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domingo, 23 de setembro de 2007
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
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quinta-feira, 20 de setembro de 2007
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quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Elias Jabbour*
Organização típica da 3ª Internacional e que se auto-intitula “o destacamento de vanguarda da classe operária chinesa e, por conseguinte do povo e da a nação” (1), o PCCh é deliberadamente o condutor do processo que está tirando o “Império do Meio” de um padrão milenar de isolamento para transformar o país no fio condutor da transformação qualitativa que ocorre no mundo e que – de forma resumida – tem na transição capitalismo-socialismo sua maior característica.
Finalizando a série, tentarei, pautado numa análise histórica e conjuntural, expor as principais características desta organização com mais de 70 milhões de membros distribuídos em mais de 200 milhões de células.
O “nacionalismo com características socialistas”
O prestígio do PCCh repousa sobretudo no fato de ele ter-se tornado, primeiramente na guerra anti-japonesa e depois pela consolidação política de seu território pós-1949, na linha de frente dos interesses da nação chinesa. Este é o primeiro “x” da questão que nos leva a constatar que o PCCh é um partido, sobretudo nacionalista, porém - como leninista que é - com características marcantemente socialistas no que cerne a seus objetivos de longo alcance. Não vejo mal nisso, pelo contrário, pois enquanto houver imperialismo no mundo, a contradição nacional se sobrepõe às contradições de classe no âmbito interno.
Indo mais fundo, em minhas andanças pela China pude tranqüilamente perceber que o povo chinês enxerga o PCCh como algo em torno de uma continuidade iniciada com a unificação chinesa há mais de 2.500 anos atrás. Influenciado pelo confucionismo, assim como o membro mais velho de uma família chinesa é vista como seu chefe, condutor e medidor interno, ao abstrairmos ao nível da nação fica mais claro notar que, para as massas populares chinesas, o PCCh é visto como o grande pai da nação chinesa. Isso explica, e muito, o porquê de o retrato de Mao estar exposto justamente na porta da residência oficial dos imperadores antigos.
Descendo no nível das lideranças, Mao Tsétung não é um “líder proletário”. Aos olhos do povo chinês, Mao Tsétung mais parece um Simon Bolívar para os latinos americanos: o libertador nacional. Nada de anormal se percebermos que em certo período da transição que envolve a evolução do homem bárbaro ao homem universal (o comunismo em Marx) o homem reconhece-se como ser de uma nação e neste período de reconhecimento o máximo de sua consciência aponta na direção da nacionalidade e que somente durante o processo que envolve o surgimento de novas relações sociais é que surgem condições objetivas a saltos qualitativos na consciência social. Portanto, o nacionalismo neste sentido tem sentido libertador e virtuoso.
È o sentimento que moveu as maiores batalhas pela liberdade dos povos na periferia capitalista no século 20 e abriu as portas ao socialismo em nações inteiras na África, Ásia e América Latina.
O cumprimento do programa do Kuomintang
Complementando a banda nacionalista de seu amplo programa de revolução e construção socialistas, cabe salientar que o poder exercido pelo PCCh e suas tarefas desde 1° de outubro de 1949 levam-no a ser uma organização que no plano estratégico direciona a China ao socialismo e ao comunismo e no plano imediato o leva a ser algo como um Kuomintang, um partido nacionalista cujas tarefas históricas (industrialização, reforma agrária, alfabetização etc.) não foram cumpridas, logo um partido marxista tomou o poder para pôr em andamento um projeto nacional moderno já vislumbrado pelo fundador do Kuomintang Sun Yatsen (2).
Raciocínio idêntico é valido para a experiência russa onde a incompetência e o não cumprimento de demandas – entre elas o de retirar a Rússia da 1° Guerra Mundial – assentou condições objetivas à chegada ao poder dos bolcheviques liderados por Lênin em 1917. Já a não relutância de líderes como Getúlio Vargas e Kemal Ataturk (no Brasil e na Turquia respectivamente) em implantar programas modernizadores em seus países transformou suas nações em países medianamente desenvolvidos pela famosa “via prussiana” que resultou na formação de potências industriais do porte da Alemanha e do Japão.
Resumindo, a compreensão da natureza nacionalista do PCCh é possível na medida em que: 1) ainda existe imperialismo no mundo e de forma mais ostensiva, no que cerne aos interesses chineses, na província chinesa de Taiwan; 2) A iminente ameaça externa via imperialismo norte-americano é argumento em favor da transformação do PCCh em cada vez mais porta-voz não somente dos trabalhadores, mas também de toda a nação chinesa em seu conjunto; 3) o orgulho nacional chinês, fruto do alcance milenar de sua civilização é componente da formação da subjetividade do povo chinês; 4) a luta travada pelo PCCh em território chinês entre 1928 e 1949 foi essencialmente em torno de objetivos nacionais, sobretudo a libertação da China da ingerência estrangeira, inclusive soviética pós-1949; 5) o programa em execução pelo PCCh é ainda pautado por tarefas históricas incumbidas à burguesia e não ao proletariado e, inclusive o nível de desenvolvimento das forças produtivas no país ainda demanda a existência de uma burguesia nacional forte e capaz de abrir novos campos de acumulação. Burguesia esta cuja participação no poder já era prevista pelo programa pré-revolucionário do PCCh, logo, não é fruto da imaginação de “revisionistas” como muitos preferem situar e 6) O nacionalismo é a ideologia mediadora da relação entre o PCCh e o povo chinês.
