domingo, 23 de setembro de 2007

Lei 5.536 (A Censura da ditadura militar no Brasil)

Para não esquecer!!!!

Chico Buarque - Construção


Revista "Crítica Marxista" na net

A Revista "Crítica Marxista" é elaborada por professores da Unicamp. Pode ser acessada no seguinte site:

http://www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista/

Clicando em "números anteriores" é possível ter acesso a vários artigos sobre política, sociologia, história, economia e antropologia, escritos do ponto de vista do marxismo.

boa leitura.
Contribuição de Demetrio

Música para reflexão...




ESTUDO ERRADO
(Gabriel O pensador)

"Eu tô aqui Pra quê?
Será que é pra aprender?
Ou será que é pra aceitar, me acomodar e obedecer?
Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater
Sem recreio de saco cheio porque eu não fiz o dever
A professora já tá de marcação porque sempre me pega
Disfarçando espiando colando toda prova dos colegas
E ela esfrega na minha cara um zero bem redondo
E quando chega o boletim lá em casa eu me escondo
Eu quero jogar botão, vídeo-game, bola de gude
Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula!" e "estude!"
Então dessa vez eu vou estudar até decorar cumpádi
Pra me dar bem e minha mãe deixar ficar acordado até mais tarde
Ou quem sabe aumentar minha mesada
Pra eu comprar mais revistinha (do Cascão?)
Não. De mulher pelada
A diversão é limitada e o meu pai não tem tempo pra nada
E a entrada no cinema é censurada (vai pra casa pirralhada!)
A rua é perigosa então eu vejo televisão
(Tá lá mais um corpo estendido no chão)
Na hora do jornal eu desligo porque eu nem sei nem o que éinflação
- Ué não te ensinaram?
- Não. A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil
Em vão, pouco interessantes, eu fico pu..
Tô cansado de estudar, de madrugar, que sacrilégio
(Vai pro colégio!!)
Então eu fui relendo tudo até a prova começar
Voltei louco pra contar:
Manhê! Tirei um dez na prova
Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão
Não aprendi nada de bom
Mas tirei dez (boa filhão!)
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Decoreba: esse é o método de ensino
Eles me tratam como ameba e assim eu num raciocino
Não aprendo as causas e conseqüências só decoro os fatos
Desse jeito até história fica chato
Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo...


..Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo
Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente
Eu sei que ainda num sou gente grande, mas eu já sou gente
E sei que o estudo é uma coisa boa
O problema é que sem motivação a gente enjoa
O sistema bota um monte de abobrinha no programa
Mas pra aprender a ser um ingonorante (...)
Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama (Ah, deixa eudormir)
Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre
Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste
- O que é corrupção? Pra que serve um deputado?
Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso!
Ou que a minhoca é hermafrodita
Ou sobre a tênia solitária.
Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...)
Vamos fugir dessa jaula!
"Hoje eu tô feliz" (matou o presidente?)
Não. A aula
Matei a aula porque num dava
Eu não agüentava mais
E fui escutar o Pensador escondido dos meus pais
Mas se eles fossem da minha idade eles entenderiam
(Esse num é o valor que um aluno merecia!)
Íííh... Sujô (Hein?)
O inspetor!
(Acabou a farra, já pra sala do coordenador!)
Achei que ia ser suspenso mas era só pra conversar
E me disseram que a escola era meu segundo lar
E é verdade, eu aprendo muita coisa realmente
Faço amigos, conheço gente, mas não quero estudar pra sempre!
Então eu vou passar de ano
Não tenho outra saída
Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida
Discutindo e ensinando os problemas atuais
E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais
Com matérias das quais eles não lembram mais nada
E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada
Refrão
Encarem as crianças com mais seriedade
Pois na escola é onde formamos nossa personalidade
Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância aexploração e a indiferença são sócios
Quem devia lucrar só é prejudicado
Assim cês vão criar uma geração de revoltados
Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio
Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio!"

Aqui está o link para quem quiser baixá-la:
Contribuição de: Edmar Júnior
http://www.4shared.com/file/17657702/30d89f18/Estudo_Errado.html?cau2=403tNull
Feitor do capitalismo cruel



Léo Lince


O presidente Lula é um pragmático do poder. Como tal, ele navega com desenvoltura no papel de governante mascate, inteiramente afinado com a lógica do horror econômico que, de algum tempo até esta parte, controla as alavancas do poder mundial. Pode ser vaiado em estádios de futebol, mas em platéia de banqueiros o aplauso é certo.

