quinta-feira, 25 de março de 2010

Porque o PiG não chama Uribe de ditador e facista??

Por Camilo Raigozo

As mais recentes chacinas têm-se apresentado no estado de Córdoba, onde fica a fazenda O Ubérrimo, de Álvaro Uribe Vélez. Nesse estado, segundo analistas e defensores dos Direitos Humanos, como Iván Cepeda e Jorge Rojas, teve sua origem o modelo paramilitar que depois foi expandido pelo país todo.

Ao respeito, Cepeda e Rojas, contam no seu livro “Às portas do Ubérrimo”, como no coração desse estado não só se criou um modelo paramilitar, mas também, como a perversa estratégia foi aceita pela sociedade cordobesa e as figuras públicas.

O modelo paramilitar cordobés, estendido ou copiado posteriormente em todo o país, era o mesmo que queria para Bogotá, Francisco Santos, segundo manifestaram os chefes paramilitares Mancuso e Jorge 40.

Pois nesse estado de múltiplas covas comuns, deslocamento forçoso, de choro e muita dor, em menos de 24 horas foram assassinadas ao menos 17 pessoas, entre elas um jornalista que se atreveu a denunciar a corrupção, o paramilitarismo e as alianças desses assassinos com a classe política e a força pública.

O passado 19 de março, em Monteria, capital do estado de Córdoba, foi assassinado o jornalista Clodomiro Castilla Ospin, quem denunciava constantemente a corrupção e o paramilitarismo nesse estado.

Em 21 de março anterior, em horas da noite, no vilarejo de São João, do município de Porto Libertador, do estado Córdoba, paramilitares massacraram sete camponeses inermes em um estabelecimento público.

As vítimas foram os irmãos Francisco Javier e María Inés Pertuz de 14 e 16 anos de idade respectivamente, Hamilton José Herrera Ortiz de 17 anos, Edilberto Torres Palacio de 23 anos, Wilber Pantoja Sotelo de 20 anos, Francisco Emiro Rodríguez e Antonio Soto Santamaría de 26
anos.

No vilarejo de João José, do mesmo município, os ‘paras’ assassinaram três pessoas e desapareceram mais uma. No vilarejo Santa Rosita, município de La Apartada, paramilitares massacraram um pai, seu filho e um amigos que viajava com eles. O mesmo sucedeu em Montelíbano, onde foram assassinadas outras duas pessoas.

A comunidade se pergunta: ¿Essa é a aplicação ou é o fracasso da tão anunciada “segurança democrática?
Hora de acordar
Adriano Benayon*   

http://www.anovademocracia.com.br/58/4a.jpgOuro e dólar

Faz tempo que advertimos: manter— se atado ao "sistema financeiro internacional" custará caro a todos os povos, e tanto mais caro quanto maior, em cada país, seu entrosamento com esse "sistema" e quanto mais tempo isso dure.

No artigo Derivatives Collapse and the China Gold and Silver Markets — publicado por Global Research, 10.09.2009 – Bob Chapman mostra que o império anglo— norte— americano amarrou dentro de estreita armadilha os países detentores de créditos em dólares, exercendo sobre eles pressão político— militar e/ou enganando e cooptando seus dirigentes políticos.

Entre outros, chineses, japoneses, alemães e árabes. A China, um dos poucos países com poder para retaliar e exigir compensações, foi induzida a não só acumular dólares em quantidade estarrecedora, mas também a fazer apostas erradas nos mercados financeiros, adquirindo títulos — com a obrigação de, no futuro, entregar ouro e prata — derivados de contratos detidos por bancos estrangeiros.

Dada a tendência, cada vez mais clara, à valorização dos metais preciosos, os logrados que ficaram com esses derivativos sofrerão enormes prejuízos, pois, para entregar esses metais, terão de comprá— los a preços mais elevados. Esses contratos, chamados forward, são, na maioria, negociados fora das Bolsas e exigem o cumprimento da obrigação ao final do prazo estabelecido.

Como outros, os chineses demoraram a perceber a dimensão da enrascada em que caíram ao comprar títulos denominados em dólares. Eles vêm, nos últimos meses, procurando vendê— los e comprar ouro e metais preciosos. Além disso, o governo da China está aconselhando seus cidadãos a fazer o mesmo. Ademais, proibiu as exportações de prata.

Ainda mais preocupante para os concentradores anglo— americanos, controladores das finanças mundiais: diante da escalada nos preços dos metais preciosos, o governo chinês fez saber que cogita renegar contratos forward, por força dos quais teria de entregar quantidades volumosas de ouro e prata.

Um dos objetivos dos anglo— americanos ao induzir os chineses e outros a adquirir esses derivativos foi obrigar os detentores de títulos dos EUA a não despejá— los no mercado, pois, se assim o fizerem, farão elevar o preço dos metais preciosos, sofrendo, em consequência, vultosos prejuízos.

Em setembro, o ouro voltou a ultrapassar US$ 1.000,00 por onça*, apesar das jogadas e pressões dos concentradores financeiros anglo— americanos, coadjuvados por seus satélites europeus, para manter baixo o preço. Nesse contexto, os bancos centrais têm— se desfeito, nos últimos anos, de suas reservas em ouro, o que beneficia adicionalmente os oligarcas, que o têm podido adquirir a preço baixo.

É interessante notar que esses oligarcas, sobre tudo os britânicos, são os maiores detentores do ouro existente no mundo, tanto em cofres de bancos, como em minas de todos os continentes.

Podem— se esperar, portanto, grandes embates no jogo de poder mundial no último trimestre do ano, quando deve ficar desmoralizada a farsa de que a "crise" está terminando.

Novas bolhas vão espocar, como as mencionadas em meus artigos recentes. Só nos EUA, até agora, o Estado gastou com elas US$ 23 trilhões. As emissões monetárias para cobrir os novos rombos certamente farão intensificar a descrença dos fundos soberanos chineses e de outros países em preservar o valor de suas vultosas carteiras de títulos norte— americanos.

Depressão, desemprego e guerra

Com a confirmação, em breve, de que o colapso financeiro mundial e a depressão se aprofundarão, o cenário de confrontação se tornará mais explícito, levando a conflitos armados e/ou a soluções de compromisso entre países dotados de poder real, ou seja, militar — inclusive nuclear — , industrial e tecnológico.

O desemprego, em proporções jamais vistas, acarretará lutas sociais às quais os governos títeres da oligarquia reagirão por meio de repressão e, em parte, de investimentos econômicos e sociais.

Estes, porém, são inviáveis se forem mantidas as atuais moedas e não se cancelar os títulos tóxicos e liquidar os bancos que os detêm. Isso porque a dimensão dos déficits públicos é incontrolável, mesmo sem grandes iniciativas sociais. Mais que isso, elevar, em favor destas, as emissões de moeda, que já são estratosféricas, desencadeará a hiperinflação. A saída clássica, para as poderosas dinastias, é a guerra de grandes proporções.

De qualquer forma, o povo norte— americano é participativo, e os protestos e manifestações já contam com dezenas de milhões de pessoas, embora os grupos estejam, em geral, desorientados e ideologicamente divididos.

O desemprego, altíssimo e crescente, também na Europa, aumentou em mais de 10 milhões nos EUA, nestes dois anos, incluindo os que decidem parar de buscar trabalho, e a cifra segue crescendo a ritmo mensal entre 600.000 e 1 milhão.

A taxa oficial, grandemente manipulada, de quase 10%, mais que dobrou desde 2007. O desemprego que inclui os trabalhadores a título precário e os de tempo reduzido, está perto de 21% da força de trabalho.

A Flórida tornou— se o 19º estado a recorrer a crédito para pagar benefícios sociais. Na Califórnia, onde estão sem emprego 40% das pessoas em idade de trabalhar, o governo, em estado falimentar, cortará, este mês, 140.000 beneficiários.

Brasil

Tenho repetido que os efeitos no Brasil já são graves e que não passa de paliativo a tentativa de elevar os gastos sociais e os investimentos, via BNDES, inclusive elevando, para isso, a dívida pública.

