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domingo, 11 de março de 2012

Sacrifício às divindades do capital


Na guerra das bombas que explodem corpos assim como na guerra da economia, que explode vidas candidamente, os administradores das tragédias usam siglas inexplicáveis para justificar os motivos de tanto sacrifício.  Enquanto ao povo grego é imposta a falência e a miséria para “salvar” a nação, o novo governo técnico da Itália - que deve governar por período limitado, até as novas eleições -,   aprova decretos e pacotes severos de medidas para “livrar” o Bel Paese da crise econômica. Na Itália como na Grécia, e onde mais haja  preço alto a pagar, quem dá os mortos, como nas guerras, são os trabalhadores e seus filhos. “Na luta do bem contra o mal, é sempre o povo quem conta os mortos”, escreve Eduardo Galeano.
O início de 2012 no país de Dante Alighieri e Michelangelo foi assinalado pelo despreparo para enfrentar o intenso frio que isolou comunidades e agravou o problema da energia.  Mas a população não sentiu apenas o peso do rígido inverno, que não poupou a mediterrânea Itália, fazendo gente do povo até duvidar das atemorizantes previsões  sobre o aquecimento global.  No contexto de novas pressões fiscais, demissões e aumento do desemprego, um drama bem menos divulgado pela mídia também golpeia a sociedade: o suicídio de trabalhadores e pequenos empresários,   que escolhem a morte à perda do trabalho e à bancarrota. Na Itália já se contam às dezenas os que sucumbiram ao desespero, afundados na lama de uma  crise que não nasceu da noite para o dia, tal qual meteoro catapultado do espaço sideral, como querem fazer crer os “metafísicos das finanças”, cujas vozes são apregoadas  pelos meios de comunicação  públicos e privados. 
Economista que sustenta o mercado, as liberalizações e o rigor das contas públicas, Mario Monti (professor e presidente da Bocconi, prestigiosa universidade privada italiana) substituiu, sem eleições, o descarado Silvio Berlusconi. Desde então, ele, seus ministros  e  assessores usam, para explicar as medidas de austeridade,  uma   terminologia  que Beppe Grillo (ator, ativista político e um dos blogueiros mais ‘visitados’ no mundo virtual) chama de “metáfisica da economia”, ou “metafisica das finanças”. Enquanto proliferam palavras sigladas na arte de produzir ilusionismo, providências inflexíveis  afligem os empregados - com congelamento salarial e aumento dos já pesados impostos, só para citar duas - e desesperam  os que  nem um trabalho tinham quando a crise foi finalmente admitida por governantes que até um dia antes asseguravam a solidez da  economia italiana.  Atingidos em cheio são os  trabalhadores jovens e velhos, os recém demitidos, a juventude desempregada (que nunca conseguiu um trabalho de verdade e vive de fugazes atividades precárias)  e, dulcis in fundo,  os aposentados.
O presidente da república, Giorgio Napolitano, em seu discurso para saudar a população no início do ano, reprisou a necessidade de enfrentar a crise aliando rigor financeiro e desenvolvimento, sempre com “espírito de sacrifício” e “ímpeto criativo”. Aparentando serenidade, Napolitano não poupou as arrogâncias nacionais do velho continente, lembrando ser indispensável um esforço conjunto de todos os países europeus para a recuperação da economia. Reiteirou, contudo, que a confiança não deve ser obscurecida pelo pessimismo e que nenhuma classe social pode se eximir do preço a pagar para o saneamento das contas públicas.
Napolitano denunciou o parasitismo, a corrupção e outra grave “patologia italiana”: a evasão fiscal, estimada em cerca de 180 bilhões de euros, em 2009, segundo dados de Tax Researh London, a pedido do grupo parlamentar europeu Alleanza Progressista dei Socialisti e dei Democratici. A recuperação desse valor evadido garantiria, nos cálculos de economistas, zerar a dívida pública italiana em pouco mais de 15 anos.
Decisões tomadas neste início de março para conter os chamados “salários de ouro” - de até  600 mil euros por ano, no caso de alguns altos dirigentes -   fixam um teto de 300 mil euros anuais para o salário de administratores públicos, mas  soam risíveis diante da situação dos trabalhadores empobrecidos. Além de os italianos receberem salários entre os mais rebaixados da zona do euro, neste início do ano já dispara o alarme do aumento do desemprego no país, que alcançou em janeiro, segundo o Istat (Istituto Nazionale di Statistica) o índice geral de 9,2% e o ápice de 31,1% entre os jovens.
Mas não é do patrimônio dos endinheirados que sai a obrigatória cota de privações que tanto Monti como Napolitano anunciam como única forma de “salvezza” do país. Enquanto a criação de um imposto para taxar as grandes fortunas aparece apenas em discursos políticos, mais uma vez, para a salvação da economia dos ricos, impõe-se aos pobres e remediados o sacrifício de suas vidas às divindades do capital.   É dos pobres, que têm pouco, mas são muitos, que se exige imolação para o pagamento de uma crise que nasce das entranhas do sistema capitalista.
Salvação dos bancos
As medidas de austeridade atiçam as classes populares, sabedoras de que a corda arrebenta sempre em suas mãos. Espicaçam também os ânimos de políticos jovens e maduros de todas as cores políticas.  Fabrizio Frosio, do Partito delle Aziende, Piccole e Medie Imprese (PDA), em carta aberta publicada no início do ano, denunciao suicídio de pequenos empreendedores e dispara:    “Incomodou-me  e chocou-me verdadeiramente a notícia de que a BCE (Banca Centrale Europea) coloque à disposição dos bancos europeus, a um custo próximo do zero,  mais de 400 bilhões de euros, que depois são vendidos a taxas usurárias aos comuns mortais e às pequenas empresas ainda ‘vivas’”. Frosio faz um apelo para que os italianos se rebelem contra as rapinas feitas “sem capuz” por instituições bancárias, seguradoras e organizações voltadas à recuperação forçada e desumana, que está levando a numerosos suicídios: “Basta  de bancos sem escrúpulos e cheios de cadáveres e sobretudo basta com as estratégias do grande ‘culto’ (aqui se refere a Monti), que, no final das contas,  se revela somente um ‘pobre homem’, rico apenas de poder e falsos amigos a salvaguardar.”
No último dia de fevereiro deste ano bissexto chegou  a notícia de que o Banco Central Europeu acabara de entregar a instituições bancárias  um total de 529,5 bilhões de euros, a uma taxa de 1%,  em 36 meses. Desse máxi empréstimo, do qual 139 bilhões terminaram nas mãos de bancos italianos, reclama  Antonio Di Pietro, líder do partido Italia dei Valori e crítico assíduo do governo técnico de Monti,  que, segundo ele, está se tornando “o governo da propaganda, de modo sóbrio,  mas mortal'. 
“Chega de favorecimentos aos bancos”, protesta Di Pietro, lembrando  que  se trata do segundo empréstimo de grande monta oferecido ao sistema bancário no prazo de dois meses.  O precedente, concedido em 21 de dezembro de 2011, foi de 489 bilhões de euros, dos quais um quarto do valor destinou-se a bancos italianos. Di Pietro destacou-se por sua liderança como magistrado e procurador da república no processo judicial que ficou conhecido como “Mani pulite” (Operação Mãos limpas). A investigação judicial, de grande amplitude, desencadeada nos anos 90, averiguou um devastador sistema de corrupção, financiamentos e atos ilícitos ligado ao mundo político e financeiro italiano, batizado de Tangentopoli” (“tangenti” eram propinas cobradas para conseguir  empréstimos, ganhar licitações ou fazer qualquer operação envolvendo valores ilegais).
Foram denunciados no processo ministros, deputados, senadores, empresários e até um ex primeiro ministro. Partidos históricos como Democrazia Cristiana desapareceram, políticos e industriais incriminados chegaram a cometer suicídio e os efeitos foram de tal envergadura a ponto de se  considerar que “Mani pulite” teria sido responsável pelo fim da Primeira República Italiana.
Sobre os empréstimos concedidos aos bancos no auge da crise atual, Di Pietro  declara,  no seu blog: “Este dinheiro deveria servir ao país e ao seu crescimento, não aos banqueiros e suas especulações. Os banqueiros já  embolsaram outro empréstimo multimilionário, especularam fartamente e encheram os bolsos às custas do Estado, deixando no desespero empresas e famílias que necessitavam de algum pequeno empréstimo.  O governo Monti tem o dever de impedir que este “joguinho” prossiga. Se aos bancos italianos são concedidas  essas vantagens excepcionais, eles têm que assumir a obrigação de usar os bilhões para impulsionar a Itália e não para se recapitalizarem”.
Em dois anos, segundo dados da CISL (Confederazione Italiana Sindacati Lavoratori), 120 mil empreendedores artesãos e trabalhadores autônomos tiveram que fechar o batente. A estimativa é de que 60 mil empresas faliram, registrando um aumento de insolvência de 53% relativamente a 2008. Recentemente, em “L’UltimaParola”,  programa de debate político apresentado por Gianluigi Paragone e  transmitido pela  Radio Televisione Italiana (RAI) compareceu um dos invisíveis desta tragédia. O homem, desempregado, contou que não consegue mais um trabalho e já chegou ao fundo do poço. De tudo o que possuía, só conseguiu preservar seu velho automóvel, onde agora vive com a mulher e um  filho adolescente.     
Fim da linha

