quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Líder cubano ensina como ''ler a linguagem do inimigo''


''É útil estudar o que o adversário faz e diz agora mesmo". A advertência é de uma notável intervenção de Ricardo Alarcón, presidente da Assembléia do Poder Popular de Cuba, no painel A democracia e o socialismo do século 21, dia 1º de agosto, em Caracas. Veja a íntegra, que vem de ser reproduzida no sítio cubano Cuba Debate (cujo lema é ''Contra o terrorismo midiático'').


Alarcón: todo mundo fala de Fukuyama, mas quem o leu?

Alla Glinchikova, do Instituto de Estudos sobre a Globalização e os Movimentos Sociais, da Rússia, referia-se neste fórum à utilização da linguagem do inimigo. Há que conhecer essa linguagem, e também as ideias do inimigo.


É preciso ler Margaret Thatcher


Concordo em que não haverá no século 21 um só socialismo e sim vários socialismos, que partem das experiências anteriores e que sem dúvida devemos estudar a fundo. Mas não basta que nós os de esquerda, os socialistas, os revolucionários e os que assim pensam aprofundem e meditem só entre si. Para entender o que ocorreu na União Soviética é preciso ler, por exemplo, as memórias de Margaret Thatcher – The Path to Power e The Downing Street Years –, que vejo raramente citadas nos círculos da esquerda e que falam directamente na linguagem do inimigo.


A senhora Thatcher explica como foi decisiva a estratégia acertada entre ela e [Ronald] Reagan, que provocou uma viragem na Guerra Fria e a corrida armamentista com a chamada Guerra das Estrelas. Provocaram uma ferida mortal na URSS. Obrigaram a sociedade soviética, que queria ser socialista, a investir desenfreadamente na defesa. Que outra coisa podia fazer a URSS, se aquilo que a acometia era nada menos que uma guerra a partir do espaço?


Conseguiram identificar as lacunas que teria a sociedade e descobriram que tinham de obrigar os soviéticos a desperdiçar recursos e inteligência em objetivos que não eram socialistas. A senhora Tatcher diz que a guerra das estrelas a princípio pareceu-lhe uma loucura, mas depois compreendeu que este era um objetivo principal a fim de por fim ao socialismo soviético e à Guerra Fria. E assim foi.


O que quero dizer com isto? Que não só é útil olharmos para nós mesmo, a partir de nós mesmos, como também estudar o que o adversário faz e diz agora mesmo. Isto traz outro problema e em certas ocasiões um enorme desafio para todos nós: por vezes é preciso esperar décadas para conhecer textos-chave onde se pormenoriza o que fez o inimigo, assim como o que deve estar fazendo agora mesmo.


As previsões da CIA para 2015


Quando analisamos o mundo hoje, gosto muito de recorrer a um documento em inglês elaborado pela Agência Central de Inteligência (CIA): por muito poder de imaginação que tenham os revolucionários, é bom ver como a CIA vê o mundo e o futuro. Numa análise que a Agência tornou pública, intitulada Tendências globais para 2010 (Global Trends 2010), que no ano 2000 atualizaram até 2015 (Global Trends 2015) , projetaram quatro cenários da possível evolução do mundo, tendo em conta todos os fatores: econômico, político, tecnológico...


Estes quatro cenários do capitalismo neoliberal globalizado, com diferentes possibilidades de desenvolvimento, chegam a um mesmo ponto: a influência dos Estados Unidos da América continuará a declinar. No entender dos analistas da CIA, que levaram em conta informações de fontes científicas planetárias muito diversas, antes dos famosos atentados do 11 de Setembro de 2001, o mundo já vivia no declínio do poderio norte-americano e previam para o futuro diferentes cenários, todos com essa característica comum.


Estou certo de que esse relatório foi lido pelos conservadores norte-americanos, os mesmos que elaboraram a política de uma administração que por vezes é julgada com certa rudeza – como irresponsável, aventureira, etc. Não é isso; eles estão cumprindo uma missão: tentar deter esse declínio que eles sabem inevitável e reverter – digamos, à moda antiga – ''a marcha da História''.


Autocrítica do fim da história


Retornemos ao idioma do inimigo e citemos pessoas que não são da nossa própria filiação ideológica. Quero mencionar Francis Fukuyama, possivelmente o homem mais citado na última década do século passado. Todo mundo fala dele. Nem todo o mundo leu o seu livro mais famoso, mas todos conhecem a sua tese fundamental.