O jogo de poder mundial, sempre pesado, vai sê— lo ainda mais, e para o Brasil é preferível que se prolongue o conflito entre países com poder real a que eles se entendam.

Para países destituídos de poder, a chance de mudar de rumo depende da desordem no sistema imperial, infinitamente melhor que a ordem mundial pretendida pela oligarquia. São condições favoráveis à organização da sociedade brasileira para se dotar de instituições capazes de a levar a evoluir: 1) o impacto da depressão; 2) o choque causado pela transformação em caos do sistema financeiro internacional; 3) a confrontação entre as potências.

Urge, em suma, para o Brasil, encontrar o rumo da independência, saindo da subserviência em que afunda desde 1954, com o Estado financiando e subsidiando as transnacionais. Elas se tornaram a classe dominante no País, têm tido acesso gratuito às suas fabulosas riquezas naturais e feito esmagar as atividades industriais e tecnológicas dos brasileiros.

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* Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de "Globalização versus Desenvolvimento", editora Escrituras. abenayon@brturbo.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email
1 Onça (oz) unidade de medida equivalente a a 31,1035g.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O monopolio da midia Australiana....

Bem-vindos à primeira murdocracia mundial

por John Pilger
Rupert Murdoch. Adelaide é a cidade festiva da Austrália. O seu festival de arte está a dar que falar. Debates civilizados, estética e vinho de muitas octanas estão a ditar leis ao mundo. Com uma excepção. Adelaide é o sítio onde Rupert Mordoch iniciou o seu império. O trilho devorador começou aqui. Não existe nenhuma estátua; a dele é uma presença espectral, que controla o único jornal diário, e também as empresas gráficas. Em toda a Austrália, ele controla quase 70 por cento da imprensa da capital e o único jornal nacional, e a Sky Television, e muitas outras coisas. Bem-vindos à primeira murdocracia do mundo.

O que é uma murdocracia? É onde a fidelidade e o acréscimo de editores e gestores de Murdoch existem sem disfarce, uma inspiração ao seu coro em sete continentes, onde mesmo os seus competidores cantam em uníssono e os políticos sagazes prestam atenção ao murdoquismo: "Como é que vai ser? Um cabeçalho por dia ou um balde de merda por dia?"

Embora a veracidade desta famosa observação seja por vezes posta em causa, o espírito dela não é. Atacado por uma pneumonia, o antigo primeiro-ministro John Howard arrastou-se para fora da cama para prestar vassalagem ao homem a quem devia muitos baldes vazios. O seu sucessor, Kevin Rudd, foi a correr a uma audiência obrigatória com Murdoch em Nova Iorque antes da sua eleição. Isto é um padrão em todo o planeta. Antes de subir ao poder, Tony Blair voou até uma ilha ao largo de Queensland para subir à tribuna azul Newscorp e defender o tratcherismo e a desregulamentação dos meios de comunicação diante da cara papuda que acenava com a cabeça na fila da frente. No dia seguinte, o Sun elogiava Blair como alguém que "tem visão [e] fala a nossa linguagem sobre a moral e a vida familiar".

Murdoch sabe que pouco separa os principais partidos políticos da Austrália, da Grã-Bretanha e da América. Porta-se como um homem. Em 1972, apoiou Gough Whitlam da Austrália que se revelou um reformador radical, ameaçando mesmo denunciar as bases espiãs da América. Um Murdoch furioso agitou os seus jornais contra Whitlam com histórias tão escandalosamente deformadas que jornalistas rebeldes do The Australian queimaram o jornal no meio da rua. Isso nunca mais se repetiu.

Os temas dominantes na murdocracia australiana, para além do desporto e das coscuvilhices sobre celebridades, são a promoção da guerra e o nacionalismo exacerbado, a política externa americana, Israel e o paternalismo para com os aborígenes, o povo indígena mais empobrecido do mundo, segundo a ONU. Este antiquado combatente da guerra-fria não se deve inteiramente à imprensa de Murdoch, evidentemente, mas a agenda sim. Quando o tirano indonésio general Suharto esteve prestes a ser derrubado pelo seu próprio povo, o editor-chefe do The Australian, Paul Kelly, chefiou uma delegação de editores da maior parte dos principais jornais da Austrália a Jakarta. Com Kelly ao lado, o assassino de massas, que os pasquins de Murdoch promoveram a "moderado", aceitou o tributo de todos eles.

O lacaio de Murdoch mais descarado, senão mesmo ridículo, é Greg Sheridan, editor do estrangeiro do The Australian. Numa das suas peregrinações aos Estados Unidos, local da sede de Murdoch, Sheridan escreveu, "Os EUA são o melhor argumento possível para a desregulamentação dos meios de comunicação. Todas as manhãs, saltito entre a Fox, a CNN e a MSNBC enquanto como os cereais… porque é que demorou tanto tempo para a TV a pagar chegar à Austrália?" Estava a referir-se, instintivamente, à Foxtel, a companhia de TV paga, do seu patrão. Quanto ao terrorismo, Sheridan acusa o "chomskismo pilgerista" de "alimentar ideologicamente os seguidores de Osama bin Lenin, desculpem, Laden".

Uma das campanhas mais eficazes da murdocracia australiana foi a lavagem dum passado colonial sangrento, incluindo uma série de ataques ao distinto cronista do genocídio aborígene, professor Henry Reynolds, e ao director do Museu Nacional da Austrália, Dawn Casey, por terem ousado apresentar a verdade sobre o sofrimento indígena. O grande historiador independente da Austrália, o falecido Manning Clark, foi caluniado pelo Courier-Mail de Murdoch como um agente vermelho, depois como uma fraude, no mesmo estilo com que o London Sunday Times de Murdoch caluniou o membro do parlamento do partido Labour, Michael Foot, como sendo um agente soviético.

Uma coisa parecida espera todo aquele que questionar a manipulação da recordação do sacrifício de sangue da Austrália em prol do imperialismo, o antigo e o novo. Visando os jovens, um "novo patriotismo" sentimental atinge o clímax anual em 25 de Abril, aniversário do desastre da primeira guerra mundial em Gallipoli [1] , conhecido por Dia Anzac [2] . A mensagem é um militarismo aberto que promove as invasões do Afeganistão e do Iraque. Assim, o primeiro-ministro Rudd diz, de modo absurdo, que as forças armadas são a profissão mais elevada da Austrália.

Estas falsas bandeiras estão constantemente viradas para Israel, que assiste a uma corrente de jornalistas australianos apoiados e pagos por grupos sionistas. O resultado é a reportagem apologética de acções criminosas que evoca os grandes pacificadores como Geoffrey Dawson, editor do The Times nos anos 30. O debate sobre declarados crimes de guerra não chegou à Austrália. Que um antigo e um actual primeiro-ministros britânicos tenham sido convocados a depor perante o inquérito Chilcot em Londres, é encarado com estupefacção porque aqui nunca aconteceria uma coisa dessas. Mas John Howard, que também invadiu o Iraque, detém uma espécie de recorde por ter afirmado 30 vezes num só discurso que sabia que Saddam Hussein tinha um "verdadeiro programa maciço" de armas de destruição maciça.

A emissora nacional, a Australian Broadcasting Corporation, há muito que foi intimidada pela imprensa de Murdoch sob a forma obsessiva da campanha travada contra a BBC. Financiada directamente pelos governos, a ABC não tem a independência nominal e a protecção do sistema britânico através do recurso a uma taxa de TV para a difusão pública. No ano passado, o HarperCollins, propriedade de Murdoch, foi recompensado com uma lucrativa "parceria" com o ramo editorial da ABC, o ABC Books.

Em 1983, havia 50 importantes empresas que dominavam os meios de comunicação mundiais. Em 2002, estavam reduzidas a nove. Rupert Murdoch diz que acabará por haver apenas três, incluindo a sua própria. Se aceitarmos isto, os meios de informação e o controlo da informação serão a mesma coisa, e passaremos a ser todos cidadãos duma murdocracia.

