domingo, 24 de janeiro de 2010

Rumo ao FSM.....

Segunda(25/1) começa o FSM10, com Abertura, Marcha e Shows Musicais


A abertura do FSM 10 acontece no dia 25 pela manhã, 9h30min, na Usina do Gasômetro. A mesa de saudação contará com representante dos prefeitos que sediam o encontro, o ministro Tarso Genro, representantes da organização do FSM 10 e representantes do Conselho Internacional do FSM.
- Das 11h às 13h, acontece a primeira atividade do Seminário Internacional 10 anos depois, a mesa Fórum Social Mundial – Balanço de 10 Anos, com a participação de Lilian Celiberti, Raffaella Bollini, Nandita Shah, Francisco Whitaker, João Antônio Felício, João Pedro Stédile, Oded Grajew e Olívio Dutra (veja a programação completa do Seminário abaixo)
- A marcha de abertura do FSM deve sair por volta das 17h30min do Largo Glenio Peres, Borges de Medeiros, Aureliano Pinto de Figueiredo, Av. Edvaldo Pereira Paiva e segue até a Usina do Gasômetro, onde haverá shows de Bataclã FC, Renato Borgetti, Revolução RS, Marieti Fialho, Tonho Crocco, Banda Gog, Teatro Mágico, Papas da Língua e Marcelo D2.
Figura2
Participação do presidente Lula
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Seminário Internacional 10 Anos Depois

O blog do seminário – http://seminario10anosdepois.wordpress.com/ – atualmente apresenta uma série de textos de analise e debate sobre os 10 anos do processo FSM. Durante o Fórum, porém, trará informações adicionais sobre o evento e pequenos resumos dos debates.
A programação final do Seminário (sujeita a mudanças) é:
Seminário Dez ano depois: Desafios e propostas para um outro mundo
25 a 29, JANEIRO 2010

25/1, segunda-feira
9h-10h30 Mesa de Saudação do Fórum Social 10 Anos Depois Grande Porto Alegre
Participantes:
Autoridades locais, estaduais, federais
Representantes históricos do FSM da sociedade civil
Aldalice Otterloo – ABONG (Brasil)
Taoufik Ben Abdallah – ENDA (Senegal)
Prefeito José Fogaça
Tarso Genro
Local: Gasômetro
11h-13h Mesa de Abertura Seminário Fórum Social Mundial – Balanço de 10 Anos
Participantes:
Lilian Celiberti – Articulación Feminista Marcosur (Uruguai)
Raffaella Bollini – ARCI (Italia)
Nandita Shah – National Network of Autonomous Women’s groups (India)
Candido Grzyzibowski – IBASE (Brasil)
Francisco Whitaker – CBJP (Brasil)
João Antônio Felício – CUT (Brasil)
João Pedro Stédile – MST (Brasil) /
Oded Grajew – Cives – Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania (Brasil)
Olívio Dutra
Coordenação: Salete Camba – IPF (Brasil)
Local: Gasômetro
26/1, terça-feira
A Conjuntura Mundial Hoje
9h-12h A Conjuntura Ambiental Hoje
Participantes:
Nicola Bullard – Focus on the Global South (Tailandia)
Gilmar Mauro – MST (Brasil)
Roberto Espinoza- CAOI (Peru)
Hildebrando Vélez Galeano – Amigos de la Tierra (Colômbia)
Justina Cima (*) MMC (Brasil)
Local: Gasômetro

A Conjuntura Econômica Hoje
Participantes:
David Harvey – City University of New York (EUA)
Susan George – ATTAC (França)
Arthur Henrique da Silva Santos – CUT (Brasil)
Paul Singer- FEA/USP (Brasil)
Local: Assembleia Legislativa
A Conjuntura Política Hoje
Participantes:
Immanuel Wallerstein
Samir Amin- Foirum Mondial des Alternatives (Egito)
Jamal Juma – Palestinian Grassroots Anti-Apartheid Wall Campaign (Palestina)
Gustave Massiah- Centre Recherches et d´Information pour le Développement (França)
Gustavo Soto Santiesteban – Centro de Estudios Aplicados a los Derechos Económicos, Sociales y Culturales (Bolívia)
Nalu Faria – Marcha Mundial das Mulhers (Brasil)
Bernard Cassen – Forum Mondial des Alternatives (França)
Local: Cais 6
A Conjuntura Social Hoje
Participantes:
Edgardo Lander – Universidad Central de Venezuela (Venezuela)
Emir Sader- CLACSO (Brasil)
Mohamed Soubhi – Forum des Alternatives Maroc (Marrocos)
Ana Pizzo
Rosane Silva – CUT (Brasil)
Local: Cais 7

27/1, quarta-feira
Elementos da Nova Agenda I / Elements of The New Agenda I
9h-12h Bens Comuns
Participantes:
Silke Helfrich – Fundação Heinrich Boell (Alemanha)
Patrick Mooney – University of Kwa Zulu-Natal School of Development Studies (Africa do Sul)
Camila Moreno – Terra de Direitos (Brasil)
Carlos Candiotti – CONACAMI (Brasil)
Vita Giovanna Randazzo Eisemann
Local: Gasômetro
Sustentabilidade
Participantes:
Corinne Kumar – Cortes de Mulheres (India/Tunisia)
Fátima Mello – FASE (Brasil)
Rosa Chavez -
Indra Lubis – Via Campesina (Tailandia)
Maria Pia Matta Cerna – AMARC (Chile)
Antônio Barbosa – ASA (Brasil)
Local: Cais 7
Economia e Gratuidade
Participantes:
Patrick Viveret – Centro Internacional Pierre Mendes (França)
Lilian Celiberti – Articulación Feminista Marcosur (Uruguai)
Ladislaw Dowbor
Nila Heredia – ALAMES (Bolívia)
Daniel Pascual
João Joaquim de Melo Neto Segundo – Palmas (Brasil)
Local: Cais 6
Bem-Viver
Participantes:
Anibal Quijano – Universidade de San Marcos (Peru)
Marco Deriu – Universidade de Parma (Italia)
Mercia Andrews – Trust for Community Outreach and Education (Africa do Sul)
Zraih AbderKadel – Forum des Alternatives Maroc (Marrocos)
Ana Maria Prestes – OCLAE (Brasil),
Segundo Churuchumbi – ECUARUNARI (Peru)
Local: Assembleia Legislativa
28/1, quinta-feira

Elementos da Nova Agenda II
9h-12h Organização do Estado e do Poder Político
Participantes:
Pablo Sólon, – Aliança Social Continental (Bolivia)
Njoki Njoroge Njehu – Daughters of Mumbi Global Resource Center / Africa Jubilee South (Quenia)
Prabir Purkayastha – All India Peace and Solidarity Organisation (India)
João Pedro Stédile – MST (Brasil)
Nancy Neamtan – Chantier de l’Economie Sociale (Canadá)
Giampiero Rasimelli
Sergio Hinojosa (*)
Local: Gasômetro

Direitos e Responsabilidades Coletivas
Participantes:
Carles Riera – Ciemen (Catalunha)
Alberto Achito Lubiasa (Colômbia)
Maria Betânia Ávila – Articulação de Mulheres Brasileiras (Brasil)
Irene Khan – Anistia Internacional (Bangladesh)
Kamal Lahbib – Forum des Alternatives Maroc (Marrocos)
Marcos Terena
Local: Cais 7

Novo Ordenamento Mundial
Participantes:
Taoufik Ben Abdallah – ENDA (Senegal)
Patrick Bond – University of Kwa Zulu-Natal School of Development Studies (Africa do Sul)
Antônio Martins – ATTAC (Brasil)
Socorro Gomes – CEBRAPAZ (Brasil)
Eric Toussaint – CADTM (Belgica)
Teivo Teivainen – NIGD (Finlandia)
Local: Cais 6
Como Construir Hegemonia Política
Participantes:
Boaventura dos Santos – Universidade de Coimbra (Portugal)
Virginia Vargas – Articulacion Feminista Marcosur (Peru)
Amit Sengupta – Peoples Health Movement (India)
Christophe Aguiton – Marches Européennes contre le chômage (França)
Rosane Bertotti – CUT (Brasil)
Local: Assembleia Legislativa
29/1, sexta-feira