O ano de 2012 começou de forma trágica para muitas famílias italianas, feridas pela tragédia do suicídio de seus caros. Os desesperados que deram um fim à própria vida são predominantemente do até então próspero norte, mas também do já espremido sul. Somente nos primeiros dias de janeiro registraram-se 12 suicídios.  São emblemáticos casos como os ocorridos na meridional Trani, encantadora cidadezinha da Puglia, onde um homem de 49 anos se enforcou no depósito de sua empresa de climatizadores. Ao norte, em Gaggiano, na Lombardia, um eletricista de 64 anos, proprietário de uma pequena atividade, deu um tiro na cabeça. O que aparentemente levou os dois homens ao gesto extremo, segundo relatos da imprensa, foi a situação insustentável causada pela  pressão das dívidas e a certeza da  falta de saídas a curto prazo.
Talvez o que explique a decisão desses pequenos homens de negócios se suicidarem seja o fato de que eles eram, ao mesmo tempo, empregadores e operários. Frequentemente, seus empregados eram velhos conhecidos, que com eles conviveram  uma vida inteira, muitas vezes morando  no mesmo bairro ou até na mesma rua. Por isso, para esses pequenos empregadores, tomar a decisão de demitir não significa cumprir um rito impessoal, um gesto corriqueiro num mercado sem rosto humano.
No artigo “Gli imprenditori suicidi caduti sul lavoro”, publicado no jornal Corriere della Sera,   Dario Di Vico, autor do livro Piccoli -  La pancia del paese (Editora Marsilio, 2010), julga que é preciso considerar os pequenos empresários e artesãos que se suicidam como “caídos do trabalho”, aos quais se deve todo  o reconhecimento público. “Eles merecem pelo menos que as associações honrem sua memória, como se faz, justamente, em relação a um grande número de operários que terminam cruelmente seus dias na fábrica, esmagados por uma máquina ou intoxicados por algum veneno.”
Lendo as magras biografias dos suicidas, o jornalista – também autor de “Industrializzazione senza sviluppo” e “Profondo Italia” - descobriu que alguns deles já haviam sofrido golpes violentos em família ou na comunidade.  “O individualismo tinha se transformado, de poderoso fator de mobilização de energia, em nua e crua solidão”, avalia Di Vico.
Giuseppe Nicoletto, Paolo Trivellin, Walter Ongaro e outros “caídos do trabalho” citados por Di Vico em seu artigo, representam “casos de empreendedoria corajosa e batalhadora que o mercado conheceu dia a dia, na sua versão mais realista e seletiva,  e não naquela visão teórico-acadêmica que se pode encontrar em manuais de management.”
Geralmente, trata-se, na análise do autor de “Piccoli”, de ex-operários que, com muito sacrifício, tinham criado sua própria empresa e que, na nova condição de “patrões” não tinham esquecido o mundo e os sentimentos dos quais provinham.  E os dados sobre o emprego e a conjuntura econômica italiana parecem provar isso, reputa  Di Vico: “Os ‘Pequenos’, em toda Itália,  cortaram os postos de trabalho em proporção mínima em relação a quanto suas empresas perderam em termos de lucro no horribilis 2009.  A redução de   30%  (que é a média registrada para o período) nunca se tornou 30% a menos de empregados.”
Até o fim, descreve o jornalista, “os artesãos se recusam a dispensar seus próprios colaboradores, até chegarem, alguns, ao trágico paradoxo de se matar antes de demitir alguém com quem assumiram um compromisso na condição de empregadores. O famoso ‘pacto social’, termo que nunca falta nos discursos preparados pelos  ghost writer, os Pequenos  defendem assim. Com a própria pele.”
Conforme o autor, o que deve ser aclarado e apreendido a partir desses tristes fatos é que, nos vários sistemas de valores que existem nas sociedades modernas, alguns dominam a opinião pública, se afirmam em sua hegemonia e ditam estilos de vida.  Outros, ele conclui, “permanecem ocultos, são invisíveis aos demais ou objeto de ironias levianas, mas conservam teimosamente a coerência dos seus códigos de honra”.
É por isso que, para Di Vico   não  foi  excesso de trabalho que matou os Trivellin e os Ongaro: “O que  matou esses filhos de um calvinismo menor, e pelo que devem ser respeitados e recordados,  foi  excesso de ética”.
Bancarrota e suicídio

No cenário de falências, a setentrional Lombardia aparece na frente, seguida pelo Vêneto. A quebradeira atinge principalmente pequenas empresas, em grande número da área de construção civil. Do total, 75% dos empresários obrigados a fechar as portas tinham um volume de negócios não inferior a dois milhões de euros antes da crise, segundo estimam alguns institutos de pesquisa.    
A decadência econômica aparece relacionada com episódios de suicídio, revela uma pesquisa do Eures, relativa ao ano de 2009 e divulgada em janeiro de 2012. Entre os desempregados, pequenos empresários arruinados e aposentados empobrecidos uma constatação dolorosa emerge: um suicídio por dia.
De acordo com o instituto de pesquisas econômicas e sociais já  havia, na Itália,  desde 2009, um aumento significativo de suicídios (da ordem de 5,6% relativamente ao ano de 2008),  por motivos econômicos, e principalmente entre os homens, mais frágeis diante da perda do trabalho.  Foram registrados 2.986 suicídios ao longo daquele ano em que a crise econômica não se apresentava ainda em toda a  gravidade atual.  
A incidência entre os homens foi de 78,5% contra o percentual de 21,5% na população feminina, o índice mais alto registrado nas últimas décadas. Aparece, também, em constante aumento, nesta pesquisa, a predominância masculina entre as tentativas de suicídio. Segundo o Eures, o que parece caracterizar o fenômeno é a sua relação com o aumento do desemprego. Entre os suicidas de 2009, um total de  357 estavam sem trabalho.
Em termos relativos se evidencia o fato de que ter sido expulso do mercado de trabalho constitua um fator de impulso ao suicídio, pois se registraram 18,4 dos suicídios a cada 100 mil desempregados, contra 4,1 entre os que ainda estavam trabalhando quando puseram termo à própria vida.   

Também aponta uma conexão direta entre o fenômeno e a crise o fato de que  2009 registre o índice mais alto da década (198 casos, com um crescimento de 32% em relação a 2008 e de 67.8% relativamente a 2007). Em termos relativos, a pesquisa mostra que os suicídios por motivos econômicos chegam a representar, naquele ano, 10,3% do fenômeno, contra 2,9% registrados no ano 2000, pelos mesmos motivos. E este problema humano demonstra ser avassalador entre os homens, confirmando como a perda do papel social e da identidade como trabalhador possa golpear de modo fatal o mundo masculino.

Sem meias verdades 

A crise que se aprofunda fere também sem piedade o mundo feminino, atingindo, entre tantas mulheres, operárias que produziam míticas meias de seda que alimentaram o imaginário de gerações de italianos.   Dois dias depois do último natal, cerca de 250 trabalhadoras da Omsa, fábrica localizada em Faenza, na Emilia Romagna,  foram presenteadas, através de um fax, com a notícia da demissão.  As mulheres foram comunicadas de que, em  março de 2012, escancaram-se para elas as portas do desemprego. O estabelecimento industrial vai ser transferido para a Sérvia, onde os custos de produção são mais baixos e o operariado local submetido a um regime de exploração ainda maior. 
O otimismo que as trabalhadoras mantinham aceso apagou-se depois que as negociações fracassaram e elas ficaram diante da opção que a empresa lhes ofereceu: ficar em casa ou  transferir-se para a Sérvia, sujeitando-se às condições trabalhistas degradadas no país balcânico que a fábrica escolheu para aumentar seus lucros.
Alcançando rapidamente apoio público, as operárias lançaram na Web um apelo ao boicote da empresa, que, através de um comunicado, defende-se, alegando o princípio da “liberdade de empresa”. A Omsa argumenta que o fechamento do histórico estabelecimento de Faenza se deve à agressiva competição dos países com baixo custo de produção, que acolhem os empreendedores estrangeiros com uma cascata de incentivos econômicos.
Autor do livro “Mani bucate” (Editora Chiarelettere, 2011), o jornalista  Marco Cobianchi explica que a concorrência não é mais entre empresas livres, mas entre estados nacionais que se enfrentam com golpes de incentivos e subsídios. Ele afirma que não somente o menor custo do trabalho, mas sobretudo a chuva de subsídios, impensáveis em qualquer país da zona do euro, atraem as empresas para países como a Sérvia.  Cobianchi, que também escreveu “Bluff, perché gli economisti non hanno previsto la crisi e continuano a non capirci niente” (Orme Editore, 2009), lembra  que o motivo da Omsa é o mesmo que levou as empresas  Fiat, Generali, Intesa Sanpaolo, Unicredit, Benetton e Fantoni a se transferirem  para a Sérvia: os incentivos estratosféricos oferecidos pelo governo daquele país.
Em "Mani bucate", que Cobianchi apresenta como a primeira investigação sobre empresas mantidas com a ajuda do Estado -   há uma lista de  todos os incentivos que a Fiat obteve quando decidiu reabrir a sua “histórica” fábrica em  Kragujevac, o que causou, de fato, o fechamento do estabelecimento de Termini Imerese, na Itália. Ele escreve: “Precisei de três páginas de "Mani bucate"  só para per elencar  os títulos dos incentivos sérvios à Fiat, que,  sintetizando, tratam-se de isenções fiscais que vão dos   cinco mil  aos dez mil  euros anuais para cada vaga de trabalho criada no país (incentivo que também foi oferecido à  Omsa); una “free zone” que permite a importação dos pré-fabricados necessários para produzir os carros sem praticamente pagar taxas; nenhum imposto ao município de Kragujevac por dez anos; terrenos gratuitos para o conjunto de pequenas atividades industriais e comerciais que se desenvolverem em torno do grande complexo; vantajosos acordos comerciais firmados pela Sérvia com a Rússia, União Europeia e Estados Unidos que permitem exportação dos produtos para toda aquela área sem pagar taxas.”
As isenções fiscais de cinco a dez mil euros para cada emprego criado faz com que o custo da mão de obra, nos 12 primeiros meses, seja praticamente zerado, considerando que o salário médio de um operário sérvio é de cinco a seis mil euros por ano. E isso não é tudo, pois entre as  vantagens há também a isenção por dez anos de impostos sobre os lucros para investimentos superiores a sete milhões de euros ou para  empresas  que abram frentes de trabalho para 100 novos empregados.  
Enquanto isso, como denunciam sindicatos de trabalhadores, as regiões italianas nada fazem  para evitar a ida das empresas para fora. Na Emilia Romagna, onde se localiza a Omsa, sequer foi discutido um projeto de lei de 2010, que previa  punição para as que fossem  embora,  revogando incentivos retroativos até dez anos.Enquanto a proposta não sai da intenção e empresas emigram, contraditoriamente, multiplicam-se, patrocinados pela própria região, encontros e seminários. Os eventos servem para esclarecer como é conveniente, por exemplo,  “fare business” na Sérvia, onde investimentos diretos gozam de até 25% de financiamentos do governo a fundo perdido. Além disso, outra vantagem é o livre comércio entre a Sérvia e o trio Rússia-Bielorrússia-Czaquistão (170 milhões de pessoas), que permite exportar para aqueles mercados somente pagando reduzida taxa alfandegárias de 1%.
Brigadas teatrais

Nesse cenário de perdas e danos para os trabalhadores, as  operárias  da Omsa não esperam de braços cruzados a  data do desemprego coletivo e a atual promessa de  “cassa integrazione” (algo semelhante ao salário desemprego),  por seis meses. Além de  desencadearem uma mobilização em todo o país, através da internet, as operárias ousaram experimentar uma nova forma de luta. Abriram uma frente cultural para suas manifestações, através do teatro de rua e de um documentário.
As brigadas teatrais Omsa se comunicam com meia Itália. Vestidas de vermelho, elas expressam sua dor enquanto combatem, encenando o documentário “Licenciata!” (“Desempregada!”), nascido de sua experiência teatral.  Mulheres que passaram mais de 23 anos confeccionando e controlando a produção de meias,  entre as paredes da fábrica, agora percorrem estradas reais e virtuais, disseminando sua luta. Uma delas denuncia: “Eles vão para a Sérvia porque querem ganhar mais dinheiro, e pouco se importam com quem, sem lamentar-se, fatigou duramente 20 ou 30 anos. E talvez seja este o problema: sempre trabalhamos sem dizer nunca nada”.
Com o teatro, as trabalhadoras conversam com sua gente no meio das ruas, e com o documentário (já inscrito para concorrer ao prêmio  “Doc in Tour 2012 Emilia-Romagna”), alcançam o mundo.  Outra das operárias, que como as demais nunca havia feito teatro,   assim expressa o momento que está vivendo: “Você não é ninguém, 20 anos de sacrifício e permanece sendo apenas um número, aprisionado no braço da ‘morte’.” Ela se refere à   ‘morte civil’  dos que, fora do mercado de trabalho, nada mais contam. São apenas supérfluos.

