atraente, caísse em tentação.

Mas os senhores, por favor, não fiquem indignados

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.


4


Nesse dia, diz ela, de manhã cedo

Ao lavar a escada, sentiu como se

Lhe arranhassem as entranhas. Estremeceu.

Conseguiu no entanto esconder a dor.

Durante o dia, pendurando a roupa lavada

Quebrou a cabeça pensando: percebeu angustiada

Que iria dar à luz, sentindo então

O coração pesado. Era tarde quando se retirou.

Mas os senhores, por favor, não fiquem indignados

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.


5


Mas foi chamada ainda uma vez, após se deitar:

Havia caído mais neve, ela teve que limpar.

Isso até a meia-noite. Foi um dia longo.

Somente de madrugada ela foi parir em paz.

E teve, como diz, um filho homem.

Um filho como tantos outros filhos.

Uma mãe como as outras ela não era, porém

E não podemos desprezá-la por isso.

Mas os senhores, por favor, não fiquem indignados.

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.


6


Vamos deixá-la então acabar

De contar o que aconteceu ao filho

(Diz que nada deseja esconder)

Para que se veja como sou eu, como é você.

Havia acabado de se deitar, diz, quando

Sentiu náuseas. Sozinha

Sem saber o que viria

Com esforço calou seus gritos.

E os senhores, por favor, não fiquem indignados

Pois todos precisamos de ajuda, coitados.


7


Com as últimas forças, diz ela

Pois seu quarto estava muito frio

Arrastou-se até o sanitário, e lá (já não

sabe quando) deu à luz sem cerimônia

Lá pelo nascer do sol. Agora, diz ela

Estava inteiramente perturbada, e já com o corpo

Meio enrijecido, mal podia segurar a criança

Porque caía neve naquele sanitário dos serventes.

Os senhores, por favor, não fiquem indignados

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.


8


Então, entre o quarto e o sanitário — diz que

Até então não havia acontecido — a criança começou

A chorar, o que a irritou tanto, diz, que

Com ambos os punhos, cegamente, sem parar

Bateu nela até que se calasse, diz ela.

Levou em seguida o corpo da criança

Para sua cama, pelo resto da noite

E de manhã escondeu-o na lavanderia.

Os senhores, por favor, não fiquem indignados

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.


9


Marie Farrar, nascida em abril

Falecida na prisão de Meissen

Mãe solteira, condenada, pode lhes mostrar

A fragilidade de toda criatura. Vocês

Que dão à luz entre lençóis limpos

E chamam de “abençoada” sua gravidez

Não amaldiçoem os fracos e rejeitados, pois

Se o seu pecado foi grave, o sofrimento é grande.

Por isso lhes peço que não fiquem indignados

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.

 
Este poema tem notável semelhança formal com a Balada dos Enforcados, de François Villon, também composta em estrofes de dez versos – mas, ao contrário do autor francês, que compôs o seu poema em notáveis decassílabos, Brecht preferiu o verso livre, em ritmo de balada. A principal chave para a leitura intertextual está nos dois versos finais que se repetem a cada estrofe, ou com ligeiras modificações, em ambos os poemas. Brecht: “Por isso lhes peço que não fiquem indignados / Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados”. Villon: “Que de nossa aflição ninguém se ria, / Mas suplicai a Deus por todos nós”.


O refrão, que no caso do poeta francês remete à compaixão universal ensinada pelo cristianismo, no caso de Brecht indica a solidariedade com os miseráveis, vítimas de um sistema econômico e social injusto, que condena, hipocritamente, o crime de Marie Farrar, ao mesmo tempo que fecha os olhos à situação que a levou a cometer o infanticídio. A inversão de papeis nas peças e poemas de Brecht, em que o criminoso ou proscrito por vezes assume a posição de herói, recorda também a lenda criada em torno de Villon, que teria sido, conforme alguns relatos, bêbado, ladrão e assassino – portanto um pária, à margem das normas da sociedade medieval.

No conhecido poema A lenda da puta Evelyn Roe, Brecht retoma o tema da mulher oprimida, na figura de uma beata -- possível referência à Santa Maria Egipcíaca, também abordada por Cecília Meireles e Manuel Bandeira -- que oferece seu corpo ao capitão de um navio, em troca da passagem com destino à Terra Santa. A protagonista do poema -- um dos mais fortes do poeta alemão, do ponto de vista da construção dramática e expressão emocional -- falece, porém, no meio da viagem, e sua alma é recusada por Deus e pelo Diabo, que não a desejam em seus reinos etéreos:

Quando enfim chegou ao Paraíso

São Pedro o portão trancou

Deus disse: “Não vou acolher no céu

A puta Evelyn Roe”.