N.T.
[1] Campanha Gallipoli – batalha na peninsula da Turquia em 1915-1916. Tentativa falhada de conquista de Istambul com pesadas baixas.
[2] ANZAC – Australian and New Zealand Army Corps


O original encontra-se em http://www.johnpilger.com/page.asp?partid=569 . Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

terça-feira, 23 de março de 2010

Belo texto de Marcelo Salles sobre João Ripper

JOÃO QUERIDO RIPPER


Ele chega em mangas de camisa, preta, e calça bege. Usa óculos e tem sempre uma expressão serena, que parece eterna. A primeira coisa que transmite é paz. Encontro o repórter fotográfico João Roberto Ripper em Brasília, na casa do diplomata Celso França, que preparou uma calorosa recepção. Na terça-feira, dia 23, Ripper inaugura a exposição “Mulheres entre luzes e sombras”, no Espaço Cultural Zumbi dos Palmares, na Câmara dos Deputados.
De acordo com o rilisi, a exposição mostra “o paralelismo entre as realidades de mulheres exploradas, violadas, ameaçadas e livres com a evolução histórica do seu papel na sociedade brasileira. Ao lançar o seu olhar sobre o assunto, Ripper contamina a todas e todos sobre essa questão tão antiga e tão importante na atualidade – a quem pertence os corpos das mulheres?”.
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Mulheres, camponeses, índios, favelados, carvoeiros, canavieiros, a gente mais explorada pelo sistema capitalista. São esses os que movem Ripper, que nos últimos seis anos alugou uma casa na favela da Maré, no Rio de Janeiro, onde coordena um curso de fotografia na Escola Popular de Comunicação Crítica.
O mergulho de Ripper na favela gerou frutos. Os alunos formados por ele – e outros professores extremamente competentes, como Dante Gastaldoni e Évlen Bispo – já são centenas. Mais que isso, estão sendo formados professores capazes de interpretar a realidade sem o filtro das corporações de mídia.
Nesse ponto Ripper comenta: essa mídia acusa o governo Lula de querer censurar a imprensa, mas na verdade ela é a grande censora. O exemplo que ele dá é o da favela. Na medida em que a favela só vira notícia quando há algum tipo de violência (geralmente tiroteios entre traficantes varejistas ou entre estes e policiais), a mensagem que fica é: na favela só há violência, bandidos. A favela passa a ser, consequentemente, o mal na terra.
Se considerarmos os níveis alarmantes da concentração midiática no Brasil (ex.: seis emissoras privadas de tv e uma pública recém-nascida para 190 milhões de habitantes); e se considerarmos que essas emissoras privadas, que detêm mais de 90% da audiência, defendem o mesmo projeto político-econômico, ou seja, as ditaduras civil-militares, estrutura neoliberal que prega o Estado fraco, a exploração dos povos e o enriquecimento dos monopólios privados; então a consideração de Ripper fica muito nítida.
Hoje a censura não está no Estado, mas nas Redações, em grande parte financiadas pelo poder econômico. É o que confirma pesquisa divulgada pelas Nações Unidas, em 2002, com chefes e ex-chefes latino-americanos. A pergunta foi: “Quem exerce o poder na América Latina?”. A resposta: 1) Os grupos econômicos, empresários, o setor financeiro; 2) Os meios de comunicação; 3) Os poderes constitucionais – Executivo, Legislativo e Judiciário; 4) As Forças Armadas, a polícia; 5) Partidos políticos, os políticos, operadores políticos, líderes políticos; 6) EUA, a embaixada norte-americana, organismos multilaterais de crédito, o fator internacional, o fator externo, empresas transnacionais.
Essa é a grande batalha política do nosso tempo. “O jornalismo está implicado numa dinâmica, a disciplinariedade, que é, desde o século XVIII, a principal estratégia de poder”, anota a professora da USP Mayra Rodrigues Gomes, no livro “Poder no jornalismo”. A mídia, hoje, é a instituição com maior capacidade de produção e reprodução de subjetividades. Ou seja: é a mídia quem, em grande parte, determina formas de pensar, sentir e agir dos indivíduos e da sociedade como um todo. Claro que há outras instituições fortíssimas (Família, Igreja, Governos, Escola…), mas a mídia ganha papel de destaque nos dias de hoje basicamente por três razões:
1) o desenvolvimento das tecnologias, que permitem um maior alcance das mídias (outdoor, televisão, rádio, revista, publicidade em ônibus, em prédio, internet, sites, vídeos, cinema, jornal, orkut, twitter etc.), de modo que para o cidadão é praticamente impossível evitar as mensagens da mídia 2) A extrema concentração, conforme mencionado acima; e 3) O analfabetismo e analfabetismo funcional da população. Segundo o Instituto Paulo Montenegro, em pesquisa divulgada em 2005, apenas 26% da população entende o que lê. Para além da limitação causada pelo analfabetismo ao indivíduo, esse dado joga peso para rádios e tevês, que são concessões públicas, mas que se encontram sob o controle de corporações privadas, cujos interesses divergem dos interesses da nação e de seu povo.
Quem continua ignorando o papel das corporações de mídia, que não é meramente informativo, como dizem, e sim o de grande sustentáculo do sistema opressivo, ou é desqualificado ou está mal intencionado.
Por tudo isso, o trabalho de Ripper é um convite à resistência. Ao mesmo tempo em que dá visibilidade aos que historicamente são marginalizados pelo sistema, e assim fortalece indivíduos e movimentos sociais que lutam, o repórter fotográfico é, ele mesmo, um exemplo de que é possível trabalhar com dignidade sem se submeter aos tiranos. E assim a gente segue, fazendo mídia, enquanto os medíocres vão fazendo média por aí.

Gripe suína e a vacina

Gripe suína, vacinar ou não?