9h-11h Sistematização das Grandes Questões e Contribuição para o Processo Fórum Social Mundial
Local: Gasômetro

11h30-14h30 Rumo a Dakar 2011: A Multiplicidade dos Fóruns
Crise de Civilização – Roberto Espinoza – CAOI (Peru)
Forum da Palestina – Jamal Juma – Palestinian Grassroots Anti-Apartheid Wall Campaign (Palestina)
Forum das Americas – Jose Miguel Hernandez – Encuentros Hemisfericos contra el ALCA (Cuba)
Forum do Maghreb – Kamal Lahbib- Forum des Alternatives Maroc (Marrocos)
Forum Panamazônico – Luiz Arnaldo Campos – Forum Social Pan-Amazônico (Brasil)
Povos sem Estado – Carles Riera – Ciemen (Catalunha)
Forum Social Africano – Taoufik Ben Abdallah – ENDA (Senegal) / Demba Moussa Dembele – Forum Social Africano (Senegal)
Forum Social Estados Unidos – Michael Leon Guerrero- Grassroots Global Justice Alliance (EUA)
Forum Social Europeu – Raffaella Bollini – ARCI (Italia)
Forum Social Temático Bahia – Martiniano (*) – CUT (Brasil)
Local: Gasômetro


sábado, 23 de janeiro de 2010

pobre professor.....

Por que a educação é o lugar de nosso tropeço?

 

Desanimando o professor, prejudicando o aluno

Não sei o que pode criar maior desânimo em um professor e, conseqüentemente, nos alunos, que ele iniciar o ano recebendo míseros 7reais para cada hora-aula. Ah, quer dizer, eu não sabia! Agora vi que há como criar coisa pior. Pode-se colocar o professor com um carimbo na testa escrito “professor reprovado”. Não consigo entender qual a lógica de José Serra, governador de São Paulo e candidato à Presidência da República, e seu secretário da Educação Paulo Renato, por oito anos titular no MEC no período de FHC. Diante de uma escola pública tratada a tapas há anos, e com a educação do Estado de S. Paulo mostrando os piores índices nacionais em todas as avaliações, eles acreditaram que o melhor para essa escola seria massacrar de vez o professor. Será isso o que pensaram?
Talvez eles tenham acreditado que ao fazer um exame para o professor temporário, eles iriam dar classe apenas para os “aprovados”. Mas, se acreditaram nisso, não poderiam estar no cargo que estão, pois qualquer pessoa minimamente informada sobre a rede pública de educação poderia prever o resultado. Além disso, fosse qual fosse o resultado, o número de professores necessário para a rede é bem superior do que aquilo que se tem, portanto, qualquer um saberia que, de algum modo, haveria na sala de aula o agora tachado de “professor reprovado”.
É claro que o “reprovado”, no caso, não é o professor, tenha ela passado ou não na prova do governo. O reprovado aí é o governo estadual e o seu secretário de Educação.  Nada poderia ser pior do que 7 reais a hora-aula, era o que eu acreditava. Mas José Serra e Paulo Renato conseguiram chegar a uma situação mais degradante, que é dizer para o aluno o seguinte: “estude se quiser e pode até ficar reprovado, pois, afinal, o professor que está aí também é reprovado”. Não creio que a escola pública paulista irá se recuperar depois desse golpe. Um novo governo no Estado de São Paulo terá que começar tudo de novo. O PSDB nunca foi bem na área educacional em São Paulo, durante essas quase duas décadas no comanda do estado, mas a gestão Serra é realmente, de longe, a mais catastrófica.
O governo federal não fornece socorro
Diante de tal situação, poderíamos imaginar um socorro. Talvez pudéssemos recorrer ao governo federal. Mas também nesse plano as coisas vão de mal a pior. Os relatórios da Unesco e outros, publicados no início deste ano, 2010, mostram que o Presidente Lula e seu ministro da Educação, Fernando Haddad, deram um empurrão quantitativo no ensino superior público, mas não conseguiram fazer o mesmo quanto ao ensino básico. Claro que há um atenuante para salvar a pele desses dois: o ensino básico, em sua maioria, está nas mãos dos estados e todos os estados pagam muito pouco e cuidam mal de seus professores. Todavia, as ações do MEC não têm ajudado como poderíamos esperar.  O piso salarial unificado, proposto por Haddad, gerou um impasse: em alguns lugares, fez o salário ficar estagnado, em outros lugares, travou prefeitos e governadores. Haddad deveria ter feito um estudo regional e proposto não um piso, mas uma remuneração condizente com a de outros profissionais, na base de um índice de ganhos e possibilidades de cada região. Uma idéia simples! Mas parece que Haddad adora pensar complicado e, como no Enem, ele sempre termina complicando também a vida de outros.
O relatório da UNESCO que diz que o Brasil, nos últimos anos, piorou em educação, mostra isso em termos classificatórios. Entre 128 países o nosso figurava na posição 76 e foi para a posição 88. Isso foi devido, principalmente, ao número reduzido de crianças que chegam à quarta séria e também a um aumento da taxa de repetência. Nossa educação é fraca e nossos alunos se dão mal nos exames internacionais. Mesmos diante de uma escola que pouco solicita, nossa taxa de repetência ultrapassa atualmente a casa dos 12%. Não à toa temos esses resultados, pois somos ainda um país que gasta por aluno muito pouco se comparado com outros. Em 2005 gastávamos US$ 1.257 por aluno contra US$ 5.312 por aluno dos países desenvolvidos que, por sinal, já nem precisam de tanto. Atualmente, não mostramos grande alteração nesses números.
A relação de amor-ódio com o professor
A verdade é que após 16 anos de nossos dois melhores governos pó-ditadura, FHC e Lula, a área da educação parece continuar sendo um nó, e não há quem o desate.  Talvez só uma análise meio que psicanalítica poderia explicar tudo isso.
As melhores cabeças viriam para o magistério e tudo funcionaria a contento se o salário do professor fosse atrativo. Mas não é, e com um tipo de atuação como a do Serra, o desânimo é ainda maior. Por que os governantes relutam tanto em ser generosos com os professores como são com outras áreas? Nunca vi um operário do setor automobilístico, em uma greve, ser chamado para uma negociação e ouvir do governo o seguinte questionamento: “você colocou na praça um carro com defeito, e isso foi admitido pela sua própria fábrica em comunicado oficial, sendo assim, acreditamos que isso deva pesar para que você não tenha aumento, aliás, é até bom eu ver se não é o caso de você nunca mais ter aumento, e isso vai depender do exame que vou lhe aplicar no dia X”. Isso não ocorre com nenhum trabalhado como ocorre com o professor. Há algo de perverso na relação do patrão com o professor, seja o patrão-estado ou o patrão-empresário. Parece que com o professor, os dirigentes governamentais (e particulares, sem dúvida!) agem segundo uma relação de amor-ódio, como aquela que têm com seus pais. Sim, é claro, os professores sempre representarão seus pais – pois de fato o foram – e isso pode levantar situações edipianas. Além do mais, a figura do professor sempre lembra, para o adulto, aquele que o viu como criança, em uma posição infantil. Ora, não há adulto que não se irrite quando o chamam de “infantil”. A figura do professor, para muitos adultos que não amadureceram, sempre será aquela que lhe parecerá dizendo “ah, você é o menino tal”. É como se o professor fosse a testemunha de tudo que você se envergonha e que é, enfim, a sua própria infância. Ora, assim, não há como não pensar no professor como alguém que o patrão até pode conceder algo, mas somente se puder exercer sobre ele algum tipo de controle, talvez vingança.
Pode ser que Haddad e Paulo Renato não fujam dessa quase regra. Outros argumentos? Outras explicações? Não! A essa altura do campeonato só a hora aula chegando ao mínimo de 21 reais para todos, sem cobrança, sem “cursos de capacitação” e sem carimbo de “reprovado”, é que vamos conseguir algum resultado positivo na educação brasileira. Mas duvido que os que estão no poder possam se libertar dessa relação psicológica complicada que possuem com a figura do professor.

Paulo Ghiraldelli Jr, filósofo.

Literatura comparada.....