Na recente temporada européia, ele fez questão de reafirmar orgulhoso o seu empirismo radical (não se governa com princípios), ao mesmo tempo em que se ofereceu como artífice da subordinação da economia brasileira aos apetites mais destrutivos do modelo dominante no mundo dos negócios. A natureza e o mundo do trabalho que se cuidem, pois vem mais chumbo grosso.

Exemplo? Perguntado, durante encontro com empresários espanhóis, sobre as condições desumanas do trabalho dos cortadores de cana no Brasil, ele reagiu perguntando se o corte de cana seria mais “penoso” que trabalhar numa mina de carvão. O combustível que alimentou na Revolução Industrial o impulso primitivo do capitalismo, sem dúvida, foi produzido nas condições da mais brutal exploração do trabalho humano e de agressão à natureza. A julgar pelas notícias sobre os mortos por exaustão no inferno verde das plantações de cana de São Paulo, o etanol se candidata a repetir no século 21 a mesma trajetória de horrores.

Segundo o historiador Jacob Gorender a comparação feita pelo presidente “foi extremamente infeliz e injusta, não é digna de um líder de origem operária como ele”. No entanto, mais do que infeliz e injusta, o que a comparação tem de terrível é o seu caráter revelador. Nela, a brutalidade da exploração do trabalhador e a agressão ao meio ambiente aparecem como “destino”, fatalidade natural, e não como escolha política a partir de uma determinada correlação de forças sociais.

A bestial brutalidade da acumulação primitiva, que espantou o mundo e gerou reações como a “lei dos pobres” na Inglaterra, seguida de outras propostas que marcaram o processo civilizatório (filantropia social, sindicalismo, caixas de ajuda mútua, solidarismo cristão, estado de bem estar social, socialismo), retorna com força total no globalitarismo financeiro. Liberta dos inconvenientes do controle social, a essência destrutiva que sempre habitou o cerne do capital é a catástrofe que nos ameaça.

E o presidente mascate, esquecido do seu tempo de retirante, se apresenta para cumprir o papel que lhe cabe na engrenagem infernal. No carvão ou na cana, para não atrapalhar o fluxo dos negócios, o destino do trabalhador, no século 18 ou no 21, é comer o pão que o diabo amassou. É um imperativo categórico para o crescimento, coisa natural e inevitável, a prática que agride o meio ambiente e esfola o trabalhador. Ao governante, como pensa o presidente mascate, resta o papel de apertar as alças do garrote vil.

Alguns estudiosos de outros tempos sombrios, aqueles dominados pela vigência direta do trabalho escravo, lançam luz sobre um aspecto curioso das relações de poder no interior do mecanismo de exploração do trabalho. O feitor mais eficaz, aquele que com mais desenvoltura acionava o chicote, era o ex-escravo. Mudou de lado e, por isso mesmo, está sempre obrigado a renovar as provas de sintonia fina com o senhor. O raciocínio, infelizmente, se aplica ao caso em pauta: o presidente mascate é um feitor do capitalismo cruel.

Léo Lince é sociólogo.

DIA 5 DE OUTUBRO VENCE O CONTRATO DE CONCESSÃO DA GLOBO!!

Se você é a favor da não-renovação pelo governo da concessão desta emissora que nasceu e cresceu sob a bênção da Ditadura Militar, que fabricou a imagem de Collor e manipulou descaradamente as eleições de 1989, que escondeu debaixo do tapete toda a corrupção do governo FHC (fraudes nas privatizações, compra de deputados pela emenda da reeleição) e que vem fazendo exatamente o oposto com o atual governo, que persegue e criminaliza os movimentos sociais, que desde que existe mente, manipula e censura de acordo com seus interesses, que monopoliza de forma absoluta a mídia nacional e que por isso impede a concretização em nosso país de uma democracia que seja digna do nome, enfim, se você quer que Lula siga o exemplo de Chávez e dissolva as grandes emissoras golpistas, manipuladoras e monopolizantes, este é o seu lugar! Vamos todos juntos coordenar uma campanha nacional. Dia 5 de outubro, NÃO renovemos a concessão da Globo!