por Conceição Lemes - blog viomundo

Para a Fundação Oswaldo Cruz, (Fiocruz), a Escola Nacional de Saúde Pública, o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB), a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, entre dezenas de instituições médicas e de saúde coletiva de peso no país, a resposta é sim.
A saúde pública do Brasil tem um grande desafio nos próximos três meses: vacinar pelo menos 80% das 91 milhões de pessoas que devem ser imunizadas contra a influenza A (H1N1), ou gripe A, mais conhecida como gripe suína. A vacinação acontecerá simultaneamente em todo o território nacional.
“Prioritariamente o objetivo é proteger os profissionais de saúde e alguns grupos que têm maior risco de desenvolver a forma grave da doença ou evoluir para o óbito durante a segunda onda da pandemia da gripe A”, explica o médico epidemiologista Eduardo Hage Carmo, diretor de vigilância epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. “A segunda onda acontecerá no inverno.”
Os grupos com maior risco de desenvolver a forma grave de gripe suína são:
* Gestantes
* Indígenas que vivem em aldeias
* Portadores de doenças crônicas, independentemente da idade
* Crianças de 6 meses a 2 anos de idade
* Pessoas de 20 a 39 anos
Se você está em uma dessas situações ou é profissional da área de saúde, o Ministério da Saúde recomenda que se vacine. A vacinação será feita em cinco etapas, de  acordo com os grupos, como mostra o calendário abaixo.
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MINISTÉRIO DA SAÚDE ESCLARECE AS DÚVIDAS FREQUENTES
Preocupado em informar ao máximo a população, o MS selecionou as dúvidas mais freqüentes nos serviços públicos de saúde e no seu Disque Saúde (0800 611997).  A equipe técnica do próprio ministério é quem as respondeu.
O que é influenza A, ou gripe suína?
É uma doença respiratória contagiosa causada pelo vírus A (H1N1). Assim como a gripe comum, a influenza A é transmitida de pessoa a pessoa, principalmente por meio de tosse, espirro e contato direto com secreções respiratórias de pessoas infectadas. Os sintomas podem aparecer 7 a 14 dias após a pessoa infectar-se pelo novo vírus.
Qual a diferença entre a gripe comum e a suína?
Elas são causadas por diferentes subtipos do vírus influenza. Os sintomas são muito parecidos e se confundem: febre repentina, tosse, dor de cabeça, dores musculares, dores nas articulações e coriza. Por isso, ao apresentar esses sintomas, procure o seu médico ou um posto de saúde.
O vírus da gripe é mais violento do que o da gripe comum? Qual mata mais?
Inicialmente, acreditava-se que o vírus A (H1N1) fosse mais patogênico do que o da gripe sazonal, comum.  Porém, até o momento, ele não demonstrou ser mais violento ou mais mortal na população geral. A maioria das pessoas desenvolve a forma leve da doença e se recupera sem uso de medicamentos. Assim como na gripe comum, portadores de doenças crônicas, gestantes e crianças com menos de 2 anos são  os mais vulneráveis. A principal diferença é que o vírus da gripe A tem potencial maior de causar doença grave em pessoas saudáveis de 20 a 39 anos. Em compensação, tem afetado menos as com mais de 60 anos.
Por que não vacinar toda a população?
A vacinação em massa não tem sentido por um motivo bem simples: a contenção de segunda onda da pandemia de gripe A não é mais possível em todo o mundo.
Que critérios o Ministério da Saúde utilizou para selecionar os grupos prioritários para a vacinação? Esses grupos são os mais afetados ou os que têm maior risco?
Comecemos pelos trabalhadores da saúde. Eles precisam estar protegidos, pois são os que garantirão o funcionamento ininterrupto dos serviços de pronto-atendimento, vigilância em saúde, laboratório. Deles dependem todos os serviços de combate à pandemia de gripe A – da vacinação ao diagnóstico e tratamento. Não se pode correr o risco de colapso dessas atividades essenciais.
Os indígenas aldeados por dois motivos: são mais vulneráveis a infecções e têm maior dificuldade de acesso às unidades hospitalares, caso necessitem.
Os demais grupos prioritários são aqueles que, na primeira onda da pandemia, tiveram mais frequentemente a síndrome respiratória aguda grave (SRAG), que é a forma grave da influenza A. Por exemplo, entre as mulheres em idade fértil que apresentaram SRAG em 2009 devido à gripe A, 22% eram gestantes. Os jovens de 20 a 29 anos foram o grupo etário mais afetado: representam 24% do total de casos de SRAG por influenza A em 2009. Entre os adultos de 30 e 39 anos, ocorreu a maior taxa de mortalidade: 22% do total de óbitos.
Todos os trabalhadores da área de saúde precisam se vacinar?
Não. Apenas aqueles estão na rede de serviços, atendendo diretamente a população. Ou seja, aqueles que, em razão das suas funções, têm risco potencial de contrair a infecção pelo H1N1 no contato com possíveis suspeitos da doença. Portanto, devem se vacinar os trabalhadores da atenção básica (postos de saúde e  programa de saúde da família),  dos serviços de média e alta complexidade (pequeno, médio e grande porte) e aqueles que atuam na vigilância epidemiológica, especialmente na investigação de casos e em laboratório.
É importante que todos os trabalhadores da área de saúde informem-se nos seus serviços e na Secretaria Municipal ou na Secretaria Estadual de Saúde para conhecer os detalhes da vacinação, já que a imunização não será feita em 100%.
E a população indígena que vive em aldeias será 100% vacinada?
A partir dos 6 meses de idade, sim, devido à maior vulnerabilidade a infecções.
Por que vacinar portadores de doenças crônicas?
Devido às doenças crônicas eles já são naturalmente mais vulneráveis a infecções. E a maior vulnerabilidade aumenta a probabilidade de quadros de maior gravidade e óbito. Na pandemia de 2009, observou-se um alto percentual de pessoas com doenças crônicas entre os casos de SRAG.
Quem pode ser considerado portador de doença crônica?
A lista é grande. Estão nesse grupo, por exemplo:
* Pessoas com obesidade grau III, antigamente chamada obesidade mórbida, independentemente da idade.
* Pessoas com doenças renais, pulmonares, cardiovasculares, hepáticas e hematológicas crônicas
* Imunodeprimidos devido ao uso de certos medicamentos (por exemplo, contra rejeição de transplantes, cortiscosteróides e antineoplásicos) e de algumas doenças (como câncer e aids).
* Diabéticos.
E os idosos por que não estão entre os grupos prioritários?
Porque a influenza A afeta menos as pessoas com mais de 60 anos. Porém, se o idoso tiver alguma doença crônica, deverá ser vacinado contra a gripe suína. A vacina será feita durante a campanha anual de vacinação do idoso contra a gripe comum, de 24 de abril a 7 de maio. Portanto, o idoso com doenças crônicas tomará duas vacinas: contra a influenza A e contra a gripe comum.
O fato de as pessoas terem doenças crônicas não aumenta o risco de efeitos colaterais da vacina?
Não. A possibilidade de ocorrer um evento adverso após a administração da vacina em pessoas com doença crônica é a mesma de qualquer outra pessoa.
Por que as crianças com menos de 6 meses não estão incluídas nos grupos prioritários? Há alguma contraindicação?
É que não está comprovado que nessa faixa etária a vacina garante proteção.
Por que vacinar as grávidas contra a gripe suína se normalmente não são vacinadas contra a gripe comum?
Não há nenhuma contraindicação à vacinação de gestantes contra a gripe comum. Acontece que as campanhas anuais priorizam a população de maior risco – a população de 60 anos ou mais. Já em relação à influenza A as gestantes são consideradas como grupo de risco. Relembramos que, em 2009, entre as mulheres em idade fértil que apresentaram a forma grave da gripe A, 22% eram gestantes.
A vacina não oferece risco à grávida? E ao feto? Há risco de aborto?
Não há risco em vacinar grávidas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e os  laboratórios produtores, a vacina contra o vírus influenza A H1N1 é segura para a gestante. Também não há evidências de que possa causar aborto ou afetar o feto.
A grávida pode se vacinar em qualquer fase da gestação?
Sim, pois será utilizada para as gestantes a vacina que não contém o adjuvante.  Com base na experiência de outros países que estão vacinando desde novembro de 2009, a OMS e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) orienta o uso da vacina com ou sem adjuvante. Porém, por cautela, a orientação do Ministério é utilizar em grávidas somente a vacina sem adjuvante.
Suponhamos que a mulher só se descubra grávida depois de 21 de maio. Ela poderá se vacinar, mesmo após o término da campanha de vacinação contra a gripe A?
As mulheres que se descobrirem grávidas ou engravidarem depois de 21 de maio poderão se vacinar depois, sim.
A vacina que será utilizada no Brasil é segura?
Sim. Ela já está em uso em outros países. Até o momento não foi observado neles a relação entre o uso da vacina e a ocorrência de efeitos adversos graves.A segurança da vacinação, porém, não depende apenas do imunizante. Está relacionada também à: 1) utilização de seringas e agulhas apropriadas; 2) adoção de procedimentos seguros no manuseio, no preparo e na administração da vacina, conforme normas técnicas estabelecidas; 3) conservação da vacina na temperatura adequada, conforme preconizado; qualidade da capacitação do pessoal envolvido, bem como da supervisão ao trabalho de vacinação. É fundamental, no entanto, o monitoramento de eventos adversos associados temporalmente à vacinação, para investigá-los.
Qual a eficácia da vacina a ser utilizada no Brasil?
Em média, acima de 95%. Proteção máxima é alcançada entre 14º e 21º dia após a vacinação.
A vacina que será utilizada no Brasil é inalável ou injetável?
Injetável, administrada por via intramuscular.

Qual a incidência de efeitos colaterais da vacina?
A grande maioria apresenta os mesmos da vacina contra a gripe em idosos, são reações leves: dor local, febre baixa, dores musculares, que se resolvem em torno de 48 horas.

Tudo bem tomar a vacina em clínica particular?
A vacina vai estar disponível em toda a rede pública de saúde do Brasil. Mas se você preferir vacinar-se em clínica particular, não há nenhum problema. O Ministério da Saúde não impôs nenhum obstáculo para o setor privado adquirir vacina contra a gripe A. O que pode ocorrer é não haver o produto disponível; isso dependerá da capacidade de fornecimento dos laboratórios produtores.