Autores-tradutores do mundo árabe-muçulmano

Por Mônica Kalil Pires*

O  contato de culturas é, antes de mais nada, o encontro de pessoas oriundas de sociedades com valores e histórias diferentes. Para haver o entendimento, é preciso não apenas traduzir a língua, mas também apresentar uma cultura para a outra. Comunidade de origem e comunidade de recepção têm identidades próprias, construídas com base na história, na língua e na religião, entre outros aspectos. A tradução respeita essas diferenças, mas procura pontos e de contato e aceita as perdas inevitáveis.

Em minha tese de doutorado, investiguei como e por que autores contemporâneos, de origem libanesa mas vivendo fora de seu país de nascimento, apresentam a cultura árabe-muçulmana para o ocidente judaico-cristão. As obras escolhidas – Léon, l´africain e A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Amin Maalouf e Georges Bourdoukan, respectivamente – são romances históricos que se passam entre o século XV  e o XVII, quando muçulmanos e judeus estavam em paz e eram perseguidos pela Inquisição cristã. Esses romances dialogam com o tempo dos autores, ou seja, durante e imediatamente depois da Guerra Civil do Líbano, que durou de 1975 a 1990 e opôs, esquematicamente, muçulmanos contra cristãos e judeus.

Léon, l´africain se passa entre 1490 e 1530, principalmente nas cidades de Granada, Fez, Cairo e Roma. A incrível e fascinante história do Capitão Mouro transcorre entre os anos de 1693 e 1694, período que antecedeu a tomada do Quilombo de Palmares, na Capitania de Pernambuco.
Por uma série de peripécias, os protagonistas, muçulmanos, acabam vivendo entre cristãos e têm com eles posturas distintas.

Leon aprendera a odiar os cristãos, responsáveis pela expulsão dos muçulmanos de Granada; em sua vida adulta, como comerciante e diplomata, mostra-se um ser aberto, em transformação: aprende com os antigos inimigos e questiona seus próprios valores, sem necessariamente negá-los. O Capitão Mouro, por outro lado, é um guerreiro, que defende sua identidade muçulmana mesmo arriscando sua vida, e enfrenta os cristãos, apresentados em bloco, como hipócritas, brutais e ignorantes.

Bourdoukan tem um discurso idealizado e simplificado sobre a relação entre judeus e muçulmanos, afirmando que nunca aqueles foram perseguidos por estes em terras do Islã; Maalouf mostra que havia, sim, algumas perseguições aos judeus, mesmo que elas não fossem a regra.
Nestes romances, a compreensão da História não é mais a mesma que a do século XIX, por isso amplia-se a noção de fontes e são valorizadas vozes de seres tradicionalmente emudecidos nos relatos oficiais, como as mulheres e os escravos, por exemplo.

Além dos fatos históricos, os autores também exploram outras características da cultura árabe-muçulmana, especialmente o uso de histórias que ajudam a compreender um conceito (os chamados mathal). Também nos romances são apresentados costumes e rituais muçulmanos e cristãos, fazendo com que o leitor perceba as diferentes leituras do mundo possíveis.

Várias diferenças se evidenciam quando se faz a comparação das obras, e isso porque Bourdoukan e Maalouf têm projetos literários distintos. Em Léon, l´africain, Maalouf prega a tolerância e isso se revela no romance com a apresentação dos diversos ângulos da História; cria personagens complexos e que têm dúvidas. Nesse espaço criado pela dúvida, reside a possibilidade de Paz. Bourdoukan, por sua vez, defende a Justiça como forma de atingir a Paz, e, pelo excesso de críticas já presentes na mídia ocidental, evita apresentar aspectos negativos da cultura e da história árabe-muçulmana. Em A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, une os oprimidos contra os opressores; muda o conteúdo, não a estrutura da violência. O Islã vira um bloco sem problemas, à custa da exclusão de personagens e fatos que poderiam macular esta imagem.

Maalouf e Bourdoukan, cada um a seu modo, mostram como a literatura pode ampliar a visão de mundo dos leitores e propiciar intimidade com o outro, sem demonizá-lo. Para quem descobre o outro, esse pode ser o início de um relacionamento, com aceitação e interação cultural.

Este artigo é o resumo da tese de doutorado em Literatura Comparada “A tradução cultural em romances históricos: análise comparativa entre Léon, l´africain, de Amin Maalouf, e A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Georges Bourdoukan”, defendida na UFRGS, em 2009, com o apoio do CNPq.

Publicado originalmente no site do Instituto de Cultura Árabe -http://mail2.terra.com.br/86.1trr/reademail.php?id=27594&folder=Inbox&cache=da7bfaf6f9d8dba78990ba0bca687e74@ecmailing.ecomm.com.br

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Repercutindo o PNDH 3...

Afinal, o que é uma democracia sem direitos humanos?

Fatima Oliveira - O Tempo

As polêmicas acerca do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, tão-somente uma diretriz de trabalho, provocam uma efervescência neuronal em quem tem deferência pela liberdade e a vê como um valor que perpassa todas as gerações de direitos humanos. Os "contra" se despiram da noção de pluralismo moral e fazem de conta que os direitos humanos não são protetores da humanitude, "apenas acobertam deliquentes sem colarinho; camponeses em busca de um naco de chão; gays e lésbicas que se amam, e mulheres que ousam exercer o direito de decidir" - todos "gentinha da pior laia", sem selo humano. É desfaçatez em demasia!
A Igreja Católica, despudoradamente, insiste em querer imprimir ao Estado brasileiro ares de teocracia católica e não contém o ranço histórico de desrespeito à pluralidade inerente à democracia. O que dizer de figuras que defendem o acobertamento de crimes horrendos, a maioria de domínio público, quando é dever de ofício, são pagas para tanto, defender a plenitude democrática? É o striptease em defesa da inimputabilidade de agentes públicos pelos crimes cometidos na ditadura militar de 1964 tentando acuar uma nação.
Indago ainda por que permitir, irresponsavelmente, que a imagem da instituição e um contingente expressivo das Forças Armadas, a ala jovem e outros tantos, na ativa e na reserva, que não praticaram crimes, têm de herdar a pecha de criminosos? É injusto que nos calemos para que assim seja. A Comissão da Verdade libertará os inocentes da pesada cruz dos crimes cometidos por alguns fascistas e sociopatas de outros naipes.
Li o mais que pude os contra-argumentos veiculados. Fui tomada de uma espécie de intolerância ética pela irracionalidade verborrágica dos "contra" e de enorme gratidão à democracia possível em que vivemos, que dá voz aos desatinados, escancarando entranhas e mostrando quanta quilometragem temos de percorrer até a democracia necessária a uma vida decente, de respeito irrestrito aos direitos humanos.
Na condição de trabalhadora que constrói as riquezas nacionais e tem consciência de que o dinheiro público, fruto de cada tostão do suor de quem trabalha, irriga abundantemente, direta e indiretamente, a Igreja Católica no Brasil, assim como garante a existência e os salários das Forças Armadas, eu me pergunto: por que alguns se acham no direito de entravar as liberdades democráticas? A história da humanidade demonstra que não se constrói uma democracia consistente sobre escombros de crimes hediondos impunes e valores teocráticos. Logo, considero que o contido no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos é um passo decisivo para um país de fato de todos nós.
Ter ou não uma religião é um direito constitucional no Brasil. As religiões devem ser dignas dos papéis que as definem como religiões. Quando se metem a regulamentar a vida social e política para além dos seus fiéis e da garantia de livremente existirem, são nocivas à democracia. O que dizer de uma religião que vive de enganar, pois usa dupla identidade - ora se apresenta como religião, ora como Estado (o Vaticano) - ao sabor das conveniências, que prega e pratica a misoginia em pleno século 21; desconhece e desrespeita os direitos sexuais e os direitos reprodutivos de seu clero e de sua segunda divisão, as freiras, porém dá guarida a crimes clericais de natureza sexual; se comporta como se tivesse mandato divino sobre os corpos das mulheres, e ainda quer que as leis de um país laico sigam sua doutrina?
Que ridícula!
Duke

O PSOL e as eleições presidenciais...

Hora de decisão na esquerda socialista



Escrito por Fernando Silva - Correio da Cidadania  

 
O ano de 2010 começou e os gargalos da crise social e dos limites da política econômica já são bem visíveis.
 