Vozes do alto

Em outras partes do Bel Paese homens levantam a voz para defender seu trabalho.  No Aeroporto Leonardo da Vinci de Roma, em Fiumicino, pelo menos mil trabalhadores correm o risco de perder o trabalho, segundo denunciam os sindicatos de categoria. A arriscar a pele são os que atuam na Divisione Tecnica Alitalia, por causa de uma controvérsia ligada a trabalhadores da Argol, organização que desde 1994 se encarrega da movimentação de componentes aeronáuticos e  da logística relacionadas à operação da companhia aérea Alitalia.
Stefano Monticelli, secretário regional da Filt-Cgil (Federazione Italiana Lavoratori Trasporti)  declarou à imprensa que se está diante de uma incongruência: enquanto o aeroporto de Fiumicino assinala um constante crescimento, os trabalhadores vivem diante da ameaça concreta de demissões e precarização. Os dirigentes sindicais ligados ao setor entendem que este problema localizado é apenas a ponta do iceberg de uma situação mais alarmante, relacionada ao desrespeito de cláusulas sociais, o que coloca em perigo também  4500 trabalhadores da Alitalia, atualmente em “cassa integrazione”, e aos quais poderia não ser garantida a recolocação. La “cassa integrazione” é uma ajuda econômica às empresas em dificuldades por parte do governo, que substitui o empregador no pagamento do salário de trabalhadores ou complementa o salário de operários que trabalham em horário reduzido.
O que também preocupa os trabalhadores italianos é que os seus contracheques,  segundo estudos do Eurispes, relativos a 2010, estão entre os mais rebaixados da Europa. Entre 30 países, a Itália ocupa o 23º lugar, com um salário médio anual de 21.374 dólares, superando países como Portugal (19.150 dólares por ano). Na classificação da Ocse (Organizzazione per la  Cooperazione e lo Sviluppo Economico) entre os dez primeiros classificados  se encontram : Coreia do Sul (39.931 dólares anualmente), Reino Unido (38.147), Suiça (36.063), Luxemburgo (36.035), Japão (34.445), Noruega (33.413), Austrália (31.762), Irlanda (31.337), Países Baixos (30.796) e Estados Unidos (30.774).
Comparativamente com outros trabalhadores europeus, os italianos recebem um salário 44% inferior ao de um  inglês e 19% mais baixo do que o de um grego. Enquanto os empregados sentem o peso dos salários rebaixados, a pior situação é vivida pelos que não têm nenhum trabalho.  Conforme registro do Istituto di Statistica Nazionale, o desemprego, em janeiro de 2012, atingiu a marca de 9,2%, o  pior índice desde 2004.   A condição mais penosa  é a dos jovens: um deles, a cada três em busca de trabalho,  não consegue uma ocupação. Para agravar o problema, as novas regras aprovadas no governo Monti, relacionadas à aposentadoria, aumentam o tempo de serviço, forçando os  mais velhos a ficarem mais tempo no mercado de trabalho.
Na Itália, mandar um trabalhador para a rua não é tão difícil como em países do norte europeu, como a  Alemanha, por exemplo, onde hoje é possível demitir somente por  justa causa. E deve ficar ainda mais fácil se forem aprovadas as reformas trabalhistas propostas pelo governo técnico, como a mudança do Artigo 18 do Statuto dei Lavoratori.  Tal artigo garante que a demissão é válida apenas se acontece por justa causa ou motivo justificado. Se faltarem tais pressupostos, um juiz do trabalho declara a ilegitimidade do ato e ordena a reintegração do trabalhador na mesma função que ocupava antes.
A mudança que o governo Monti propõe prevê que trabalhadores  contratados por tempo indeterminado teriam que passar por um período probatório de seis meses, no qual não seriam tutelados,   segundo o que assegura hoje o artigo 18 (reintegração no posto de trabalho e ressarcimento por danos causados em caso de demissão discriminatória).
Isso significa que durante os seis meses probatórios o empregador poderia livremente demitir sem justa causa ou por motivo justifificado. De modo que, sem as garantias do Artigo 18, os demitidos não mais poderiam dirigir-se ao juiz para obter reintegração ou qualquer ressarcimento. Outra grave mudança, mesmo para os que viessem a superar os seis meses de prova, é que a empresa teria a faculdade de demitir por motivos econômicos ou de organização, pagando apenas uma indenização compatível com o tempo de serviço. Só ficariam livres deste perigo os contratados por tempo indeterminado e já tutelados pelo artigo 18.   
Enquanto no outro lado do oceano, nos Estados Unidos, um empresário pode mandar embora um empregado sem nenhum problema e sem ter qualquer obrigação de reintegrá-lo,   o professor Monti avança no processo de flexibilização das relações de trabalho na  Itália.  E, para chegar a isso, parece contar com um aliado importante: o presidente da república Giorgio Napolitano.

O governo garante que vai ouvir os representantes dos trabalhadores, separadamente, mas já deixou claro que decidirá sozinho, sem aceitar vetos. Susanna Camusso, líder da Cgil (Confederazione Generale Italiana del  Lavoro), em manifestações públicas e declarações à imprensa, tem sido categórica: “No artigo 18 não se toca, sobre este ponto nós não negociamos.” Em encontro com a ministra do Trabalho, Elsa Fornero, a sindicalista disse que a central está disposta a dialogar, desde que o artigo 18 permaneça intocado, pois se trata de uma conquista histórica para salvaguardar os direitos dos trabalhadores e impedir  demissões.
Horror econômico

A luta de homens e mulheres para preservar seu trabalho, o drama dos demitidos de todos os cantos, o desespero dos desempregados, as mortes dos “caídos por excesso de ética”, assim como as incontáveis batalhas perdidas por  trabalhadores em todo o mundo,  fazem pensar no  “horror econômico”,  expressão criada pela escritora francesa Viviane Forrester,.  Ela é autora de numerosos livros, entre eles  “L’Horreur Economique”, publicado  em 1996, e que em poucas  poucas semanas foi  comprado por mais de 160 mil pessoas. Traduzida em várias línguas, a obra figurou entre as mais lidas naquele ano, tendo sido erguida como uma bandeira por operários e desempregados em suas manifestações.
Forasteira no mundo dos “metafísicos da economia”, a escritora retrata, no seu denso ensaio sobre o “horror econômico” que massacra os viventes,    a angústia da exclusão através do olhar dos desempregados.  Deve-se lembrar, escreve a autora de “Uma estranha ditadura” e “O crime ocidental”,  como é “pouco importante a sorte das almas e dos corpos camuflados nas estatísticas e usados apenas como um modo de calcular.”
Ao desvelar, com seu texto contundente, a globalização da pobreza, Viviane Forrester faz tremer quando  nos leva a  constatar que já se superou a fase da  exploração do humano gênero até a última fronteira da miséria. Na ótica das potentes classes dirigentes da economia privada,  já foi ultrapassado o limiar insustentável em que a multidão de deserdados é  simplesmente considerada supérflua.
 
“Não subalternos nem reprovados: supérfluos E por essa razão, nocivos. E por essa razão...”

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Noam Chomsky: Depois das não-pessoas, os não-eventos

Por Noam Chomsky, no Truthout

Tradução: Heloisa Villela via VIOMUNDO

George Orwell cunhou o termo “não-pessoa”, muito útil para as criaturas que têm suas existências negadas porque não toleram a doutrina do estado. Podemos somar o termo “sem-história” para nos referir às não-pessoas expurgadas da história em bases semelhantes.
 
A falta de história das não-pessoas ganha destaque nos aniversários de morte. Os importantes são, normalmente, comemorados com solenidade quando é apropriado: Pearl Harbor, por exemplo. Alguns não são, e podemos aprender muito sobre nós mesmo retirando-os da lista dos sem-história.
Neste momento não estamos marcando um evento de grande significado humano: o aniversário de 50 anos da decisão do Presidente Kennedy de deflagrar uma invasão direta no Vietnã do Sul, que logo se tornaria o caso de crime de agressão mais extremo desde a Segunda Guerra Mundial.

Kennedy mandou a Força Aérea bombardear o Vietnã do Sul (em Fevereiro de 1962, centenas de missões já tinham voado); autorizou a guerra química para destruir as plantações e matar de fome até a submissão a rebelião popular; e deu início ao programa que em última análise expulsou milhões de moradores do campo para as favelas dos centros urbanos, virtuais campos de concentração, ou “Hamlets Estratégicos”. Lá, os moradores estariam “protegidos” da guerrilha que, como a administração americana sabia, eles estavam dispostos a apoiar.

Esforços oficiais para justificar os ataques eram fracos e mais do que tudo, fantasiosos. Foi típico o discurso do presidente para a Associação Americana de Editores de Jornais, no dia 27 de Abril de 1961, quando ele avisou que “nós enfrentamos um movimento de oposição no mundo, uma conspiração monolítica e sem lei, que se apoia, principalmente, em métodos secretos para expandir sua esfera de influência”. Nas Nações Unidas, em 25 de Setembro de 1961, Kennedy disse que se a conspiração alcançasse seus objetivos em Laos e no Vietnã, “as cercas seriam escancaradas”.

O resultado de curto prazo foi documentado pelo muito respeitado especialista em Indochina e historiador militar Bernard Fall – nenhuma pomba (pacifista), mas um desses que se preocupava com as pessoas de países atormentados.

