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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Breve notícia da Europa
Dois anos após França e Holanda rejeitarem o projeto constitucional da UE, Berlusconi, Aznar, Chirac, Shroeder e Blair foram embora e o futuro da Europa está nas mãos de Angela Merkel, Gordon Brown e Nicolas Sarkozy. A Europa está cada vez mais parecida com sua longa história. A análise é de José Luís Fiori.
José Luís Fiori*
Do outro lado do Canal, o novo presidente frances, Nicolas Sarkozy, empossado no mês de maio, já fez declarações e tomou decisões que colocam a França em confronto direto com a Alemanha, e com quase todos os seus pares da UE. Numa mesma semana, anunciou a decisão de atrasar o cumprimento francês do acordo de eliminação dos déficits orçamentários, estabelecido para 2010, e de levar a frente políticas protecionistas, para defender o emprego dos franceses ameaçado pela globalização liberal. E o que foi mais grave, defendeu a politização da política monetária do Banco Central Europeu, que segundo ele, deveria se submeter à uma estratégia européia de longo prazo, Além disto, a nova ministra da fazenda, Chistine Lagarde, conclamou os banqueiros e financistas a trocarem os Estados Unidos e a Grã Bretanha pela França, para transfomar Paris num grande centro financeiro global, situado na liderança de uma “economia nacional vibrante”, e em declarada competição com Londres e Frankfurt.
A resposta alemã foi imediata e dura: seu ministro da Fazenda, o social-democrata Peer Steinbruck, declarou em Bruxelas, no dia 10 de julho, com tom de deboche, que “ele não tinha nada contra o fortalecimento da moeda européia, pelo contrário, ele amava o euro forte”. E além disto, afirmou em tom mandatório, que todos os estados membros da UE terão que “zerar seus déficits orçamentários até 2010, sem nenhuma exceção”. A própria ministra Angela Merkel saiu à luz e deu uma entrevista seca à televisão alemã, exigindo que o presidente francês “pare de desestabilizar o euro, e a independência do Banco Central Europeu”. E deixou circular, paralelamente, a informação de que seu governo está preparando uma legislação especial - igual a que há nos EUA, Grã Bretanha e França - para impedir a desnacionalização de setores econômicos estratégicos para a segurança nacional alemã, como as telecomunicações, a energia e o setor bancário.
Paradoxalmente, esta briga está clarificando o cenário, depois de dois anos de pasmaceira generalizada. O governo de Angela Merkel unificou a elite política e empresarial alemã, e passou à ofensiva, assumindo a liderança agressiva da unificação européia, e da ocupação econômico-financeira da Europa Central. Além disto, acelerou seu projeto de integração econômica com a Rússia, independente do resto do continente, e voltou à sua posição de sheriff do rigor fiscal e monetário dos demais países europeus, com uma retórica econômica ortodoxa e liberal, característica das potências hegemônicas. Mas o jogo não terminou, e a França parece disposta a dobrar sua aposta. Enquanto Angela Merkel criticava o governo francês, o presidente Sarkozy viajou para a Argélia e a Tunísia, e propôs a criação de uma União Mediterrânea, incluindo os países da costa norte-africana, e a Turquia, sob a liderança francesa, e de costas para a Europa germânica, e para o “global hub” britânico. E ao mesmo tempo, no dia 12 de juilho, liderou um manifesto dos países mediterrâneos da UE, favorável à mudança da posição ocidental, frente à questão palestina, por cima das decisões e instâncias oficiais de Bruxelas.
Cabe saber se a França tem bala na agulha para sair do plano retórico. Mas de qualque maneira, é certo que o distanciamento entre a Alemanha, a França e a Grã Bretanha está se confirmando também no plano da disputa energética. A AIE difundiu nos últimos dias, um informe prevendo problemas graves de oferta de petróleo e gás, nos próximos cinco anos, e o aumento contínuo da sua demanda e dos seus preços. E frente a isto, cada uma das potências européias está buscando solução pelo seu lado: a França, com o petróleo do norte da África; a Grã Bretanha, com o dos países nórdicos; e a Alemanha, com o petróleo e gás, da Rússia.
