Allende La Paz, ANNCOL
Os meios de comunicação em poder da oligarquia justificam a guerra antecipada do estado contra o povo colombiano. A têm como indispensável para sanar as diferenças políticas e ideológicas entre os colombianos, quer dizer, entre a oligarquia que maneja as molas do poder e o povo que carece de tudo menos de ganas de viver. Além disso a guerra os enriquece.
Enrique Santos Calderon: “… A um inimigo não convencional não se pode enfrentar com métodos convencionais. Há que colocar-se como ele. Não dar a cara, golpear no escuro…”
El Tiempo é talvez o mais claro expoente do papel que jogam os meios de comunicação burgueses na guerra. Utilizando diversas manobras trata de desinformar aos colombianos ao invés de cumprir a verdadeira função jornalística. Na guerra que avança a oligarquia colombiana e o império estunidense a verdade é a primeira vítima, como em toda guerra. E El Tiempo aplica com gosto – despudoradamente diz Antonio caballero – este principio. Recorre a todos os ardis conhecidos e por criar, aos existentes e aos imaginários.
Ivan Cepeda e Claudia Girón analizaram acertada e precisamente o movimento do diário dos Santos em exposição apresentada no Seminário ‘A memória frente aos crimes de lesa humanidade’, r4ealizado em Bogotá em homenagem a Manuel Cepeda vargas, nos dias 9 e 10 de agosto de 1995. Dizem eles:
Continuando, vamos assinalar cinco casos concretos tomados do periódico El Tiempo, nos quais ficam evidentes alguns aspectos da manipulação ideológica da informação:
I. Sátira, Demonização e Deformação da Oposição Política Legal.
A caracterização da oposição legal como parte do inimigo interno, é um mecanismo que se observa com freqüência nas páginas de El Tiempo. A legitimidade política de reconhecidas figuras da vida nacional e de numerosas instituições é posta em dúvida mediante diversos tratamentos da mensagem. Com este propósito se utilizam, por exemplo, a caricatura, a calúnia, a adjetivação em termos tendenciosos, o silencio e a minimização dos acontecimentos.
Na edição de 19 de fevereiro de 1993 em El Tiempo, na página 5-A, aparece a caricatura titulada El Alquimista, na qual se ridiculariza e difama ao Dr. Alfredo Vasquez Carrizosa, Presidente do Comitê Permanente dos Direitos Humanos. Nesta chacota se satiriza a proposta de o Doutor Alfredo Vasquez candidatar-se ao Prêmio Nobel da Paz.
II. Insinuação de Advertência Explícita sobre o Extermínio dos Representantes da Oposição Política Legal.
O jornal El Tiempo, reiteradamente insinua, sugere ou adverte explicitamente, que pelas ações dos movimentos guerrilheiros, os representantes da oposição legal podem ser objeto de ações de extermínio; insinuação e advertência que gera um clima de tensão e ameaça permanente.
Segundo Enrique Santos Calderón: “… A um inimigo não convencional não se pode enfrentar com métodos convencionais. Há que colocar-se como ele. Não dar a cara, golpear no escuro…” (citado no Tribunal Permanente de los Pueblos: p. 497). No entanto, ao reportar o magnicídio contra Manuel Cepeda Vargas, na seção Coisas do Dia, sob o significativo título de Olho por Olho (El Tiempo, 11 de agosto 1994, pág. 4 A), se afirma que este diário nunca esteve de acordo com a retaliação que expressa o princípio da Lei de Talião. Que reza: “Olho por olho, dente por dente”.
III. Linguagem subliminar sobre o extermínio da Oposição Política Legal e da Violação dos Direitos Humanos.
Como complemento da manipulação direta e explícita do tema mencionado, este meio de informação faz uso de sofisticados mecanismos de caráter subliminar, que sob diferentes modalidades, nas que se destacam elementos de contraste formal e estrutural (a cor, a imagem, o tamanho, a dimensão e o aproveitamento espacial, a linguagem, etc.), gera manipulação psíquica a partir do impacto visual, o que se traduz em efeito de apropriação inconsciente por parte do leitor. Esta manipulação psíquica por um lado, dificulta ao receptor codificar e elaborar as mensagens, assimilando de forma separada os elementos que compõe a imagem, ao mesmo tempo em que conforma a estrutura total da mensagem desejada no inconsciente. A combinação de elementos totalmente contraditórios em um mesmo contexto, é uma das formas da manipulação subliminar.