No começo de 1965 ele estimou que cerca de 66.000 vietnamitas do sul tinham sido assassinados entre 1957 e 1961; e outros 89.000 entre 1961 e Abril de 1965, quase todos vítimas do regime cliente dos EUA ou “do peso massacrante das armaduras americanas, do napalm, dos bombardeiros aéreos e, finalmente, dos gases que provocam vômitos”.

As decisões foram mantidas nas sombras, como são as consequências, que persistem. Para mencionar apenas um exemplo: “Schorched Earth”, de Fred Wilcox, o primeiro estudo sério do impacto horroroso e persistente da guerra química contra os vietnamitas, surgiu há poucos meses – e provavelmente vai se juntar a outros trabalho de não-história. O cerne da história é o que aconteceu. O cerne da não-história é fazer “desaparecer” o que aconteceu.

Em 1967, a oposição aos crimes cometidos no Vietnã do Sul atingiu uma escala importante. Centenas de milhares de tropas americanas estavam agindo de forma destrutiva no Vietnã do Sul e áreas de grande densidade populacional eram vítimas de bombardeios intensos. A invasão tinha se espalhado par ao resto da Indochina.

As consequências se tornaram tão horrendas que Bernard Fall previu que “o Vietnã, como entidade cultural e histórica… está ameaçado de extinção…, enquanto o campo literalmente morre sob os ataques da maior máquina militar jamais lançada contra uma área deste tamanho”.

Quando a guerra terminou oito devastadores anos mais tarde, a opinião majoritária estava dividida entre os que a chamavam de uma “causa nobre” que poderia ter sido vitoriosa com mais dedicação; e o extremo oposto, os críticos, para os quais havia sido “um erro” que se mostrou muito caro.

Ainda estava por vir o bombardeio da sociedade camponesa do norte do Laos, de uma magnitude que as vítimas passaram anos vivendo em cavernas para sobreviver; e pouco depois o bombardeio da zona rural do Camboja, que ultrapassou o nível da soma dos bombardeios aliados no Pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1970, o Assessor de Segurança Nacional dos EUA, Henry Kissinger, ordenou “a campanha de bombardeio massivo no Camboja. Tudo que voa em tudo que se move” – uma ordem de genocídio como raramente se viu em documentos arquivados.
Laos e Camboja eram “guerras secretas”, nelas a documentação era escassa e os fatos ainda são pouco conhecidos do público geral e até mesmo das elites educadas que, ainda assim podem recitar de memória os crimes, reais ou alegados, dos inimigos oficiais.

Em três anos nós poderemos –  ou não – comemorar outro evento de grande relevância contemporânea: o aniversário de 900 anos da Carta Magna.
Este documento é a fundação do que a historiadora Margaret E. McGuiness, ao se referir aos julgamentos de Nuremberg, aclamou como “um tipo de legalismo particular dos americanos: punição apenas para os se podia provar que eram culpados através de um julgamento justo com uma panóplia de proteções processuais”.

O Grande Capítulo declara que “nenhum homem livre” deve ser privado de direitos “com exceção do julgamento legal de seus pares e da lei local”. Os princípios foram expandidos depois para se aplicarem aos homens em geral. Eles cruzaram o Atlântico e entraram na constituição dos EUA e na Lei dos Direitos, que declarou: nenhum pessoa pode ser privada de seus direitos sem o devido processo e julgamento rápido.

Os fundadores (da democracia americana), claro, não tinham a intenção de usar o termo “pessoa” para designar todas as pessoas. Os índios americanos não eram pessoas. Nem os escravos. As mulheres raramente eram pessoas. Ainda assim, vamos nos prender ao cerne da noção que presume inocência, o que foi relegado a categoria de não-história.

Um passo mais adiante, para minimizar os princípios da Carta Magna, foi dado quando o Presidente Obama assinou o Ato de Autorização da Defesa Nacional, que codifica as práticas de Bush-Obama para prender indefinidamente, sem direito a julgamento, sob custódia militar.
Esse tratamento agora é obrigatório nos casos do acusados de ajudar as forças inimigas durante a “guerra ao terror”, ou são opcionais se os acusados forem cidadãos americanos.

A dimensão da medida é ilustrada pelo primeiro caso de Guantánamo a ser julgado durante a administração Obama: o de Omar Khadr, um ex-soldado criança acusado de crimes hediondos ao tentar defender a vila afegã onde morava quando ela foi atacada por forças dos EUA. Capturado aos 15 anos, Khadr ficou preso, durante oito anos, em Bagram e Guantánamo, até ser levado a um tribunal militar, em Outubro de 2.10, quando pode escolher entre se declarar inocente e ficar para sempre em Guantánamo ou se declarar culpado e servir mais outo anos. Khadr escolheu o último.

Vários outros exemplos ilustram o conceito de “terrorista”. Um deles é o de Nelson Mandela, retirado da lista de terroristas apenas em 2008. Outro foi Saddam Hussein. Em 1982 o Iraque foi retirado da lista de estados que apoiam o terrorismo para que a administração Reagan pudesse fornecer ajuda a Hussein, que acabara de invadir o Iran.

Acusações são caprichosas, sem revisão ou recursos, e comumente refletem objetivos de política – no caso de Mandela, para justificar o apoio do Presidente Reagan aos crimes do Estado de Apartheid para se defender do “grupo terrorista mais notório do mundo”: o Congresso Nacional Africano de Mandela.

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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

'O neoprogressismo pode ter vários anos pela frente'


O jornalista e escritor Ignacio Ramonet diz, em entrevista ao jornal Página/12 que a maioria dos governos da América do Sul cumpre a função dos social-democratas europeus nos anos 50 e que, se não cometerem erros, podem aspirar a um ciclo longo de governo. "A construção do Estado de bem-estar e o aumento do nível de vida acaba com qualquer tipo de recurso para as oposições tradicionais conservadoras. Agora, a população está percebendo como os seus países estão reconstruindo sociedades arrasadas".


Porto Alegre - Nascido em Pontevedra e emigrado com sua família para a França, Ignacio Ramonet dirige o Le Monde Diplomatique em espanhol. Foi um dos animadores do primeiro Fórum em 2001 e é um dos jornalistas que mais percorrem o mundo, observando suas diferentes realidades.

– Sobre o final do Fórum temos direito de perguntar se foi útil e o que mudou com respeito ao primeiro encontro, de 2001.

Ramonet –Quando o fórum foi criado não havia outro governo dos que eu chamo neoprogressistas na América Latina que não fosse o de Hugo Chávez, que inclusive veio ao fórum. No ano seguinte, em 2002, pela primeira vez Chávez se declarou socialista. Também veio Lula quando ainda não era presidente, mas candidato. Agora, ao contrário, os governos neoprogressistas estão implementando as políticas de inclusão social e, ao mesmo tempo, o fórum é menos um fórum dos movimentos sociais. É um fórum no qual se discutiu a crise européia, o movimento dos indignados em geral (os chilenos, Wall Street, etc.) e a questão da memória. A jornada da Flacso na sexta-feira, o dia do Holocausto, foi uma das atividades centrais, organizada pelo Fórum Social Temático e o Fórum Mundial da Educação.

Até agora esses não eram assuntos do fórum. Os indignados são um tema que não tem mais de um ano, e o debate sobre a memória não havia sido proposto dessa maneira. Dominavam o anti-imperialismo e a denúncia das guerras dos Estados Unidos no Iraque ou no Afeganistão. Está se chegando a um nível diferente. Os governos aqui na América do Sul estão agindo bem em seu conjunto. Mas, cuidado, chega uma nova etapa e é preciso melhorar certos aspectos qualitativos.

– O que deveria melhorar na América do Sul?

Ramonet – Não acreditar que esta bonança que se está vivendo vai ser duradoura. Depende do êxito norte-americano e europeu e de se há baixa ou não na economia chinesa que afete a potências agrícolas ou de minérios.

– Um dos pontos é como a América do Sul aproveita sua atual vantagem pelos preços favoráveis dos produtos primários que vende para que outra vez o lucro principal não sejam palácios franceses no meio da pampa úmida.

Ramonet – A economia funciona por ciclos. Na Europa não podemos falar de palácios no meio de nada, mas sim de grandes aeroportos moderníssimos que agora quase não funcionam ou óperas em cidades pequeníssimas. A riqueza passou e nem sempre se sabe aproveitar. Aqui, na América do Sul, a solução é criar mais e mais mercado interno. E mercado interno protegido. E também ampliar os intercâmbios no marco da solidariedade latino-americana. Agora, o mercado latino-americano tem que se articular para que haja massa crítica para todos. Se não, o Brasil se desenvolverá, mas o Uruguai não. Agora que desapareceram 80 milhões de pobres, há uma classe média que consome. O Brasil introduziu o imposto sobre a produção de automóveis frente à China e aumentou essa taxa em 30%. É proteção e é correta.

– Que discussão mundial nova apareceu no Fórum?

Ramonet – Por agora, muitos constataram que, além das diferentes opiniões, a globalização existe. Se existe, há que analisá-la e descobrir como evitar seus inconvenientes. Em escala mundial, em um debate sobre a crise do capitalismo, uma das opiniões foi que havia que pensar talvez em desglobalizar e reduzir a globalização. Não existe só uma crise econômica. Existe uma crise da política, da democracia, uma crise alimentar, ecológica. Muitos países latino-americanos não estão pensando nas outras crises, em particular na ecológica. Boaventura de Souza Santos sublinhou que não é normal que se acuse comunidades indígenas, chamando-as de "terroristas" quando querem proteger o meio ambiente. As realidades vão mudando. O Movimento dos Sem Terra do Brasil, que antes ocupava terras, não o faz porque não as têm. Qualquer pedaço de terra é soja. E como o MST, quando se assenta, realiza produções ecológicas, é recriminado pelo agronegócio.

– A discussão ecológica é chave também porque haverá uma cúpula mundial no Rio de Janeiro em junho.

Ramonet – A precaução ecológica é algo que se lembrou e que, em certa medida, faz com que os governos estejam pensando em fazer as coisas certas. Dilma disse que queria dar casas à população. Parece-me muito bem, realmente muito bem. Mas tenhamos cuidado de não chegar ao pragmatismo chinês, que em nome do desenvolvimento destrói o que se oponha a essa idéia, e terminemos entrando sem necessidade em uma grande contradição.

– Dilma diria: “Está bem, Ignacio, mas eu tenho que governar o Brasil e terminar com a miséria”.

Ramonet – As preocupações ecológica e a social não são excludentes. O Fórum apreciou muito que Dilma tenha decidido vir aqui e não tenha viajado ao Fórum de Davos. Quando Lula veio e disse que depois se dirigiria a Davos, alguém lhe disse: “Não se pode servir a dois senhores de uma vez”. É uma frase bíblica. “Tem que escolher.”

