A
Nova Democracia, visitou a Saara, o maior centro comercial ao ar
livre do Brasil, no Rio de Janeiro, e conversou com Salim Kalaum.
Trata-se de um libanês, naturalizado brasileiro, de 54 anos de
idade, que vive no Brasil desde os seis meses de vida. Estudioso e
interessado nos assuntos relacionados à Palestina, ele ministra
palestras em universidades.
Formado em direito, o comerciante
diz conviver bem com palestinos e judeus, deixando claro que não
fala contra o judaísmo e nem contra o judeu e sim contra o sionismo:
"Tenho muitos amigos judeus que me abraçam e beijam. Tomamos
cafés juntos e convivemos malhavilhosamente bem. Não sou contrário
aos judeus, simplesmente não concordo com o que alguns deles estão
fazendo na Palestina".
Sobre a questão dos judeus, que
estão na Palestina, alegarem ser os verdadeiros donos da terra,
Salim tem um ponto de vista definido: "Eu tenho direito
espiritual e histórico em Meca, porque sou descendente do sultão
Saladino, que libertou Jerusalém dos Cruzadas. Entretanto, não vou
voltar para o Líbano, exigindo que todos que lá estão saiam, com a
alegação de que minha família governou a região há 500/700
anos".
A Palestina é uma região, que nunca foi
reconhecida pela ONU como país, com a mesma formação étnica de
qualquer outro país da Península Arábica, como o Líbano e a
Síria, entranhada entre o deserto da Jordânia e as montanhas do
Líbano, tendo ao sul o deserto de Neguevi e a península de Sinai no
sudoeste. O seu oeste tem saída para o Mediterrâneo.
Muitos
dos palestinos são na verdade judeus que se converteram a outros
credos, ou seja, são descendentes de judeus que se converteram ao
cristianismo ou ao islamismo, já que o judaísmo não é um
território e sim uma religião.
Com o êxodo ou imigração
dos judeus durante o império romano, começou a acontecer uma grande
conversão ao cristianismo, que se expandiu por toda Europa. Por essa
ocasião, muitos que eram judeus deixaram de sê-lo e outra parte
imigrou por todo o mundo. Todos os povos daquela região sofreram uma
integração política religiosa. Com essa mistura religiosa, todos
possuem santuários na região. O muçulmano tem o santuário de
Meca, a igreja da natividade e outros. Os cristãos também têm os
seus lugares considerados sagrados.
Os judeus ou hebreus
exerceram, sem sombra de dúvida, uma grande influência religiosa na
região, contribuindo para o surgimento do cristianismo e do
islamismo. Mas isso não quer dizer que sejam os donos daquelas
terras.
Na verdade, a terra por excelência não tem dono,
sendo daquele que está presente. Esses são os palestinos, porque
estavam no local quando os judeus chegaram.
Se cabe a alegação
de que seus ancestrais viveram por lá, então também deveriam levar
em consideração que os mesmos podem ser ancestrais dos palestinos
que se converteram. Ele vê o palestino como um forasteiro, o que na
verdade não é. É um judeu ou hebreu de outrora. Um semita como o
próprio hebreu, assim como os fenícios, assírios, caldeus e todos
aqueles povos.
A palavra hebreu, como também é conhecido o
povo judeu, significa: nômade, travessa, semita, ou seja, sem
residência fixa, que anda pelo mundo. Eles não viviam sós na
Palestina, como também no Líbano, Iraque, em toda aquela região,
chegando a uma base de 15% da população da região conhecida como
Oriente Médio.
Se os judeus não tivessem o apoio das grandes
nações imperialistas, creio que jamais iriam para a Palestina. Na
verdade, são os donos do comércio, indústria e grandes bancos da
Europa, enquanto que os palestinos não são nada, por esse ponto de
vista. A verdade é que os judeus foram induzidos a ir par o Oriente
Médio e lá receberam forças para criar um partido e derrubar o
poder que existia.