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Roberto Carlos

1963 - Roberto Carlosdownload


1964 - É Proibido Fumardownload


1965 - Canta para a Juventudedownload


1966 - Roberto Carlosdownload


1967 - Em Ritmo de Aventuradownload


1968 - O Inimitáveldownload


1969 - Roberto Carlosdownload


1970 - Roberto Carlosdownload


1971 - Roberto Carlosdownload


1972 - Roberto Carlosdownload


1973 - Roberto Carlosdownload


1974 - Roberto Carlosdownload


1975 - Roberto Carlosdownload



senha para todos os links: lagrimapsicodelica

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Apex Video Converter Super 5.94


O Apex Video Converter é um excelente conversor de arquivos de vídeo, suportando uma vasta diversidade de formatos.

O programa é muito ágil, oferece uma grande rapidez na conversão dos arquivos e possui uma interface moderna, prática e de fácil compreensão. Ainda em sua janela, há um player de vídeo onde você poderá visualizar o resultado obtido ou até mesmo pré-visualizar os arquivos a serem convertidos.

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VCD e DVD Ripper
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Com certeza esta poderosa ferramenta traz a solução para a conversão de arquivos de vídeo com qualidade aí no seu computador.

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Gerenciador: Não
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Tamanho: 15 mb
Formato: .Rar

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A China e a “nova luta pelo socialismo” (final)


Elias Jabbour*

As lutas empenhadas pelo povo chinês entre 1840 e 1949 serviram para o soerguimento de uma nação em vias de desintegração pela ação de um condomínio imperialista. Mais que isso, consolidou a sobrevivência e o desenvolvimento de uma milenar civilização. Os processos que vão de 1949 a 1978 e deste último aos nossos dias marcam a utilização de um acúmulo histórico nacional de mais de 5 mil anos à consolidação do socialismo como sistema social alternativo. O ponto de encontro entre todos esses processos descritos e entrelaçados, está na direção: o Partido Comunista da China (PCCh), o modernizador, o empreendedor, enfim, o “Príncipe Moderno” do atual ciclo histórico em que vivemos e atuamos.


Organização típica da 3ª Internacional e que se auto-intitula “o destacamento de vanguarda da classe operária chinesa e, por conseguinte do povo e da a nação” (1), o PCCh é deliberadamente o condutor do processo que está tirando o “Império do Meio” de um padrão milenar de isolamento para transformar o país no fio condutor da transformação qualitativa que ocorre no mundo e que – de forma resumida – tem na transição capitalismo-socialismo sua maior característica.

Finalizando a série, tentarei, pautado numa análise histórica e conjuntural, expor as principais características desta organização com mais de 70 milhões de membros distribuídos em mais de 200 milhões de células.


O “nacionalismo com características socialistas”

O prestígio do PCCh repousa sobretudo no fato de ele ter-se tornado, primeiramente na guerra anti-japonesa e depois pela consolidação política de seu território pós-1949, na linha de frente dos interesses da nação chinesa. Este é o primeiro “x” da questão que nos leva a constatar que o PCCh é um partido, sobretudo nacionalista, porém - como leninista que é - com características marcantemente socialistas no que cerne a seus objetivos de longo alcance. Não vejo mal nisso, pelo contrário, pois enquanto houver imperialismo no mundo, a contradição nacional se sobrepõe às contradições de classe no âmbito interno.

Indo mais fundo, em minhas andanças pela China pude tranqüilamente perceber que o povo chinês enxerga o PCCh como algo em torno de uma continuidade iniciada com a unificação chinesa há mais de 2.500 anos atrás. Influenciado pelo confucionismo, assim como o membro mais velho de uma família chinesa é vista como seu chefe, condutor e medidor interno, ao abstrairmos ao nível da nação fica mais claro notar que, para as massas populares chinesas, o PCCh é visto como o grande pai da nação chinesa. Isso explica, e muito, o porquê de o retrato de Mao estar exposto justamente na porta da residência oficial dos imperadores antigos.

Descendo no nível das lideranças, Mao Tsétung não é um “líder proletário”. Aos olhos do povo chinês, Mao Tsétung mais parece um Simon Bolívar para os latinos americanos: o libertador nacional. Nada de anormal se percebermos que em certo período da transição que envolve a evolução do homem bárbaro ao homem universal (o comunismo em Marx) o homem reconhece-se como ser de uma nação e neste período de reconhecimento o máximo de sua consciência aponta na direção da nacionalidade e que somente durante o processo que envolve o surgimento de novas relações sociais é que surgem condições objetivas a saltos qualitativos na consciência social. Portanto, o nacionalismo neste sentido tem sentido libertador e virtuoso.

È o sentimento que moveu as maiores batalhas pela liberdade dos povos na periferia capitalista no século 20 e abriu as portas ao socialismo em nações inteiras na África, Ásia e América Latina.