Quantos leram os seus estudos posteriores ao seu célebre O fim da História?
Fukuyama publicou este ensaio em 1992, mas não teve que esperar muito tempo para fazer uma séria autocrítica e uma crítica ao pensamento neoconservador, ao assinalar que o mundo não podia ser governado. Bastaram dez anos a esse burocrata norte-americano para reconhecer o erro e gravidade dessa política, para admitir que, apesar de haver emergido vitoriosa e como única superpotência, os Estados Unidos não podem reinar, como ele próprio acreditava nos inícios dos anos 90.


Outro investigador que não costuma ser mencionado nos círculos da esquerda é o senhor Jospeh Schumpeter, auto-norte-americano que em 1942 publicou um livro – Capitalism, Socialism and Democracy – onde formulou uma teoria que lhe acarretou muitíssimos cascudos dos seus colegas acadêmicos. Ainda não lhe perdoam sua declaração desconcertante: ''Uma forma de socialismo surgirá inevitavelmente da também inevitável decomposição do capitalismo''.


A única discordância que tenho com o famoso prognóstico de Schumpeter é sobre a quantidade das formas de socialismo que surgirão. Inclino-me antes a pensar que não surgirá uma e sim umas quantas formas de socialismo.


Ele imaginou a situação atual: a vitória final do capitalismo em escala global e que, quando chegasse essa fase, inevitavelmente iria se manifestar sua decomposição e inevitavelmente se expressaria uma forma de socialismo. Uma das grandes ironias do século 20 é que a confrontação Leste-Oeste, a grande batalha que significou a Guerra Fria – que nunca chegou a desencadear-se mas que pôs o mundo em constante inquietação –, foi ganha pelo imperialismo norte-americano; e contudo, ao ganhá-la começou a percorrer a sua fase de derrota.


Na América Latina, por razões que foram aqui mencionadas, vivemos uma etapa que nos permite não só avançar com formas independentes do socialismo como ser um ponto de referência para outros que também começam a dar-se conta de que não foi tão real a vitória do capitalismo, nem a história se deteve tão abrutamente como disse Fukuyama.


Revolução socialista, mas à cubana


Se aprofundarmos a nossa história, vamos verificar que na nossa região contamos precisamente com as expressões mais autênticas do socialismo, com uma visão criadora, anti-dogmática, inclusive nos dias iniciais desse modelo na Europa. Impressionou-me muitíssimo a leitura do artigo dedicado a Lênin, após a morte deste, por Julio Antonio Mella – principal dirigente e fundador do Partido marxista-leninista de Cuba.


Mella publicou-o em Fevereiro de 1924 num jornal do Partido Comunista de Cuba e intitulou-o Lênin coroado. Ninguém no nosso país, naquele momento, prestou tamanho tributo nem tantas homenagens a Lênin como Mella. Ele falava de uma figura que indubitavelmente respeitou e a quem quis muitíssimo. Mas advertiu que não aspirava reproduzir em Cuba a experiência bolchevique, que não queria comunistas que seguissem a linha de outro partido, que o que seu partido se propunha era contar com seres humanos pensantes, que não fossem dirigidos, nem domesticados, nem disciplinados por outros, e sim que estivéssemos ''sempre a pensar com a nossa cabeça'', ''seres pensantes, não seres conduzidos. Pessoas, não bestas''. Este rapaz – ainda não havia completado 21 anos – disse que Cuba queria uma revolução socialista, mas à cubana.


Além desta figura, há que recordar o paradigma dos revolucionários latino-americanos, José Carlos Mariátegui [fundador do Partido Comunista do Peru], que também exprimiu algo semelhante há décadas: que o socialismo na América não será um decalque nem cópia e sim criação heróica. Se é criação, não pode ser um só, tem que ser diverso, deve fundar com heroísmo um socialismo aqui e outro acolá. É o que estamos vivendo, como afirmou o presidente Rafael Correa: ''não uma época de mudança e sim uma mudança de época'', que tem a ver com esta fase declinante do imperialismo norte-americano.


Uma teoria para a fase atual do capitalismo


Faz-nos falta uma teoria para a fase atual do capitalismo globalizado neoliberal, que tenta deter sua queda e reimpor-se sobre o mundo.