Como se não fosse pouco, os Estados Unidos insistem em instalar seu “escudo anti-mísseis” na Polônia e Republica Checa, e não abrem mão da independência do Kosovo. Com isto os norte-americanos conseguem irritar a Rússia, e recolocá-la na tradicional posição do “príncipe negro”, que assusta os europeus, desde os tempos de Ivan o Terrível. Primeiro, os russos falaram em abandonar o Tratado das Forças Convencionais na Europa, assinado em 1990. Mas agora, o governo Putin anunciou que responderá ao “escudo” norte-americano, com a instalação de um novo sistema de foguetes em Kalingrado, o enclave russo situado entre a Lituânia e a Polônia, que já foi a capital da Prussia Oriental e terra natal de Immanuel Kant, o filósofo da “paz perpétua”. Todos estes movimentos lembram passos de um minueto, simétricos e previsíveis. Mas não há dúvida que a Europa voltou a se mexer, e está cada vez mais parecida consigo mesmo e com sua longa história passada. Até o papa alemão resolveu entrar na dança, e atacar os protestantes e a Igreja Anglicana, por conta de antiquíssimas divergencias teológicas. Mas neste ponto, pelo menos, a imprensa e todos os governos europeus estão de acordo: como já está se transformando num hábito, uma vez mais, o papa dos católicos exagerou na dose.
* José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Artigo publicado originalmente em espanhol, na revista Sin Permiso, da qual José Luís Fiori faz parte do Conselho Editorial.
* José Reinaldo Carvalho
Na primeira etapa da visita, os secretários de Bush reuniram-se em Sharm el-Sheikh, no Egito, com representantes da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Qatar e Kuwait.
A missão teve três objetivos, todos relacionados com a aplicação do plano de reestruturação do Oriente Médio, a prioridade do segundo mandato de George W. Bush.
O primeiro objetivo foi conseguir apoio para estabilizar o Iraque. Mais de quatro anos depois de iniciada a guerra de agressão, o imperialismo norte-americano colhe um retumbante fracasso. O Iraque se insurgiu, as forças patrióticas foram capazes de organizar uma tenaz resistência, que inflige pesadas perdas humanas e materiais aos agressores (ver artigo “Por que os EUA perderam”, de Abdul al-Bayaty e Hanna al-Bayaty em www.cebrapaz.org.br).
É muito limitada a capacidade de ação desses países árabes no conflito iraquiano. Por mais reacionários e pró-americanos que sejam, um envolvimento direto desses países ao lado das forças de ocupação atiça ainda mais o nacionalismo árabe, resultando no efeito contrário ao esperado.
Os emissários de Bush levaram na bagagem um pacote de ajuda militar para a aquisição de armamentos e tecnologia, no valor de 20 bilhões de dólares a serem negociados com a Arábia Saudita e outros países. Ao Egito e Israel os belicistas estadunidenses ofereceram um pacote de ajuda militar da ordem de 43 bilhões de dólares. A mensagem é clara. Os Estados Unidos estão apostando em mais militarização da região, o que, independentemente de qualquer intenção proclamada, redundará em maior instabilidade.
O segundo objetivo foi fazer com que esses países exerçam pressão sobre o Irã no sentido de desencorajar a continuidade do programa nuclear desse país. Ora, o Irã já sofreu duas resoluções da ONU ameaçando aplicar sanções caso não suspenda o programa nuclear, mas a atitude de Teerã é inabalável, não havendo qualquer sinal de que vá submeter-se aos ditames de Washington. Disso se conclui que o exercício de pressões sobre o Irã seja por parte dos Estados Unidos ou de interpostas forças também só acarretará mais instabilidade na região.