Se eu me vacinar contra a gripe comum estarei protegida contra a gripe A?
Não. Portanto, se faz parte dos grupos prioritários deverá se vacinar também contra a gripe A.
Supondo que eu faça parte dos grupos prioritários e não queira me vacinar, e aí?A vacina é obrigatória?
De modo algum, a vacina contra a gripe A é compulsória.  Nós, enquanto Ministério da Saúde, apenas recomendamos o que do ponto de vista de saúde pública julgamos necessário. A decisão é individual. Questão de livre arbítrio. Mas antes de decidir, reflita bem. Nós esperamos que você espontânea e conscientemente se imunize, caso faça dos grupos prioritários.

O vírus da gripe suína, como já dissemos, é transmitido da mesma forma que o da gripe sazonal: por gotículas que são expelidas quando a pessoa infectada fala, espirra ou tosse. E as medidas de prevenção são as mesmas para o controle e prevenção da gripe sazonal e de outras doenças respiratórias.Por isso, as medidas de prevenção são muito importantes, principalmente as individuais, pois evitam que uma pessoa doente transmita o vírus para outra. Questão de respeito com a saúde do outro:
* Cubra a boca e o nariz com lenço descartável ao tossir e espirrar; é para evitar que gotículas atinjam os que estão próximos.
* Lave frequentemente as mãos com água e sabonete. Faça isso, pelo menos: depois de tossir ou espirrar. Após usar o banheiro; antes de comer; e antes de tocar os olhos, boca e nariz
* Evite compartilhar pratos, talheres e alimentos.
* Evite colocar as mãos nos olhos, nariz ou boca após pegar mexer com dinheiro, pegar produtos no supermercado ou ter contato com superfícies que não estejam devidamente higienizadas.
* Procure ter hábitos saudáveis, como alimentação adequada, ingestão de líquidos e atividade física.
Afinal de contas, quanto mais prevenção mais proteção.

John Lee Hooker - Live in Montreal (DVDRIP divx)



John Lee Hooker - Live in Montreal 2002


  • It Serves Me Right to Suffer
  • One Bourbon One Scotch One Beer
  • I'll Never Get Out of These Blues Alive
  • Roll Me Like You Roll a Wagon Wheel
  • Boom Boom
  • I'm in the Mood
  • Look at What You Did to My Life
  • Chicken and Gravy
  • We're Gonna Do the Shout

Críticas a Israel.....

Israel: defensores dos direitos humanos temem “caça às bruxas”


 Editado por Carlos Gorito - Le Monde – Paris
JERUSALÉM – Os especialistas falam de um clima de “caça às bruxas”, e Gideon Levy, editor independente do jornal Haaretz, não hesita em denunciar a orientação “macartista” do movimento Im Tirtzu. Defendendo os “valores do sionismo”, este lançou uma violenta campanha contra o New Israel Fund (Novo fundo israelense, NIV), uma fundação que financia as principais organizações de defesa dos direitos humanos israelenses, e sua presidente, a professora Naomi Chazan.
 
Segundo o Im Tirtzu, que recebeu o poderoso apoio do jornal popular Maariv, o NIV financia as dezesseis organizações não governamentais (ONG) que forneceram “92% das referências negativas” contidas na relação do juiz sul-africano Richard Goldstone, o qual acusa Israel de ter cometido “crimes de guerra” durante a guerra de Gaza entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Conhecido por sua orientação de extrema direita, o Im Tirtzu está próximo dos meios evangélicos americanos.
Ele acaba de obter uma primeira vitória: Naomi Chazan, editora respeitada do Jerusalem Post há dez anos, recebeu um e-mail anunciando-lhe que seu vínculo havia terminado. Mas o confronto não acabou: na Knesset, o Parlamento israelense, vários deputados comandam uma ofensiva brutal, qualificando as ONGs visadas de “traidoras” pertencendo a uma “quinta colônia”.
Uma proposta de criação de comissão de inquérito parlamentar foi apresentada, com o objetivo de desvelar as fontes de financiamento do New Israel Fund. Ele, que foi criado em 1979, tem sua sede em Washington. Recebe doações dos judeus americanos, e direcionou após sua criação mais de 200 milhões de dólares a numerosas organizações que partilham os ideais de democracia e de justiça social.
Entre elas temos B’Tselem, Breaking the Silence, a Associação pelos Direitos Cívicos em Israel, o Comitê Público contra a Tortura, Médicos pelos Direitos do Homem, Yesh Din, Adalah, Hamoked, etc., ou seja, as principais organizações que defendem os direitos dos Palestinos, dão a palavra aos soldados israelenses amordaçados pela censura militar e, de uma maneira geral, conduzem o combate da liberdade de expressão.
Movimento de repressão
Em nome de treze dessas organizações, a B’Tselem escreveu ao presidente Shimon Pérès, ao primeiro ministro, Benyamin Nétanyahou, e ao porta-voz da Knesset, Reuven Rivlin, para denunciar uma “campanha crescente e sistemática”.Uma democracia não deve reduzir ao silêncio as vozes críticas; defender os direitos do homem é vital”, sublinha esse manifesto.
As organizações humanitárias israelenses temem que a campanha do Im Tirtzu se insira em um movimento mais geral de repressão, como aquela que atinge os militantes palestinos e israelenses que protestam contra a “cerca de segurança” e as expulsões de famílias palestinas do bairro de Cheikh Jarrah, na parte leste de Jerusalém.


Laurent Zecchini
Tradução de Liziane Mayer

Para acessar o original clique aqui

segunda-feira, 22 de março de 2010

Yeda e o sonho da ressurreição


Por Paulo Muzell

O tema da “ressurreição” é tão velho quanto o próprio homem, está presente na mitologia e nas religiões. Traz consigo a sempre alimentada esperança de superação da morte, além do mistério e da magia de um retorno inesperado. Das religiões o tema migrou para a literatura e daí para o cinema. Estórias de vampiros e vampiras há mais de cem anos se sucedem nas telas, adicionando ao tema a “pimenta” do terror e do sexo, formando uma mistura tão do agrado do grande público. Bom para a indústria do cinema e para Hollywood, que encontrou aí um inesgotável “filão” para ganhar dinheiro.
Mas o tema é, também, velho e recorrente na política. Ao examinarmos o passado político brasileiro – remoto ou recente – encontramos inúmeros episódios de “tentativas de ressureição”. Felizmente para nós, invariavelmente mal sucedidas. Aí estão os exemplos do Ademar de Barros e do Jânio Quadros, e mais recentemente, do Malluf e do Collor.
Pois é aqui, neste remoto Rio Grande é que surge a mais nova, insistente, quase frenética, tentativa de ressureição. A personagem-postulante, a ex-governadora em exercício busca, de todas as formas e com forte apoio da mídia cabocla – e em especial do Correio do Povo do grupo Record – a recuperação de sua combalida imagem.
Envolvida em denúncias de desvios antes mesmo de assumir, a arrogância, a presunção e o autoritarismo foram marcas registradas do seu (des) governo. O resultado não poderia ser outro: nos últimos meses teve a pior avaliação dentre todos os governadores do país, sendo sua rejeição a maior.
A mídia local tentou sempre preservá-la, protegê-la, atribuindo-lhe qualidades e méritos inexistentes. “Uma esplêndida recuperação das finanças estaduais”, “déficit zero”, equilíbrio fiscal, base para a “construção de um novo Rio Grande”, afirmaram e afirmam sem pejo, à exaustão. Tudo postiço. A dívida estadual e os encargos do seu serviço cresceram, aumentou o déficit previdenciário, o governo não aplica os mínimos constitucionais em Saúde e Educação. Só aí “alivia” o déficit, ao sonegar 2 bilhões a cada ano à área social. E, ainda assim, em 2009 o balanço das contas do Tesouro registra um déficit de 67 milhões de reais.
Ela esteve por cair, foi por pouco, salvou-a o apoio incondicional do dr. Simon e de sua turma do PMDB. É, o dr. Simon aquele mesmo que faz pose de paladino da ética e que há alguns atrás ameaçou renunciar seu mandato de senador, alegando “desencanto com a política”.
Neste início de 2010, “salva pelo congo” a personagem-postulante começa a encenar a “farsa da ressureição”. Não lhe falta o apoio midiático: todos os dias os veículos locais e, invariavelmente, o Correio do Povo apresenta em destaque a postulante em “um mundo cor de rosa”: anunciando superávits, inaugurando obras, prometendo investir 2,8 bilhões em 2010. Se examinarmos o balanço consolidado do Estado de 2009, verificaremos que foram aplicados em investimentos “no amplo senso”, incluídas aí as inversões financeiras apenas 660 milhões de reais, o que significa que para obras destinou-se algo na faixa dos 400 milhões. Como investir 2,8 bilhões em 2010? Isso é uma irresponsabilidade: é anunciar e prometer o impossível!
Fiquem descansados os gaúchos. Apesar deste “generoso apoio” do Correio do Povo e dessa lamentável mídia cabocla – que não noticia e analisa fatos, mas que monta e encena pantomimas - a desejada “ressureição” não vai ocorrer. Ela é apenas mais uma esperança vã.