O cumprimento do programa do Kuomintang

Complementando a banda nacionalista de seu amplo programa de revolução e construção socialistas, cabe salientar que o poder exercido pelo PCCh e suas tarefas desde 1° de outubro de 1949 levam-no a ser uma organização que no plano estratégico direciona a China ao socialismo e ao comunismo e no plano imediato o leva a ser algo como um Kuomintang, um partido nacionalista cujas tarefas históricas (industrialização, reforma agrária, alfabetização etc.) não foram cumpridas, logo um partido marxista tomou o poder para pôr em andamento um projeto nacional moderno já vislumbrado pelo fundador do Kuomintang Sun Yatsen (2).



Raciocínio idêntico é valido para a experiência russa onde a incompetência e o não cumprimento de demandas – entre elas o de retirar a Rússia da 1° Guerra Mundial – assentou condições objetivas à chegada ao poder dos bolcheviques liderados por Lênin em 1917. Já a não relutância de líderes como Getúlio Vargas e Kemal Ataturk (no Brasil e na Turquia respectivamente) em implantar programas modernizadores em seus países transformou suas nações em países medianamente desenvolvidos pela famosa “via prussiana” que resultou na formação de potências industriais do porte da Alemanha e do Japão.

Resumindo, a compreensão da natureza nacionalista do PCCh é possível na medida em que: 1) ainda existe imperialismo no mundo e de forma mais ostensiva, no que cerne aos interesses chineses, na província chinesa de Taiwan; 2) A iminente ameaça externa via imperialismo norte-americano é argumento em favor da transformação do PCCh em cada vez mais porta-voz não somente dos trabalhadores, mas também de toda a nação chinesa em seu conjunto; 3) o orgulho nacional chinês, fruto do alcance milenar de sua civilização é componente da formação da subjetividade do povo chinês; 4) a luta travada pelo PCCh em território chinês entre 1928 e 1949 foi essencialmente em torno de objetivos nacionais, sobretudo a libertação da China da ingerência estrangeira, inclusive soviética pós-1949; 5) o programa em execução pelo PCCh é ainda pautado por tarefas históricas incumbidas à burguesia e não ao proletariado e, inclusive o nível de desenvolvimento das forças produtivas no país ainda demanda a existência de uma burguesia nacional forte e capaz de abrir novos campos de acumulação. Burguesia esta cuja participação no poder já era prevista pelo programa pré-revolucionário do PCCh, logo, não é fruto da imaginação de “revisionistas” como muitos preferem situar e 6) O nacionalismo é a ideologia mediadora da relação entre o PCCh e o povo chinês.


O “socialismo com características nacionais chinesas”

Uma grande questão que inicialmente me moveu no aprofundamento dos estudos sobre a China repousava na busca da razão de um partido fundado em 1921 ter chegado ao poder em pouco mais de 28 anos de existência.

Concluí em primeiro lugar que a natureza nacional deste partido foi decisiva para tal, pois ao contrário não teria condições de manobrar taticamente no sentido de trazer (praticamente obrigar) - em 1937 - seu arqui-rival (o Kuomintang) a uma aliança contra a ocupação japonesa demonstrando assim para o povo quem realmente estava interessado no combate ao inimigo principal. Tal lógica se impôs contra a ingerência do Komintern na elaboração da tática do PCCh na década de 1930 e no enfrentamento tanto contra a URSS, quanto os EUA na Guerra da Coréia e hoje.

O outro lado da moeda, o lado socialista baseia-se em alguns aspectos. O primeiro deles, o marxismo-leninismo foi o corpo científico que colocou rumo no pensamento progressista chinês no sentido do enfrentamento de seus problemas. Na medida em que Lênin e sua idéia de imperialismo x independência nacional foi ganhando espaço na China, conseqüentemente situar a China como uma nação proletária no mundo clareou o escopo de ação a ser seguido (3). Evidente que a Revolução Russa ao demonstrar como uma autocracia secular pode ser derrubada por um grupo bem organizado ajudou e muito na formação de uma consciência socialista que por fim gestou o PCCh em 1921. Concluiu-se com muita sabedoria que “somente o socialismo pode salvar a China”.