Por que os Estados Unidos gastam hoje muito mais em recursos militares do que todos os países da Terra juntos, mais do que quando havia Guerra Fria? Por que essa incessante produção de novos e novos instrumentos de morte de guerra? Para atacar a União Soviética? Para atacar o Eixo do Mal? Claro que não.


Por um lado, é o reflexo de uma economia enferma numa sociedade enferma – Margaret Thatcher sabia que aquele armamentismo irracional precipitaria a destruição da URSS, enquanto nos Estados Unidos e a Grã Bretanha significava mais lucros para os monopólios e a indústria armamentista. E, por outro lado, caso se produzam estas ofensivas tão violentas que copiam o fascismo e reproduzem os mecanismos da época da Guerra Fria, é porque eles estão na defensiva, cercados diante do avanço dos povos.


Sem dúvida faz-nos falta uma teoria para a fase do capitalismo neoliberal que tenta deter a sua queda. Vivemos num mundo que nos oferece muitas possibilidades, mas que também tem grandes riscos, ilustrado com infinitas evidências no atual regime norte-americano. Não sei o que vai se passar nas próximas eleições, mas o que não tenho a menor dúvida é que o senhor que hoje está na Casa Branca não chegou ali por acaso. É o resultado da ação dos grupos de poder que existem nos Estados Unidos, cuja mentalidade deveria causar pelo menos ansiedade e grande preocupação a todo o ser humano minimamente responsável.


Onde está Luis Posada Carriles?


A América Latina é testemunha de como, para impedir a queda, eles são capazes de recorrer a qualquer coisa. Eu cometeria uma falta imperdoável se não mencionasse porque digo isto. Aos jornalistas que me fazem as perguntas de sempre – como está Fidel?, quando volta ao poder?, etc – respondo: onde está Luís Posada Carriles? É o que deveriam perguntar; e, a propósito, denunciar que há mais de dois anos a República Bolivariana da Venezuela solicitou a extradição deste homem, para que prossiga o julgamento que aqui se fazia.


Perante as duas possibilidades que tem – extraditá-lo para a Venezuela ou julgá-lo imediatamente nos Estados Unidos, como obrigam os acordos internacionais – Bush descobriu uma fórmula melhor: ignorar o assunto, não fazer caso.


Algum dia pode ser que conheçamos alguns documentos escritos na língua do inimigo onde estes senhores expliquem como foi que se conluiaram na obscuridade para salvar Posada Carriles.


Que significa isso na prática? Simplesmente dizer a Cuba, à Venezuela e aos demais povos desta região que o que torturou, o que assassinou, o que mandou matar tanta gente inocente, vai continuar a contar com o favor dos Estados Unidos. E ao mesmo tempo apresenta-nos a outra face da moeda: a situação dos Cinco Cubanos, com quadro prisões perpétuas e 75 anos de prisão, por descobrir os planos dos Posadas Carriles que eles protegem para que se dediquem a exercer o terrorismo contra os nossos países.


The New York Times publicou na semana passada as declarações do Departamento de Justiça acerca de Leandro Aragocillo, um norte-americano de origem filipina condenado por espionagem. Apreenderam com ele nada mais nada menos que 733 documentos secretos da Casa Branca, do Pentágono, do Departamento da Defesa e de outros. Condenaram-no a dez anos de prisão. Tenho compatriotas meus condenados a quatro prisões perpétuas sem que lhes houvessem encontrado nem um pedacinho de papel comprometedor. Condenaram-os sem apresentar provas, e além disso depois de o tribunal ouvir os depoimentos das testemunhas que ali compareceram, e disseram não haver ali espionagem alguma. A moral: prisão perpétua se tu vais vigiar Posada Carriles, dez anos de prisão se tu realmente praticas a espionagem, inclusive na Casa Branca.


O Departamento da Justiça acrescentou uma frasezinha que me emocionou, francamente: dez anos é a pena máxima; se tiver bom comportamento na prisão, o filipino pode sair muito antes.


Nossos cinco companheiros são professores nas suas prisões: ensinam inglês, matemática, espanhol. Trabalham nos escritórios dessas prisões com uma disciplina exemplar. Jamais foram criticados por mau comportamento. Mas estarão encerrados por quatro vidas e 75 anos só por combater o terrorismo.