Ilustrações: Sátiro-Hupper

Socialismo na Bolivia...

Neste estudo sobre o futuro do processo revolucionário de mudanças em curso na Bolívia, Marcos Domich conclui respondendo à pergunta como é possível, hoje e na Bolívia, “um país atrasado, pobre, cercado construir uma nova ordem, a sociedade socialista. Sim, acreditamos que é possível nas actuais conjunturas nacional e internacional. Ambas são favoráveis, ainda que à revolução boliviana, tal como não acontecerá com nenhuma outra, não se lhe será aberta a passagem para uma avenida Nevski, como já sabemos. Será como disse Mariátegui «nem cópia nem decalque, criação heróica».”

O Socialismo na e para a Bolívia (da vitória eleitoral à construção da nova ordem)

Marcos Domich*

Ninguém duvidava do triunfo de Evo Morales. Todos sabiam que venceria com mais de 50 por cento dos votos, mas poucos acertaram na percentagem final. Conseguir 64%, é alcançar um cume pouco habitual. No entanto, ratifica o facto de onde há unidade das massas pode-se atingir índices que se aproximam de uma espécie de unanimidade política. Para a outra banda – para a direita e o imperialismo – o êxito da candidatura popular foi uma humilhação nunca vista.
O triunfo permitiu chegar ao controlo de importantes alavancas do poder político, particularmente em ambas as câmaras legislativas. Isto possibilita a aprovação das leis e códigos, e a nomeação de autoridades que facilitarão uma aplicação sistemática e efectiva da nova Constituição Política do Estado (NCPE). Deu-se uma situação sui generis, agora é possível fazer profundas transformações estruturais e super-estruturais pelo mandato da Constituição e das leis. Anteriormente, a revolução, o povo em armas ou o que lhe queiram chamar, executavam medidas revolucionárias sem outra deliberação para além da lubrificada vontade popular. E se aí radicava a sua legitimidade, havia o melindre de não serem «legais», mais ainda, estraçalhavam a velha legalidade que outra coisa não era que a lei formulada, como obra de alfaiate, exactamente à medida dos interesses dos patrões e dos monopólios. Hoje é possível a mudança legítima e completamente legal. Na verdade consumou-se uma revolução política pacífica e que até tem a sua própria Constituição.
As eleições bolivianas têm uma dupla projecção: uma exterior e outra interior. Isso entende-se melhor se falarmos de alguns prolegómenos das eleições. A eminência do êxito da candidatura de Evo determinou que a reacção nativa e o imperialismo espremessem os cérebros a imaginar as maneiras de perturbar o processo eleitoral; como se disse, deram mil e uma voltas na tentativa de as invalidar. A experiência histórica diz-nos como se move uma direita em transe de sofrer uma derrota que, no caso das eleições bolivianas de Dezembro, marcam para ela e para os seus sustentáculos a possibilidade de uma derrota estratégica. Derrota estratégica quer dizer que o processo de mudanças continuará a sua marcha ascendente que inclusive poderá transformar-se num processo revolucionário, com tudo o que esta definição significa. E aqui está o cerne da questão. Às classes dominantes apavora-as a possibilidade da sua extinção histórica.
Entre as medidas perturbadoras estava a tentativa de impedir o voto de cerca de 400.000 cidadãos. Depois tentaram invalidar cerca de 250.000 votos presumivelmente a favor do MAS, de acordo com sondagens confiáveis. Outro objectivo era o de impedir que o futuro Parlamento boliviano contasse com uma maioria de deputados e senadores do MAS, sobretudo na câmara de senadores. O seu sonho esfumou-se e a direita elegeu apenas 10 senadores face aos 26 dos MAS. Percebe-se agora a consigna do voto cruzado. Queriam forçar a diminuição de deputados da bancada do MAS. No final este partido obteve 86 deputados contra 36 do seu imediato seguidor.
A campanha da oposição baseava-se numa acção dissuasora, mentirosa e provocadora, utilizando a poderosa bateria de meios de comunicação de massas ao seu serviço. Todos tocavam pela mesma partitura. O efeito que procurava era deteriorar a imagem dos candidatos oficiais, da esquerda, atribuir-lhe as piores intenções. Chegou-se a tergiversações impossíveis como no caso do comando mercenário dirigido por Rósza Flores. Apesar de estar há muito referenciado, inclusivamente denunciado perante a ONU, de ser encontrado com explosivos na sua própria casa em Budapeste, pretendiam apresentá-lo como um contratado, um agente do governo de Morales.
A dimensão externa é a projecção do êxito do povo boliviano na América Latina. Com o retumbante triunfo de Evo Morales, a chamado «volta à esquerda» continua e pesará nas próximas eleições e acções políticas e diplomáticas. José Mujica, da Frente Ampla uruguaia, derrotou inapelavelmente o direitista branco La Calle. [N. do T.: os partidos tradicionais, que se revezavam no poder, os Blancos e os Colorados]
O caso do Chile é diferente e exige uma profunda reflexão. Trata-se claramente de uma falta de unidade das forças de esquerda e chama a atenção atitudes como a do ex-deputado da Concertação, Enriquez-Ominami.
Face á sucessão de vitórias das candidaturas democratas, progressistas e de esquerda, há já uma década, o imperialismo continuará a procurar por todos os meios - incluindo os mais ilícitos – travá-la e impedir a passagem a novos escalões. Para os seus objectivos, é uma contradição que em cada nova eleição prossiga o êxito do progressismo sobre o conservadorismo, da esquerda sobre a direita. Há provas do que o imperialismo pretende e as Honduras é o exemplo mais claro. Há mais países em que chovem as denúncias de maquinações conspirativas do império: Venezuela, Equador, Nicarágua, Argentina e outros estão debaixo de mira. Até as catástrofes naturais como a do Haiti são pretextos para ensaiar ocupações militares. Obviamente, os governos servis tipo Uribe e as suas sete bases concedidas ao Pentágono são peças importantes da tramóia contra-revolucionária do imperialismo.
Mas no conjunto há uma circunstância que se levanta contra os planos imperialistas: em Cancún nasceu um novo agrupamento dos países da América Latina e do Caribe, a Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe. O imperialismo não vê com bons olhos a emergência de uma nova organização inter-estatal e integracionista de que não fazem parte nem os EUA nem o Canadá. Os povos, os governos progressistas, devem desenvolver os maiores esforços para que esta obra de unidade, de integração e de soberania atinja o seu ponto mais alto.
Com este panorama devem fixar-se algumas premissas que balizem a actividade da esquerda, da ampla representação parlamentar sob a sigla do MAS e até do próprio governo. Em primeiro lugar impõe-se uma atitude da máxima responsabilidade e coerência política, de uma consciência precisa das tarefas, do rumo e das metas que há que atingir no processo de construção de uma nova sociedade.
Ainda que escassa, do mal o menos, haverá uma representação parlamentar totalmente confiável pela sua firmeza política e ideológica, pela sua formação e compromisso com a causa da libertação nacional e social na perspectiva da superação do capitalismo.
Não será uma atitude arrogante ou de satisfação plena pelo rotundo triunfo de Dezembro e dos que já se avizinham para Abril. A direita, que perdeu possibilidades no campo da confrontação democrática, voltará ao caminho anterior e cada vez com mais fúria, fruto da sua impotência política. Com a facilidade que lhe conhecemos, há que temer a sua passagem ao terreno do complot, da resistência organizada e da assumpção da violência social, inclusive do terrorismo.
Também se deve pensar que a reacção, e sobretudo esse amplo diapasão social chamado conservadorismo, tem outras formas de acção na base dos elementos de atraso e da contaminação da reversão sobre a consciência social. O mês de Fevereiro caracterizou-se pela subida dos preços do açúcar, da carne de frango e outros. Certos sectores como os transportes provocaram sérios problemas com greves que não têm qualquer fundamento. Noutros sectores há reivindicações de tipo anárquico e nocivo que, contudo, se podem combater e controlar. Por fim, as medidas oportunas do governo resolveram os transtornos, mas ainda não há uma organização vigilante do povo, das organizações sociais, dos sindicatos e dos partidos de esquerda. Até agora houve uma espécie de convergência, não propriamente acordada, entre as organizações e os sectores referidos. Do que se trata agora é converter a convergência em organização dotada de objectivos, programa e estruturas definidas. A consigna da unidade continua a ser a mais importante desta etapa histórica.
Ainda que de forma não calculada nos seus detalhes, emergiu de forma espontânea o bloco histórico capaz de levar por diante a sua tarefa histórica da construção da nova sociedade. Camponeses e camponesas, operários e operárias, povos originários, camadas médias, intelectualidade avançada e até pequeno empresariado constituem a matéria-prima desse bloco a que há que infundir consciência revolucionária. No bloco histórico, ainda se deve trabalhar muito, e muito arduamente, pela unidade política e pelo esclarecimento ideológico. Tarefa que não é fácil quando se trata de vários componentes de classe e de diversidade de povos que, até agora, não só eram marginalizados e discriminados, como em boa medida eram invisibilizados.
Por outro lado não se pode esquecer e passar por alto sobre as manifestações que priorizam o étnico nacional como a pedra fundamental da nova construção social e até adquirem uma matriz excluente que não estabelece diferenças no seio do outro pólo. Tende-se a ignorar que para o capitalismo não há muralhas da China e ele penetrou em todos os resquícios da sociedade e dos povos.
Por último, nesta formulação de tarefas de conteúdo ideológico, não se pode omitir que só a superação das tendências «naturais» do interesse privado, do seu crescimento e expansão, impedirá que, mais à frente, se convertam num obstáculo à universalização e resgate do verdadeiro sentimento colectivo, solidário, igualitário ou simplesmente comunitário, se se preferir.