O “socialismo com características nacionais chinesas”
Uma grande questão que inicialmente me moveu no aprofundamento dos estudos sobre a China repousava na busca da razão de um partido fundado em 1921 ter chegado ao poder em pouco mais de 28 anos de existência.
Concluí em primeiro lugar que a natureza nacional deste partido foi decisiva para tal, pois ao contrário não teria condições de manobrar taticamente no sentido de trazer (praticamente obrigar) - em 1937 - seu arqui-rival (o Kuomintang) a uma aliança contra a ocupação japonesa demonstrando assim para o povo quem realmente estava interessado no combate ao inimigo principal. Tal lógica se impôs contra a ingerência do Komintern na elaboração da tática do PCCh na década de 1930 e no enfrentamento tanto contra a URSS, quanto os EUA na Guerra da Coréia e hoje.
O outro lado da moeda, o lado socialista baseia-se em alguns aspectos. O primeiro deles, o marxismo-leninismo foi o corpo científico que colocou rumo no pensamento progressista chinês no sentido do enfrentamento de seus problemas. Na medida em que Lênin e sua idéia de imperialismo x independência nacional foi ganhando espaço na China, conseqüentemente situar a China como uma nação proletária no mundo clareou o escopo de ação a ser seguido (3). Evidente que a Revolução Russa ao demonstrar como uma autocracia secular pode ser derrubada por um grupo bem organizado ajudou e muito na formação de uma consciência socialista que por fim gestou o PCCh em 1921. Concluiu-se com muita sabedoria que “somente o socialismo pode salvar a China”.
Do ponto de vista mais histórico, aspectos da formação social chinesa foram importantes e são partes constitutivas da superestrutura socialista do país. O caráter materialista do confucionismo e do taoísmo, os dois corpos filosóficos responsáveis pela formação moral do povo chinês até hoje. Estas filosofias foram responsáveis pela formação de uma sólida democracia rural na base da aldeia e de um espírito coletivo fruto das tarefas cumpridas em grupos de construção de diques e barragens à contenção de enchentes. Do taoísmo propriamente dito surgiu o espírito rebelde e inquieto do camponês chinês e o igualitarismo típico do corpo político e filosófico do Pensamento de Mao Tsétung.
Sobre a rebeldia camponesa, amplamente utilizada por Mao Tsétung em sua empreitada rumo ao poder da República, importante salientar que a principal característica desta organização e seu maior diferencial foi a percepção do papel histórico de revoltas camponesas e sua relação com a ascensão e a queda de dinastias no país. A força dos camponeses pobres foi a maior arma utilizada pelo PCCh para minar a trágica influência soviética sob sua tática na década de 1930 abrindo margem para a formação de algo puramente chinês: o “Pensamento de Mao Tsétung”, pensamento este produto do marxismo-leninismo às condições do período revolucionário na China.
Abrindo parêntese, para aqueles interessados em distinguir o socialismo soviético do que ocorreu e ocorre na China, interessante notar que enquanto o processo de coletivização na URSS foi – apesar de necessária – marcada por um alto grau de destruição e, inclusive tendo aberto cicatrizes profundas na sociedade, na China, o PCCh, por ser uma organização rural por excelência, pode gerenciar - entre 1950 e 1955 - um processo lento e gradual no sentido de preservação dos interesses políticos seja do PCCh, seja das mais amplas massas camponesas.
O espírito rebelde camponês e sua capacidade comprovada historicamente é o suporte, muitas vezes intranqüilo, que mantém o PCCh no rumo da construção de uma sociedade socialista avançada. As políticas atuais de transferência de renda do litoral ao interior, a ofensiva declarada às desigualdades sociais, a cada vez maior intervenção estatal na construção de escolas, hospitais e de uma previdência social competente são parte de um todo que envolve as pressões camponesas sobre a superestrutura e conseqüentemente cumprem destacado papel à manutenção do sistema socialista no país.
Princípios norteadores
Críticos e “especialistas” ocidentais determinam que – na e para a China - a transformação econômica traz em seu bojo necessárias transformações políticas. Trata-se de uma reles apropriação da teoria marxista para quem a transformação política é expressão de forças produtivas em desarmonia para com as relações de produção. Para o caso da China, antes de se lançar receitas ocidentais prontas dever-se-iam perguntar: qual a razão da sobrevivência política do PCCh aos ventos taoistas do “Grande Salto” e da “Revolução Cultural”?