– Talvez Lula necessitasse ir a Davos porque isso também ajudava na consolidação política de seu governo e hoje o Brasil não necessita de Davos.

Ramonet – Claro, as condições mudam. E o fórum deve mudar também. Antes muitos dirigentes ou presidentes vinham aqui se fortalecer. Chávez e Lula, que já citei. Também Evo Morales, Rafael Correa e Fernando Lugo. Para algumas discussões, uma reunião do fórum pode ter hoje um maior sentido na Europa, para discutir ali mesmo a tremenda crise. No próximo ano está previsto que tenha lugar em um país árabe, porque lá os movimentos sociais não só estão se desenvolvendo, mas também conseguiram ganhar em dois países. E há novas discussões, por exemplo, entre movimentos sociais laicos e movimentos sociais islâmicos.

– O que poderia ser discutido na Europa?

Ramonet – Na Europa já há algumas discussões que se produziam na América Latina. Uma é a idéia de que a política está gasta e se necessita uma renovação política. De que o sangue e a vitalidade nova virão dos movimentos sociais. Dessa vitalidade pode surgir uma mudança. Este fórum não teria o mesmo sentido se fosse organizado em Madri, Atenas ou Barcelona, onde há sociedades que sofrem e ao mesmo tempo registram em alguns setores grande vontade de mudança. Na América do Sul, por sorte de vocês, existem situações em que a preocupação é seguir crescendo e como fazê-lo melhor.

– Não há um risco de endeusar os movimentos sociais como fatores de mudança? Se não há construção política, não se diluem?

Ramonet – Sim, é importante ver como se passa de um momento ao outro. Ainda não estamos nessa etapa na Europa, me parece. Ainda não. Ninguém expressa melhor o sofrimento social que o movimento social. Mas se não se dá o passo para a política, todas as grandes crises sempre servem à extrema direita, que aparece sob a forma de movimentos e de partidos anti-sistema. Prometem as mudanças mais radicais, demagógicas, transformacionais. É importante que o sofrimento social se encarne em movimentos que tenham vocação de se envolver na política.

– Por que ainda não acontece esse passo?

Ramonet – Entre outras coisas, em minha opinião, porque faltam líderes. Até o momento, o movimento social inclusive reprova ter líderes. São muito igualitaristas do ponto de vista do funcionamento democrático. É como a doença infantil do movimento social. Em breve chegará o momento da adolescência ou a maturidade, quando seguramente se gerarão líderes. Não líderes salvadores. Falo de dirigentes democráticos que possam entender o movimento social e ajudá-lo a encontrar respostas. Depois da crise do sistema político venezuelano, no final do que se chamou o “puntofijismo”, teria havido mudanças sem Chávez e o que ele representava? E me faço a mesma pergunta com respeito ao Equador e Correa, à Bolívia e Evo, ao Brasil e Lula, à Argentina e Kirchner.

– E como funciona a relação entre os líderes, os movimentos e os partidos nesses países da América do Sul?

Ramonet – Minha percepção é que hoje os partidos têm menos influência que há dez anos e os movimentos sociais também porque os governos estão fazendo tudo. Os líderes dos governos conduzem a mudança. Houve uma energia social que produziu a mudança, mas a mudança está tão encarrilhada que às vezes há uma descapitalização da política que paradoxalmente não incomoda muito.

– Talvez com as construções políticas aconteça o mesmo que com os ciclos econômicos. Talvez devam ou possam ser realizadas antes que o ciclo atual de governos sul-americanos termine.

Ramonet – A função destes governos é muito semelhante a dos governos europeus dos anos 50 que, essencialmente, sendo conservadores ou progressistas, tinham como funções construir o Estado de bem-estar, reconstruir cada país depois da guerra e aumentar o nível de vida da população. Isso lhes deu 40 anos de estabilidade política. Mas terminou. Se os neoprogressistas sul-americanos não cometerem muitos erros, talvez tenham pela frente várias décadas como a social-democracia nórdica. Hoje melhoram estruturas, o nível de vida, criam trabalho. Não é por acaso que são os governos neoprogressistas os que estão trabalhando bem. Assim aconteceu com os velhos partidos social-democratas. Além disso, a construção do Estado de bem-estar e o aumento do nível de vida acaba com qualquer tipo de recurso para as oposições tradicionais conservadoras. Agora a população percebe como os países reconstroem sociedades arrasadas.

As favelas eram pensadas como uma fatalidade. Para a direita, era assim porque é assim. Mas a força da direita desapareceu, e também o elemento militar. As leis da memória são as que devem responsabilizar – sem vingança, com documentos e base histórica sólida – e estabelecer responsabilidades. Não vingar-se, mas terminar com a impunidade. Apesar de que o que vou dizer parece escandaloso, estamos no momento mais fácil da América do Sul. Se não cometerem erros e fizerem uma gestão tranquila, os governos de sinal neoprogressista podem ficar no poder muito tempo. Por isso é preciso pensar bem as sucessões políticas. Na Argentina isso funcionou bem. No Brasil, o que fez Lula foi exemplar. É uma lição. E por isso hoje Dilma tem mais aprovação popular do que Lula tinha em seu primeiro ano de governo.

(*) Ignacio Ramonet é autor, entre outras obras, de "Fidel Castro: biografia a duas vozes" (Boitempo, 2006).

Tradução: Libório Junior

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

José Graziano da Silva, diretor da FAO, visita loja da Reforma Agrária do MST



Por Luiz Felipe Albuquerque
Da Página do MST


Em visita à loja da Reforma Agrária do MST, no Mercado Público de Porto Alegre (RS), José Graziano da Silva, diretor-geral das Organizações das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), viu o sucesso dos produtos dos assentamentos da Reforma Agrária e da Agricultura Familiar.
Em meio aos mais de 250 produtos comercializados pela loja – composta em sua maioria por produtos orgânicos – Emerson Giacomelli, presidente da Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul (Coceargs), explicou o funcionamento e a capacidade de produção desse setor agrícola.
“Essa loja é um espaço de centralização da comercialização e divulgação dos resultados dos assentamentos. E é capaz de demonstrar os resultados da luta social. Além de ter a função de proporcionar uma integração entre o produtor e o consumidor, fazendo essa relação com a sociedade de um modo geral”, explicou Emerson.
Tipos de grãos, arroz, frutas, legumes, ervas, sucos, mel, geléia, conservas e vinhos são apenas alguns dos alimentos vendidos na loja da Reforma Agrária, cujos responsáveis pelo seu abastecimento são os assentamentos e agricultores familiares, a sua maioria do Rio Grande do Sul.
Para o diretor de Política Agrícola da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Sílvio Porto, a importância da loja é demonstrar à população que consume os alimentos que a Reforma Agrária é de fato crucial para o desenvolvimento do país.
“A produção da agricultura familiar e da Reforma Agrária permite a inclusão social, a relação com a natureza de uma forma muito mais sustentável, em que o policultivo, a possibilidade da diversificação produtiva está sempre presente. O agronegócio pode até apresentar aspectos relevantes para o país, no sentido do equilíbrio da balança comercial, mas esse modelo tem trazido diversos dissabores ao país, como a redução da mão de obra empregada e a utilização dos agrotóxicos – tornando-nos no maior consumidor de venenos agrícolas do planeta. Algo desastroso no ponto de vista social, ambiental e, inclusive, econômico, pois isso implica num alto custo de produção”, disse.
“A Reforma Agrária é uma questão ainda presente e de fundamental importância a ser feita no país”, disse Porto.

Buscando experiências

O vice-ministro do Desenvolvimento Rural Agropecuário da Bolívia, Victor Hugo Vásquez, também visitou a loja  para conhecer as experiências do MST e reproduzi-las para os agricultores familiares de seu país. “Chegar a um nível de produção e comercialização é um grande avanço do Movimento”, ressaltou.
Os alimentos vendidos na loja materializam o processo de agregação de valor ao produtos, uma vez que a maioria dos alimentos são de agroindústrias dos próprios assentamentos.
Ao agregar valor ao produto por meio das agroindústrias, permite-se um maior desenvolvimento do meio rural, de modo que a renda se fixa campo – sem o atravessamento de empresas -, gera trabalho, especialmente para a juventude local e viabiliza a existência de um campo com gente, desafogando os centros urbanos.
“Tenho plena convicção que essa é agricultura do futuro. O agricultor tem que deixar de ser apenas um bom produtor. Ele tem que assumir todo o processo de produção. Aqui está uma combinação perfeita do modelo de agricultura que queremos para o Brasil e para o mundo”, destacou Ivar Pavan, secretário Estadual de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo do governo do Rio Grande do Sul.
Para Pavan, a Reforma Agrária tem um papel importante no processo de erradicação da fome e da pobreza. “A terra é o insumo básico para enfrentar o tema da fome. A agricultura familiar tem na sua característica a produção de alimentos. Colocar a terra na mão de quem produz alimentos deve ser o objetivo de todo e qualquer governo”, acredita, ao lamentar o fato de que isso ainda não se tornou realidade enquanto política pública. 
Para ele, mesmo que o agronegócio tenha a hegemonia do modelo de produção, essa é uma disputa que ainda não se encerrou. “O mercado não pensa no interesse social, em meio ambiente. Pensa apenas lucro. As conseqüências estão aí: o aquecimento global, mais de 1 bilhão de famintos no mundo, tudo resultante do modelo do agronegócio. A sociedade tem que se dar conta da necessidade de mudar”, avalia.

Economia verde ou economia das verdinhas?


“Antes eles garantiram a parte morta da natureza e agora querem a parte viva”, disse a francesa Genevieve Azam, ativista da Attac, durante debate sobre a chamada economia verde. O americano Pat Mooney reforçou a fala de Genevieve: “Desde a Rio 92, é possível ser dono dos elementos da cadeia periódica e dos códigos genéticos dos seres. Agora o capitalimo está atrás do restante. Através da nanotecnologia e da biotecnologia, é possível tornar os elementos da natureza em produtos”.



Porto Alegre - O segundo dia de atividades do evento Plenárias, Diálogos e Narrativas rumo à Rio +20 contou com uma plenária sobre alternativas à chamada economia verde, terminologia que os grandes capitalistas utilizam para posar de preocupados com o meio ambiente. Com o auditório da faculdade de direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul repleto, a francesa Genevieve Azam abriu as falas dizendo que o agora capitalismo verde quer em 2012 saquear o que não conseguiu saquear em 1992, época da Eco 92. “Antes eles garantiram a parte morta da natureza e agora querem a parte viva”, disse a ativista da ATTAC.