Do ponto de vista mais histórico, aspectos da formação social chinesa foram importantes e são partes constitutivas da superestrutura socialista do país. O caráter materialista do confucionismo e do taoísmo, os dois corpos filosóficos responsáveis pela formação moral do povo chinês até hoje. Estas filosofias foram responsáveis pela formação de uma sólida democracia rural na base da aldeia e de um espírito coletivo fruto das tarefas cumpridas em grupos de construção de diques e barragens à contenção de enchentes. Do taoísmo propriamente dito surgiu o espírito rebelde e inquieto do camponês chinês e o igualitarismo típico do corpo político e filosófico do Pensamento de Mao Tsétung.

Sobre a rebeldia camponesa, amplamente utilizada por Mao Tsétung em sua empreitada rumo ao poder da República, importante salientar que a principal característica desta organização e seu maior diferencial foi a percepção do papel histórico de revoltas camponesas e sua relação com a ascensão e a queda de dinastias no país. A força dos camponeses pobres foi a maior arma utilizada pelo PCCh para minar a trágica influência soviética sob sua tática na década de 1930 abrindo margem para a formação de algo puramente chinês: o “Pensamento de Mao Tsétung”, pensamento este produto do marxismo-leninismo às condições do período revolucionário na China.

Abrindo parêntese, para aqueles interessados em distinguir o socialismo soviético do que ocorreu e ocorre na China, interessante notar que enquanto o processo de coletivização na URSS foi – apesar de necessária – marcada por um alto grau de destruição e, inclusive tendo aberto cicatrizes profundas na sociedade, na China, o PCCh, por ser uma organização rural por excelência, pode gerenciar - entre 1950 e 1955 - um processo lento e gradual no sentido de preservação dos interesses políticos seja do PCCh, seja das mais amplas massas camponesas.

O espírito rebelde camponês e sua capacidade comprovada historicamente é o suporte, muitas vezes intranqüilo, que mantém o PCCh no rumo da construção de uma sociedade socialista avançada. As políticas atuais de transferência de renda do litoral ao interior, a ofensiva declarada às desigualdades sociais, a cada vez maior intervenção estatal na construção de escolas, hospitais e de uma previdência social competente são parte de um todo que envolve as pressões camponesas sobre a superestrutura e conseqüentemente cumprem destacado papel à manutenção do sistema socialista no país.


Princípios norteadores

Críticos e “especialistas” ocidentais determinam que – na e para a China - a transformação econômica traz em seu bojo necessárias transformações políticas. Trata-se de uma reles apropriação da teoria marxista para quem a transformação política é expressão de forças produtivas em desarmonia para com as relações de produção. Para o caso da China, antes de se lançar receitas ocidentais prontas dever-se-iam perguntar: qual a razão da sobrevivência política do PCCh aos ventos taoistas do “Grande Salto” e da “Revolução Cultural”?

Poderiam concluir que a legitimidade histórica do poder exercido pelo PCCh é algo que não existe nem em sociedades como a norte-americana onde a democracia é medida pela capacidade de consumo de uma população que, em sua vasta maioria, prefere a solidão de suas casas à comparecerem às urnas.

Pois bem, a capacidade de governança do PCCh para fins de direção do atual projeto em andamento teve de passar por sucessivas reformas. Reformas políticas foram postas em marcha a partir de 1978. De forma geral, pelo menos quatro transformações merecem destaque maior, a saber: 1) crescente valorização de quadros técnicos à ascensão interna do PCCh; 2) a descentralização no sentido do fortalecimento do poder provincial; 3) o retorno à uma democracia rural típica de sociedades agrárias seculares e 4) a implementação da idéia de “geração dirigente” (4).

Sendo o objetivo das reformas – na China - colocar em compasso as relações de produções com o nível das forças produtivas sociais e conseqüentemente harmonizar uma base econômica em descompasso com a superestrutura vigente fez-se mister uma reiteração de princípios, tendo em vista a uma nova fase de profundas transformações internas e externas que, inclusive, acelerou-se após o fim da URSS em 1991. Tal reiteração de princípios podem ser simplificados no que os chineses chamam de “Quatro Pontos Cardeais” por onde o PCCh deverá insistir durante o processo de modernização, são eles: 1) O caminho socialista; 2) a ditadura democrático-popular; 3) a direção do PCCh e 4) o marxismo-leninismo e o pensamento de Mao Zedong (5).


O “Pensamento de Mao Tsétung”, a “Teoria de Deng Xiaoping” e as “Três Representações”

O desenvolvimento do marxismo na China pode ser auferido em três dimensões históricas, ou melhor dizendo, por três momentos em que a complexidade da formação social chinesa exigiu a elaboração de linhas políticas que ao longo do tempo, dada sua justeza, transformaram-se em pontos de referência que serviram de norte à ação política de gerações inteiras de comunistas chineses.