Poderiam concluir que a legitimidade histórica do poder exercido pelo PCCh é algo que não existe nem em sociedades como a norte-americana onde a democracia é medida pela capacidade de consumo de uma população que, em sua vasta maioria, prefere a solidão de suas casas à comparecerem às urnas.
Pois bem, a capacidade de governança do PCCh para fins de direção do atual projeto em andamento teve de passar por sucessivas reformas. Reformas políticas foram postas em marcha a partir de 1978. De forma geral, pelo menos quatro transformações merecem destaque maior, a saber: 1) crescente valorização de quadros técnicos à ascensão interna do PCCh; 2) a descentralização no sentido do fortalecimento do poder provincial; 3) o retorno à uma democracia rural típica de sociedades agrárias seculares e 4) a implementação da idéia de “geração dirigente” (4).
Sendo o objetivo das reformas – na China - colocar em compasso as relações de produções com o nível das forças produtivas sociais e conseqüentemente harmonizar uma base econômica em descompasso com a superestrutura vigente fez-se mister uma reiteração de princípios, tendo em vista a uma nova fase de profundas transformações internas e externas que, inclusive, acelerou-se após o fim da URSS em 1991. Tal reiteração de princípios podem ser simplificados no que os chineses chamam de “Quatro Pontos Cardeais” por onde o PCCh deverá insistir durante o processo de modernização, são eles: 1) O caminho socialista; 2) a ditadura democrático-popular; 3) a direção do PCCh e 4) o marxismo-leninismo e o pensamento de Mao Zedong (5).
O “Pensamento de Mao Tsétung”, a “Teoria de Deng Xiaoping” e as “Três Representações”
O desenvolvimento do marxismo na China pode ser auferido em três dimensões históricas, ou melhor dizendo, por três momentos em que a complexidade da formação social chinesa exigiu a elaboração de linhas políticas que ao longo do tempo, dada sua justeza, transformaram-se em pontos de referência que serviram de norte à ação política de gerações inteiras de comunistas chineses.
A primeira inflexão histórica surgiu (de forma resumida) com a luta política interna – entre as décadas de 1930 e 1940 - entre os seguidores de Mao Tsétung e aqueles adeptos da linha soviética que culminou na vitória do grupo de Mao e na adoção plena da linha política baseada na base camponesa. A esmagadora vitória do PCCh sobre um inimigo muito mais equipado e com apoio dos EUA em 1949, acumulada com uma liderança inconteste perante os olhos do povo contra a ocupação japonesa, granjeou ao Pensamento de Mao Tsétung status semelhante ao conferido à Marx, Engels, Lênin e Stálin no rol dos cânones do movimento comunista mundial e chinês. Nem os erros atribuídos a Mao após a tomada do poder de 1949 foram capazes de manchar sua reputação de libertador nacional e principal referência política e histórica de um país que hoje altera qualitativamente a correlação de forças em âmbito mundial e consolida o socialismo como alternativa. Sem Mao Tsétung à frente do PCCh, não existiria China moderna.
A “Teoria de Deng Xiaoping da Construção do Socialismo com Características Chinesas” pode ser perfeitamente considerada a linha fundamental do PCCh para a fase inicial do socialismo. Tal corpo e seu conteúdo ganham relevância na medida em que vários acontecimentos de ordem externa são impostos, entre eles o fim da URSS e a ofensiva imperialista sobre a periferia e a China. Dada a constatação de que nenhuma Terceira Guerra Mundial estava por vir, Deng coloca em relevo a necessidade de a China manter-se no rumo da centralidade da construção econômica, que por sua vez possibilitará (ao retirar da miséria e do subdesenvolvimento um quinto da humanidade) à China dar uma verdadeira contribuição à humanidade (6). A necessidade da reunificação nacional com base na idéia de “um país, dois sistemas” é absorvida assim como a manutenção da China na testa dos interesses das nações periféricas e a exposição dos maiores anseios da humanidade em nossos tempos da época atual para a China e o mundo: a paz e o desenvolvimento. Resumindo, a Teoria de Deng Xiaoping como linha mestra da condução do PCCh para as próximas décadas pode ser resumida em três bandeiras: a construção econômica, a reunificação nacional e a manutenção da paz mundial.
Deng Xiaoping, desta forma deixou seu legado de mais de 70 anos dedicados à causa do socialismo e da China. Dada sua participação direta neste processo de tomada da construção econômica como o centro do processo de gravidade da qual o PCCh deverá orbitar até 2049 e na certeira observância da essência das verdadeiras causas dos distúrbios de junho de 1989 em Tiananmen, ouso classificá-lo como o mais importante nome do movimento comunista internacional na segunda metade do século XX. Basta analisarmos o papel que a China cumpre nesta época atual onde o socialismo, apesar de ser retomado como pauta, ainda carece de credibilidade por conta da hegemonia ideológica conservadora, soma-se a isto a ofensiva imperialista sobre os povos. A manutenção do socialismo na mais antiga e populosa das nações e no terceiro maior país em extensão territorial do mundo atesta por si só a importância do papel pessoal cumprido pelo que de melhor formou a escola dirigida por Mao Tsétung.
