Povo adivasi responde com luta à campanha contra-revolucionária
Em
19 de novembro a imprensa indiana noticiou um contundente ataque atribuído
aos combatentes do Exército Guerrilheiro
Popular de Libertação – EGPL, dirigido pelo Partido Comunista
da Índia (Maoísta), que descarrilou um trem em Orissa, estado
localizado no golfo de Bengala. Uma explosão nos trilhos fez com
que cinco vagões descarrilassem instantes após a sua partida
da estação de Jaipur.
Essa ação do EGPL ocorreu
apenas uma semana após uma greve geral deflagrada em resposta aos
ataques do Estado reacionário indiano contra os adivasis (comunidades
tribais) em Bengala Ocidental e o movimento naxalita encabeçado
pelo PCI (Maoísta). Intelectuais e personalidades democráticas
indianas denunciam campanha genocida perpetrada pelo velho Estado, denominada "caçada
verde", que espalha o terror nas regiões de florestas e nas regiões
agrárias da Índia.
Greve geral contra perseguição policial
Uma greve geral convocada pelo Comitê Popular Contra as Atrocidades
Policiais paralisou diversas atividades no distrito de Jhargram, em Bengala
Ocidental, região com predominante população adivasi
e intenso trabalho dos naxalitas. O Bandh (como é chamada a greve geral
pelos indianos) foi convocado em 11 de novembro, quando ativistas do Comitê foram
atacados pelas forças policiais e os planos do governo central de enviar
uma grande força paramilitar para as zonas de floresta.
Há exatamente um ano, uma grande mobilização adivasi
se desdobrou em mais de um mês de enfrentamentos nessa mesma região
que engloba os departamentos de Lalgarh, Jhargram, Belpahari, Binpur e zonas
vizinhas do Midnapore Ocidental (ver AND 56)
A revolta das massas transbordou na forma de violentos protestos. O periódico
indiano The Hindu e a agência BBC noticiaram paralisações
armadas nos estados de Bihar, onde o movimento paralisou todos os mercados
das zonas rurais; no Jharkhand, a circulação de caminhões
e locomotivas, bem como a extração de carvão foram paradas;
Chhattisgarh, Maharashtra, Andhra Pradesh e Bengala Ocidental foram fortemente
atingidos pela mobilização.
Campanha contra-revolucionária
Após o início de uma campanha de difamação na
imprensa, no dia 5 de outubro, a polícia do Bengala Ocidental prendeu,
em Calcutá, Raja Sarkhel e Prasun Chatterjjee, conhecidos ativistas
de Bengala Ocidental e importantes membros da Frente Democrática Revolucionária,
acusando-os de "ligação com o PCI (Maoísta)".
A reação passou a praticar todo tipo de abuso abrigada pela "Lei
de Prevenção de Atividades Ilícitas", de 2008, que autoriza
a prisão arbitrária de pessoas por "associação",
mesmo que não haja nenhuma acusação específica
contra elas. Antes mesmo dessas prisões, em 26 de setembro, policiais
que se apresentaram como jornalistas sequestraram Chhatradhar Mahato, conhecido
líder do Comitê Popular Contra as Atrocidades Policiais em Lalgarh.
Vozes se levantam em defesa dos adivasis
Adivasis com arcos e flechas em apresentação cultural celebrando
os 40 anos do levantamento de Naxalbari
Em meados de outubro, representantes da intelectualidade indiana e de
outros países emitiram um "Comunicado contra a ofensiva militar do Governo
da Índia nas regiões habitadas pelos adivasis" que foi
encaminhado ao governo indiano.
Em seu comunicado, os intelectuais declaram estar "profundamente preocupados
com os planos do governo indiano de lançar uma ofensiva militar sem
precedentes do exército e das forças paramilitares nas regiões
habitadas pelos adivasis nos estados do Andhra Pradesh, Chhattisgarh, Jharkhand,
Maharashtra, Orissa e Bengala Ocidental."
O comunicado é assinado por destacados intelectuais indianos, entre
eles a escritora e ativista dos direitos do povo Arundhati Roy, professores,
artistas e defensores da luta dos adivasis e do povo indiano, bem como o conhecido
professor Noam Chomsky, entre outros.
Esse conjunto de corajosos intelectuais encerrou seu comunicado declarando
saberem que a ofensiva do Estado indiano é uma tentativa de esmagar
a resistência popular de forma a facilitar a entrada e a operação
de grandes grupos de empresas que visam exploração dos recursos
naturais e dos habitantes dessas regiões.
"Caçada verde"
A "operação caçada verde" é uma campanha de contra-insurgência
em escala sem precedentes na Índia que tenciona enviar um dispositivo
de cem mil soldados e outras forças de repressão para as montanhas
selváticas da Índia oriental e central para esmagar a rebelião
dos adivasis e atacar as bases de apoio naxalitas.