À luz da análise da actual situação boliviana podem inferir-se várias conclusões que se traduzirão de facto em linhas de acção e tarefas a derem executadas neste período. Em primeiro lugar há que procurar a maneira de cumprir uma série de promessas eleitorais que não têm esse sentido, mas que na realidade são verdadeiras medidas programáticas transcendentais. Entre outras está a industrialização do país, com um novo sentido social. Perseguem o fim preciso de desenvolver as forças produtivas em todos os seus componentes, o conjunto dos produtores, da classe operária e dos instrumentos de produção. Na agricultura – além de estimular certos caminhos imprescindíveis para a alimentação da população e as necessidades de exportação – está a tarefa de liquidar o latifúndio e libertar as forças produtivas superando o despojo mais que centenário dos povos originários.
Há outros aspectos que fazem parte do processo de mudanças que poderão, finalmente, ser aplicados depois do apoio popular ter ratificado o governo. A NCPE tem inscritas e legalizadas por referendo popular uma série de disposições constitutivas de um verdadeiro salto qualitativo no plano da politica social, da educação e da saúde, que tornem a Bolívia num Estado avançado e moderno. Isto sucede, igualmente, no que se estabelece a nossa política externa como soberana, pacifista, solidária e de relações com todos os países do mundo, baseadas no respeito recíproco, na não ingerência nos assuntos internos de cada país e no benefício mútuo e na solidariedade com os povos em luta pela sua emancipação e defesa da sua soberania. Este é o novo carácter da nossa inserção na comunidade internacional.
Um momento muito importante é o conjunto de disposições que, mantendo o carácter unitário do Estado plurinacional e republicano, estabelece o regime das autonomias departamentais, regionais, municipais e de povos originários. Este novo ordenamento terá de ser aplicado procurando evitar as possíveis fricções entre os factores concorrentes. Será uma prova à imaginação e criatividade e sobretudo ao patriotismo dos bolivianos que privilegiarão o interesse nacional aos interesses regional ou particular.
Não é objectivo destas notas referir todos os aspectos do plano de desenvolvimento para refundar o país e efectuar uma verdadeira revolução que, libertando a dependência, democratizando a sua sociedade, aceitando e promovendo a unidade na diversidade, conduza à construção de uma nova ordem social. Foi precisamente isto que pôs na mesa de trabalho e no debate teórico o binómio presidencial do discurso de tomada de posse de 22 de Janeiro, para o novo mandato de 5 anos.
O Presidente Morales, sob diversos ângulos, afirmou a caducidade do sistema capitalista e o imperativo da construção do socialismo. E de imediato surgiu a pergunta legítima: Como será o socialismo na Bolívia?
Será o socialismo real, o do século XXI, o autogestionário jugoslavo, o modelo chinês, vietnamita ou cubano? Ou será, por fim, o socialismo comunitário? Como o definiram teóricos e analistas políticos bolivianos? A nosso ver a procura de aposições, de adjectivos, é irrelevante para o objectivo final. Desvia a atenção dos temas centrais, das essências e do carácter dos fenómenos. O Vice-presidente Garcia Linera disse, em algum momento das suas intervenções, «não importa como se chama (o socialismo), o que importa é em que consistirá». Estamos de acordo e abordemos como entendemos o conteúdo, a essência desse socialismo.
Fique claro que não partimos do vazio teórico, de uma espécie de vacuum doutrinal. A nossa concepção de socialismo, confessamo-lo à partida, não é nenhuma fórmula nova nem um invento. Ela parte da concepção de Marx, de Engels e de Lenine de uma forma, digamo-lo assim, radical, se isto significa que partimos dos clássicos e desenvolvemos a aplicação da teoria do socialismo científico na Bolívia e para a Bolívia de agora.
Recorremos a uma citação que nos ajuda a aclarar o nosso ponto de partida: «No materialismo histórico há que continuar a inspirar-se também no que diz respeito à análise de outras revoluções que, a partir do Outubro bolchevique, mudaram o rosto do mundo. Não se trata de uma vivência já encerrada e referida ao passado. Junto dos anticomunistas profissionais e de todos os comunistas ou ex-comunistas que são presa da autofobia, há ainda partidos e países que se consideram empenhados nos projectos de construção de uma sociedade para além do capitalismo.» Losurdo, Doménico, Fuga da História? p. 60; ed. Cartago, 2007.)
Geralmente fala-se da Revolução como de um processo único. Na realidade tem duas fases. A primeira é a revolução política que, em síntese, consiste na mudança das classes no poder central de um Estado ou de um país. As classes revolucionárias – operárias, camponesas e outras – substituem as classes dominantes e possuidoras, a oligarquia, a burguesia, etc.. Esta fase, muito dinâmica, é variável no seu prolongamento. Nuns casos a deslocação do velho poder político é rápida, Nalguns casos mais prolongada, em função de numerosos factores que têm a ver sobretudo com as correlações de forças, nacionais e internacionais, da força, do empenho dos pólos da contradição.
Depois vem e por vezes corre paralela – sobretudo nalguns aspectos – a fase da revolução propriamente social. Esta aponta para a transformação, a mudança da base económica da sociedade, do modo de produção e do que habitualmente se conhece como a estrutura económica.
Adiantando-nos um pouco, podemos dizer que a fase política muda, transforma, sobretudo a super-estrutura e o ordenamento jurídico e político que se levanta sobre a estrutura e que responde aos interesses das classes dominantes. Demora muito mais transformar a consciência social, sobretudo aquele extracto que se denomina consciência quotidiana ou habitual. Por isso se fala tanto da super-vivência do passado, da conduta e do modo de actuar e pensar das pessoas que se supõe já não deveriam continuar a ser como são.
Em que consiste a mudança da estrutura, do modo de produção; a revolução social propriamente dita? Esquematicamente vamos considerar três elementos que consideramos fundamentais: o sistema de propriedade dos meios de produção, as relações sociais de produção que resultam sobretudo da anterior e o modo de distribuição da riqueza social.
O primeiro elemento é o determinante dos outros componentes e acabará reflectindo-se até em elementos tão etéreos como a psicologia das pessoas e a vida espiritual de uma sociedade. Da forma das relações de produção. Na sua forma estabelece a modalidade com que o proprietário dos meios de produção compra, ou mais exactamente ainda, como se apropria do trabalho do que vem a ser o «seu» dependente, o seu assalariado ou o seu peão. Estas relações de produção são as que encarnam a contradição entre o possuidor e o despossuído e, mais cedo que tarde, revelar-se-ão como luta de classes.
Finalmente, conforme seja a base económica, os membros de uma sociedade recolhem a riqueza social (podemos dizer «apropriam-se», particularmente do excedente). Marx comparava a riqueza social com uma grande panela na qual os indivíduos, obrigatoriamente membros de uma classe social, extraíam da panela uma parte dessa riqueza, de acordo com o tamanho da sua colher. Ínfima, minúscula, a dos operários e da pobreza em geral e enorme, extraordinariamente grande, a do burguês. Aí esta com simplicidade em que consiste a injustiça social.
Não pode haver socialismo de nenhuma classe se não se transforma essa base económica. Para falar da construção do socialismo com propriedade deve colocar-se a meta histórica da liquidação da propriedade privada dos meios de produção. Isto não acontece da noite para o dia nem significa o desaparecimento de toda a forma de propriedade; mesmo no socialismo integral, o comunismo, não desaparece a propriedade pessoal, ainda que a propriedade dos meios de produção, a propriedade social, seja universal e completa.
No segundo elemento, muda totalmente o carácter das relações de produção. O operário, o trabalhador, o produtor dos bens materiais emancipou-se e vai superando o seu estado de alienação, o estado de dependência de outra vontade e do estado de separação, de perda de si mesmo e do fruto do seu trabalho.
Por último, num processo que não é imediato, ir-se-á nivelando a distribuição da riqueza social. O excedente tornar-se-á cada vez mais colectivo. Por outras palavras terá aumentado de tamanho a colher dos trabalhadores e dos pobres. Haverá mais justiça social e ir-se-á estabelecendo essa fórmula da primeira etapa do socialismo «de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo o seu trabalho». Na terminologia em voga na Bolívia tornar-se-á realidade a aspiração do «sumaj causay», quechua, do «sumaj k’amaña», aymara, do «vivir bien», castiço.
Concluímos, dizendo que só uma revolução social completa pode acercar-nos desse ideal, de forma nenhuma uma utopia como era moda dizer há alguns anos. E nenhuma das suas fases pode ser separada da outra. Uma revolução, somente política pode facilmente ser revertida, sobretudo se deixou intacta a base ou se se deixarem intocáveis muitas formas de propriedade privada dos meios de produção. E não haverá nenhuma revolução social, nenhuma mudança estrutural se não se tender para a liquidação da alienação do trabalhador.
Por último, em duas palavras, respondemos à premente pergunta de se é possível, hoje e na Bolívia, um país atrasado, pobre, cercado construir uma nova ordem, a sociedade socialista. Sim, acreditamos que é possível nas actuais conjunturas nacional e internacional. Ambas são favoráveis, ainda que à revolução boliviana, tal como não acontecerá com nenhuma outra, não lhe será aberta a passagem para uma avenida Nevski, como já sabemos. Será como disse Mariátegui «nem cópia nem decalque, criação heróica».