As grandes transformações na base econômica e na composição de classes no país teve na elaboração da teoria das “Três Representações” sua maior expressão e forma de atualizar o PCCh e sua maneira de enxergar e atuar na realidade dentro dos marcos do marxismo nas condições especiais da China (7). As “Três Representações” indicam que o PCCh deve ser 1) representante do que exige o desenvolvimento das forças produtivas avançadas; 2) do rumo pelo qual há de marchar a cultura avançada na China e 3) os interesses fundamentais das mais amplas massas populares.
Trata-se do cimento teórico oficializado desde o 16° Congresso do PCCh realizado em 2002 que viabilizou a ampliação da base social do PCCh e sua consolidação como partido de caráter nacional voltado – no plano estratégico - à consecução do socialismo e do comunismo. Nesta esteira e a serviço da assimilação da nova realidade oficializou a admissão ao PCCh de proprietários privados e gerentes de empresas privadas nacionais e estrangeiras, consolidou o papel da intelectualidade na sociedade e no PCCh e abriu a possibilidade de abertura de novos campos de acumulação na economia com a legalização da propriedade privada e sua admissão como componente secundário da estrutura de propriedade centrado na propriedade social dos meios estratégicos de produção. Sendo a contradição o motor do processo de desenvolvimento, tais medidas vislumbram o fortalecimento do poderio nacional a partir de uma coesão interna em contraposição a um mundo ainda unipolar e com um imperialismo cada vez mais destrutivo e corrompedor e que tem na China nomeadamente seu “concorrente estratégico”.
Esta é a organização que caminha para seu 17° Congresso Nacional empenhado em fazer frente aos crescentes desafios internos e externos chineses e assim continuar sendo, nas repetidas palavras de Gramsci, o “Príncipe Moderno”.
Vida longa ao PCCh e que continue por várias décadas sendo o fiel representante de toda a nação chinesa e conseqüentemente de toda a humanidade.
À guisa de uma conclusão
Nosso objetivo, à luz da correta observação de que estamos numa nova quadra de luta pelo socialismo, foi o de localizar o papel que a China como país socialista vem a cumprir neste novo estágio de luta pelo mundo. O centro de argumentação repousou na centralidade da questão nacional para os povos da periferia e as possibilidades que se abrem com a assunção da China no cenário internacional. Não somente isso, relacionando a centralidade da questão nacional e historicizando o papel do comércio internacional nas transições na periferia, especulamos que o crescente poderio financeiro e o crescente mercado consumidor chineses são as principais condições objetivas externas à consecução do socialismo como projeto alternativo à periferia.
Passou-se ainda em vista a relação entre consolidação de uma economia continental chinesa e a solidificação do socialismo como projeto societal da mesma forma que a consolidação da economia continental norte-americana na segunda metade do século XIX foi central para a consolidação do capitalismo financeiro e em conseqüência do próprio imperialismo norte-americano. Observações foram feitas sobre a questão social e os atuais desafios chineses, além de uma passada geral sobre as características sociais, políticas e ideológicas do PCCh.
Enfim, espero que alguma coisa de útil ao debate tenha saído destas linhas, me colocando a disposição de todos para tirar dúvidas, receber críticas e debater o conteúdo disposto.
Extraído de: Vermelho
Notas:
(1) Primeiro parágrafo do Estatuto do Partido Comunista da China (PCCh) aprovado em seu 16º Congresso realizado em 2002.
(2) O retrato de Sun Yatsen pode ser visto no centro da Praça Tiananmen em Pequim por ocasião de comemorações como a data nacional chinesa, 1° de outubro.
(3) JABBOUR, E. “Considerações gerais sobre o marxismo e a Ásia”. Revista Princípios n° 82. Disponível em http://www.vermelho.org.br/museu/principios/anteriores.asp?edicao=82&cod_not=959
(4) Em outra oportunidade será importante tocar nesta questão da capacidade de governança e suas transformações no âmbito da organização do PCCh.
(5) Os “Quatro Pontos Cardeais” foram apresentados por Deng Xiaoping numa reunião com quadros da área ideológica no dia 30 de março de 1979.
(6) Deng Xiaopiong reitera a máxima leniniana de que é no campo da performance econômica é que se evidenciará a superioridade do socialismo ente o capitalismo.
(7) A teoria das “Três Representações” foi exposta de forma superficial pelo então Secretário-Geral do PCCh e presidente da República Jiang Zemin no dia 25 de fevereiro de 2000 durante visita de inspeção à província sulista de Guangdong. Sua apresentação de forma mais acabada e melhor alicerçada teoricamente ocorreu em discurso proferido por Jiang alusivo aos 80 anos do PCCh no dia 1° de julho de 2001.
*Elias Jabbour, é Doutorando e Mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP, membro do Conselho Editorial da Revista Princípios e autor de ''China: infra-estruturas e crescimento econômico'' 256 pág. (Anita Garibaldi).
NÃO À RENOVAÇÃO DA CONCESSÃO PÚBLICA DA REDE GLOBO....