No terreno social, as enchentes no sudeste e sul do país e o tremendo drama humano que as sucedem (já com mais de 200 mortos desde o início de dezembro) evidenciam de uma só vez três gargalos sociais que não há propaganda oficial ou oba-oba que consiga esconder: as questões da habitação, da infra-estrutura e da saúde pública. O Maranhão já tinha vivido o mesmo drama das enchentes no final do ano passado.
 
Na política econômica, o aumento do endividamento do Estado pela via da dívida pública e a volta dos déficits nas contas externas mostram por seu lado a vulnerabilidade da economia e a dependência do capital financeiro. Uma elevação das taxas de juros nos EUA, uma revalorização do dólar ou alguma nova bolha (e já existem novas ameaças no mercado) poderiam provocar abalos hoje impensáveis na atual estabilidade.
 
É certo que o capital e o governo controlaram a crise, que quando chegou ao país provocou uma mini-recessão em tempo recorde. Também é verdade que o cenário de estabilidade interna e a popularidade do governo Lula favorecem amplamente a que uma disputa sem projetos marque as eleições de 2010, com tendência bastante favorável à candidata do presidente.
 
Mas, pelas razões expostas acima e sem desconhecer as dificuldades para os que pretendem apresentar uma alternativa de esquerda real às mazelas sociais do país e sua política econômica, há condições e espaço para a afirmação de uma autêntica frente de oposição de esquerda anticapitalista em 2010, que parta das demandas e gargalos reais que afligem dezenas de milhões de brasileiros, para os quais não há solução estrutural alguma prevista no estágio atual do capitalismo e sua crise estrutural.
 
Tempo perdido
 
Aqui está o problema. Pois embora estejamos a menos de dez meses das eleições, esta questão não está resolvida no âmbito da esquerda socialista. Particularmente no PSOL.
 
Parte dessa indefinição deveu-se à política desastrosa da maioria da direção do partido em apostar suas fichas numa aliança com Marina Silva e o PV.
 
Possibilidade que nunca existiu pelas seguintes razões:
 
1) Marina não rompeu com a política econômica do governo Lula. Não por acaso filiou-se ao PV, que está na base de sustentação do governo federal e de governos estaduais tucanos e "democratas", além de declarar que considera positivo o modelo econômico e que Lula tenha dado continuidade ao que FHC começou.
 
2) Não por acaso também, levou para o PV um grupo de capitalistas e articula um deles como vice, mostrando para onde estava direcionada sua política de ampliação.
 
3) E vamos combinar que não há discurso ético que sobreviva à convivência na mesma sigla com membros da família Sarney (um dos mandatários da legenda verde).
 
No entanto, precisou Fernando Gabeira surgir no cenário, com aval de Marina, anunciando a política de coligação com PSDB/DEMO na sua candidatura ao governo do Rio, para que o grosso das forças dirigentes do PSOL praticamente descartasse as negociações com o PV.
 
Mas não existe vácuo em política e o tempo perdido pode custar caro à manutenção e ampliação de um espaço que por obrigação caberia ao PSOL aglutinar em torno de uma alternativa de verdade à polarização Dilma-Serra. Assim como, a essa altura do campeonato, aglutinar nossas forças para reeleger nossos combativos parlamentares e lutar por uma necessária ampliação das bancadas federal e estaduais, francamente ameaçadas.
 
Por exemplo, até aqui a conseqüência mais preocupante desta indefinição política foi o programa de rádio e TV do partido no último dia 7 de janeiro, que pecou pela completa ausência de política eleitoral, e ainda por cima pela injustificável ausência do então único pré-candidato próprio do partido à presidência, Plínio Arruda Sampaio.
 
Uma das principais personalidades da esquerda brasileira e uma das principais figuras públicas do próprio partido ter ficado fora do programa foi uma expressão (nada delicada) das inúteis e equivocadas ilusões que estavam sendo depositadas na hipótese Marina Silva.
 
Candidatura e campanha pra valer
 
Mas, ainda que correndo atrás de um prejuízo, há tempo e forças para o partido e a esquerda socialista retomarem a iniciativa e buscarem construir uma firme intervenção no processo eleitoral, apresentando o PSOL como uma verdadeira alternativa de esquerda - para além das eleições inclusive.
 
Da nossa parte, como é público, não temos dúvidas de que está no nome de Plínio a melhor possibilidade de apresentar com seriedade inquestionável uma política de oposição de esquerda pra valer ao jogo de cartas marcadas que se anuncia nessas eleições.
 
É inegável sua capacidade de aglutinação de uma frente de esquerda e de sua ampliação, como o recente apoio de Dom Cappio evidencia. A incorporação à defesa da pré-candidatura por companheiros de expressão em nosso partido, como o deputado estadual Marcelo Freixo e o vereador Renatinho (de Niterói), também demonstram que esta é uma candidatura de partido, de unificação e fortalecimento do PSOL.
 
Além da questão do nome, é urgente o partido definir sem mais adiamentos as bases de uma plataforma programática, tática e objetivos de campanha.
 
A plataforma deve ter como referência os pontos programáticos aprovados pelo Diretório Nacional de dezembro, que permitem construir um programa de campanha anticapitalista, que parta das demandas reais e bandeiras históricas não resolvidas pelo Capital e seus governos.
 
Estamos diante do desafio de realizar uma campanha que alavanque a inserção social do partido e contribua para a necessária manutenção e ampliação de uma bancada parlamentar socialista e combativa que no Congresso Nacional e nas assembléias legislativas sejam as porta-vozes das demandas, reivindicações e lutas populares.
 
Isso significa em termos muito práticos acabar com a enrolação no partido, realizar um democrático debate que permita definirmos essas questões em março, como previsto, sem qualquer adiamento. O que seria inaceitável, pois qualquer postergação agora é condenar o PSOL a ter uma candidatura sem expressão e tempo hábil de entrar na disputa, uma verdadeira candidatura "laranja" na prática. E de quebra contribuindo para sacramentar um cenário de fragmentação da frente de esquerda.
 
O PSOL tem, portanto, a responsabilidade de apresentar uma candidatura com densidade e história para unir a esquerda em um projeto socialista para o Brasil.
 
Fernando Silva é jornalista, membro do Diretório Nacional do PSOL e do Conselho Editorial da revista Debate Socialista.

Poesia para reflexão...

Perguntas de um Operário Letrado

Bertold Brecht


Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sózinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitòria.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Educação em Portugal caminha a passos lentos...