Qual é a mensagem para os nossos povos? Foi implantado nos Estados Unidos um regime que é capaz de Não são absolutos, mas têm força suficiente para destruir a Terra e a todos nós. Por isso, num momento de auge das aspirações revolucionárias, particularmente na América Latina, num momento de grandes possibilidades e também de enormes desafios, necessitamos muito pensamento, muita reflexão e sobretudo muita união.


O original encontra-se em Cuba Debate (http://www.cubadebate.cu); a partir da tradução de Resistir; intertítulos do Vermelho





quarta-feira, 15 de agosto de 2007

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Vivaldi L'estro Armonico, 12 Concertos Op.3 2CD



CD1
01 - Concerto No.1 In D Major, RV 549_ I.Allegro.mp3
02 - Concerto No.1 In D Major, RV 549_ II.Largo E Spiccato
03 - Concerto No.1 In D Major, RV 549_ III.Allegro
04 - Concerto No.2 In G Minor, RV 578_ I.Adagio E Spiccato
05 - Concerto No.2 In G Minor, RV 578_ II.Allegro
06 - Concerto No.2 In G Minor, RV 578_ III.Larghetto
07 - Concerto No.2 In G Minor, RV 578_ IV.Allegro
08 - Concerto No.3 In G Major, Rv310_ I.Allegro
09 - Concerto No.3 In G Major, Rv310_ II.Largo
10 - Concerto No.3 In G Major, Rv310_ III.Allegro
11 - Concerto No.4 In E Minor, Rv550_ I.Andante
12 - Concerto No.4 In E Minor, Rv550_ II.Allegro Assai
13 - Concerto No.4 In E Minor, Rv550_ III.Adagio, IV.Allegro
14 - Concerto No.5 In A Major, Rv519_ I.Allegro
15 - Concerto No.5 In A Major, Rv519_ II.Largo
16 - Concerto No.5 In A Major, Rv519_ III.Allegro
17 - Concerto No.6 In A Minor, Rv356_ I.Allegro
18 - Concerto No.6 In A Minor, Rv356_ II.Largo
19 - Concerto No.6 In A Minor, Rv356_ III.Presto
20 - Concerto No.7 In F Major, Rv567_ I.Andante
21 - Concerto No.7 In F Major, Rv567_ II.Adagio
22 - Concerto No.7 In F Major, Rv567_ III.Allegro
23 - Concerto No.7 In F Major, Rv567_ IV.Adagio-Allegro
24 - Concerto No.8 In A Minor, Rv522_ I.Allegro
25 - Concerto No.8 In A Minor, Rv522_ II.Largo
26 - Concerto No.8 In A Minor, Rv522_ III.Allegro

CD2
01 - Concerto No.9 In D Major, RV 230_ I. Allegro
02 - Concerto No.9 In D Major, RV 230_ II. Larghetto
03 - Concerto No.9 In D Major, RV 230_ III. Allegro
04 - Concerto No.10 In B Minor, RV 580_ I. Allegro
05 - Concerto No.10 In B Minor, RV 580_ II. Largo - Larghetto - Adagio - Largo
06 - Concerto No.10 In B Minor, RV 580_ III. Allegro
07 - Concerto No.11 In D Minor, RV 565_ I. Allegro - Adagio Spiccato E Tutti - Allegro
08 - Concerto No.11 In D Minor, RV 565_ II. Largo E Spiccato
09 - Concerto No.11 In D Minor, RV 565_ III. Allegro
10 - Concerto No.12 In E Major, RV 265_ I. Allegro
11 - Concerto No.12 In E Major, RV 265_ II. Largo
12 - Concerto No.12 In E Major, RV 265_ III. Allegro
13 - Concerto In C Major _Con Molti Stromenti_, RV 558_ I. Allegro Molto
14 - Concerto In C Major _Con Molti Stromenti_, RV 558_ II. Andante Molto
15 - Concerto In C Major _Con Molti Stromenti_, RV 558_ III. Allegro
16 - Concerto For 2 Violins In G Major, RV 516_ I. Allegro Molto
17 - Concerto For 2 Violins In G Major, RV 516_ II. Andante (Molto)
18 - Concerto For 2 Violins In G Major, RV 516_ III. Allegro
19 - Concerto For Oboe In A Minor, RV 461_ I. Allegro Non Molto
20 - Concerto For Oboe In A Minor, RV 461_ II. Larghetto
21 - Concerto For Oboe In A Minor, RV 461_ I. (Allegro)
22 - Largo From Concerto In B Fiat Major, RV 548

Animals - Dogs (Part 1)

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Albert King - 1981 - Born Under A Bad Sign

Flora Purim - 1973 - Butterfly Dreams
Flora Purim - Butterfly Dreams

Copiado de:360Grauss

A Barbárie nos Campos do Sul!