A primeira inflexão histórica surgiu (de forma resumida) com a luta política interna – entre as décadas de 1930 e 1940 - entre os seguidores de Mao Tsétung e aqueles adeptos da linha soviética que culminou na vitória do grupo de Mao e na adoção plena da linha política baseada na base camponesa. A esmagadora vitória do PCCh sobre um inimigo muito mais equipado e com apoio dos EUA em 1949, acumulada com uma liderança inconteste perante os olhos do povo contra a ocupação japonesa, granjeou ao Pensamento de Mao Tsétung status semelhante ao conferido à Marx, Engels, Lênin e Stálin no rol dos cânones do movimento comunista mundial e chinês. Nem os erros atribuídos a Mao após a tomada do poder de 1949 foram capazes de manchar sua reputação de libertador nacional e principal referência política e histórica de um país que hoje altera qualitativamente a correlação de forças em âmbito mundial e consolida o socialismo como alternativa. Sem Mao Tsétung à frente do PCCh, não existiria China moderna.

A “Teoria de Deng Xiaoping da Construção do Socialismo com Características Chinesas” pode ser perfeitamente considerada a linha fundamental do PCCh para a fase inicial do socialismo. Tal corpo e seu conteúdo ganham relevância na medida em que vários acontecimentos de ordem externa são impostos, entre eles o fim da URSS e a ofensiva imperialista sobre a periferia e a China. Dada a constatação de que nenhuma Terceira Guerra Mundial estava por vir, Deng coloca em relevo a necessidade de a China manter-se no rumo da centralidade da construção econômica, que por sua vez possibilitará (ao retirar da miséria e do subdesenvolvimento um quinto da humanidade) à China dar uma verdadeira contribuição à humanidade (6). A necessidade da reunificação nacional com base na idéia de “um país, dois sistemas” é absorvida assim como a manutenção da China na testa dos interesses das nações periféricas e a exposição dos maiores anseios da humanidade em nossos tempos da época atual para a China e o mundo: a paz e o desenvolvimento. Resumindo, a Teoria de Deng Xiaoping como linha mestra da condução do PCCh para as próximas décadas pode ser resumida em três bandeiras: a construção econômica, a reunificação nacional e a manutenção da paz mundial.

Deng Xiaoping, desta forma deixou seu legado de mais de 70 anos dedicados à causa do socialismo e da China. Dada sua participação direta neste processo de tomada da construção econômica como o centro do processo de gravidade da qual o PCCh deverá orbitar até 2049 e na certeira observância da essência das verdadeiras causas dos distúrbios de junho de 1989 em Tiananmen, ouso classificá-lo como o mais importante nome do movimento comunista internacional na segunda metade do século XX. Basta analisarmos o papel que a China cumpre nesta época atual onde o socialismo, apesar de ser retomado como pauta, ainda carece de credibilidade por conta da hegemonia ideológica conservadora, soma-se a isto a ofensiva imperialista sobre os povos. A manutenção do socialismo na mais antiga e populosa das nações e no terceiro maior país em extensão territorial do mundo atesta por si só a importância do papel pessoal cumprido pelo que de melhor formou a escola dirigida por Mao Tsétung.

As grandes transformações na base econômica e na composição de classes no país teve na elaboração da teoria das “Três Representações” sua maior expressão e forma de atualizar o PCCh e sua maneira de enxergar e atuar na realidade dentro dos marcos do marxismo nas condições especiais da China (7). As “Três Representações” indicam que o PCCh deve ser 1) representante do que exige o desenvolvimento das forças produtivas avançadas; 2) do rumo pelo qual há de marchar a cultura avançada na China e 3) os interesses fundamentais das mais amplas massas populares.

Trata-se do cimento teórico oficializado desde o 16° Congresso do PCCh realizado em 2002 que viabilizou a ampliação da base social do PCCh e sua consolidação como partido de caráter nacional voltado – no plano estratégico - à consecução do socialismo e do comunismo. Nesta esteira e a serviço da assimilação da nova realidade oficializou a admissão ao PCCh de proprietários privados e gerentes de empresas privadas nacionais e estrangeiras, consolidou o papel da intelectualidade na sociedade e no PCCh e abriu a possibilidade de abertura de novos campos de acumulação na economia com a legalização da propriedade privada e sua admissão como componente secundário da estrutura de propriedade centrado na propriedade social dos meios estratégicos de produção. Sendo a contradição o motor do processo de desenvolvimento, tais medidas vislumbram o fortalecimento do poderio nacional a partir de uma coesão interna em contraposição a um mundo ainda unipolar e com um imperialismo cada vez mais destrutivo e corrompedor e que tem na China nomeadamente seu “concorrente estratégico”.