Educação: continuamos atrasados


do portal EsquerdaNet
Educação: em relação a outros países desenvolvidos, Portugal está no mesmo ponto de partida de há 50 anos. Foto movimentoescolapublica.blogspot.com.
Segundo a publicação do INE "50 Anos de Estatísticas da Educação", a generalização do acesso à escola foi o factor mais relevante nos últimos 50 anos. No entanto, o atraso na Educação face aos países desenvolvidos permanece igual.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) publicou esta quarta-feira "50 Anos de Estatísticas da Educação", em conjunto com o Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (GEPE). Segundo a publicação estavam matriculados em 1960/61 no sistema de ensino 1 086 115 alunos, mas em 2007/08 já eram mais de 1,8 milhões.
No entanto, segundo os especialistas consultados pelo jornal I, os dados do INE revelam que Portugal deu um salto gigante mas não suficiente para contrariar o atraso face aos países desenvolvidos que permanece igual. Mantemos a mesma distância de há 50 anos atrás, uma altura que remete para o tempo da ditadura.
O crescimento exponencial do número de alunos nas escolas regista-se sobretudo ao nível do ensino secundário e da educação pré-escolar, que registam durante aquele período mais 336 361 e 259 630 estudantes, respectivamente. Assim, o número de crianças no pré-escolar cresceu 40 vezes, a taxa de escolaridade no ensino secundário escalou de 1,3% para 60% e o acesso das raparigas ao ensino subiu 15%.
Os dados mostram que o país avançou muito entre 1960 e 2008 mas segundo a opinião do sociólogo do Instituto de Ciências Sociais, Manuel Villaverde Cabral, "Fartámos de correr, mas não conseguimos ainda apanhar o pelotão da frente".
O professor universitário Santana Castilho comenta do mesmo modo estes dados: "Houve uma massificação do acesso ao ensino, mas a qualidade não acompanhou essa evolução". A única conclusão a retirar da publicação do INE é que, há 50 anos, a Educação em Portugal apresentava características típicas de um país atrasado e ignorante e que apenas tem vindo a correr atrás do comboio do desenvolvimento, não conseguindo mais do que isso.
"O que me salta aos olhos é que o sistema educativo antes do 25 de Abril era realmente mau, porque 99% da população estava excluída da escola", disse desanimado o presidente da Associação de Professores de Português, Paulo Feytor Pinto perante os dados agora publicados.
O ensino secundário é um dos exemplo mais flagrantes do atraso português. De acordo com o INE, só 60% dos portugueses completaram o ensino secundário e essa é a percentagem de norte-americanos com habilitações superiores.
"Os países escandinavos, por exemplo, conseguiram recuperar o atraso face aos EUA e, na década de 60, 100% da população já estava escolarizada ao nível do secundário", conta Manuel Villaverde Cabral, o sociólogo e autor do estudo "Sucesso e Insucesso - Escola, Economia e Sociedade". Além disso, acrescenta ainda que "Nos Estados Unidos, a taxa de escolaridade até ao 12º ano era de 100% ainda antes da Segunda Guerra Mundial”, embora em Portugal “o ensino obrigatório até aos 18 anos só acontecerá a partir de 2013."
Todos os países desenvolvidos como França, Alemanha ou Espanha conseguiram taxas plenas de sucesso no ensino secundário em Portugal, 30 a 40% da população não consegue ir além do 9º ano. O sistema exclui sobretudo os que mais precisam, diz o sociólogo: "O insucesso escolar acontece principalmente no interior do País e nas periferias de Lisboa e Porto."
Duplicar ou até triplicar o investimento na educação poderá ser uma solução para apanhar o comboio da modernidade, propõe Villaverde Cabral que está convencido de que o atraso no sistema educacional "muito se deve" às elites governamentais que tomaram opções erradas e contribuíram para um modelo de ensino "ineficiente e dispendioso".
Paulo Feytor Pinto aponta o nível que considera apresentar maiores lacunas que diz continuar a ser o pré-escolar, com uma escolarização de 77,7% e critica ainda o facto de, mais uma vez , as estatísticas não distinguirem o abandono escolar de retenções. "A retenção é administrativa, o importante seria perceber que alunos saem da escola antes do tempo. Não conseguimos perceber se há uma melhoria ou não - faz-se o diagnóstico, mas não se traça a evolução."
A diferença verificada entre a taxa de escolarização aos 15 anos (99,7% em 2006/07) e a taxa de escolarização para o secundário (60% no mesmo ano lectivo) representa outra preocupação.
O professor universitário Santana Castilho admite que "o esforço do país na escolarização é notável, sobretudo nos últimos 30 anos", considerando, porém, que os números não podem ser lidos como um retrato fidedigno da educação em Portugal pois apenas transmitem "a quantidade, nunca a qualidade". As políticas de educação feitas para as estatísticas e o decréscimo da exigência do ensino para combater o abandono escolar são as suas críticas principais.
Os números não bastam e é por isso que Santana Castilho chama a atenção para o facto de no mandato de Maria de Lurdes Rodrigues, 20 mil alunos se terem matriculado no ensino profissional, comentando que “O preço de termos menos jovens a abandonarem a escola é que até se criaram cursos de treinador de futebol que dão equivalência ao 12º ano."
Somando número de alunos e número de docentes nas escolas portuguesas no ano lectivo 2006/2007, a publicação do INE mostra que existe hoje uma média de 9,75 alunos por cada professor. Um número que é considerado pelos investigadores como completamente desvirtuado pois bastará visitar algumas escolas para se ficar a saber que uma turma tem quase sempre muito mais de dez alunos.
“É preciso ter em conta que os professores do ensino especial ou a desempenhar tarefas administrativas também entram nesse cômputo, e que duas mil escolas - onde a relação professor/aluno era muito baixa - já fecharam", avisa Santa Castilho.
Na Alemanha ou França, as taxas no secundário são de 100% mas em Portugal, 30% da população não acaba o 9

Do portal Vermelho

Folha repete argumentos do DEM em manipulação contra centrais

A Folha de S.Paulo deixou mais evidente nesta quarta-feira (21) o que a levou a iniciar uma ofensiva contra o movimento sindical brasileiro. Ao utilizar, em seu editorial, parte dos argumentos que levaram o Democratas a entrar na Justiça contra as centrais sindicais, o jornal mostra que o apartidarismo tão destacado em seu Manual de Redação não passa de joguete publicitário.

O ataque às centrais é apenas mais uma das evidências de que o rabo preso da Folha não é com seu leitor, mas, sim, com as forças conservadoras do país — as mesmas que se referem ao regime militar como “ditabranda”, que têm ojeriza a um novo projeto popular para o Brasil e tampouco aceitam que o trabalhador brasileiro se organize, consiga se mobilizar e possa atuar de modo ativo na vida política brasileira.

“A dependência de recursos públicos desvirtua o sindicalismo”, clama o editorial da Folha. Além de repetir um dos argumentos infundados que levaram o DEM à Justiça contra as centrais sindicais, o jornal escorrega mais três vezes, já que (1) o repasse às centrais vem dos salários dos trabalhadores, e não do governo; (2) a CTB, por exemplo, se mantém a partir das mensalidades de seus filiados; (3) ao contrário do que apregoa o texto, esses repasses não desvirtuam o sindicalismo — na verdade, somente o fortalece e faz com que o protagonismo da classe trabalhadora seja cada vez mais elevado.

A tese descabida

A Folha vem tentando induzir seus leitores a acreditar que o governo está agindo à margem da lei para beneficiar algumas centrais sindicais. De acordo com a tese, o ministério teria revogado, através de portaria, norma que estabelece que cada central precisa contar com um mínimo de 7% dos sindicalizados no país em suas bases para ser reconhecida.

O que a Folha prefere ignorar é que representantes do Ministério do Trabalho já rebateram a afirmação do jornal, esclarecendo que o critério de representatividade de 7% passará a ser cobrado a partir de dezembro de 2010, conforme estaria previsto na lei.

Mais grave ainda: em seu editorial, a Folha — também conhecida como FSP, ou Força Serra Presidente — admite ter usado dados desatualizados como base para sua ofensiva. O texto fala em “manobra” em prol das centrais, mas a manipulação real tem como autor o próprio jornal, que insiste em informações ultrapassadas do Ministério do Trabalho para tentar atingir o governo federal e os trabalhadores.

Ofensiva deve aumentar

Fica evidente que o ataque do pasquim dos Frias, um dos principais expoentes do chamado PIG (Partido da Imprensa Golpista), tem como pano de fundo enfraquecer os movimentos sociais e o projeto do presidente Lula de eleger alguém da base de seu governo como sucessor, além de minar iniciativas progressistas como o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos.

Cabe, portanto, à sociedade civil permanecer alerta em relação a esse e a outros ataques que partirão da mídia hegemônica ao longo de 2010, de modo que cada ofensiva dessa natureza receba a devida resposta, dentro das regras democráticas e sempre em busca de que a verdade prevaleça contra quaisquer manipulações.

Leia abaixo o editorial da Folha

Lula e as centrais

Uma medida tramada na surdina pelo governo Lula deve garantir, ao menos ao longo do ano eleitoral de 2010, o direito de centrais sindicais nanicas à participação na divisão do bolo do imposto sindical.

Uma portaria do Ministério do Trabalho, de 2008, exigia, a partir deste ano, que uma central representasse ao menos 7% dos trabalhadores sindicalizados no país para ter direito aos recursos repassados pelo governo. Posta em prática, significaria o fim da benesse para três das seis centrais hoje reconhecidas.

Ao mesmo tempo, a lei que legalizou as centrais sindicais, também de 2008, previa um piso de representatividade menor, de 5%, até dois anos depois de sancionada, quando passaria a valer a exigência dos 7%. O prazo vence em março.

A manobra do governo consiste em revogar o trecho da portaria que estipulava o limite maior já em 2010 e, simultaneamente, interpretar que o novo piso só passa a valer em 2011, já que o prazo de 24 meses da lei cai "no meio de um exercício".