Vários defensores do povo adivasi e personalidades indianas têm
alertado para o desenrolar dos fatos, particularmente a escritora Arundhati
Roy, que vem desenvolvendo uma intensa militância na defesa do
povo indiano e denúncia das campanhas do velho Estado.
Ela ataca veementemente essa operação reacionária cujo
fim é o que o governo chama de "solução Sri Lanka".
Essa denominação, de acordo com Arundhati Roy, é inspirada
na recente ofensiva do governo do Sri Lanka com ataques terrestres e aéreos
deflagrados contra os Tigres Tamil. Essa ofensiva resultou no massacre de milhares
de civis. Centenas de milhares de pessoas foram presas em campos de concentração,
onde a maioria ainda encontra-se em condições degradantes. Após
essa agressão, bases militares estão sendo construídas
no coração Tâmil. Eis o modelo seguido pelo Estado indiano.
Surge a milícia popular
No dia 26 de outubro último, o jornal Times da Índia
noticiou:
O Comitê Popular Contra as Atrocidades Policiais, fórum
democrático
de luta do povo indiano, se transformou em uma milícia popular, a Milícia
Sidhu Kanu Gana .
O anúncio do assumimento dessa nova forma de organização
veio após a tomada de 10 armas por militantes e a realização
de ações armadas em Goaltore. A porta-voz do antigo Comitê Popular
Contra as Atrocidades Policiais, Asit Mahato, explicou que a decisão
para a substituição das formas de organização ocorreu
após o enfrentamento de contínua tortura e ataques por parte
do governo, daí partiu a decisão de pegar em armas para combater
as forças do velho Estado.
Notícias da imprensa indiana relatam
que aldeões realizam tomadas
de armas de fogo em delegacias e as distribuem entre as massas. Desde a manhã do
dia 26 de outubro as forças de repressão tem sido surpreendidas
por ações da resistência nas aldeias como Teshkan, Makli
e Hiraban-DH.
"Certamente venceremos o governo"
Traduzida do francês por Beatriz Torres
(Trechos da entrevista publicada pela revista Open,
de 17 de outubro de 2009)
À primeira vista, Mupalla Laxman Rao, que em breve fará 60 anos,
parece ser um professor, de fato, ele lecionava, no início de 1970,
no distrito de Karimnagar, em Andrah Pradesh. Mas em 2009, este homem de voz
suave, usando óculos, tornou-se o homem mais procurado por toda a polícia
da Índia. Ele dirige uma das mais importantes guerras populares do mundo. É um
homem comum chamado Ganapathi, segundo o dossiê do Ministério
do Interior, um homem cujas ordens são cumpridas em 15 estados da União.
Lalgarh foi descrita como uma nova Naxalbari para o PCI(M). Por que
esta sublevação teve tanta importância para você?
O levantamento das massas, em Lalgarh, sem dúvida alguma levou
novas esperanças ao povo oprimido e a todo o campo revolucionário
em Bengala Ocidental. Ele ocasionou um impacto grandiosamente positivo, não
somente sobre as pessoas de Bengala Ocidental, como também sobre as
pessoas do país inteiro. O levante revelou-se como um novo modelo
para o movimento de massas no país. O povo de Lalgarh boicotou a recente
eleição do legislativo, mostrando também sua ira e decepção
contra todos os partidos reacionários. Em Lalgarh ocorreram outros
fatos interessantes: uma grande participação das mulheres no
movimento, um caráter autenticamente democrático e uma imensa
mobilização dos Adivasis (membros de tribos, párias
da sociedade indiana). Não há dúvida que é o
ponto de união das forças revolucionárias democráticas
de Bengala Ocidental.
Como os maoístas irão se unir a ele este movimento?
No que concerne ao papel do nosso Partido, temos trabalhado
nos distritos de Paschim, Midnapur, Bankula e Perulia, região que depois dos anos
de 1980 passou a ser chamada habitualmente de Jangalmahal. Nela temos combatido
as forças feudais locais, a opressão e a exploração
dos funcionários florestais, os usurpadores inescrupulosos, os capitalistas
e os bandidos do Partido Comunista da Índia (Marxista) – no Poder
do Estado de Bengala Ocidental – e os do Congresso Trinamool. Em particular,
o PCI (Marxista) tornou-se o principal opressor e explorador dos Adivasis
da região e tem utilizado seus bandidos de sinistra reputação,
os Harmad Vahini, contra todos os que contrriam sua autoridade. Com o poder
do Estado nas mãos e com a ajuda da polícia o PCI (Marxista)
desenvolve um papel ainda mais nefasto que os feudais, os mais cruéis
de todas outras regiões do país.