Conflito entre agricultores sem terra e fazendeiros deixa 20 feridos no RS

Audiência pública que discutiria situação fundiária na região Sul do Estado foi cancelada após confronto entre sem terra, fazendeiros e policiais. Vinte agricultores ficaram feridos e seis foram presos. Dois líderes sem terra estão desaparecidos.

PORTO ALEGRE - Uma audiência pública marcada para discutir a situação dos acampamentos rurais na região sul do Rio Grande do Sul terminou em pancadaria na manhã desta quinta-feira, no município de Pedro Osório. Fazendeiros e agricultores sem-terra entraram em confronto, com um saldo de vários presos e feridos. Segundo a coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), vinte sem terra ficaram feridos e outros seis foram presos pela Brigada Militar, antes do início da audiência com representantes da Ouvidoria do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), do Ministério Público (estadual e federal), do governo estadual e da Assembléia Legislativa gaúcha.

Duzentas famílias acampadas ao lado da Fazenda da Palma viajaram a Pedro Osório para participar da audiência e foram recebidas com hostilidade por fazendeiros da região. Segundo o relato do MST, os acampados foram revistados e identificados antes de ingressar na cidade. Logo após, seguiram em caminhada pelo centro até Salão Paroquial, onde iria ocorrer a audiência. Na entrada do salão, fizeram um cordão de isolamento para se separarem dos fazendeiros que também estavam no local. Foi aí, segundo o MST, que a Brigada Militar começou a bater nas famílias.

Segundo a versão do tenente-coronel Valdoir Ribeiro, do comando da BM na região, os ruralistas estavam na via pública quando o MST chegou e começou a agredi-los. “A Brigada foi chamada para apartar e algumas pessoas acabaram com ferimentos leves”, disse o oficial à rádio Gaúcha. O deputado estadual Dionilso Marcon (PT) denunciou que foi agredido nas mãos pelos soldados e que sua assessora jurídica, Patrícia Couto, foi atingida com golpes de cassetete.

Conforme o relato da assessoria do deputado Marcon, os ruralistas tentaram impedir que os sem terra ocupassem o salão paroquial e exigiram a intervenção dos policiais. Um dos fazendeiros teria dito: “retirem esses sem terra daqui, pois somos nós que pagamos vocês”. Mais de 150 policiais teriam entrado, então, no salão paroquial e espancado dezenas de agricultores, juntamente com o paramentar e sua assessoria.

O parlamentar contestou a versão do subcomandante da Brigada Militar, coronel Paulo Roberto Mendes, que acusou os sem terra de portarem foices e facões. Marcon disse que os sem terra não estavam armados e foram revistados na entrada da cidade. “Falta isenção aos policiais militares da região”, acrescentou. “A Brigada tem muito mais compromisso com os fazendeiros que com a questão social”. A audiência pública, que discutiria a situação fundiária na região, não foi realizada.

Superintendente do Incra critica truculência

O superintendente substituto do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Rio Grande do Sul, José Rui Tagliapietra, que estava em Pedro Osório para participar da audiência pública sobre a situação fundiária na região, condenou a truculência da Brigada Militar. Para ele, “a Brigada não estava preparada para tranqüilizar a situação e o ambiente que houve”.

O desembargador e ouvidor público federal, Gercino José da Silva Filho, que presidiria a audiência, foi ao hospital visitar os feridos e depois acompanhou os depoimentos dos agricultores na polícia. As pessoas agredidas anunciaram que denunciarão o ocorrido em uma audiência com o ouvidor agrário estadual, Adão Paiani, na próxima segunda-feira, em Porto Alegre. Após o conflito, os sem terra voltaram para o acampamento ao lado da Fazenda da Palma, de 9 mil hectares, cuja desapropriação é reivindicada pelo MST.