O americano Pat Mooney reforçou a fala de Genevieve: “Desde a Rio 92, é possível ser dono dos elementos da cadeia periódica e dos códigos genéticos dos seres. Agora o capitalimo está atrás do restante. Através da nanotecnologia e da biotecnologia, é possível tornar os elementos da natureza em produtos”. Além da crítica ao modelo de negócios da economia verde, Mooney mostrou-se alarmado com ações de governos, que não só não aceitam a responsabilidade pelos danos causados ao planeta, como estão tentando modificar o modo como a natureza funciona para adequá-lo ao modus operanti do capitalismo: “Eu chamo isso de geopirataria, Dois exemplos são o estímulo à super-reprodução de planctons, para que a absorção de CO2 seja maior.

De outra forma, o governo inglês está preparando um vulcão artificial que lançará cinzas à estratosfera para diminuir a penetração dos raios do sol e diminuir o aquecimento global”. E o pior, segundo, Mooney é que as as nações desenvolvidas não precisam de aprovação da ONU para fazer isso. Mooney encerrou com uma analogia sobre a geopirataria: “É como se aqueles que destruíram a casa, nos garantissem que acharam um jeito de reconstruí-la sem parar de derrubar as paredes”.

A seguir, falou o representante do Greenpeace, Pedro Torres, que enumerou os fatos que não se enquadram nas alternativas à economia verde. “Nessa alternativa, não cabe Belo Monte, não cabe a energia nuclear, que é suja e perigosa. Não cabem também as termoeléticas, como a que estão construindo em Soape, Pernambuco, que será a mais poluente do mundo, pois usará o diesel como combustível. Da mesma forma, o novo código florestal também não se encaixa. Esperamos que Dilma vete os artigos que premiam os desmatadores”.

O padre Dario, do movimento Justiça nos Trilhos, propôs uma viagem aos participantes ao contar a situação da região de Carajás, na divisa do Maranhão com o Pará: “Lá está a maior mina de minério de ferro do mundo, e a sua produção sai pela ferrovia que tem o maior trem do mundo, com 400 vagões. O Brasil gosta de se orgulhar desses números. Com dinheiro público, a Vale segue explorando o minério brasileiro e exportando, ao invés de beneficiá-lo aqui mesmo. Assim o Brasil segue comprando o produto industrializado mais caro enquanto vende matéria prima barata. E, depois de 30 anos desse processo, o que propõem? A duplicação da ferrovia!”.

O indígena equatoriano Rodrigo De La Cruz, representante da Coica, denunciou o desrespeito aos territórios indígenas em toda a América Latina, sempre pelo mesmo motivo: “São esses territórios que abrigam grande parte da biodiversidade das florestas. É preciso garantir a integridade dos territórios e a preservação dos seus valores culturais”. Cruz criticou também a criminalização do movimento indígena: “No Equador, há 200 índios presos”.

Alex Conceição, representante do MST e da Via Campesina, pediu o fim do uso de agrotóxicos pelo agronegócio. “Todo brasileiro ingere mais de cinco litros de agrotóxicos por ano. A agricultura brasileira e a política agrária é ditada por sete empresas multinacionais”, protestou Conceição. Para o trabalhador rural, uma verdadeira alternativa a qualquer projeto de economia verde no Brasil precisa passar pelo veto do novo código florestal e por uma reforma agrária verdadeira.

O mediador Pablo Solon encerrou as discussões com a constatação de que o capitalismo verde já está instalado e pediu resistência: “Querem especular com a natureza, como fizeram com o dinheiro. Não se pode permitir. Na economia verde, só se pensa em preservar o que tem algum valor. Há que se reconhecer que a natureza tem seu próprio ritmo e que o homem não é dono dela, mas parte dela”.

Os debates rumo à Rio +20 seguem nesta sexta-feira, 27.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Sem Terra contribuem na colheita da azeitona por 30 dias na Palestina


Por Marcelo Buzetto
Coletivo de Ralações Internacionais e integrante
da Brigada de Solidariedade na Palestina
Do Jornal Sem Terra
*







Um grupo de 17 militantes do MST, da Via Campesina Brasil, da Consulta Popular e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (região metropolitana de São Paulo) ficou durante 30 dias na Palestina, visitando diversos territórios ocupados por Israel em 1948, em 1967 e em comunidades ocupadas ilegalmente após os acordos de Oslo (1994).

Os militantes, que ficaram na região entre outubro e novembro, formaram uma brigada de solidariedade internacionalista, que recebeu o nome de Ghassan Khanafani, jornalista, escritor e revolucionário palestino assassinado por agentes israelenses no Líbano em 1972. A brigada contribuiu na colheita de azeitonas junto às famílias camponesas palestinas, em uma ação de solidariedade contra a violência praticada por colonos sionistas-israelenses e pelo exército de Israel, que procuram intimidar e impedir a realização desse trabalho.

O grupo participou também do 1º Encontro de Camponeses, Trabalhadores Rurais e Pescadores da Palestina, organizado por entidades como a União dos Comitês de Trabalho Agrícola, a União dos Comitês de Mulheres Palestinas, o Centro de Informação Alternativa e o Mundubat. Nesse período, os militantes puderam debater com as organizações locais os passos necessários para a construção da Via Campesina no mundo árabe, além de aprofundar o conhecimento sobre a situação econômica, política, social e cultural, por meio do contato com organizações políticas palestinas e com movimentos israelenses que apoiam essa luta de libertação nacional e autodeterminação.

A brigada conheceu a luta dos trabalhadores israelenses por moradia e visitou um grupo de famílias sem-teto que ocuparam um prédio em Jerusalém e foram despejados pela polícia. Essas famílias organizam o Comitê em Defesa da Moradia Pública, que pressiona o governo israelense a criar uma política habitacional para atender os interesses dos mais pobres.

A pobreza e a desigualdade social nas cidades hoje controladas por Israel é crescente. Na cidade velha de Jerusalém, nas proximidades do Muro das Lamentações, local sagrado para o judaísmo, é possível se deparar com homens e mulheres israelenses pedindo esmolas.

O grupo de militantes brasileiros também esteve reunido com a Força Para os Trabalhadores (FPT), uma experiência concreta de organização autônoma dos trabalhadores. A entidade é uma nova central sindical, construída por meio das lutas dos trabalhadores precarizados e de outras categorias sem representação sindical.

A FPT está em processo de construção, mas já obteve algumas vitórias importantes, como na greve de empresas químicas de Haifa, no início deste ano. Trabalhadores israelenses e árabespalestinos estão se sindicalizando, o que é fato inédito desde a fundação do Estado de Israel, em 15 de maio de 1948.

Durante visita em Hebron, conhecemos a parte da cidade ocupada por Israel em 1967, onde estão fechados as casas e o comércio que eram de famílias palestinas, expulsas para que fosse realizado o processo de transformação de Hebron em uma “cidade judaica”, obsessão dos colonos sionistas que controlam parte da cidade.

Solidariedade na luta


A brigada participou da mobilização do Comitê Popular de Bi´lin, comunidade da Cisjordânia conhecida por realizar toda sexta-feira passeatas contra o muro do apartheid, construído para separar a vila do assentamento judeu-sionista criado após os acordos de paz de 1994.

Assim como em Bi´lin, várias terras palestinas da Cisjordânia foram ocupadas militarmente por Israel para dar continuidade ao projeto expansionista-colonialista, fato que tem feito crescer críticas (entre o povo) aos acordos assinados entre Autoridade Palestina e Israel.

Como Israel não cumpre as resoluções das Nações Unidas e as deliberações dos acordos, palestinos já falam do fim e da morte do processo de paz iniciado pelas negociações diretas com Israel. A luta e a mobilização popular ganham força como principais instrumentos para derrotar a ocupação israelense.

Na manifestação em Bi´lin, soldados israelenses jogaram bombas de gás e dispararam contra os palestinos e os internacionalistas do Brasil, Venezuela, França, Irlanda do Norte e Inglaterra. Em uma ação legítima de defesa diante do ataque das forças colonialistas israelenses e dos colonos que tomaram suas terras, jovens palestinos responderam com pedras a agressão sofrida.

Violência semelhante já tinha acontecido contra a brigada e os camponeses palestinos no vilarejo de Jalud, durante a colheita de azeitonas na Área C, território palestino da Cisjordânia sob controle total das tropas israelenses. Colonos israelenses atiraram com fuzis e agrediram os internacionalistas. Logo depois chegou o exército com o chamado “armamento não-letal”.

A Brigada Internacionalista Ghassan Kanafani é mais um exemplo concreto da luta dos trabalhadores e trabalhadoras pela construção de uma nova sociedade, mais justa, democrática e verdadeiramente humana: a sociedade socialista, que superará as fronteiras criadas pelo mundo do capital.

Um novo projeto socialista é possível?


Na avaliação do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, a grande tarefa dos movimentos e organizações que participam do Fórum Social Mundial hoje é buscar elementos mínimos de unidade para elaborar um programa de resistência e um novo projeto socialista. "A tipologia tradicional dos partidos de esquerda hoje está esgotada e os novos movimentos sociais ainda não conseguiram transcender o nível de mobilização de rua para o de organização política. A esquerda precisa recuperar a ideia de socialismo, mas não há nenhum acordo sobre como fazer isso", defende.

 
Porto Alegre - “A grande tarefa do Fórum Social Mundial hoje é procurar identificar nas forças políticas e sociais que o constituem elementos mínimos de unidade para elaborar um programa de resistência e um novo projeto socialista. O Fórum foi e permanece sendo um movimento de grande importância para a esquerda mundial”. A avaliação é do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), ao falar para a Carta Maior sobre os desafios colocados para a articulação de movimentos e organizações que constituem o processo do Fórum Social Mundial.

Após mais de dez anos de estrada e de debates, o FSM busca hoje definir qual é seu papel no atual contexto de crise econômica e instabilidade política e social em várias regiões do planeta. O Fórum, afinal de contas, nasceu para lutar por um outro mundo possível, e o mundo está se movendo rapidamente.

A reflexão de Tarso Genro sobre o Fórum Social procura situar historicamente o movimento no contexto da história da esquerda mundial no século XX. “O Fórum Social Mundial nasceu de duas vertentes que não tem uma mesma fundamentação crítica: os novos movimentos sociais que começaram a surgir na década de 80 e as forças críticas anticapitalistas ligadas à nova esquerda marxista, não leninista, que floresceram após o fim da União Soviética. Essas duas vertentes deram o tom das duas primeiras edições do Fórum”.