Também quando ao Inferno ela chegou

A porta na cara levou

E o diabo gritou: “Não quero aqui

A beata Evelyn Roe”.

(Tradução: Tatiana Berlinky / Maria Alice Vergueiro / Catherine Hirsch)

Os heróis de Brecht, em seu teatro e em sua poesia, são sempre os excluídos, os malditos, sejam eles operários, camponeses, prostitutas, bêbados, vagabundos, todos aqueles que, nos quatro cantos do globo, eram colocados sob suspeita pela sociedade capitalista, e que – acreditava o poeta – um dia iriam se levantar contra a opressão, hipótese que se tornou crível a partir da derrota e fuga dos exércitos nazistas da Europa Oriental e do surgimento das repúblicas de democracia popular, lideradas pelos comunistas. Brecht acreditou com sinceridade no modelo do chamado socialismo real, e foi um cidadão orgulhoso da República Democrática Alemã até a sua morte, em 1956.

A proximidade entre a poesia de Brecht e as baladas tradicionais já foi observada por Otto Maria Carpeaux, para quem o verso do autor alemão tem o feitio “de canção popular e da balada popular, é deliberadamente primitivo”, sendo moderno “apenas pelo uso da linguagem dos jornais e da vida cotidiana”. O prosaísmo de Brecht, segundo Carpeaux, “é herança da ‘objetividade nova’. Mas o milagre é esse: que esses versos primitivos e essa linguagem prosaica fazem profunda impressão poética, às vezes até sentimental; e gravam-se na memória como se os tivéssemos conhecido desde sempre” (Carpeaux: 1994, 286).

A Nova Objetividade foi um movimento artístico alemão surgido na década de 1920 como reação ao Expressionismo -- recusava a expressão mais subjetiva e colocava em primeiro plano a denúncia social, a crítica mordaz à burguesia e à guerra. Trata-se portanto de uma arte de forte acento realista que recusava as inclinações abstratas defendidas pelo grupo Die Brücke [A Ponte]. O termo foi criado em 1923 por Gustav Hartlaub, que publicou um artigo nos jornais manifestando a intenção de realizar uma exposição com o título Nova Objetividade, que ocorreu dois anos depois no Kunsthalle de Munique e deu nome à nova tendência figurativa da arte alemã das primeiras décadas do século XX. O movimento sofreu forte perseguição dos nazistas e deixou de existir em meados de 1930. Um poema de Brecht que representa bem a dicção realista é a conhecida peça Perguntas de um trabalhador que lê, publicado no livro Svendborger Gedichte (Poesias de Svenborg), escrito quando Brecht estava exilado da Alemanha nazista:

Quem construiu a Tebas de sete portas?

Nos livros estão nomes de reis.

Arrastaram eles os blocos de pedra?

E a Babilônia, várias vezes destruída

Quem a reconstruiu tantas vezes?

Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?

Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?

A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo.

Quem os ergueu?

Sobre quem triunfaram os Césares?

A decantada Bizâncio tinha somente palácios para os seus habitantes?

Mesmo na lendária Atlântida, os que se afogavam gritaram por seus escravos na noite em que o mar a tragou.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.

Sozinho?

César bateu os gauleses.

Não levava sequer um cozinheiro?

Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada naufragou.

Ninguém mais chorou?

Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.

Quem venceu alem dele?

Cada pagina uma vitória.

Quem cozinhava o banquete?

A cada dez anos um grande Homem.

Quem pagava a conta?

Tantas histórias.

Tantas questões.

(Tradução: Paulo César de Souza).

 
Notável, nesta reunião de poemas de Brecht, a fusão entre o eu lírico, o eu social e o rigoroso artesanato de linguagem, que se manifesta em versos de alta precisão e objetividade, como na conhecida peça


Lista de Preferências de Orge


Alegrias, as desmedidas.

Dores, as não curtidas.

Casos, os inconcebíveis;

Conselhos, os inexequíveis.


Meninas, as veras.

Mulheres, insinceras.


Orgasmos, os múltiplos.

Ódios, os mútuos.


Domicílios, os temporários.

Adeuses, os bem sumários.


Artes, as não rentáveis.

Professores, os enterráveis.


Prazeres, os transparentes.

Projetos, os contingentes.


Inimigos, os delicados.

Amigos, os estouvados.


Cores, o rubro.

Meses, outubro


Elementos, os Fogos

Divindades, o Logos.


Vidas, as espontâneas.

Mortes, as instantâneas.