O terceiro objetivo relacionou-se com a Palestina. Rice buscou envolver seus aliados nos esforços para organizar uma conferência de “paz” no final do ano. Também nesse aspecto os resultados tendem a ser pífios. A tática de distribuir migalhas tem por resultado o aprofundamento das divisões entre as diferentes forças que atuam naquele cenário. A tentativa de isolamento, cerco e aniquilamento do movimento Hamas, que venceu as eleições, conduzirá a mais dilacerações, portanto a mais guerra, nunca à paz nem à criação de um verdadeiro Estado Palestino. Além do que, é indefectível a posição pró-israelense do governo Bush.
Quem deu o principal argumento para atestar o fracasso da missão de Rice e Gates foram os próprios, quando proclamaram quem são os inimigos principais dos Estados Unidos na região: a Síria, o Irã, o Hezbolá e o Hamas. A Síria e o Irã são dois países soberanos e não dão mostras de estar dispostos a renunciar aos seus objetivos nacionais. Atacá-los militarmente cobraria um preço altíssimo que os EUA não estão em condições de pagar na presente situação.
Quanto ao Hezbolá e ao Hamas, são dois movimentos de resistência que já estão nos campos de batalha. A amarga experiência israelense, derrotado pelo Hezbolá durante a guerra de julho-agosto do ano passado, indica que se trata de uma força difícil de aniquilar, pela sua capacidade de combate, pelas profundas raízes que deitou no seio da população libanesa e pelo imenso prestígio de que desfruta em todo o mundo árabe.
Quanto ao Hamas, desalojá-lo à força das posições que conquistou poderá representar uma tragédia humanitária numa Palestina já martirizada há muitas décadas.
Assim, é mais provável que, ao invés de alcançar os objetivos anunciados, o resultado da missão de Rice e Gates seja uma mais nítida caracterização do imperialismo norte-americano como o inimigo principal dos povos do Oriente Médio.
* José Reinaldo Carvalho é jornalista, secretário de RR II do PCdoB
quinta-feira, 9 de agosto de 2007
Uma entrevista sobre Gramsci
Professor de Filosofia Política na Universidade de Roma III, diretor da Fundação Lelio Basso e membro do Collège International de Philosophie (Paris), Giacomo Marramao há décadas reflete sobre os temas e problemas da esquerda. Ficaram famosos os ensaios que escreveu nos anos 70 sobre os desafios da esquerda austríaca e alemã. Marramao é, também, um grande conhecedor de Antonio Gramsci, e, neste ano em que se completam 70 anos da sua morte, aqui reflete sobre o legado gramsciano.
Marramao já é bem conhecido do público brasileiro. Entre seus livros traduzidos, estão O político e as transformações (Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1990); Poder e secularização (São Paulo: Unesp, 1995); Céu e terra (São Paulo: Unesp, 1997) e Fragmento e sistema. O conflito-mundo de Sarajevo a Manhattan (Lisboa: Fim de século, 2003), com Angelo Bolaffi.
Abaixo, publicamos a versão integral, com alguns acréscimos e modificações, da entrevista publicada originalmente em Carta Capital do dia 9 de maio de 2007, com tradução de Roberta Barni. A entrevista foi conduzida pelos professores Walquíria Domingues Leão Rego e Luiz Gonzaga Belluzzo.
Qual é a principal originalidade do pensamento de Gramsci dentro da tradição marxista?
A originalidade de Gramsci em relação à tradição marxista da Segunda e da Terceira Internacional deve ser buscada sobretudo em dois aspectos: a análise do poder e o papel dos intelectuais. Em relação ao primeiro aspecto, deve-se sublinhar a enorme extensão que o conceito de poder termina por assumir: Gramsci compreende-o como uma função complexa, não redutível ao monopólio estatal da força. O instrumento analítico ou, se se prefere, a chave interpretativa de que se vale a este propósito é dada pelo par Oriente-Ocidente (sob o qual se oculta o contraste entre a Rússia e a Europa Ocidental). Em sociedades caracterizadas por um elevado grau de diferenciação social, como as sociedades liberal-capitalistas da Europa industrial, o poder apresenta uma articulação e difusão “molecular” estranha à lógica despoticamente simplificada da Rússia czarista.