Este texto que nos foi enviado pelo autor foi redigido com base no editorial de Marxismo Militante nº 45, de que Marcos Domich é director.

* Marcos Domich, Professor da Universidade de La Paz, é amigo e colaborador de odiario.info.
Tradução de José Paulo Gascão

domingo, 21 de março de 2010

Oficina ligada a rede de lojas escravizava imigrantes




Do blog do Sakamoto
Uma operação de auditores fiscais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE-SP) inspecionou as instalações da Indústria de Comércio e Roupas CSV Ltda., registrada em nome do boliviano Valboa Febrero Gusmán, em 18 de fevereiro. Na oficina de costura que funciona no sobrado de uma igreja evangélica no bairro de Vila Nova Cachoeirinha, Zona Norte da capital paulista, foram encontradas 16 bolivianos (um deles com menos de 18 anos) e um jovem peruano trabalhando em condições análogas à escravidão na fabricação de roupas femininas. Entre elas, peças com etiquetas para a rede de magazines Marisa.
A partir daí, um rastreamento da cadeia produtiva da oficina realizado pela auditores fiscais confirmou que as peças eram produzidas para a rede, que possui mais de 220 lojas e 44 milhões de clientes/ano. A fiscalização e a investigação foi acompanhada pelo jornalista Maurício Hashizume, que publicou um um surpreendente relato do caso na Repórter Brasil, do qual trago alguns trechos importantes:
Foram apreendidos documentos que trazem indícios de tráfico de pessoas entre a Bolívia e o Brasil e também de endividamento forçado com a oficina de costura. As jornadas de trabalho começavam às 7h e chegavam a se estender até às 21h. As refeições eram feitas de modo improvisado numa diminuta casa no mesmo cortiço que abrigava a oficina. O irmão do dono da oficina permanecia todo o tempo junto com os trabalhadores e atuava como uma espécie de vigia permanente da oficina de costura. Em apenas um cômodo mal iluminado nos fundos de um dos imóveis, construído na realidade para ser uma cozinha, sete pessoas dormiam em três beliches e uma cama avulsa. Infiltrações, umidade excessiva, falta de circulação de ar, mau cheiro e banheiros incompletos completavam o cenário.
Abaixo, os trabalhadores na oficina de costura no momento da libertação…
Para o Ministério do Trabalho e Emprego, a Marisa é “inteiramente responsável pela situação encontrada” e “comanda e exerce seu poder de direção e ingerência de diversas formas sempre no sentido de adequar a produção de peças de vestuário à sua demanda, com exclusividade, a seu preço e à sua clientela”. A empresa, por sua vez, afirma que “não mantém e nunca manteve vínculos com trabalhadores estrangeiros em situação de vulnerabilidade ou trabalhadores contratados com condições de irregularidade” e que “a situação detectada pelos auditores não é de responsabilidade direta ou indireta da Marisa”.
A reportagem inteira pode ser acessada clicando aqui.
… e o mesmo tipo de peça de roupa encontrada na oficina exposta em um arara de uma das lojas. Fotos de Maurício Hashizume
PS: Os preços baixos de roupas em ruas de comércio paulistanas como a José Paulino ou a Oriente, que tanto atraem os consumidores do varejo e do atacado, muitas vezes são obtidos através da redução dos custos no processo de produção. Parte considerável da mão-de-obra utilizada na confecção dessas roupas é composta por imigrantes latino-americanos. Bolivianos, paraguaios, peruanos, chilenos formam um verdadeiro exército barato e abundante em São Paulo. Saem de seus países de origem em busca de uma vida melhor em solo brasileiro, fugindo da miséria. Muitos acabam caindo em situações de exploração e degradação.
A Anistia concedida pelo governo federal no ano passado contribuiu para tirar muitos deles da ilegalidade e, portanto, conferir-lhes direitos. A solução também passa, por exemplo, por legalizar as pequenas oficinas de costura, para que elas possam registrar seus funcionários. E atuar na rede de compradores, cuja demanda de mais por menos impulsiona esse processo.
Parte do processo de combate ao trabalho escravo rural no Brasil tem passado por uma ação de conscientização junto aos consumidores e pressão sobre os atores da cadeia produtiva. No caso dos imigrantes latino-americanos, não é diferente. Pois se esse tipo de exploração existe é porque alguém acaba ganhando dinheiro com ele. E, creio eu, não são os imigrantes, nem mesmo as oficinas.