Enquanto isso, as centrais nanicas correm para incorporar novos sindicatos às suas siglas. É compreensível o esforço. Não há dados consolidados para 2009, mas, entre janeiro e julho, as entidades embolsaram R$ 74 milhões do imposto sindical.

A dependência de recursos públicos desvirtua o sindicalismo. Em vez de instrumento legítimo para negociações trabalhistas, a máquina sindical passa a servir aos interesses dos dirigentes que nela se encastelam.

Opera nesse campo um dos traços arcaicos da gestão Lula, que busca atrelar ao Estado, com repasses de verba e outros privilégios, vários grupos de interesse. Tal método tem custado caro ao país, tanto por pesar sobre o Orçamento quanto por desvirtuar os objetivos, e por comprometer a independência, de associações típicas da sociedade civil, como as centrais sindicais.
 

Fonte: Portal CTB

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Domingo Patricio - Flauta Flamenca - 2005



Flauta Flamenca - 2005


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1. Más lejos, más cerca (Taranta)
2. El Alfil (Alegrías)
3. Mareando la perdíz (Tangos)
4. Tío Bunyol (Rondeña)
5. Amigo eterno (Siguiriya)
6. Tacones y nudillos (Bulería)
7. Velocidad de crucero (Soleá por Bulería)
8. Casa Behrouz (Fandangos)
9. Rumba del Kiosko (Rumba)



Conciliar Plano de Direitos Humanos com o interesse das Forças Armadas é “inaceitável”

 Nessa entrevista ao Correio da Cidadania,  Alipio Freire levantas algumas questões que fizeram o PNDH3 causar tanta ira na direita retrógrada e conservadora de nosso pais.

"Lançado nos estertores de 2009, o 3º. Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) ganhou corpo no debate público apenas no início deste ano. Atacado pela mídia grande por todos os lados, o ponto nevrálgico do plano indiscutivelmente foi a idéia de se criar uma ‘Comissão da Verdade’ a fim de investigar e elucidar os crimes cometidos por agentes da ditadura que transcorreu de 1964 a 1985.
 
Em extensa entrevista ao Correio da Cidadania, o jornalista e ex-militante da Ala Vermelha Alípio Freire aponta Nelson Jobim, ministro da Defesa, como nefasto defensor dos interesses em tapar a história por parte das Forças Armadas. Além de lembrar de suas articulações para ocupar o atual cargo, lembra que o Jobim, antes de tudo, é um fraudador da Constituição, que, nas discussões do plano, atropelou os três poderes da república, o que culminou na retirada do termo ‘repressão política’ do texto do plano." 
 
Leia o texto na íntegra nesse endereço:: http://www.correiocidadania.com.br/content/view/4242/9/

Ebook inédito no Brasil.....

Livro de Daniel Bensaid inédito no Brasil disponibilizado para download

por Enlace

No ano em que se comemoram os 70 anos da fundação da Quarta Internacional e os 35 da formação da LCI (Liga Comunista Internacionalista), a publicação em português do livro de Daniel Bensaïd sobre os trotskismos não poderia ser mais oportuna. Como o próprio autor afirma na nota introdutória: “Apesar de algum recuo relativo e do esforço de compreensão distanciada que procurei ter, não pretendo ter escapado à subjectividade inerente às experiências e comprometimentos pessoais”. Para Daniel Bensaïd, não se trata pois de elaborar uma história das correntes trotskistas, mas sim “de dar sentido às controvérsias políticas e teóricas que marcaram esta história agitada”.
Como parte das homenagens ao companheiro e marxista revolucionário Daniel Bensaid, disponibilizamos em versão completa para download o livro Trotskismos.
Para ter acesso ao livro, é só clicar em http://www.enlace.org.br/documentos-enlace/trotskismosdb.pdf/view

O Haiti, na visão de Eduardo Galeano...

Os pecados do Haiti


por Eduardo Galeano
'Loteria', de Yordan Dabady. A democracia haitiana nasceu há um instante. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e doentia não recebeu senão bofetadas. Era uma recém-nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raoul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de haver posto e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos retiraram e puseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que tivera a louca ideia de querer um país menos injusto.


O voto e o veto


Para apagar as pegadas da participação estado-unidense na ditadura sangrenta do general Cedras, os fuzileiros navais levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para recuperar o governo, mas proibiram-lhe o poder. O seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, mas mais poder do que Préval tem qualquer chefete de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha eleito nem sequer com um voto.


Mais do que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum dos seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, letras aos analfabetos ou terra aos camponeses, não recebe resposta, ou respondem ordenando-lhe:
– Recite a lição. E como o governo haitiano não acaba de aprender que é preciso desmantelar os poucos serviços públicos que restam, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores dão o exame por perdido.


'Cavalheiro bem apessoado', de Pierre Louis Riche. O álibi demográfico


Em fins do ano passado, quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Mal chegaram, a miséria do povo feriu-lhes os olhos. Então o embaixador da Alemanha explicou-lhe, em Port-au-Prince, qual é o problema:
– Este é um país superpovoado, disse ele. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.


E riu. Os deputados calaram-se. Nessa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou os números. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, mas está tão superpovoado quanto a Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilómetro quadrado.


Durante os seus dias no Haiti, o deputado Wolf não só foi golpeado pela miséria como também foi deslumbrado pela capacidade de beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que o Haiti está superpovoado... de artistas.


Na realidade, o álibi demográfico é mais ou menos recente. Até há alguns anos, as potências ocidentais falavam mais claro.


A tradição racista


Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objectivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros. Então Robert Lansing, secretário de Estado, justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar-se a si própria, que tem "uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização". Um dos responsáveis da invasão, William Philips, havia incubado tempos antes a ideia sagaz: "Este é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que haviam deixado os franceses".


'A reunião', de Aland Estime. O Haiti fora a pérola da coroa, a colónia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com mão-de-obra escrava. No Espírito das leis, Montesquieu havia explicado sem papas na língua: "O açúcar seria demasiado caro se os escravos não trabalhassem na sua produção. Os referidos escravos são negros desde os pés até à cabeça e têm o nariz tão achatado que é quase impossível deles ter pena. Torna-se impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num corpo inteiramente negro".


Em contrapartida, Deus havia posto um açoite na mão do capataz. Os escravos não se distinguiam pela sua vontade de trabalhar. Os negros eram escravos por natureza e vagos também por natureza, e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir o amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrava o menor entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão científica: "Vagabundo, preguiçoso, negligente, indolente e de costumes dissolutos". Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, havia comprovado que o negro "pode desenvolver certas habilidades humanas, tal como o papagaio que fala algumas palavras".


A humilhação imperdoável


Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos haviam conquistado antes a sua independência, mas tinha meio milhão de escravos a trabalhar nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era dono de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.


'Lavadeiras', Watson Etienne. A bandeira dos homens livres levantou-se sobre as ruínas. A terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate. Então começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém lhe comprava, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia.


O delito da dignidade


Nem sequer Simón Bolíver, que tão valente soube ser, teve a coragem de firmar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar havia podido reiniciar a sua luta pela independência americana, quando a Espanha já o havia derrotado, graças ao apoio do Haiti. O governo haitiano havia-lhe entregue sete nave e muitas armas e soldados, com a única condição de que Bolívar libertasse os escravos, uma ideia que não havia ocorrido ao Libertador. Bolívar cumpriu com este compromisso, mas depois da sua vitória, quando já governava a Grande Colômbia, deu as costas ao país que o havia salvo. E quando convocou as nações americanas à reunião do Panamá, não convidou o Haiti mas convidou a Inglaterra.


Os Estados Unidos reconheceram o Haiti apenas sessenta anos depois do fim da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um génio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são primitivos porque têm pouca distância entre o umbigo e o pénis. Por essa altura, o Haiti já estava em mãos de ditaduras militares carniceiras, que destinavam os famélicos recursos do país ao pagamento da dívida francesa. A Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indemnização gigantesca, a modo de perdã por haver cometido o delito da dignidade.


A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental.



O original encontra-se em www.resumenlatinoamericano.org , Nº 2146

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Arte ucraniana...