Na edição de 11 de fevereiro de 1993, de El Tiempo, na página 1-A, aparecem, uma ao lado da outra, duas noticias: A primeira “Carro-bomba: 16 mortos” e a segunda: “Carnaval sem o mico ao ombro”. Na primeira notícia se anuncia a morte de 16 pessoas como saldo do atentado contra a União Sindical Operária, perpetrado em Barrancabermeja. Na segunda, se dá conta do início do Carnaval de Barranquilla, fato que se ressalta com os rostos sorridentes das rainhas e a figura grotesca de um homem fantasiado de símio. O contraste entre a tragédia que afeta a uma organização sindical e a população em geral, e a alegria que transmite a outra noticia, é na realidade uma vulgarização que descontextualiza o fato violento e desvia a atenção do observador. A contradição se constitui em Isolante Emocional, em um inibidor da sensibilidade a partir do efeito grotesco que se produz.
Outros elementos, mais refinados e sutis, buscam impactar de forma integral o observador, a partir de uma estrutura formal compacta que envolve um nível de coerência ideológica mais complexo.
Na edição de abril de 1993 de El Tiempo, aparece no centro da página 4-A, uma fotografia na qual um homem limpa com um jato de água uma parede na qual estão pregados grandes cartazes com a legenda “Partido Comunista”. O título da fotografia é: “Eureca: Limpeza”. Assim mesmo na edição de 31 de dezembro de 1994, na página judicial aparece a noticia: “Vinculam irmão de ‘Rambo’ ao assassinato do Senador Manuel Cepeda Vargas”. Ocupando dois terços da mesma página, pode-se observar em primeiro plano e colorido, um aviso publicitário de reciclagem de desperdícios, com um grande título que diz: “Lixo”. Nestas mensagens subliminares, a eliminação física dos setores de oposição se insinua disfarçadamete como uma modalidade de Limpeza Social em nosso país, estabelecendo-se a impunidade e o esquecimento como formas de reciclagem da História.
IV. Normalização Subliminar da Corrupção Política.
As mensagens subliminares são utilizadas como mecanismo psicológico não só para justificar ou legitimar o extermínio da oposição política, como também para normalizar e naturalizar frente à opinião pública, aspectos da realidade colombiana como a corrupção da classe política e seus dirigentes.
No dia 16 de abril de 1993, na página 6-A, página dedicada às noticias políticas, se apresenta o aviso publicitário de uma telenovela, que cobre a metade da página. No dito aviso aparece um personagem fazendo um discurso, e a seu lado a seguinte mensagem: “Este é um político honrado que busca o bem comum, e é bem comum que sempre tire vantagem”. No resto da página aparecem noticias sobre a realidade política nacional e a fotografia de um conhecido dirigente. O aviso publicitário, que satiriza a corrupção administrativa através da frivolidade do personagem da telenovela, localizado ao lado da informação real sobre a atualidade política do país, apresenta este fenômeno como algo aceitável e culturalmente assimilado.
Apesar de haver sido enunciada esta tese em 1995 ainda hoje conservam enorme vigência. Vejamos o publicado em 11 de abril de 2007 que nos mostra que a tergiversação e a insânia são intrínsecas ao pensamento dos donos do que hoje se converteu na casa editorial El Tiempo, um enorme monopólio da comunicação que cresceu mamando dos dinheiros provenientes da guerra. Diz El Tiempo:
Guerrilha das FARC teria infiltrado polícia de Costa Rica para tráfico de armas.
Segundo o vice ministro de Segurança Pública do país, Rafael Gutierrez, cinco agentes foram detidos durante a localização de um carregamento de fusís, metralhadoras e 30 mil balas para Colômbia.
Gutiérrez disse a um correspondente do diário El Universal do México em Costa Rica que procederá uma limpeza no interior da corporação policial para erradicar os possíveis nexos com o grupo armado colombiano.
Segundo o ministério, o carregamento de armas ia ser transladado por terra para o Panamá, quando foi interceptado. Isso permitiu que identificassem a formação da célula ilegal, de cuja operação resultaram detidos os cinco policiais e três pessoas cujas nacionalidades não foram informadas.