Dois sem terra desaparecidos

Os primos Leonardo e Lázaro Burscheidt, lideranças do acampamento dos sem terra na área da Fazenda Palmas seguiam desaparecidos até o final da tarde desta quinta-feira. Um deles aparece sendo gravateado por fazendeiros em uma foto publicada na revista eletrônica Pedro Osório.Net.

O deputado Dionilso Marcon e a deputada Stela Farias (PT), presidente da Comissão de Serviços Públicos da Assembléia Legislativa do RS, denunciaram o desaparecimento dos dois agricultores. Stela Farias cobrou do governo Yeda Crusius providências para a localização dos primos Burscheidt. “Esperamos que estes trabalhadores não estejam nas mãos de fazendeiros e que os representantes do governo do Estado na Assembléia tomem providências para a localização dos dois manifestantes”, afirmou a parlamentar petista.

Milionários e o Imposto sobre Grandes Fortunas



Roberto Saraiva Romera


Entra governo, sai governo e não é discutida uma verdadeira reforma tributária no Brasil. No mês de março de 2007, o governo Lula sinalizou com mais uma proposta de reforma, visando a simples unificação de alguns impostos federais, estaduais e municipais.

Segundo estimativas do Ministério da Fazenda, o Brasil perde R$ 20 bilhões por ano em investimentos devido à irracionalidade do seu sistema tributário. Com este valor, seria possível superar as necessidades energéticas brasileiras e evitar a ocorrência de um novo racionamento.

O mais impressionante em todos os debates sobre a reforma tributária é que nunca tivemos a discussão do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), também chamado em alguns países de Imposto de Solidariedade sobre Grandes Fortunas.

Recente pesquisa realizada pelas consultorias Merrill Lynch e Cap Gemini indicou que o número de milionários no Brasil cresceu 10% em 2006 em relação à última pesquisa realizada em 2005 e está em 120.400 milionários.

Segundo a mesma pesquisa, milionário é todo aquele que possui 1 milhão de dólares líquido para investir. Assim, com sua aprovação, o IGF incidiria em um percentual muito pequeno da população brasileira e poderia contribuir para a redução da carga tributária de setores produtivos, propiciando um aumento na produção, no nível de contratação e até o repasse aos salários.

Não está se propondo um aumento da carga tributária, mas sim que esta seja concentrada no alto da pirâmide e que se desonere atividades produtivas, contribuindo assim para a racionalização e para o combate à regressividade do sistema tributário brasileiro.

A Constituição Federal define (art. 153) a competência da União para instituir o IGF, sendo para isto necessária uma lei complementar. Tal necessidade mostra-se um fator que dificulta a sua criação, pois poucos congressistas apresentariam um projeto para a regulamentação do IGF, tendo em vista que muitos membros do Congresso podem até ser enquadrados como milionários.

Fernando Henrique Cardoso perdeu a oportunidade de aprovar o IGF durante seus oito anos de governo; bastaria que se discutisse o Projeto de Lei de autoria do próprio FHC, feito quando este ainda era senador, em 1989.

Do início de 2006 até junho de 2007, a taxa Selic caiu de 17% para 12%, fato que teoricamente contribuiria para diminuição da riqueza dos milionários, que anteriormente ganhavam com a aplicação nos títulos da dívida pública. No entanto, com a queda dos juros, estes milionários migraram seus “investimentos” para operações mais rentáveis como o mercado de ações, fundos hedge e imóveis, fato que ajuda a aumentar a sua riqueza.

Por fim, o Brasil atravessa um momento oportuno para que o governo Lula proponha uma lei complementar regulamentando o Imposto sobre Grandes Fortunas, haja visto que possui um considerável apoio do Congresso Nacional e principalmente um apoio popular que aprovaria tal proposta.

Roberto Saraiva Romera é economista pela Fundação Santo André, mestrando em Economia e professor do Projeto Formare.

Email: robertosaraivabr@yahoo.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir




Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir viveram um relacionamento pouco convencional que durou 50 anos. Eles se conheceram em 1929, ele faleceu em 1980 e ela em 1986. É considerado um dos casais mais célebres da História.