Ainda segundo a avaliação do governador gaúcho, o desenvolvimento do processo de globalização pós-queda da União Soviética, sob uma hegemonia neoliberal, não encontrou nestas forças de esquerda ligadas ao Fórum Social Mundial uma resposta minimamente uniforme. “Assim, o Fórum que nasceu para ser uma grande articulação contrária a esse modelo de globalização, passou a ser fundamentalmente um espaço de debates”. Mas, no final da primeira década do século XXI, aponta Tarso Genro, esses debates sofreram um bloqueio importante: “uma parte das organizações, mais ligada à esquerda partidária, queria que o Fórum se tornasse uma nova internacional ; outra, ligada aos movimentos sociais, defendia um tipo de articulação política diferente deste da esquerda mais tradicional; e uma terceira parte achava que o Fórum deveria permanecer como um espaço de debates, sem estrutura organizativa”.

Nos últimos anos, prossegue, o Fórum foi marcado por esse debate e tenta hoje redimensionar sua atuação. “Estamos vivendo um largo período histórico de reorganização da esquerda em meio a um clima de decadência do neoliberalismo. Não existem hoje, na minha avaliação, condições teóricas e organizativas nem uma ideologia socialista compatível com os desafios da conjuntura que estamos vivendo. Não há, do ponto de vista da esquerda, a hegemonia de uma visão sobre como enfrentar as crises do capital globalizado. Não há tampouco, com exceção do Brasil e talvez alguns outros poucos países, um partido de esquerda forte capaz de enfrentar essa agenda”.

Daí, defende Tarso Genro, surgiria a grande tarefa do Fórum: “buscar elementos mínimos de unidade para elaborar um programa de resistência e um novo projeto socialista”.

O governador reconhece os obstáculos para a realização dessa tarefa. A esquerda, do ponto de vista de seus partidos, também atravessa um período de transição, assinala. “Mesmo os partidos mais tradicionais, como os comunistas e os social-democratas, apresentam muitas diferenças entre si. A social-democracia abandonou seu documento mais importante, que era a defesa do programa de proteção social. Alguns países, como Suécia, Noruega e Dinamarca, desenvolveram políticas muito avançadas nesta direção, durante cerca de 30, 40 anos, deixando um legado importante. Mas a realidade hoje é outra. Os PCs também seguiram por caminhos diferentes. Basta ver, para tomar dois exemplos, as políticas adotadas pelo PC chinês e o rumo centrista seguido pelo PC italiano e por outros partidos comunistas europeus”.

A tipologia tradicional dos partidos de esquerda hoje está esgotada, conclui Tarso Genro. “A esquerda precisa recuperar a ideia de socialismo, mas não há nenhum acordo sobre como fazer isso”.

Ele aponta, por outro lado, alguns exemplos e manifestações que indicam a possibilidade de um caminho. “Na América Latina, por exemplo, Brasil, Argentina e Venezuela, cada um ao seu modo, vem demonstrando a possibilidade concreta de construir outro modelo de desenvolvimento. Nos países europeus, novos movimentos sociais organizados rompem com a inércia dos partidos de esquerda mais tradicionais e saem às ruas pedindo democracia real contra a hegemonia do capital financeiro sobre a política”.

Esses movimentos, no entanto, ressalta, também já apresentaram um limite importante: eles ainda não conseguiram transcender o nível de mobilização de rua para o de organização política. “No lado dos partidos, as dificuldades não são menores. Se o PT, por exemplo, não pensar em como reorganizar suas relações com as bases da sociedade, vai envelhecer rapidamente”.

O governador do Rio Grande do Sul destaca, por fim, que nesses novos movimentos de esquerda que estão surgindo, não está presente a ideia do socialismo como um modelo fechado, como um modelo pronto de um novo modo de produção. “Hoje, o socialismo é, cada vez mais, uma ideia reguladora, um horizonte a ser perseguido, e não um modelo de produção pronto e fechado. Temos aí a possibilidade de uma ideia de socialismo renovado, com o surgimento de novas formas de empresas, empresas cooperativadas, empresas públicas sob controle social”.
Essa ideia de socialismo, acrescenta, “não extingue a dualidade entre Estado e sociedade civil, erro cometido por experiências socialistas passadas que acabaram estatizando a sociedade civil e privatizando o Estado”. “Essa foi uma lição cabal que tivemos: a extinção da sociedade civil foi um crime contra a ideia libertária de socialismo. A esquerda, na minha avaliação, não deve mais pensar o socialismo como uma ‘ideia do proletariado’, mas sim como de todos aqueles que querem uma sociedade emancipatória e justa”.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Mauro Santayana: A direita e a pena de morte



Pergunte-se à senadora Kátia Abreu (PSD-TO) se ela concorda com a pena de morte para quem contratar pistoleiros para assassinar trabalhadores sem terra e seus líderes.

Por Mauro Santayana no CARTA MAIOR


A direita, no mundo inteiro, é acossada pela crise que ela mesma causou, e é nesses momentos que o perigo se torna maior. Os indignados saem às ruas, mas lhes falta direção política consequente. Os protestos, se não são alimentados de projetos claros e definidos, se perdem. Os atos de contestação dependem de ideologia e programas, que só os intelectuais são capazes de elaborar. A direita, no Brasil e no mundo, se reorganiza. A classe média é facilmente atraída por suas bandeiras da direita, com a que lhe promete "segurança".

Como muitos observam, as agitações podem ser facilmente vencidas pela repressão policial, mas as mudanças sociais – ou os atos de resistência contra o abuso do poder econômico – dependem de esforço intelectual tático e estratégico. O esforço intelectual, bem se entenda, não é o dos filósofos em suas torres de marfim, mas dos líderes experientes, que sabem como reunir e orientar os protestos e as reivindicações das grandes massas.

Já há sugestões de que, passadas as festas de Natal, os dirigentes das principais organizações populares do país – centrais sindicais, MST, entidades religiosas não vinculadas à direita, enfim, os movimentos do centro para a esquerda – reúnam-se em grande encontro, bem preparado, a fim de discutir a situação interna do país, da América Latina e do mundo. Desse encontro deve surgir um plano de ação política que mantenha os direitos que ainda conservamos, e os amplie.

O governo brasileiro se encontra sob a pressão da direita, que usa seus representantes no Congresso a fim de dificultar à presidente o cumprimento de sua vontade. Ainda agora, a senadora e fazendeira Kátia Abreu, representante da direita rural no Senado da República, e não do povo do Tocantins, está propondo que o seu partido, o PSD – que segundo Gilberto Kassab não é de esquerda, nem de direita, nem de centro, assuma a posição de centro-direita, sem constrangimentos. Ela se baseia em pesquisas com a classe C, que concorda, em seu sofrimento cotidiano, com a pena de morte e outras medidas radicais e irreversíveis.

Todos nos horrorizamos com a insegurança, sobretudo, a dos pobres, as maiores vítimas do narcotráfico, dos assaltos, da violência policial, dos preconceitos e da discriminação. E serão também estes os primeiros a serem executados, como ocorre no mundo inteiro, porque não podem pagar bons advogados.

É preciso fechar o passo à direita, e o caminho melhor é o de retomar o controle dos setores estratégicos da economia pelo Estado. A privatização das empresas estatais terá que ser revista, o conceito de empresa nacional do texto original da Constituição de 1988 deve ser restaurado e as transações brasileiras com os paraísos fiscais, proibidas. Com essas medidas, o país terá condições de combater os seus males antigos, como os da corrupção policial, as deficiências da educação e da saúde, e a força do poder econômico sobre a política. É assim que podemos obter a paz das ruas, não com a pena de morte. Pergunte-se à senadora se ela concorda com a pena de morte contra os fazendeiros que contratam pistoleiros para assassinar trabalhadores sem terra e seus líderes sindicais.

O fato é que a direita, no Brasil e no Mundo, se reorganiza. A classe média é facilmente atraída pelas bandeiras da direita, que lhe promete a "segurança". Ainda agora se sabe que a crise, na Europa e nos Estados Unidos, atinge com o desemprego também os profissionais mais qualificados. Foi o que se passou nos anos 1930, em que o fascismo, na Itália, e o nazismo, na Alemanha, recrutaram a classe média – e também os mais pobres e desinformados – para os seus quadros. O mesmo ocorreu na Espanha de Franco e em Portugal, com Salazar, com mais facilidade, em razão do apoio total da Igreja o que, felizmente, não ocorre entre nós.

É importante que todos os movimentos populares estejam mobilizados, como se propõe, a fim de sustentar uma política social que vem retirando milhões de brasileiros da miséria e promovendo desenvolvimento econômico sustentado, embora sob o impacto negativo da crise mundial. Essa crise foi provocada pelos banqueiros larápios, em conluio com governantes medíocres, como Obama, Merkel, Sarkozy, Cameron, Zapatero (seu sucessor, Rajoy, consegue ser pior) e outros menos notados.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

FÓRUM SOCIAL TEMÁTICO

Assembleia sediará central de imprensa e mais de 80 atividades durante o Fórum Social Temático
Letícia Rodrigues* - MTB 9373 | Agência de Notícias - 16:55-18/01/2012 - Edição: Sheyla Scardoelli - MTB 6727 - Foto: Marcelo Bertani
Espaço de Inclusão Digital Homero Simon abrigará central de imprensa
 
A Assembleia Legislativa sediará debates e exposições em vários espaços da Casa, além de uma central de imprensa do Fórum Social Mundial, que será realizado de 24 a 29 de janeiro em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo. A programação oficial do evento foi divulgada nesta quarta-feira (18).
 
O Plenário 20 de Setembro, o Teatro Dante Barone, o Plenarinho, o Espaço da Convergência Adão Pretto, além das salas das comissões técnicas, serão os locais onde ocorrerão os eventos previstos para serem realizados no Parlamento gaúcho. Ao todo, serão mais de 80 atividades na Casa entre os dias 25 e 28 de janeiro.
 
Já a central de imprensa funcionará no acesso principal (térreo) do Palácio Farroupilha, das 8h30 às 22 horas, nos dias do FST. No Espaço de Inclusão Digital Engenheiro Homero Simon, estarão disponíveis 25 computadores com acesso à internet. Ao lado, na Galeria dos Municípios, haverá uma estrutura de 15 mesas com tomadas e acesso wireless para o uso de notebooks.
 
Conforme a organização do evento, mais de 600 profissionais já se cadastraram para cobrir as mais de 900 atividades, entre palestras, oficinas, seminários, shows e apresentações artísticas nas quatro cidades onde o FST ocorre. Para efetuar o cadastramento é necessário acessar o site www.fstematico2012.org.br.
 