O palestino não faz um atentado por gostar de
morrer ou matar, mas porque foi instigado indiretamente pelo próprio
governo de Israel. Se ele atirou primeiro no judeu,é porque o mesmo
o expulsou de seus lares e ficou com os seus despojos
No final da Segunda Guerra Mundial, os países que
integravam a ONU, em sua maioria, os que comandam ou imperam o mundo,
induziram o povo judeu a ir para a Palestina e lá formar um lar
nacional, sendo assim protegidos de situações como a que passaram
durante a guerra, quando milhares de judeus morreram em situações
impiedosas. Na verdade, os judeus, apesar de poderosos
financeiramente em todo o mundo, sempre foram discriminados. É bem
certo que os judeus começaram a emigrar para a região da Palestina
entre as duas grandes guerras mundiais, a princípio, como simples
comerciantes, encontrando as portas abertas, mas, foi quando surgiu o
movimento da ONU, de formação de um estado sionista dentro da
Palestina, que a coisa esquentou. Vale lembrar que imigraram por todo
Oriente Médio, pois, até 1948, de 10 a 15% da população de
Beirute, capital do Líbano, por exemplo, era judia.
O
feudalismo parou na Europa, mas continuou no Oriente Médio, com o
povo palestino. Sem nenhuma ajuda política e apoio de alguma espécie
para encarar uma grande nação, que era a Inglaterra, porque apoiava
os judeus, os palestinos mediram as suas espingardas e pedras com os
armamentos pesados das nações capitalistas. Já os judeus, com o
poder financeiro e o apoio da ONU, tinham tudo para tomar as terras
que dizem ser de seus ancestrais.
Os palestinos estão
altamente feridos e abandonados. Marginalizado pela própria situação
política na região. Não tem vida social e infra-estrutura
domiciliar. Foram expulsos de suas terras e espalhados por toda
Península Arábica. Cerca de 600 mil encontram-se no Líbano, outros
tantos na Síria, Jordânia e Egito. Ou seja, juntaram o povo,
permitindo que se espalhasse o povo palestino.
Recentemente,
os judeus decidiram em mesa redonda que só aceitam a volta de 100
mil palestinos. Qual o problema de Isaac conviver com Mamede, ou Jacó
com Elias? E por que os judeus aceitam receber os palestinos para
trabalhar, se recebiam uma base de 180 mil palestinos para trabalhar
em seu território, em trabalhos braçais, e não podem recebe-los
para morar?
Naturalmente que os judeus, geralmente formados
nas melhores universidades da Europa, não querem pegar no tijolo, e
isso fica a cabo do povo palestino. Vale lembrar que o palestino não
pode dormir no local. Terminada a jornada de trabalho, tem que
retornar imediatamente para Cisjordânia ou Gaza.
Acredito que os
judeus têm todo o direito de fazer peregrinações e até de emigrar
para qualquer país do mundo e lá se estabelecerem, desde que
respeitem a legislação e cultura local. Entretanto, os que são
sionistas não têm o direito de expulsar os que lá já estiverem
tentando criar, assim como Hitler, uma raça ariana, pois o ponto de
vista dos judeus é parecido com o nazista.
O que aconteceu é
que a partir de 1948, centenas e milhares de palestinos foram
expulsos de seus lares, ocupados por judeus que vieram da Europa e
esse fato acabou gerando os atos de violência do momento.
Hoje,
o palestino é visto como um terrorista nato, um marginal, mas a
resposta é simples: vingança. Muitos deles viram o pai e a mãe
morrerem, a casa ser destruída, o olival derrubado, cortado e
pensando não ter mais nada a perder, reagiram desta forma. O
palestino não tem índole má, como pode parecer para alguns. Não
há casos de palestinos perseguirem qualquer homem de nacionalidade
árabe ou ir até a Europa matar judeu. Há reações dentro da
Palestina. Toda essa violência é apenas uma conseqüência do que
foi decidido no final da Segunda Guerra Mundial, pelos países
controladores do mundo. São 54 anos de luta do refugiado, que até
1948 era um cidadão palestino comum, sem que se encontrem uma
solução política para o conflito. Quem tem sede de liderar instiga
para um caminho sanguinário.