Esta é a organização que caminha para seu 17° Congresso Nacional empenhado em fazer frente aos crescentes desafios internos e externos chineses e assim continuar sendo, nas repetidas palavras de Gramsci, o “Príncipe Moderno”.

Vida longa ao PCCh e que continue por várias décadas sendo o fiel representante de toda a nação chinesa e conseqüentemente de toda a humanidade.


À guisa de uma conclusão

Nosso objetivo, à luz da correta observação de que estamos numa nova quadra de luta pelo socialismo, foi o de localizar o papel que a China como país socialista vem a cumprir neste novo estágio de luta pelo mundo. O centro de argumentação repousou na centralidade da questão nacional para os povos da periferia e as possibilidades que se abrem com a assunção da China no cenário internacional. Não somente isso, relacionando a centralidade da questão nacional e historicizando o papel do comércio internacional nas transições na periferia, especulamos que o crescente poderio financeiro e o crescente mercado consumidor chineses são as principais condições objetivas externas à consecução do socialismo como projeto alternativo à periferia.

Passou-se ainda em vista a relação entre consolidação de uma economia continental chinesa e a solidificação do socialismo como projeto societal da mesma forma que a consolidação da economia continental norte-americana na segunda metade do século XIX foi central para a consolidação do capitalismo financeiro e em conseqüência do próprio imperialismo norte-americano. Observações foram feitas sobre a questão social e os atuais desafios chineses, além de uma passada geral sobre as características sociais, políticas e ideológicas do PCCh.

Enfim, espero que alguma coisa de útil ao debate tenha saído destas linhas, me colocando a disposição de todos para tirar dúvidas, receber críticas e debater o conteúdo disposto.

Extraído de: Vermelho


Notas:

(1) Primeiro parágrafo do Estatuto do Partido Comunista da China (PCCh) aprovado em seu 16º Congresso realizado em 2002.

(2) O retrato de Sun Yatsen pode ser visto no centro da Praça Tiananmen em Pequim por ocasião de comemorações como a data nacional chinesa, 1° de outubro.

(3) JABBOUR, E. “Considerações gerais sobre o marxismo e a Ásia”. Revista Princípios n° 82. Disponível em http://www.vermelho.org.br/museu/principios/anteriores.asp?edicao=82&cod_not=959

(4) Em outra oportunidade será importante tocar nesta questão da capacidade de governança e suas transformações no âmbito da organização do PCCh.

(5) Os “Quatro Pontos Cardeais” foram apresentados por Deng Xiaoping numa reunião com quadros da área ideológica no dia 30 de março de 1979.

(6) Deng Xiaopiong reitera a máxima leniniana de que é no campo da performance econômica é que se evidenciará a superioridade do socialismo ente o capitalismo.

(7) A teoria das “Três Representações” foi exposta de forma superficial pelo então Secretário-Geral do PCCh e presidente da República Jiang Zemin no dia 25 de fevereiro de 2000 durante visita de inspeção à província sulista de Guangdong. Sua apresentação de forma mais acabada e melhor alicerçada teoricamente ocorreu em discurso proferido por Jiang alusivo aos 80 anos do PCCh no dia 1° de julho de 2001.




*Elias Jabbour, é Doutorando e Mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP, membro do Conselho Editorial da Revista Princípios e autor de ''China: infra-estruturas e crescimento econômico'' 256 pág. (Anita Garibaldi).

NÃO À RENOVAÇÃO DA CONCESSÃO PÚBLICA DA REDE GLOBO....

O livro didático que a Globo quer proibir


O professor de História Mario Schmidt responde à altura, diante da campanha de difamação contra o seu livro didático capitaneada pelo diretor executivo do jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel. ''Em primeiro lugar exigimos respeito. Nós jamais acusaríamos o sr. Kamel de ser racista apenas porque tentou argumentar racionalmente contra o sistema de cotas nas universidades brasileiras''. Veja a resposta na íntegra.