Em Porto Alegre, haverá atividades ainda no campus central da UFRGS, na Câmara de Vereadores, Usina do Gasômetro, Largo Zumbi dos Palmares, Auditório dos Correios, BRDE, Casa de Cultura Mário Quintana, Gigantinho, Instituto de Educação Flores da Cunha, Memorial do Rio Grande do Sul, Ministério Público do RS, Museu Júlio de Castilhos, Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região e no Parque Harmonia – onde ficará o Acampamento Intercontinental da Juventude. Em São Leopoldo, os trabalhos devem se concentrar no Centro de Eventos; em Novo Hamburgo, no centro de eventos da Fenac; e em Canoas, na Unilasalle e no parque esportivo Eduardo Gomes.
 
Confira a programação que ocorre na Assembleia Legislativa
 
Quarta-feira (25)
Manhã – 9h
- Desenvolvimento sustentável, Rio+20 e trabalho decente (CUT/FS/CTB/CGTB/NC)
- Crise, movimento sindical e perspectivas dos trabalhadores (Centrais Sindicais)
- Agricultura familiar: segurança e soberania alimentar, sustentabilidade no marco da Rio +20 (Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura)
- Desenvolvimento, cidadania e direitos humanos (ALAS – Asociación Latinoamericana de Sociología)
- Regularização fundiária (Assenar)
- Rochas ornamentais - resgate de cantareiros (Cootramar)
- Seminário sobre carvão mineral (Cootramar)
 
Manhã – 10h- Garantia de direitos e incidencia em políticas públicas - a participação cidadã no século XXI (Secours Catholique – Caritas Francia)
 
Tarde – 13h- Eco-arteterapia como meio de sensibilização (Fórum Social Temático – FST)
- Ética, religião e a Rio+20 (Koinonia)
- Exposição de telas tridimencionais em graffiti e workshop/oficina de graffiti (Nação Hip Hop Brasil-Es)
- Geração de renda na Casa Brasil Porto Alegre (Moradia e Cidadania)
- I Encontro do ponto de articulação nacional do Fora do Eixo (Fora do Eixo)
- O impacto Socioeconômico com a Copa do Mundo e Olimpíadas: especulação ou oportunidades (FENAJOVEMTur)
- O que existe!  (CMDUA)
- Pela humanização da perícia médica do INSS (Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho – Diesat)
- Seminário Crise capitalista mundial, movimento sindical e perspectivas para os trabalhadores (Centrais Sindicais do Rio Grande do Sul)
 
Quinta-Feira (26)
Manhã – 9h
- Desafios da Sustentabilidade e desadaptação criativa (Instituto Marina Silva)
- 3ª Idade uma odisséia no FST 2012 (Fritid - Federação Riograndense da Terceira Idade)
- A ordem é não passar fome (Fórum de Políticas Públicas para pessoas em situação de Rua)
- Acesso universal a Internet (Associação Força)
- Afetividade, vetor de transformação social (Karina Tatim)
- Aldous Huxley e o sec. XXI (Samuel de Oliveira)
- América Latina: socialismo, integração e a universidade que queremos (Reconquistar a UNE)
- Apresentação do plano local de desenvolvimento sustentável (Fórum da Agenda 21 Local de Contagem/MG)
- Direitos humanos, direitos constitucionais e RAP (Instituto Parrhesia Erga Omnes)
- Sementes crioulas e agroecologia (Comitê Gaúcho prá Rio+20)
 
Tarde – 13h - Questões estruturantes da educação: gênero, sexismo, homofobia, lesbofobia, racismo e direitos humanos (UNEGRO e UBM)
- Aproveitamento de resíduos da Secretaria do Meio Ambiente (Atelier do Agave)
- Articulação entre sindicatos e movimentos sociais para a produção de micro-macro mudanças sociais (Sindicato Nacional dos Aeroviários)
- Conhecer para lutar e nós da rua (Movimento Nacional da População de Rua)
- Democracia participativa - o desafio da capacitação para a participação (Capacitapoa - Prefeitura de Porto Alegre, Conselho do Orçamento Participativo de Poa)
- Democratização da comunicação - o desafio da década (Altercom - Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação)
- Nós estamos colaborando com o FST 2012 (GTs FST 2012)
- Os impactos socioambientais da pecuária industrial (Humane Society International – HSI)
- Os pilares da democracia participativa (Resistência Participativa/Despertar Coletiva)
- Política 2.0 - uma nova forma de fazer política? (Instituto Democracia e Sustentabilidade)
- Reiventar o mundo e o papel das religiões ( CEBs-Porto Alegre e Parcerias)
- Seminário Desenvolvimento sustentável, Rio+20 e trabalho decente (Centrais Sindicais do Rio Grande do Sul)
 
Tarde – 14h - Mudanças climáticas e segurança (FST)
- Sentido da democratização (FST)
 
Tarde – 17h- Convenção 151 e seus impactos na organização e estrutura sindical nos serviços publicos no Brasil (Federação de Sindicatos de Trabalhadores Tecnicos Administrativos das Instituições de Ensino Superior)

Sexta-Feira (27)
Manhã – 9h
- Bioma Pampa (Associação Força Verde)
- Debate “Os 10% do PIB e a renda do petróleo na construção do financiamento público para educação” (Sindicato dos Petroleiros do Rio De Janeiro/Campanha O petróleo tem que ser nosso)
- Engajamento público em nanotecnologia (Rede de Pesquisas em Nanotecnoogia, Sociedade e Meio Ambiente – Renanosoma)
- Extractivismo y bienes comunes (Secours Catholique -Viva La Ciudadanía)
- Fórum aberto, danças e músicas (Doze Tribos)
- II Tecendo Redes de Saberes e Cooperação - Oficina: a erosão cultural alimentar e seus impactos socioambientais (Universidade Federal De Santa Maria - Programa de Formação Socioambiental – NEPALS)
- Integração Latinoamericana razões macro econômicas e politicas (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil -CTB ,Encontro Nossa America -ESNA e o Institut)
- Projeto de proteção a nascentes (Associação Força Verde)
- Melhora do solo: rochagem (Cootramar)
- Cambio climatico y soberania alimentar (Secours Catholique)
 
Tarde – 13h - A organização política dos assistentes sociais no Mercosul e nos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa – CPLP (Conselho Federal de Serviço Social – CFESS)
- Catadores e sua particiapação na sustentabilidade (COAAFI)
- Centro Historico de POA: resgate da Cidadania (AMICH- Rede de Amigos do Centro Historico)
- Movimentos sociais, política e revolução no século XXI (Brasil Autogestionário)

Atividades Paralelas14h - Sentidos da Democratização
 
Sábado (28)
Manhã – 9h
- Mercofito (ABES/Fepam)
- Boas práticas para a sustentabilidade: Programa Cultivando Água Boa (Conselho dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu, Cooperativa Biolabore e Instituto Nacional e D)
- Educação popular e UFRGS - Faculdade de Direitos Humanos (Associação dos Educadores Populares do Ceará - Movimento Ceará)
- Encontro das Redes da Malha da Rebea (Rede Brasileira de Educação Ambiental)
- Seminário “Vigencia da educação popular em um mundo de crises” (Conselho Latino Americano de Educação de Jovens e Adultos – CEAAL)
- II Teendo Red de Saberes e Cooperação. Oficina Sensibilização para mudança de comportamento (Retrans, Cristina Haas, Eduardo Cezimbra)
- Justiça sem Fronteiras: Tribunal Penal da História (MDD - Movimento Democracia Direta)
- Oficina de Comunicação: escuta como principio dialógico (PET - Programa de Educação Tutorial – Psicologia)
- Oficina de Filosofia Ecologica: conhecimento, visão de mundo e meio ambiente (Sociedade Brasileira de Ciência Cognitiva – SBCC. Marilia/SP)
- Oficina sobre desastres naturais (Associação Força Verde)
- Oficina Sobre PPP (Cootramar)
- Produção agroecologica, merenda escolar e vida orgânica sustentável (Biolabore Cooperativa de Trabalho e Assistência Técnica do Paraná)
- Vinte anos do projeto Mar de Dentro (Associação Força Verde)
 
Tarde – 13h - A atualidade da Carta da Terra e a Rio+20 (Associação Civil Alternativa Terrazul)
- Ar, água e terra: vida e cultura Guarani (Instituto ee Estudos Culturais e Ambientais – IECAM)
- Dança Afro Primitivo (Criativus Centro de Dança e Cultura)
- Defesa de direitos, emancipação social e sustentabilidade na perspectiva freiriana (Instituto Paulo Freire)
- Esfinge – Decifra-me ou devoro-te (Observatório Social Mundial)
- Gobernanza mundial y la cambiante arquitectura de poder institucional: propuestas y retos (UBUNTU - Foro Mundial)
- IV Mercofito (ABEMA, Itaipu, Centrais Sindicais)
- Para a ação, um debate: a Copa, os mega projetos e os UFRGS - Faculdade de Direitos dos Explorados e Oprimidos – a situação indígena, negra, quilombola e popular no Brasil (Com Pop Da Copa Poa/Centro, Frente Nac Defesa Terrquilombolas E AGB-RS)
- Pré-Enuds 2012 (Assembléia Nacional de Estudantes Livre)
- Racismo como determinante social em saúde: AIDS e população negra-reflexões para garantir uma efetiva justiça social (Rede Lai Lai Apejo-População Negra E AIDS)
- Se nós somos por nós quem será contra eles (Associação Artística e Cultural da Periferia, Associação Gaucha dos Videos Amadores e Associação Gaú)
 
Tarde – 17h  - As lutas de combate as opressões no Brasil (Sindisprev-RS)
- Assédio moral, produtividade e impactos na saúde do trabalhador (Central Única dos Trabalhadores - CUT Nacional)
- Conselho Internacional FME (Fórum Mundial de Educação)
 
* Com informações do site do Fórum Social Temático 2012

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Jornalismo B lança projeto para financiar jornal



Alexandre Haubrich, do Jornalismo B, elaborou um projeto para financiar o jornal em 2012. Disponível no Catarse (site que busca financiamento para projetos culturais), o projeto, além de garantir a impressão dos jornais, quer viabilizar o pagamento do diagramador que até hoje trabalha gratuitamente e a contratação de um estagiário. O blog Jornalismo B nasceu em outubro de 2007, dedicando-se a “desconstruir o discurso anti-democrático da mídia dominante, com análises equilibradas e a defesa intransigente da democratização da comunicação”. Em maio de 2010 nasceu o Jornalismo B Impresso, com 500 exemplares quinzenais de distribuição gratuita, uma extensão do projeto do blog. O projeto de financiamento do Jornalismo B em 2012 pretende arrecadar R$ 13.500,00 até o dia 31 de março. Esse projeto merece apoio. Veja como fazer isso.