Qual é sua estratégia agora em Lalgarh depois da ofensiva
massiva das forças do Estado?
Antes, gostaria que ficasse bem claro que
nosso Partido vai contra-atacar e que se manterá firme ao lado do povo de Lalgarh,
de toda a Jangalmahal e que terá uma estratégia conforme o
mando e o interesse do povo. Nós iremos estender, por todas as partes,
a luta contra o Estado e nos esforçaremos para levar toda a massa
a abraçar a causa do povo. Combateremos a ofensiva do Estado mobilizando
com mais empenho as massas contra a polícia, as milícias e
os bandidos do PCI (Marxista).
Em sua opinião, seu partido tirou alguma lição
em Lalgarh?
Sim. Sua revolta ultrapassou nossas expectativas. Realmente,
foi a base do povo, com a ajuda dos elementos mais avançados, influenciada
pelas idéias políticas revolucionárias, que desempenhou
o papel determinante ao indicar as formas da luta. Ela constituiu sua própria
organização, redigiu sua plataforma de reivindicações,
inventou novas formas de luta e enfrentou a agressão da polícia
e dos bandidos social-fascistas dos bandos da Harmad. Ao expandir a frente
de combate ao máximo possível, adotando práticas adequadas,
combinando o movimento militar/político de massa com a resistência
popular armada e a ação do nosso Exército Guerrilheiro
Popular de Libertação (EGPL) infligimos derrota na ofensiva
massiva das forças do governo Central.
O Estado qualifica o PCI (Maoísta) uma organização
terrorista. Quais são as consequências para seu Partido?
O governo da UPA (Aliança Progressiva Unida – que governa a Índia)
iniciou seu último mandato anunciando que destruiria a "ameaça" maoísta
e se propôs a despejar enormes somas de dinheiro nos estados com esta
intenção. A causa imediata foi a pressão exercida pela
burguesia compradora e burocrática e os imperialistas, em particular
o imperialismo ianque, que querem saquear os recursos de nosso país
sem qualquer entrave. Esses tubarões aspiram as abundantes riquezas
naturais, minerais e florestais de uma vasta região que se estende
desde Jangalmahal até o norte de Andrah Pradesh.
Uma outra razão importante da ofensiva atual das classes dirigentes é o
medo do rápido crescimento do maoísmo e sua crescente influência
sobre uma significativa parte da população da Índia.
Os governos populares de Dandakaranya e os comitês populares revolucionários
de Jharkand, em Orissa, e em setores de outros estados, tornaram-se modelos
de desenvolvimento e de autênticas democracias.
Qual é o seu plano para resistir a essa grande ofensiva preparada
pelo Estado indiano?
Os sucessivos governos centrais e de diferentes estados desenvolveram
muitos planos neste sentido durante muitos anos. Mas eles não obtiveram
nenhum sucesso importante apesar de seus atos de crueldade e morte de centenas
de nossos quadros e de nossos dirigentes. Nosso Partido e nosso movimento
continuam a se consolidar e a se estender geograficamente. Dos dois ou três
estados iniciais agora estamos ativos em mais de 15, o que provoca pânico
nas classes dirigentes. Sobretudo depois da fusão do antigo Centro
Comunista Maoísta da Índia e do Partido Comunista da Índia
(marxista-leninista) (Guerra Popular) em setembro de 2004 (a fusão
da qual nasceu o PCI Maoísta), o governo da UPA deslanchou uma ofensiva
geral e sem piedade contra o movimento maoísta. Mas nosso Partido
continuou seu crescimento apesar de algumas perdas importantes. Particularmente,
nestes três últimos anos nosso exército obteve muitas
vitórias importantes.
Apoiado e com a participação das massas, nós nos
confrontamos com sucessivos ataques do inimigo. Continuaremos a enfrentar
a nova ofensiva do inimigo enaltecendo o nível desta resistência
heróica e preparando a totalidade do Partido, o Exército de
Libertação, os diversos partidos e organizações
revolucionárias populares. Embora que o inimigo possa obter algum
sucesso na fase inicial de sua ofensiva, certamente nós nos preveniremos
e venceremos a ofensiva governamental graça à mobilização
ativa das massas e a sustentação de todas as forças
revolucionárias e democráticas de todo o país. Nenhum
regime fascista ou qualquer ditador militar na História conseguiu
suprimir com o uso da força bruta as lutas democráticas e justas
do povo. Pelo contrário, na devida hora eles foram e sempre
serão banidos pela maré montante da resistência popular. É o
povo que faz a História, e ele se erguerá como um furacão,
sob a direção de nosso Partido, para eliminar os vampiros reacionários
sugadores de sangue, os dirigentes de nosso país.