O livro de história que Kamel difamou

A respeito do artigo do jornalista Ali Kamel no jornal O Globo de 18 de setembro de 2007 sobre o volume de 8ª série da obra Nova História Crítica, de Mario Schmidt, o autor e a Editora Nova Geração comentam: Nova História Crítica da Editora Nova Geração não é o único nem o primeiro livro didático brasileiro que questiona a permanência de estruturas injustas e que enfoca os conflitos sociais em nossa história. Entretanto, é com orgulho que constatamos que nenhuma outra obra havia provocado reação tão direta e tão agressiva de uma das maiores empresas privadas de comunicação do país.


Compreendemos que o sr. Ali Kamel, que ocupa cargo executivo de destaque nas Organizações Globo, possa ter restrições às posturas críticas de nossa obra. Compreendemos até que ele possa querer os livros didáticos que façam crer ''que socialismo é mau e a solução para tudo é o capitalismo''. Certamente, nossas visões políticas diferem das visões do sr. Ali Kamel e dos proprietários da empresa que o contratou. O que não aceitamos é que, em nome da defesa da liberdade individual, ele aparentemente sugira a abolição dessas liberdades.


Não publicamos livros para fazer crer nisso ou naquilo, mas para despertar nos estudantes a capacidade crítica de ver além das aparências e de levar em conta múltiplos aspectos da realidade. Nosso grande ideal não é o de Stálin ou de Mao Tsetung, mas o de Kant: que os indivíduos possam pensar por conta própria, sem serem guiados por outros.


Assim, em primeiro lugar exigimos respeito. Nós jamais acusaríamos o sr. Kamel de ser racista apenas porque tentou argumentar racionalmente contra o sistema de cotas nas universidades brasileiras. E por isso mesmo estranhamos que ele, no seu inegável direito de questionar obras didáticas que não façam elogios irrestritos à isenção do Jornal Nacional, tenha precisado editar passagens de modo a apresentar Nova História Crítica como ridículo manual de catecismo marxista. Selecionar trechos e isolá-los do contexto talvez fosse técnica de manipulação ultrapassada, restrita aos tempos das edições dos debates presidenciais na tevê. Mas o artigo do sr. Ali Kamel parece reavivar esse procedimento.

Ele escolheu os trechos que revelariam as supostas inclinações stalinistas ou maoístas do autor de Nova História Crítica. Por exemplo, omitiu partes como estas: ''A URSS era uma ditadura. O Partido Comunista tomava todas as decisões importantes. As eleições eram apenas uma encenação (...). Quem criticasse o governo ia para a prisão. (...) Em vez da eficácia econômica havia mesmo era uma administração confusa e lenta. (...) Milhares e milhares de indivíduos foram enviados a campos de trabalho forçado na Sibéria, os terríveis Gulags. Muita gente foi torturada até a morte pelos guardas stalinistas...'' (pp. 63-65).


Ali Kamel perguntou por onde seria possível as crianças saberem das insanidades da Revolução Chinesa. Ora, bastaria ter encotrado trechos como estes: ''O Grande Salto para a Frente tinha fracassado. O resultado foi uma terrível epidemia de fome que dizimou milhares de pessoas. (...) Mao (...) agiu de forma parecida com Stálin, perseguindo os opositores e utilizando recursos de propaganda para criar a imagem oficial de que era infalível.'' (p. 191) ''Ouvir uma fita com rock ocidental podia levar alguém a freqüentar um campo de reeducação política. (...) Nas universidades, as vagas eram reservadas para os que demonstravam maior desempenho nas lutas políticas. (...) Antigos dirigentes eram arrancados do poder e humilhados por multidões de adolescentes que consideravam o fato de a pessoa ter 60 ou 70 anos ser suficiente para ela não ter nada a acrescentar ao país...'' (p. 247) Os livros didáticos adquiridos pelo MEC são escolhidos apenas pelos professores das escolas públicas. Não há interferência alguma de funcionários do Ministério.


O sr. Ali Kamel tem o direito de não gostar de certos livros didáticos. Mas por que ele julga que sua capacidade de escolha deveria prevalecer sobre a de dezenas de milhares de professores? Seria ele mais capacitado para reconhecer obras didáticas de valor? E, se os milhares de professores que fazem a escolha, escolhem errado (conforme os critérios do sr. Ali Kamel), o que o MEC deveria fazer com esses professores? Demiti-los? Obrigá-los a adotar os livros preferidos pelas Organizações Globo? Internar os professores da rede pública em Gulags, campos de reeducação ideológica forçada para professores com simpatia pela esquerda política? Ou agir como em 1964?