Segundo Simone de Beauvoir "a não ser quando está dormindo, ele pensa o tempo todo". Em seu cinismo e falta de modéstia chegava a afirmar de si: "Eu era mil Sócrates". Seu intelecto o torna atraente para mocinhas iludidas, o lhe permite superar a feiúra notória e prosseguir como um bonvivent, insaciável em sua fome de conquistas sexuais e em sua sede de cerveja, só superadas por sua gana por livros e conhecimento.

"Ele lia tudo, exceto o que era necessário para o curso que fazia", o que lhe atrasou em um ano a graduação, embora esse fato não ofuscasse seu brilho.
Nesta fase Sartre renunciou a hábitos burgueses como o de tomar banho e passou a fumar cachimbo, era visto nos cafés do Quartier Latin em animadas rodas de discussão filosófica, da qual não ousaria se aproximar quem não possuísse algo realmente inteligente a dizer.

É impossível falar de um e não mencionar o outro. A paixão pela filosofia e pela literatura os uniu. Eles desafiaram a moral do seu tempo, vivendo muitos amores, assumindo compromissos públicos na contramão da mentalidade dominante em sua época. Foram reverenciados, mas também criticados e odiados. E escreveram livros que se transformaram em obras-primas. Mas, apesar de brilhantes, Sartre e Beauvoir eram “estranhamente inseguros” e sempre se sentiam agradecidos às pessoas que os amavam.

A despeito da feiúra notória, Sartre era um grande sedutor. E não foram poucas as mulheres que ele amou e abandonou, embora algumas ele continuasse sustentando financeiramente, numa atitude tipicamente machista. Um machismo, porém, que ele jamais manifestou com Simone de Beauvoir.
A notável cumplicidade do casal permitia que dividissem não somente interesses e preocupações, mas também amantes. E essa liberdade era exercida mediante um pacto incomum: eles contavam tudo um para o outro.

Bonita, ícone do feminismo, Beauvoir era igualmente uma sedutora e teve muitos amantes homens, mas também se envolveu com mulheres, fato que ela sempre negou e que só se tornou público após a sua morte, com a divulgação de suas cartas.

Foi na década de 70 que os problemas de saúde Sartre apareceram. Era o preço que ele pagou por sua opção de "vida química". Assistido de perto por Beauvoir e por um séquito de jovenzinhas existencialistas, Sartre ficava cada vez mais debilitado. Faleceu em 15 de abril de 1980, aos 74 anos.
Seu enterro foi um acontecimento que atraiu quase 25 mil pessoas. O cortejo percorreu o Quartier Latin e a Rive Gauche, lugares marcantes de sua vida, onde produziu, viveu e de onde concebeu o pensamento que seria de toda uma geração. Movimentos radicais em todo o mundo inspiraram-se em seus escritos, embora suas leituras sobre os fatos continuassem mais como idéia do que como realidade. "Aí estava de fato, uma existência fútil num mundo absurdo".

Quando ela morreu, em 1986, a filósofa Elisabeth Badinter declarou: “Mulheres, vocês lhe devem tudo!”. “Essa mulher que não quis ter filhos tem, hoje, milhões de filhas pelo mundo”, observou com humor a escritora Benoîte Groult.

Durante toda a vida, tal como Sartre, Beauvoir serviu-se de sua notoriedade para defender os intelectuais e os “oprimidos”, especialmente as mulheres. Nos últimos quinze anos de sua vida, encontrou nas mulheres do “movimento” um radicalismo e uma exigência de clareza à sua medida e ela se engajava nesse movimento entusiasmada, “porque elas não eram feministas para tomar o lugar dos homens, mas sim para mudar o mundo”, declarou ao jornal Le Monde em 1978.

“Mantenho absolutamente a frase: não você se nasce mulher, torna-se. Tudo o que eu li, vi, e aprendi nestes últimos 30 anos confirmaram essa idéia. A feminilidade é fabricada, como aliás também se fabricam a masculinidade e a virilidade”.

Simone de Beauvoir é venerada pelas feministas, que a lêem e estudam, principalmente fora da França. A Simone de Beauvoir Society, com sede na Califórnia, realizou seu 14º colóquio em Roma, na Itália, em setembro de 2006. A jornalista Bénédicte Manier constatou que, na Índia, “em todas as discussões sobre as mulheres, ao cabo de dez minutos , as indianas citam Simone de Beauvoir”.
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