Costa Rica erradicou em 1948 seu Exército para atribuir todos os poderes militares à Polícia Nacional.
O caso atual seria o segundo incidente deste tipo nesse país. Depois de em junho de 2006 uma rede de narcotraficantes colombianos, costarriquenhos e panamenhos, teriam subornado policiais em um caso de homicídio de um colombiano vinculado ao tráfico de drogas, assinala o diário mexicano em sua versão digital.
Apesar do que foi dito, não há nenhuma evidência que prove que o contrabando de armas haja sido realizado por membros das FARC, nem sequer que seu destino fosse esta organização insurgente armada. De onde se alimenta El Tiempo? De outro meio? E quem nutre esse meio? Supostamente os meios costarriquenhos.
Sabemos que ali em Costa Rica, agentes das agências dos EEUU pagam a jornalistas costarriquenhos para que qualquer interceptação de cocaína ou de armas se impute às FARC sem nenhuma prova. Como se pode ver não são mais que boatos, que uma vez levados a rodar são reproduzidos pelos diferentes países e são convertidos desta maneira em verdade. É o mesmo estratagema usado no Iraque e em todo o mundo.
É à sombra da guerra que EL Tiempo se converteu em casa editorial e hoje se dirige a converter-se em monopólio, alçado logicamente pelo regime narcoparamilitar que paga os favores recebidos e os declara isentos de imposto e contratos por 9 bilhões de pesos. Sempre me tenho perguntado: É ou não é uma forma de vender-se?
Revista Semana e narcoparamilitarismo
63 milhões recebeu a Revista Semana por publicar uma reportagem do señor Hernán Giraldo.
Hoje leio em El Heraldo – um diário local – que o sobrinho do capo narcoparamilitar Hernan Giraldo, que arrasaram Santa Maria e Magdalena em sua ‘confissão’ ante a prefeitura disse segundo o diário: “Se referiu a uma publicação da Revista Semana da edição de 02 de fevereiro de 2006, intitulada “O Senhor da Serra”.
…De acordo com Giraldo Giraldo, o semanário teria recebido 63 milhões para que enviasse algum de seus jornalistas à Serra Nevada e publicasse um artigo sobre o ‘Patrão’.
…O dinheiro foi enviado com José Gévez Albarracin (aliás o ‘grisalho’) em 30 de janeiro de 2006, antes da desmobilização. Se buscava que os meios de comunicação saquessem algo favorável porque se falava mal do senhor (Giraldo Serna)”.
Isso não é nada estranho. É a prostituição do nobre exercício do jornalismo. A Revista Semana – parte da casa editorial El Tiempo – atua permanentemente como porta-voz das forças militares e já vemos como se lucra ao realizar ‘reportagens’ para mostrar o poder dos grupos narcoparamilitares.
Este lucro, além de imoral e antiético, é criminoso. As vítimas produzidas pela turba assassina do capo narcoparamilitar Hernán Giraldo, são testemunhas de guerra que este ‘senhor’ como lhe chamam na Revista Semana, investiu – e investe – contra vítimas inocentes, inertes e desarmadas.
Também vemos que os diretores da Semana saem refutando as afirmações do narcoparamilitar Giraldo Giraldo, mas é extremamente gritante que nenhum dos meios em poder da oligraquia, nem sequer a mesma revista, haja feito uma reportagem a nível nacional destas ‘confissões’ de Giraldo. Informção oportuna, verídica?
Uma informação verídica
Da esquerda temos sempre denunciado o papel dos meios de comunicação jogam nas políticas dos estados e especialmente nos países onde se praticam guerras do estado contra o povo, no que se tem chamado acertadamente de Terrorismo de Estado. Esses meios se convertem em incitadores (atores) e beneficiários, ao tempo da guerra, transpassando todos os princípios éticos e desprezando os valores morais.
Por esta razão o povo deve construir seus próprios e , neste mundo globalizado, oportunos, rápidos e verdadeiros meios de comunicação, que lhe brinde informação objetiva ao povo e neutralize os propósitos midiáticos dos meios burgueses.
Devemos recordar o que nosso libertador Simon Bolívar dizia:
Em moral como em política há regras que não se devem transpassar, pois sua violação costuma custar caro.