Ucraniana emociona com arte que retrata segunda Guerra Mundial 


A artista ucraniana, Kseniya Simonova, participou de um show de talentos na televisão de seu país. Usando uma caixa de luz, imaginação e cratividade, ela produz animações com areia. De forma emocionante, dramatiza a invasão e ocupação da Ucrânia pela Alemanha, na segunda Guerra Mundial. Veja o vídeo indicado pelo colaborador Alberto que apresentamos no último dia do ano.


A União Europeia e o Haiti....

O Haiti e a Proteção Civil da UE



Renato Soeiro
No apoio ao Haiti, que o mundo comovido e solidário se apressou a dar, a União Europeia mais uma vez é quase totalmente invisível. É claro que os Estados Unidos, o Brasil e outros países da região estão muito mais envolvidos do que os europeus, o que é natural dada a proximidade, mas é também um facto que vários países europeus estão a prestar uma ajuda significativa nesta operação de socorro. No entanto, ao vermos os relatos televisivos vindos do Haiti, todos reparamos nas marcas bem visíveis da "US AID" e outras, mas o mesmo não acontece com a "EU AID". Porquê? Porque ela verdadeiramente não existe enquanto tal.
Agora, com o caso do Haiti, é possível que a questão da organização da protecção civil da UE volte a ganhar maior relevo e acuidade no debate político europeu, como aconteceu anteriormente após outros terramotos ou outras grandes catástrofes naturais, nomeadamente na sequência do tsunami na Ásia, do furacão Katrina na América, de inundações em vários pontos do globo ou dos últimos grandes fogos florestais na Grécia.
Qual é a situação actual da União Europeia nesta matéria? Apesar de todos concordarem ser fundamental o apoio às populações neste campo, a UE sempre esteve em atraso em relação à realidade e não assumiu verdadeiramente as suas responsabilidades. A coordenação europeia da assistência às populações em caso de desastres de grandes proporções foi estabelecida há apenas uma década, o que revela a baixa prioridade atribuída a esta acção, se comparada com outras políticas e actividades da União.
Temos hoje um Mecanismo Comunitário de Protecção Civil, onde participam 30 países, que foi criado em 2001 e reformulado por uma decisão do Conselho em 2007, sob presidência portuguesa. Os seus principais instrumentos são um Centro de Informação e Vigilância (CIV) onde são recebidos os pedidos de ajuda e que centraliza e distribui a informação, um Sistema Comum de Comunicação e Informação de Emergência (CECIS) que facilita as comunicações dos países e das forças envolvidas numa operação de emergência, um Programa de Formação que inclui a realização de exercícios conjuntos e a fomenta a troca de experiências e de conhecimentos, e finalmente os Módulos de Protecção Civil, módulos especializados em diferentes tipos de tarefas (no final de 2010 poderão existir mais de uma centena destes módulos), constituídos por recursos de um ou vários países, numa base voluntária, que são organizados a nível dos Estados-Membros e ficam sob sua direcção e comando.
Este Mecanismo facilita e coordena a ajuda dos Estados-Membros, mas a União, enquanto tal, não presta essa ajuda. Ora, a União Europeia, pela sua dimensão, pela sua reconhecida competência técnica e pela sua capacidade humana e financeira, poderia e deveria hoje ter uma presença mais marcante e muito mais útil na ajuda às populações mas, para que isso se torne possível, terá de ser adoptada uma perspectiva mais ambiciosa do que a que hoje existe, ultrapassando a fase de mera coordenação dos diferentes meios e das forças de protecção civil dos Estados-Membros.
Já é tempo de procedermos à criação de uma Força de Protecção Civil da UE, uma força própria, com recursos humanos e logísticos próprios e sempre disponíveis para intervir em qualquer ponto da União e em qualquer local do mundo onde a sua acção possa ser útil. Na sequência dos grandes incêndios do Verão de 2007 na Grécia, o Parlamento Europeu mostrou-se sensível ao apelo de criação desta força. Mas nunca foram dados os passos necessários. Talvez a catástrofe do Haiti e a quase ausência da UE, enquanto tal, no esforço internacional de ajuda possa dar o impulso decisivo para finalmente avançarmos.
Em regra, os grandes desastres são esporádicos e localizados, embora as mudanças climáticas possam vir a alterar este padrão no que se refere às catástrofes naturais. Por exemplo, um grande derrame de crude no mar, como aconteceu com o acidente do Prestige na Galiza, tem uma probabilidade ínfima de coincidir com outro evento do mesmo tipo noutro ponto da Europa e mesmo do mundo. A protecção civil deve estar equipada com todos os meios necessários para um combate rápido e eficaz à poluição catastrófica causada por estes acidentes, mas não seria uma opção racional que todos os países da UE com costa marítima tivessem de fazer o seu próprio investimento para estarem plenamente preparados para esta eventualidade. Esses países podem sentir-se suficientemente assegurados se esta Força de Protecção Civil da UE estiver bem preparada, bem equipada e bem financiada, de forma a poder, em articulação com os meios da Agência Europeia de Segurança Marítima, intervir de forma eficaz a qualquer momento em qualquer lugar. O investimento global seria muito menos pesado do que a soma dos investimentos individuais dos diferentes países e os resultados seguramente muito mais satisfatórios.
O mesmo se pode dizer em relação aos outros tipos de desastres de grandes dimensões. É óbvio que esta Força europeia de Protecção Civil não dispensa a existência de forças de protecção civil dos vários países, das regiões e das cidades, o que pode é dispensar estas forças de investirem na resposta de larga escala a certo tipo de acontecimentos raros e extremos.
Dificuldades nos transportes (como agora se viu) podem ser uma das principais limitações à prontidão e capacidade operacional da protecção civil. À escala da UE (diferentemente da escala nacional), a aquisição de todos os meios de transporte necessários para as acções de ajuda rápida faz todo o sentido. Por aquisição deve entender-se não apenas a compra, mas também a alocação a esta Força, a título permanente, de meios já existentes nas forças armadas dos Estados-Membros e que se considere viável transferir para a EU AID.
Não seria necessário construir esta Força a partir do zero se os Estados-Membros se decidissem a contribuir para a sua constituição com uma parte das suas forças armadas, reconvertidas para as tarefas de protecção civil. Portugal pode fazê-lo sem grande esforço. A perspectiva de o nosso país ser invadido ou atacado militarmente é tão baixa como a probabilidade de virmos a decidir invadir ou atacar outro país. Assim sendo, uma parte dos nossos efectivos e equipamentos militares poderia muito bem ter a sua missão reorientada para a protecção civil europeia. Passariam a ter uma vida mais dinâmica e muito mais útil à comunidade, sem pesarem mais no orçamento. É claro que ter-se-ia de investir mais em navios de despoluição e menos em submarinos, mais em tanques de água e menos em tanques de guerra, mais em hospitais de campanha e menos em metralhadoras.
Apesar destas transferências, seria ainda necessário um adequado financiamento europeu. No entanto, as verbas atribuídas à nova Força de Protecção Civil da UE seriam certamente um dos capítulos mais consensuais do orçamento europeu, um dos investimentos que poderiam ter maior impacto na qualidade de vida das populações e também na percepção que estas têm utilidade concreta da UE.
Se todos os Estados-Membros contribuíssem com uma parte das suas forças armadas reconvertidas e se se dispusesse ainda de um orçamento comunitário adequado, a UE passaria a dispor a curtíssimo prazo da maior força de protecção civil do mundo, e a EU AID seria uma grande potência mundial de soldados da paz. Conjugada com a ajuda humanitária, esta Força permitiria a projecção de uma imagem positiva da UE junto de todos os povos do mundo e faria mais pela nossa política externa do que anos de diplomacia e de acordos de parceria económica de intenções duvidosas. A nossa Força de Protecção Civil da UE seria ainda um apoio importante para as Nações Unidas e todos os esforços internacionais nesta área.
Internamente à UE, o efeito seria também enorme na opinião pública. Quando se fala no valor acrescentado da União relativamente aos Estados-Membros, talvez seja difícil encontrar outra área de actividade em que esse valor acrescentado possa ser tão evidente, seja quando a Força de Protecção Civil da UE actue como força principal, seja quando funcione como reforço ou fornecedor de recursos complementares às forças nacionais de protecção civil.
Renato Soeiro

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sobre o Haiti.....