Compreende-se, portanto, a razão pela qual muitos consideraram perceber neste aspecto da reflexão gramsciana uma analogia com a analítica do “poder difuso” desenvolvida algumas décadas mais tarde por Michel Foucault. Com efeito, para Gramsci o poder não pode ser conquistado com um “ato único”, como a tomada do Palácio de Inverno por parte de Lenin. Ao contrário, o complexo sistema de relações no qual o poder se realiza e se exerce pressupõe uma longa luta pela hegemonia, definida na célebre fórmula: “força + consenso”. Mas — e com isso chegamos ao segundo aspecto — a organização do consenso não pode ocorrer sem a mediação da cultura e dos seus funcionários: os intelectuais. Por este caminho, os dois pólos, o da análise do poder e o da “questão dos intelectuais”, são referidos ao tema crucial da hegemonia. Com a conseqüência de um duplo distanciamento: seja do economicismo gradualista da Segunda Internacional, seja do ideologismo insurrecionalista da Terceira Internacional.
Como o senhor considera o pensamento de Gramsci em relação à tradição teórica política italiana? Por exemplo, por que ele se obrigou a acertar as contas com Maquiavel?
A referência a Maquiavel tem uma função dupla. Em primeiro lugar, uma função de significado teórico geral: a definição do partido como “moderno Príncipe” serve para assinalar a exigência de que o partido não se reduza a uma mera representação de interesses econômicos nem a um reflexo mecânico de uma lógica de classe, mas, em vez disso, se constitua como um sujeito político capaz de assumir toda a história nacional. Em segundo lugar, uma função específica, ligada ao déficit ético-político da burguesia numa nação culturalmente precoce mas politicamente tardia, como a Itália: neste sentido, cabia ao partido a tarefa histórica de realizar aquela “reforma intelectual e moral” que as burguesias de outros países (como a Inglaterra e a França) haviam desempenhado desde as origens da modernidade, produzindo um “senso comum” tecido de valores compartilhados, uma espécie de acumulação ética originária que acompanha a acumulação capitalista. Explica-se assim o uso positivo, em Gramsci, do termo “conformismo”: um uso incompreensível se não se levar em conta o contexto ético-político da sua argumentação.
Quais são as principais contribuições teóricas de Gramsci no debate da esquerda européia dos anos de 1920 e 1930? O senhor escreveu vários ensaios sobre o debate alemão da esquerda weimeriana e sobre muitos outros marxistas, como Kirchheimer, Neumann, Pollock, etc. Como se pode inserir Gramsci neste grande movimento intelectual inovador do marxismo?
Tal como os autores marxistas citados, ou reacionários argutos como Carl Schmitt, Gramsci dirigiu sua atenção para as transformações que envolveram a dimensão do político entre as duas guerras: com a passagem da sociedade de livre concorrência para a sociedade de massas e com o conseqüente aparecimento de novas formas de poder (e de “modernismo reacionário”), baseadas numa organização disciplinar e capilar do consenso.
Em que sentido Gramsci ainda hoje nos interpela?
Gramsci nos leva a pensar nas mudanças da estrutura do mundo, seguindo o rastro das reflexões que nos foram legadas nos Cadernos do cárcere. O ponto de partida destas reflexões é que, no curso dos anos 1920-1930, não se assiste à crise do capitalismo, mas ao declínio do Estado-nação como sujeito histórico “hegemônico” na história da Europa moderna. Uma forma histórica já incapaz de fazer com que se desenvolvam novas formas de vida e de organização social. A análise do americanismo — da sua capacidade de originar formas de disciplinamento, ampliar as funções produtivas e as bases da democracia, tornando-se assim potência hegemônica no mercado internacional — mostra a Gramsci os caminhos através dos quais se estavam desenvolvendo um racionalismo e um industrialismo projetado além do Estado-nação (e além da lógica nacional-estatal das velhas elites dirigentes européias).