O livro de história que Kamel difamou
A respeito do artigo do jornalista Ali Kamel no jornal O Globo de 18 de setembro de 2007 sobre o volume de 8ª série da obra Nova História Crítica, de Mario Schmidt, o autor e a Editora Nova Geração comentam: Nova História Crítica da Editora Nova Geração não é o único nem o primeiro livro didático brasileiro que questiona a permanência de estruturas injustas e que enfoca os conflitos sociais em nossa história. Entretanto, é com orgulho que constatamos que nenhuma outra obra havia provocado reação tão direta e tão agressiva de uma das maiores empresas privadas de comunicação do país.
Compreendemos que o sr. Ali Kamel, que ocupa cargo executivo de destaque nas Organizações Globo, possa ter restrições às posturas críticas de nossa obra. Compreendemos até que ele possa querer os livros didáticos que façam crer ''que socialismo é mau e a solução para tudo é o capitalismo''. Certamente, nossas visões políticas diferem das visões do sr. Ali Kamel e dos proprietários da empresa que o contratou. O que não aceitamos é que, em nome da defesa da liberdade individual, ele aparentemente sugira a abolição dessas liberdades.
Não publicamos livros para fazer crer nisso ou naquilo, mas para despertar nos estudantes a capacidade crítica de ver além das aparências e de levar em conta múltiplos aspectos da realidade. Nosso grande ideal não é o de Stálin ou de Mao Tsetung, mas o de Kant: que os indivíduos possam pensar por conta própria, sem serem guiados por outros.
Assim, em primeiro lugar exigimos respeito. Nós jamais acusaríamos o sr. Kamel de ser racista apenas porque tentou argumentar racionalmente contra o sistema de cotas nas universidades brasileiras. E por isso mesmo estranhamos que ele, no seu inegável direito de questionar obras didáticas que não façam elogios irrestritos à isenção do Jornal Nacional, tenha precisado editar passagens de modo a apresentar Nova História Crítica como ridículo manual de catecismo marxista. Selecionar trechos e isolá-los do contexto talvez fosse técnica de manipulação ultrapassada, restrita aos tempos das edições dos debates presidenciais na tevê. Mas o artigo do sr. Ali Kamel parece reavivar esse procedimento.
Ele escolheu os trechos que revelariam as supostas inclinações stalinistas ou maoístas do autor de Nova História Crítica. Por exemplo, omitiu partes como estas: ''A URSS era uma ditadura. O Partido Comunista tomava todas as decisões importantes. As eleições eram apenas uma encenação (...). Quem criticasse o governo ia para a prisão. (...) Em vez da eficácia econômica havia mesmo era uma administração confusa e lenta. (...) Milhares e milhares de indivíduos foram enviados a campos de trabalho forçado na Sibéria, os terríveis Gulags. Muita gente foi torturada até a morte pelos guardas stalinistas...'' (pp. 63-65).
Ali Kamel perguntou por onde seria possível as crianças saberem das insanidades da Revolução Chinesa. Ora, bastaria ter encotrado trechos como estes: ''O Grande Salto para a Frente tinha fracassado. O resultado foi uma terrível epidemia de fome que dizimou milhares de pessoas. (...) Mao (...) agiu de forma parecida com Stálin, perseguindo os opositores e utilizando recursos de propaganda para criar a imagem oficial de que era infalível.'' (p. 191) ''Ouvir uma fita com rock ocidental podia levar alguém a freqüentar um campo de reeducação política. (...) Nas universidades, as vagas eram reservadas para os que demonstravam maior desempenho nas lutas políticas. (...) Antigos dirigentes eram arrancados do poder e humilhados por multidões de adolescentes que consideravam o fato de a pessoa ter 60 ou 70 anos ser suficiente para ela não ter nada a acrescentar ao país...'' (p. 247) Os livros didáticos adquiridos pelo MEC são escolhidos apenas pelos professores das escolas públicas. Não há interferência alguma de funcionários do Ministério.
O sr. Ali Kamel tem o direito de não gostar de certos livros didáticos. Mas por que ele julga que sua capacidade de escolha deveria prevalecer sobre a de dezenas de milhares de professores? Seria ele mais capacitado para reconhecer obras didáticas de valor? E, se os milhares de professores que fazem a escolha, escolhem errado (conforme os critérios do sr. Ali Kamel), o que o MEC deveria fazer com esses professores? Demiti-los? Obrigá-los a adotar os livros preferidos pelas Organizações Globo? Internar os professores da rede pública em Gulags, campos de reeducação ideológica forçada para professores com simpatia pela esquerda política? Ou agir como em 1964?
*
Manifestação
"Como leitor da Folha, soube que, no sábado passado, houve uma manifestação em frente ao prédio da Folha, manifestação esta que tinha por finalidade cobrar ética e imparcialidade dos meios de comunicação -o que, na minha opinião, deixou de existir faz tempo.
Soube também que os manifestantes entregaram um manifesto à recepção do jornal, mas, quando li a reportagem, não estava claro qual o conteúdo do manifesto -nem havia detalhes sobre a manifestação e seus participantes.