 
A gente do Haiti é gente de muito valor. Foi o único país, no mundo, em que os escravos fizeram uma revolução contra seus senhores e venceram. Foi em 1791, logo depois da revolução francesa. A ilha caribenha ferveu em desejos de liberdade e o povo armado - mais de 500 mil negros num espaço onde viviam apenas 32 mil brancos - botou os colonizadores franceses para correr. Toussaint de Loverture, Dessalines, Alexandre Pétion. Gigantes da luta de libertação que, com suas idas e vindas, erros e acertos, fizeram do Haiti, com a força das gentes, uma nação livre, digna, soberana. Primeiro país abaixo do Rio Bravo a se fazer independente em 1801. Petión acolheu Bolívar e foi o responsável pela virada na cabeça do libertador. Deu a ele guarida, ajuda e só pediu em troca que ele libertasse os escravos da América do Sul. Bolívar mudou.

Mais tarde, as lutas intestinas revolveram o país e várias lideranças passaram pelo poder, até que no início do século XX o mal fadado vizinho do norte, os Estados Unidos, decidiu intervir no país para cobrar dívidas, uma história muito conhecida pelos países latino-americanos. Desde aí, o povo do Haiti sofreu fortes reveses, culminando com a dinastia Duvalier, sanguinária ditadura de pai e filho, que perdurou de 1957 até 1986. Regime de terror, tortura e perseguições, enfrentado com valentia pela população, que pagou caro por isso. A esperança veio em 1990 quando o povo elegeu Jean Aristide, um padre ligado a teologia de libertação. Mas, de novo, os Estados Unidos meteu o bedelho na vida do país, evitando que por ali tremulasse alguma bandeira vermelha. A eles, no Caribe, já bastava Cuba. Sem grandes riquezas para serem cobiçadas, a gente do Haiti sofreu “preventivamente”. Em 2004, depois de idas e vindas, com o apoio dos EUA, Jean Aristide se elege novamente, mas é deposto em seguida por um golpe, igualmente apoiado pelos EUA, mergulhando novamente o país num caos político.

É quando entram as “forças de paz” da ONU, ocupando o Haiti a pedido dos Estados Unidos. Vários países, tendo Brasil à frente, enviaram suas tropas, alegando que estavam ajudando a manter a ordem, De novo, o povo do Haiti ficava sob a tutela das armas alheias, como se não fosse capaz de definir por si mesmo o seu destino. Desde aí o país está ocupado militarmente, com denúncias diárias de mortes, torturas, estupros, violências de toda ordem. Morte diária, cotidiana, naturalizada. Estas não saem nos jornais. Contra elas não gritam os Casoys, os Bonners e outras bocas alugadas.

Agora, não bastasse toda esta história de dominação, o Haiti sofre uma tragédia natural, uma a mais, nem tão natural, já que é resultado da destruição que vem sendo imposta ao planeta pela ganância dos donos do capital. Milhares de pessoas estão mortas, ceifadas num único dia. Tragédia massiva. Então os jornais se inundam de matérias sobre a ajuda humanitária. Países de todas as cores enviam remédios, alimentos. A Globo e CNN destacam a ajuda estadunidense, “governo tão bom”, o mesmo que deixou a míngua os atingidos do Katrina. As pessoas choram diante da TV, organizam ajuda solidária nos seus bairros, observam aliviadas a humana bondade da França, da Alemanha e até do FMI (pasmem) que decidem doar alguns punhados de dólares. Falam ainda da providencial presença dos “cascos azuis”, soldados da ONU, que estão ajudando no resgate das vítimas, no auxílio aos feridos, etc...

Sim, me compadeço com a tragédia haitiana deste triste 13 de janeiro. Mas, com Venezuela, com Cuba e com outros tantos lutadores sociais tenho feito isso desde que as forças da ONU entraram no país a pedido dos EUA. Contra Lula gritando pela retirada das tropas, e com Fidel e Chávez, entendendo que se alguma ajuda precisava o povo da ilha caribenha era a de médicos, engenheiros, professores, dentistas, enfim, gente que amparasse e fortalecesse as gentes. Não soldados armados para reprimir, matar, mutilar, torturar, estuprar. Doem em mim, sim, as mortes massivas deste dia 13, mas me doem também, com igual força, as mortes cotidianas, recorrentes e naturalizadas no Haiti, no Afeganistão, no Rio de Janeiro, em São Paulo, na periferia de Florianópolis. A ajuda humanitária nestes dias de inferno pós-terremoto não pode ser uma mera musculação de consciência daqueles que doam um quilo de arroz e dormem tranqüilos. Há que se comprometer com a proposta de mudança e libertação. A tragédia haitiana é muito maior do que este terremoto de 13 de janeiro. O terremoto da dependência, da subordinação, da superexploração do trabalho, da ocupação armada é cotidiano, e já dura tempo demais. O país está em escombros e não é de hoje. Ajudar as vítimas da catástrofe do tremor é urgente e necessário, mas não dá para saudar os algozes. Estes que posam de bons moços, enviando alguns dólares, são os responsáveis pelo terremoto cotidiano. Isso não podemos esquecer!

Denúncia ao imperialismo marca a semana na Bolívia





La Paz (Prensa Latina
 
A apresentação do livro "Evo na mira: CIA e DEA na Bolívia", da escritora argentina Stella Calloni, foi palco na semana que se encerra hoje para denunciar planos de ingerência dos Estados Unidos na nação sul-americana.


Em um emotivo encontro, celebrado na quinta-feira passada na cidade de Cochabamba, Calloni apresentou sua mais recente pesquisa diante do presidente Evo Morales, de outras autoridades do governo e de centenas de bolivianos.
Em suas palavras introdutórias, a destacada jornalista destacou que desde a década de 1950, os Estados Unidos entraram com força na nação andina com seus organismos de inteligência, marcando o início do que se tornaria com o tempo uma ingerência eterna.
Para a escritora, a intromissão imperialista, continuada pela invasão neoliberal, produziu uma série de rebeliões inevitáveis que receberam o melhor da resistência no Estado andino desde a época em que o líder indígena Túpac Katari dirigiu a primeira rebelião contra o colonialismo espanhol.
"Nessas circunstâncias nasceu o que é hoje um modelo de país para a América Latinoa, liderado por Morales, que tem tomado para si essas lutas e desafiado o neocolonialismo", afirmou a prolífica jornalista nas palavras introdutórias do último de seus textos.
Calloni destacou que quando o dirigente cocaleiro assumiu a presidência boliviana em janeiro de 2006, já tinha estado na mira de uma série de atentados, espionagens e conspirações, que o tinham convertido em um alvo permanente dos Estados Unidos.
A postura firme do primeiro presidente indígena da Bolívia e a resistência de seu povo - afirmou Calloni - ajuda a desmascarar a face escura de um império em decadência.
Calloni é reconhecida por seu profundo conhecimento da história política da América Latina e em particular por seu trabalho sobre o Plano Côndor, uma rede de espionagem conformada pelas ditaduras do Cone Sul na década dos anos 1970 e 1980.
Na noite de apresentação de "Evo em mira", o mandatário referiu-se a detalhes sobre atentados dos quais foi objeto por organismos estadunidenses durante sua carreira política e sindical de 20 anos, desde 1985 até 2005, quando ascendeu por eleição popular à presidência de Bolívia.
"O império tem dois métodos de eliminar os líderes que lutam por seus povos. Um deles é exclui-los do palco político acusando-os de sediciosos e outro é eliminá-los fisicamente", assinalou o governante.
Ao referir-se ao livro, Morales recordou episódios em que, desde policiais e militares até legisladores e cocaleiros lhe alertaram para fugir a tempo de emboscadas destinadas a acabar com sua vida.
Nesta semana também foi notícia na Bolívia a apresentação de plano de investimentos programado para a petroleira Yacimientos Petrolíferos Promotores Bolivianos (YPFB), que chegam a 11 bilhões de dólares em cinco anos.
De acordo com o chefe de Estado, os novos projetos programados colocarão a entidade estatal no nível de grandes empresas latino-americanas.
"Sonho com que nossa estatal petroleira esteja em pouco tempo no nível das petroleiras Petróleos de Venezuela Sociedade Anônima (PDVSA) ou Petróleos Brasileiros (PETROBRAS)", manifestou, ao conhecer o plano da entidade para o período 2010-2015.