Em vez disso, cabe-nos hoje uma tarefa adicional e diferente: delinear uma perspectiva a partir, exatamente, da crise da hegemonia americanista e fordista, para favorecer a constituição de uma subjetividade política capaz de compreender, governar e transformar em sentido democrático os mecanismos que regulam a economia-mundo.
O senhor poderia sublinhar quais são as contribuições mais importantes de Gramsci para uma teoria da política nos nossos dias?
Difícil relacionar os múltiplos aspectos ainda vitais da reflexão gramsciana para a teoria política moderna. Limito-me a recordar três deles. A noção de “intelectual orgânico”, também definida numa fórmula simples e intensa: “especialista + político”. A idéia da democracia não só como sistema de regras e procedimentos, mas forma de relações — como a res publica de Maquiavel — capaz de reunir num conjunto dinâmico e vital uma pluralidade de sujeitos que interagem na base de mútuo reconhecimento. A perspectiva de um novo cosmopolitismo, capaz de promover a libertação dos indivíduos através de uma práxis de transformação baseada no acréscimo de saber e de ciência.
O senhor pode falar algo sobre as relações entre economia e política em Gramsci?
À parte as complexas relações com Piero Sraffa, que envolvem aspectos de teoria econômica que é difícil simplificar numa entrevista, uma das contribuições decisivas é constituída pela categoria de “mercado determinado”. Quanto a esta categoria, nunca vai se sublinhar suficientemente o papel desmistificador que tem em relação à ideologia — aliás, em relação a este verdadeiro fundamentalismo ocidental — que vê o Mercado como uma dimensão pura, “auto-regulada”, independente da política e do contexto ético e cultural que dá ao mercado, em cada caso, sua configuração histórica específica. Muito freqüentemente, as ideologias liberistas e neoliberistas são apenas a máscara da lógica de poder que governa a dinâmica da economia.
Nesta linha de pensamento, como o senhor analisa hoje a questão cultural no capitalismo contemporâneo, um tema, como sabemos, muito caro a Gramsci?
Um dos aspectos mais interessantes do revival internacional da obra de Gramsci é representado — ao lado do tema das transformações do “político”, no qual eu mesmo trabalhei por muito tempo — pela recepção dos Cadernos por parte dos Cultural Studies e dos Postcolonial Studies. Penso em fundadores de escola, como Stuart Hall ou Edward Said, antes de mais nada. Mas também em seus herdeiros e continuadores, como Ranajit Guha, Homi Bhabha, Arjun Appadurai, Gayatri Chakravorty Spivak, Dipesh Chakrabarty e outros. Nestes intelectuais, tornam-se centrais as noções gramscianas de “hegemonia”, “identidade cultural”, “subalternidade”: numa perspectiva em que a política se entrelaça com a antropologia, a abordagem histórico-sociológica com a análise literária comparada. Ainda é cedo para dizer algo definitivo sobre a fecundidade destas novas abordagens. Mas não é um acaso que, também na Itália, estes temas tenham sido retomados nos últimos anos por jovens e interessantes estudiosos (como, por exemplo, Emanuela Fornari, Miguel Mellino e Sandro Mezzadra).
Ressalto que Gramsci tem a dizer ao nosso presente da modernidade-mundo muito mais do que pensávamos. E, sobretudo, revela-se capaz de falar às mais diferentes culturas e gerações, pondo-as face a face na perspectiva do que chamei, nos meus trabalhos recentes, de universalismo da diferença.
Herculano Pires
A vida perde o seu sentido, a sua significação, a sua razão de ser, quando o homem se afasta da compreensão espiritual, buscando no mundo material a única explicação das coisas. O chamado homem prático dos nossos dias, inteiramente imerso nos problemas imediatos, funciona como uma máquina. Está muito próximo da concepção cartesiana dos animais: corpos em atividade mecânica, sem alma. Se em meio desse funcionamento inconsciente a que se entrega, alguma desgraça lhe ocorrer, os horizontes se fecharão ao seu redor. Nenhuma perspectiva lhe restará. E é por isso que, em geral, o homem prático, atingido por um golpe arrasador, recorre ao suicídio.