A Redação do jornal não acha que a sociedade tem interesse em saber do que se trata? A Folha, ao ocultar certas informações, não acha que pode estar dando razão a esse movimento?"
EDINALDO GONÇALVES (São Paulo, SP)
Creio que deixei dúbio um ponto: o MSM será constituído em todo o Brasil e, desde pronto, os militantes de outros Estados que têm mantido contato conosco já integram o movimento. No caso do Rio, apesar de a Assembléia constitutiva vir a ocorrer em São Paulo, que é onde o Movimento tomou corpo e realizou seu primeiro Ato, será constituído da mesma forma que aqui, até porque a Manifestação mais importante ocorrerá na capital carioca, diante da Globo.
REDUÇÃO DA POBREZA
FHC não combinou com os russos
Quando a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulga que mais de 14 milhões de brasileiros deixaram a pobreza para trás,nos últimos quatro anos, no primeiro mandato de Lula, o desconcerto nas hostes conservadoras é flagrante. Previsões de FHC, feitas em 2004, reatualizam famosa frase de Garrincha. A análise é de Gilson Caroni Filho.
Gilson Caroni Filho - Especial para Carta Maior
Com a ironia habitual, que tanto encanta editores e o senso comum da classe média, também chamado pela mídia de "opinião pública", o presidente alfinetava o governo Lula: “o que parece que os governos não podem fazer hoje é o que mais desejam e mais prometem: maiores taxas de crescimento e mais emprego. Este é o calvário dos governantes dos países em desenvolvimento, quando encontram pela frente crises financeiras e seus países estão integrando-se ao mundo globalizado".
Estávamos em 2004. Fazia sucesso nos salões de uma certa esquerda, e seu conhecido repertório arrivista, afirmar que o núcleo duro do PT manteve o método de governabilidade incorporando o receituário neoliberal do tucanato. Era comum ouvir que o petismo havia trocando um projeto de país por outro de poder, inviabilizando qualquer alteração na dinâmica institucional. Do realismo político ao pragmatismo fisiológico a distância parecia menor do que imaginavam seus mentores. Deleitavam-se colunistas, cientistas políticos (notórios por suas avaliações de encomenda) e editores de economia. O fracasso econômico do governo Lula parecia favas contadas. O retorno da direita era uma questão de tempo.
Para efeitos de relevância explanatória, ficava combinado assim: no rastro dos juros paloccianos, o campo democrático-popular deu um cavalo-de-pau na sua própria história. Na oposição, o PT foi o maior projeto de transformação política do país. No governo, combinou superávit primário e déficit democrático. E isso teria decretado seu fim. Só esqueceram da famosa pergunta de Garrincha, quando o técnico expunha sua estratégia infalível para o jogo da seleção brasileira contra a Rússia, na Copa do Mundo de 1958: “vocês já combinaram com os russos?". No nosso caso, algum direitista deveria ter perguntado: “já combinaram com a história?"
Como destacou Wanderley Guilherme dos Santos, em entrevista a Paulo Henrique Amorim dois aspectos levam a imprensa e seus sócios conservadores ao desespero: “O primeiro é o fato de o governo Lula ser uma experiência inédita no Brasil. É realmente um governo cuja composição de classe, cuja composição social é diferente de todos os governos até agora. Isso não foi, e dificilmente, será bem digerido. Agora, em acréscimo a isso é que, ao contrário do que se teria esperado, ou gostariam que acontecesse, este é um governo que, até agora, tem se mantido fiel à sua orientação original, independentemente das discussões internas do grupo do PT. A verdade é que as políticas públicas tem prioridades óbvias, que são as classes subalternas. Isso é algo que irrita e, conseqüentemente, faz com que aumente a disposição da imprensa para acentuar tudo aquilo que venha a dificultar e comprometer o desempenho do governo."
Quando a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulga que mais de 14 milhões de brasileiros deixaram a pobreza para trás,nos últimos quatro anos, no primeiro mandato de Lula, o desconcerto nas hostes conservadoras é flagrante. Com investimentos pesados em programas sociais, aumento do salário mínimo e estímulos à poupança interna, a redução da miséria bateu recordes no ano passado:15% dos pobres superaram a linha da pobreza. Um verdadeiro acinte aos rezam o credo do monetarismo neoliberal.
Não bastasse isso, o Instituto de Pesquisa Econômica aplicada(IPEA) elevou a expectativa de crescimento do PIB deste ano para 4,5%. À oposição parece nada restar que não seja a sabotagem econômica, ameaçando não prorrogar instrumentos indispensáveis à gestão fiscal.
Segundo Fábio Giambiagi, o mesmo economista do IPEA que teve seu livro prefaciado por FHC, constata-se um dinamismo na economia no que se refere aos indicadores de consumo e investimento. Talvez seja a hora de o “príncipe" voltar a pedir que esqueçam o que ele escreveu. Para tanto, conta com uma imprensa sempre disposta a tirar de foco a agenda positiva do governo. Jamais deixá-la chegar à primeira página. Quem sabe uma nova representação contra Renan Calheiros não ajude? É hora de conversar com os russos.
* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.
Pobre Pizza! Pobre Assassina! | | | |
Florence Carboni | |
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Também nas línguas há injustiça. As palavras são como os seres humanos: nem todas têm os mesmos direitos e deveres. Algumas morrem e são esquecidas; outras sobrevivem, por séculos, na sua sonoridade e significado, intactas ou no corpo de outras palavras. Ao lado dos vocábulos conhecidos e usados apenas pelos membros de uma família, há os que, com algumas variações fonéticas e gráficas, pertencem a quase toda a humanidade, como os italianismos espresso, pizza, spaghetti, allegro, mafia.
Parece até que as línguas e suas palavras possuem vida autônoma quanto aos falantes. Alguns seres humanos temem até mesmo usar certos termos, pois ao pronunciá-los poderiam materializar a realidade que nomeiam – é o caso de demônio, morte, câncer. Muitos vocábulos têm um forte poder performativo: em determinadas situações, dizer é fazer. Assim funcionam a injúria, o agradecimento, as palavras de amor.
São os seres humanos que criam as palavras. Ao interagir entre eles e com a natureza, na sua compreensão do mundo social e natural, nas suas criações estéticas, inventam palavras novas e reutilizam as existentes, mudando ou não seus aspectos fônicos e significados. A sorte de certas palavras depende de como os setores sociais que as forjaram intervêm nas dinâmicas sociais, produtivas e ideológicas.
Palavras ricas e pobres
No Brasil, palavras usadas pelas comunidades nativas se corromperam na língua dos colonizadores: de habitação coletiva, a maloca se transformou em barraca ou bordel; a china, mulher indígena, adquiriu o sentido de "mulher fácil", "meretriz". Ao se alterar o sentido das palavras, ultrajam-se os grupos sociais que as plasmaram nas suas práticas quotidianas, a partir de suas visões de mundo.
A evolução das línguas implica a transformação espontânea e, portanto, involuntária do léxico, no aspecto fônico e no sentido, a ponto de parecer não haver mais rastro da palavra original. Não raro, o motor da transformação léxico-semântica é a vontade de grupos sociais de dominar e manipular outros.
Há palavras que, ao se internacionalizarem e circularem em todas as bocas, ampliam tanto o seu quadro de referência que pouco têm a ver com a realidade que as produziu. Não raro, são nomes de produtos que, vendidos mundialmente, constituem fonte segura de lucros. Do mundo da moda ao das artes, dos alimentos às armas, desde o nascimento do protocapitalismo, um número crescente de bens circula em nível planetário com suas respectivas denominações – café, violino, baioneta, risoto etc.
No mondo dos alimentos, os referentes das palavras se conservam melhor quando se trata de bens de setores sociais com meios para “protegê-los”. Ninguém pode vender um vinho qualquer e chamá-lo Champagne ou Barolo. Ou comercializar um Camembert ou um Parmigiano sem que as denominações se refiram a queijos produzidos em zonas geográficas específicas, com métodos particulares e rígido controle de qualidade. O mesmo não acontece com alimentos nascidos para esfomear as camadas populares e que, sucessos históricos, com os fluxos migratórios, espalham e se tornam famosos no mundo.
Pão, azeite, queijo, tomate e cultura
A palavra pizza é um bom exemplo desse fenômeno, já que tem como referente uma experiência histórica e práticas culturais muito precisas. Segundo os especialistas, a cadeia sonora pizza poderia derivar do latim pinsa, do verbo pinsere – "achatar", "aplainar", do turco ou do árabe pita, que significa pão aplainado, ou também do germânico bizzo, "pedaço". É certo que tem a ver com o termo picea, já usado em Nápoles no ano 1000.
Para alguns, é no ano 1000, para outros, em 1600, que esse produto nasceu, em Nápoles, quando bolachas de pão temperadas eram vendidas por ambulantes. As palavras pizza e picea referiam-se sempre a um prato pobre e simples, preparado com ingredientes baratos: a farinha, o sal, a banha e, a seguir, o azeite de oliva, as ervas aromáticas, o queijo e, mais tarde, o tomate.
A seguir, a palavra adquiriu dimensão universal, devido à dispersão de milhões de italianos no mundo e às suas características de comida relativamente fácil de preparar, nutritiva e gostosa. Apesar das inevitáveis transformações que sofreu, sua difusão permitiu que se propagasse também um modo de ser e de fazer próprio das camadas populares urbanizadas das costas da Campânia, ainda ligadas aos produtos da agricultura, do pastoreio e da pesca. Comer uma pizza era e é também viver uma cultura.
A sociedade mercantil apropriou-se da prestigiosa palavra para fabricar e vender em escala industrial, em fast foods e pizzarias, objeto que, ao abandonar os processos e os ingredientes tradicionais, para produzir lucro fácil, não constitui mais o mesmo produto. Pode apenas abusivamente ser denominado de pizza.