(Tradução: Paulo César de Souza)

O poema, construído na forma de dísticos rimados, recorda o estilo coloquial-satírico do poeta francês Jules Laforgue (que aliás viveu na Alemanha, onde foi leitor da imperatriz), em especial o da série de litanias da lua, como na peça que apresentamos a seguir:

Litanias dos Quartos

Crescentes da Lua


Lua sublime,

Nos ilumine!


É o medalhão

De Endimião,


Astro de argila

Que tudo exila,


Caixão milenar

De Salambô lunar,


Cais etéreo

Do alto mistério,


Madona e miss,

Diana-Artemis,


Santa vigia

De nossa orgia,


Jetaturá

Do bacará,

Dama tão pálida

Em nossa praça,


Vago perfume

De vaga-lume,


Rosácea calma

Do último salmo,


Olho-de-gata

Que nos resgata,


Seja o auxílio

A nosso delírio!


Seja o edredão

Do Grande Perdão!

(Tradução: Claudio Daniel).

A intertextualidade é um recurso frequente em Brecht – como vimos em seus diálogos com Villon e Laforgue – e assinalam, mais do que a exibição narcísica da referência erudita, uma tomada de posição, uma filiação poética, junto à estirpe dos poetas malditos, sarcásticos, questionadores das normas vigentes na poesia e na sociedade. O diálogo com Laforgue nos parece bastante natural, sobretudo se recordarmos o comentário feito por Mário Faustino sobre o poeta francês: "Jules Laforgue (1860-87): mais um jovem de gênio (Rimbaud, Corbière...) a explodir na língua francesa para desmoralização de uma rotina ética e estética e para preparar o terreno de um novo mundo (ainda hoje por vir). O processo que deu origem a Laforgue: decadência do mundo capitalista, miséria existencial do homem do fin-de-siècle, falácias e panaceias burguesas (Amor etc.) e a linhagem Heine-Baudelaire-Rimbaud-Corbière" (Faustino, 2004: 184). Curioso observar que nesta breve nota crítica -- mas concentrada e densa, como toda a obra crítica de Faustino -- o autor faz um paralelo entre o francês Laforgue e o alemão Heinrich Heine, seu possível precursor na objetividade, precisão e ironia. Os dois poetas -- assim como Brecht -- limparam a linguagem poética de adornos e ornamentos decadentistas, colocando em primeiro plano os substantivos, as coisas. Heine é, sem dúvida, um dos precursores de Brecht na língua alemã, inclusive no campo político, se pensarmos em poemas como Os tecelões da Silésia, de 1844, e de seu posicionamento político, de claro perfil socialista, embora sem estar filiado a nenhum dos partidos operários de sua época.

Na poesia política de Brecht, herdeira da lírica inconformista de Heine, predominam quatro temas: o da natureza predatória do capitalismo -- especialmente da especulação financeira --, o elogio da revolução socialista, a denúncia do nazismo e o testemunho dos horrores da II Guerra Mundial. Brecht abandonou a Alemanha logo após ascensão de Hitler, em 1933, e viveu no exílio em diversos países europeus até 1941, partindo depois para os Estados Unidos, onde vive até 1947. Sua produção ao longo dos anos 1930-1940 é fortemente marcada pelos acontecimentos internacionais, assim como ocorreu na obra de Carlos Drummond de Andrade, sobretudo no livro Rosa do Povo, com.o qual também poderíamos traçar um curioso paralelo:

Em verdade temos medo.

Nascemos escuro.

As existências são poucas:

Carteiro, ditador, soldado.

Nosso destino, incompleto.

(Versos iniciais de O medo, de Carlos Drummond de Andrade)

e:

Um estrangeiro, voltando de uma viagem ao Terceiro Reich

Ao ser perguntado quem realmente governava lá, respondeu:

O medo.


(Versos iniciais do poema Os medos do regime)

(Tradução: Paulo César de Souza).

 
A poesia de Brecht, como a de Drummond, nesse período, é uma poesia de resistência e combate, em que o eu lírico não se oculta, mas está presente em sua angústia, em suas dúvidas, em sua fragmentação (que é também a fragmentação do mundo), e ainda no júbilo epifânico que traduz a esperança utópica, em flashes como este:


Orgulho


Quando o soldado americano me contou

Que as alemãs filhas de burgueses

Vendiam-se por tabaco, e as filhas de pequeno-burgueses por chocolate

As esfomeadas trabalhadoras escravas russas, porém, não se vendiam

Senti orgulho.