Mas, se o materialismo da vida prática é perigoso, também o é o materialismo teórico, intelectual, equivalente a uma cegueira mental, que não permite ao homem divisar os contornos da realidade. O materialista intelectual, que se apoia numa doutrina filosófica negativa, sente-se forte para enfrentar o mundo enquanto não lhe faltam as forças físicas e os recursos materiais da existência. Uma idéia, como bem acentua Annie Besant em sua "`Autobiografia", o sustenta nas duras lutas da vida: a idéia da dignidade intrínseca do ser humano, que deve manter-se digno pela própria dignidade, sem esperar qualquer recompensa por isso. Mas, diante do desastre, do fracasso temporário, de uma mutilação moral ou física, essa idéia será facilmente eclipsada por outra: a do nada.
Por outro lado, no reverso da medalha, a crendice do religiosismo comum não é menos perigosa que o materialismo. O homem que crê sem indagar, sem compreender nem querer compreender, apegado a crenças que lhe impuseram através da tradição, está sujeito às mesmas dolorosas surpresas daquele que não crê. A fé pela fé é tão insegura quanto a dignidade pela dignidade, a que acima aludimos. Tanto para uma, como para outra, a mente humana exige uma base racional. Fé cega e dignidade cega são frágeis como peças de vidro. Ambas podem quebrar-se com a maior facilidade, ante os golpes da vida. Porque numa como noutra o homem está preso a um ponto de vista estreito, sem a visão global do processo da vida, que lhe daria compreensão e coragem para enfrentar a luta em qualquer circunstância.
Ateísmo e crendice são os dois extremos perigosos da condição humana. E tanto assim, que ambos descambam para as soluções extremas, com a maior facilidade, não somente no plano individual, mas também no coletivo. Os crimes do fanatismo religioso e do fanatismo materialista enodoam a história humana. Porque tanto à descrença absoluta como à crendice beata faltam as luzes do verdadeiro esclarecimento espiritual, da verdadeira ligação do homem com o sentido da vida. O materialismo age como um ímã, fixando a mente no torvelinho da matéria. A crendice fanática faz a mesma coisa com os convencionalismos religiosos, em cujo redemoinho de cerimônias e dogmas prende a mente subjugada. Daí as terríveis contradições que assinalam a história da religião, com os dramas cruéis do fanatismo.
Foi por isso que Kardec inscreveu, em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", esta legenda de luz: "Só é inabalável a fé que pode encarar a razão face a face, em todas as etapas da humanidade." É por isso que o Espiritismo insiste na necessidade do esclarecimento permanente da razão para os problemas da fé. Combatendo o materialismo, com as próprias armas deste, através da observação e da experimentação científicas, Espiritismo combate, por outro lado, o religiosismo cego, a aceitação fanática de princípios religiosos. Não combate nenhuma religião, mas combate o fanatismo religioso. E nesse combate não usa jamais as armas da impiedade, porque suas armas são o esclarecimento através da pesquisa, do estudo e da exposição da verdade. Ajudar o homem a se equilibrar na posição justa do espiritualismo esclarecido, para que o mundo seja melhor e mais belo, é a missão do Espiritismo neste período difícil da evolução terrena.
O Homem Novo de J. Herculano Pires
Vida y muertes de Buenaventura Durruti, ...(em espanhol)
Se grabó en La Cúpula, sala de ensayos de Els Joglars en Pruit. El documental refleja el sistema de trabajo de la compañía a través del proceso de creación seguido para recrear el personaje de Durruti y las circunstancias históricas que le rodearon y de las que fue protagonista.
Dirigido por el cineasta francés Jean Louis Comolli autor de seis películas de ficción y una veintena de documentales.
Vida y muerte de Buenaventura Durruti, anarquista se presentó en el Festival Internacional de Cine de Valladolid, fuera de concurso, dentro de la sección Tiempo de historia.
Que disfrutéis de estos soñadores, de su mundo más justo, igualitario y sencillo para todos.
Assistido em: KanalAlternativo