Quem paga com isso é sempre o
povo. O soldado simples que vai para frente de batalha, e não aquele
industrial, banqueiro e grande comerciante, que tem interesses no
conflito. A única cidade realmente construída por eles, até 1948,
foi Telavive, que se tornou a capital. Ali conviviam em paz com os
palestinos antes de começarem a se apoderar de toda a terra e
expulsá-los.
A parte da Cisjordânia foi ocupada em 1977, o
que restou da Palestina, porque havia uma partilha e ali, por uma
questão qualquer política internacional, não se chegou a um
acordo, tanto de um lado quanto do outro.
O palestino médio
pode até possuir algum grau de escolaridade, todavia ficará sempre
aquém do judeu. Uma empresa americana, por exemplo, não vai
investir pesado no Líbano ou na Jordânia, por serem áreas de
risco. Já os judeus são os maiores empresários do mundo, com
nacionalidades diferentes.
O judaísmo não é uma raça, mas
uma religião. Muitos judeus nunca estiveram na região, ao mesmo
tempo em que alguém da região que era judeu se converteu ao
cristianismo e hoje não é mais. Assim, existem judeus americanos e
europeus, a maioria poderosa financeiramente. Em Nova York vivem
cerca de seis milhões de judeus, e entre eles estão americanos,
alemães, franceses, ingleses, brasileiros e outros.
Se a
questão é clemência, apoio aos judeus no sentido de voltarem às
suas terras de origem e não mais serem perseguidos pelo mundo, então
por que todos não emigraram para a região da Palestina, abandonando
assim os seus grandes negócios na Europa e Estados Unidos?
A
questão talvez seja deixar a região carregada e empobrecida, para
assim poder explorar ainda melhor o petróleo, abundante na área.
Os
vencedores da primeira guerra mundial estavam dominando o mundo e com
isso os ricos judeus acreditaram que estava na hora de irem para onde
quisessem, porque palavra de banqueiro não volta atrás, está aí o
FMI governando o mundo, impondo regras para os dominados.
É
comum de acontecer no mundo capitalista, a imposição de regras por
parte dos países imperialistas ao resto do mundo, mas acredito que
essas não prevalecerão, porque regras impostas não ficam para
sempre.
Não pode existir Israel desta forma. Acredito que
poderiam partir para a idéia da formação de um estado binacional.
Eles foram infelizes em querer formar um estado teocrata. Caso
viessem como imigrantes simples, para um convívio de paz com os
palestinos, e formassem um estado binacional, a coisa não chegaria a
esse ponto. Se as nações árabes tivessem formado uma união árabe,
os judeus, apoiados pelo país que fosse, não iriam pensar em ir
agredir a Palestina, não mexeriam em casa de marimbondos. Na época
em que foi reconhecido o estado de Israel, em 1948, a Índia foi
divida. Paquistão e Bangradeste, não existiam. Dividiram a Índia,
assim como fizeram com os países árabes.
Esse conflito, além
de toda a sua brutalidade, ainda pode levar a uma grande guerra
mundial, desta vez com o uso de armamentos químicos, o que poderá
ser um desastre para a humanidade".
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Salim Kalaum é bacharel em Direito e
Comerciante
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"O palestino é um povo semita, tendo sua origem na
Península Arábica. A maioria dos palestinos é ligada à
religião islâmica ou muçulmana e outra parte é formada por
católicos hortodóxicos ou romanos, outros são pagãos. Muitos
deles foram judeus que se converteram.
A situação de
conflito no Oriente Médio é conseqüência da Segunda Guerra
Mundial, que fortaleceu a idéia sionista do judeu voltar para a
Palestina e, em 1948, fundar o Estado de Israel.
No mundo
imperialista, o poderoso impõe regras, no entanto, acredito que
essas são provisórias, porque regras impostas não têm efeitos
perpétuos.
Quem paga por essa guerra é o povo palestino e
também judeu, pois é o judeu simples que está na frente dos
combates, morrendo, enquanto os grandes empresários sonham com o
poder.
Na verdade o
interesse é na região, talvez por causa do petróleo. É uma
área cobiçada, tanto que os países imperialistas acharam
interessante apoiar ali, a fundação do Estado de Israel."
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