A multiplicação das pizzas
Em cidade do norte do Rio Grande, segui o conselho de duas colegas lingüistas e me aventurei em pizzaria inaugurada havia semanas, ao estilo rodízio, usado por churrascarias que oferecem variados tipos de carnes. O aspecto acolhedor e o pequeno grupo de pessoas que, com uma senha à mão, aguardava uma mesa, era augúrio favorável. Não desanimei sequer com o plástico do copo de cachaça – a excelente aguardente brasileira –, com a qual os clientes aliviavam a espera.
Apenas me sentei, um garçom assaltou-me com uma pizza com corações de galinha. Gosto de corações de galinha, no churrasco. Mas na pizza, não dá! Resolvi esperar a próxima rodada: pizza com strogonoff e batata palha, seguida por pizzas ao milho, ervilhas, brócolis e catupiry, à portuguesa, à mexicana etc. Minhas esperanças renasceram com o anúncio de uma conhecida: pizza “ao peperoni”. Não havia, porém, pimentões na pizza. O nome se devia à presença de salame picante, pois, segundo o garçom, paperoni seria "picante", em italiano!
Após tantos outros sabores, servidos em ritmo acelerado, em intervalos de minutos, que apenas experimentei, pedi timidamente uma margherita. Sem delongas, chegou ao meu prato uma fatia dessa pizza histórica, que procurei saborear com cuidado: senti sobretudo a massa, com gosto de pão de forma, da qual não emergia o sabor do tomate e da mussarela. Do manjericão, nem notícias! Mas juraram que os ingredientes estavam presentes! Tentei então uma simples pizza marinara, no Brasil chamada de “alho e óleo”, que não consegui comer. Cortado aos pedações, o alho estava cru!
Ao final, um pouco por desespero, um pouco enquanto amante da pizza e da cozinha em geral, mas sobretudo porque não consigo resistir à tentação, abandonei-me às pizzas doces: aos morangos, chocolates, doces de leite, sorvetes... nenhuma me desagradou. Aliás, gostei de todas. Mas não eram pizzas! Algumas até eram preparadas com um disco de pão de ló!!!
A fábrica das pizzas
Nessa aventura gastronômica, impressionou-me também a visita à cozinha e a rápida conversa com a montadora chefe, isto é, a coordenadora do trabalho em série de guarnição das bases de massa pré-cozida. Não se tratava de cozinha, mas de pequena fábrica, que desenfornava por noite centenas desses produtos homogeneizados na sua aparente variedade. Instalações há anos luzes do banco de mármore onde, nas boas pizzarias do mundo e do Brasil, pedaços de massa descansada e fermentada são estendidos, à mão, rolo ou máquina; os discos são cobertos com poucos ingredientes frescos e selecionados e as pizzas são cozidas em fornos à lenha, em alta temperatura, sob os olhos e o nariz do cliente, que pode pré-saborear suas cores e cheiros.
O atual processo de mercantilização abandona a simplicidade e o refinamento do produto artesanal, em favor de mercadoria produzida incessantemente, abusivamente chamada de pizza. E nos rodízios, através da angustiante apresentação ininterrupta de discos de pão com coberturas diversas, consumidos por consumir, engolidos por engolir, tenta-se suprir a falta dos ingredientes e processos tradicionais. O azeite de oliva extravirgem, a mussarela fresca de qualidade, os tomates pelados pouco ácidos, os temperos específicos. A massa deixada descansar longamente para que fique mais leve e digestiva. O cozimento rápido em forno a lenha sob as ordens do pizzaiolo, gestor de todos os momentos do rico concerto.
Muitas vezes nocivos à saúde, esses procedimentos característicos do império do lucro destroem o prazer estético e gastronômico permitido pela produção e consumo da cozinha bem preparada, além de subtrair ao comensal a possibilidade de se aproximar da experiência histórico-cultural na qual os pratos criaram-se. No presente caso, trata-se de rasteira falta de respeito aos pizzaioli que, do Seiscentos aos nossos dias, inventam e aperfeiçoam esse prato popular, garantindo com o trabalho abnegado e anônimo ao vocábulo a fama que merece em escala planetária. Copiado de:CorreioDaCidadania
Florence Carboni, italiana, é professora no Instituto de Letras da UFRGS. E-mail: fcarboni@via-rs.net |
Nessun Dorma | | | |
Maria Clara Lucchetti Bingemer | |
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Algo morreu na vida política nacional e nas aspirações éticas do povo brasileiro. E como luto rima com silêncio, não falarei da absolvição do senador alagoano Renan Calheiros. Prefiro escrever sobre Pavarotti. E tampouco ninguém dorme. E que ninguém durma em nenhum quarto frio como o da princesa Turandot, que ele imortalizou com sua voz abençoada. Ninguém dorme velando e espiando as estrelas, sentindo profundamente a ausência do tenor cujo canto – fazendo mais que jus a seu qualificativo de belo, bel canto – calou-se.
Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio.
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