Testemunha dos trágicos acontecimentos da era nacional-socialista, Brecht relata em seus poemas, como se fossem pequenas crônicas ou notas de um historiador, eventos como a queima pública de livros de autores incômodos ao regime, os métodos de intimidação das tropas de assalto, a resistência dos operários alemães nas fábricas, a experiência do exílio de poetas e intelectuais e ainda os conflitos psicológicos de uma nação dominada pelo medo. A crônica política de Brecht, porém, não se resume à narrativa de fatos históricos, aos moldes de um jornalismo poético, orientado pelo espírito militante e pela leitura do materialismo histórico e dialético do pensamento marxista. O poeta, consciente do valor estético do artesanato linguístico e do caráter atemporal da tragédia humana, incorpora em poemas políticos elementos da fábula, da parábola, da alegoria, mistura diferentes referências históricas e repertórios culturais, numa miscigenação universalista, quase barroca. No poema Canção de Salomão, de linguagem coloquial e humor provocativo, os protagonistas são o personagem bíblico que dá título ao poema, a rainha egípcia Cleópatra, Júlio César e o próprio poeta alemão, condenados pelo desejo excessivo de poder, de prazer e de saber:

O indiscreto Brecht quis saber

Escutem suas canções

Como os ricos têm poder

De acumular tantos milhões

Pobre no exílio foi parar

Brecht xereta

Bisbilhoteiro

E com o tempo a correr

Enfim o mundo percebeu

Fuçar demais foi a sua perdição

Melhor viver na discrição...

(Fragmento traduzido por Luiz Roberto Galizia).

O tema do exílio é recorrente no autor, que viveu longe da Alemanha entre 1933 e 1949, quando fixa-se na República Democrática Alemã. No poema A emigração dos poetas, Brecht faz um interessante paralelo entre a sua experiência de fugitivo e a de outros poetas que admirava, usando novamente o procedimento de recorte e montagem de elementos de diferentes épocas, culturas e países:

Homero não tinha morada

E Dante teve que deixar a sua.

Li-Po e Tu-Fu andaram por guerras civis

Que tragaram 30 milhões de pessoas

Eurípedes foi ameaçado com processos

E Shakespeare, moribundo, foi impedido de falar.

Não apenas a Musa, também a polícia

Visitou François Villon.

Conhecido como “o Amado”

Lucrécio foi para o exílio

Também Heine, e assim também

Brecht, que buscou refúgio

Sob o teto de palha dinamarquês.

(Tradução: Paulo César de Souza).

Neste poema, encontramos autores já citados no presente ensaio como precursores da poética brechtiana, entre eles Villon, Heine e os chineses Li-Po e Tu-Fu. A presença chinesa é evidente não apenas nas peças mais breves e concisas traduzidas e comentadas por Haroldo de Campos, em que se destacam a justaposição de imagens e estrofes à maneira do ideograma, mas ainda nas traduções criativas que o autor de A boa alma de Se-Tzuan realizou de versos clássicos de Po Chu-yi, Ts’ao Sung e de autores anônimos do cânone tradicional do Império do Meio, não raro escolhendo os poemas por seu viés crítico e temática atemporal. Neste sentido, as traduções de Brecht podem ser comparadas às personae de Ezra Pound, que também vestia a máscara dramática de autores da Antiguidade, da Idade Média ou do Renascimento para manifestar o seu desconforto com o desconcerto do mundo. Assim, por exemplo, nesta breve peça recriada pelo autor alemão:

Um protesto no sexto ano de Chien Fu

Os rios e morros da planície

Transformais em vosso campo de batalha.

Como, pensais, o povo que aqui vive

Poderá se abastecer de “madeira e feno”?

Poupai-me por favor vosso palavreado

De nomeações e títulos.

A reputação de um único general

Significa: dez mil cadáveres


Ts’ao Sung (870-920)

(Tradução: Paulo César de Souza)

Reler Brecht é uma experiência rica e de extrema atualidade, que nos faz pensar sobre os aspectos éticos e estéticos da criação literária e, não menos importante, sobre a escolha que o artista tem a liberdade de fazer entre a cooptação pela cultura de mercado e o compromisso com a construção de uma nova realidade.

Bibliografia:

Brecht, Bertolt. A Santa Joana dos matadouros. Tradução: Roberto Schwartz. São Paulo: Cosacnaif, 2009.

Brecht, Bertolt. Poemas 1913-1956. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: editora 34, 2001.

Campos, Haroldo de. O arco-íris branco. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

Carpeaux, Otto Maria. A literatura alemã. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.

Faustino, Mário. Artesanatos de poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Jameson, Frederic. Método Brecht. São Paulo: Vozes, 1999.

Peixoto, Fernando. Brecht vida e obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974. 2ª. edição.

Rosenfeld, Anatol. O teatro épico. SP: Editora Perspectiva, 1985.

(*) Claudio Daniel é poeta, curador de Literatura do Centro Cultural São Paulo, colunista da CULT e editor de Zunái, Revista de Poesia e Debates (www.revistazunai.com).