quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O livro dos mortos e desaparecidos



Frei Betto


“Direito à Memória e à Verdade” registra o perfil dos mortos e desaparecidos sob a ditadura militar brasileira.

A obra resulta de cuidadoso trabalho da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, presidida pelo advogado Marco Antonio Rodrigues Barbosa. Editada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da presidência da República, nesta gestão do ministro Paulo Vannuchi, é, com certeza, o mais importante documento histórico sobre os anos de chumbo, desde a publicação de “Brasil, Nunca Mais”, assinado por dom Paulo Evaristo Arns, hoje cardeal emérito de São Paulo, e o reverendo Jaime Wright.

O que faz a diferença é que “Direito à Memória e à Verdade” é um documento oficial do governo e, portanto, sinaliza importante passo no reconhecimento do arbítrio prevalecente no regime militar e na abertura dos arquivos daquele período.

Quis a sorte, resultante das oscilações conjunturais de nossa política, que o processo que culmina na publicação do livro tenha sido iniciado, em 1995, por Nelson Jobim, então ministro da Justiça do governo FHC. Hoje, Jobim é ministro da Defesa, autoridade máxima, à exceção do presidente da República, sobre as Forças Armadas que insistem em não abrir seus arquivos sobre a repressão.

Há que sublinhar o mérito do governo FHC, bem como do ex-ministro José Gregori, ao reconhecer a responsabilidade do governo brasileiro frente à questão dos mortos e desaparecidos, bem como o empenho na indenização às vítimas e suas famílias.

Nenhuma vítima da ditadura, por questão de bom senso humanitário, encara esta iniciativa do governo Lula pela ótica da vingança. Não se trata de vingança, e sim de justiça. Aprendi no cárcere que o ódio destrói primeiro quem odeia e não quem é odiado.

A nação, entretanto, tem o direito de resgatar a sua memória e corrigir aberrações jurídicas como a “anistia recíproca” do governo Figueiredo. Inútil querer impedir que as famílias pranteiem seus mortos e clamem por seus entes queridos desaparecidos. E, a exemplo do Chile e da Argentina, o princípio elementar do Direito exige que crimes, sobretudo aqueles cometidos em nome do Estado, sejam investigados e seus responsáveis punidos, para que a impunidade não prevaleça sobre a lei nem se perpetue como tributo histórico.

A memória brasileira tem sofrido tentativas de “apagão” quando os conjurados mineiros são qualificados de inconfidentes (que significa aqueles que não merecem confiança ou não são capazes de guardar confidências, leia-se dedos-duros) e em episódios históricos como a Guerra do Paraguai, o massacre de Canudos e tantas outras rebeliões que semearam a nossa independência e forjaram a nossa identidade. Não se pode admitir agora que um período trágico de nossa história como foi a ditadura militar fique relegado ao olvido com seus documentos tão desaparecidos quanto muitas de suas vítimas.

É meritório que o governo Lula tenha revogado o caráter de “sigilo eterno” de documentos oficiais, conforme havia sido determinado pelo governo FHC, ao estabelecer prazo de trinta anos, prorrogáveis por mais 30, para que a sociedade tenha acesso a eles. Espera-se que também esse longo período venha a ser revogado, para que interpretações falseadas e/ou equivocadas de nossa história não adquiram nos livros didáticos e na opinião pública status de verdade.

“Direito à Memória e à Verdade” soma-se ao crescente esforço de trazer à luz a realidade dos anos de chumbo. Aplausos para o cinema nacional que exibe nas telas o caráter deletério do regime militar em produções recentes: “Zuzu Angel”, “Hércules 51”, “Quando nossos pais saíram de férias”, “ Batismo de Sangue”, “Ato de Fé”, “Conspiração do Silêncio – Araguaia”, “Serra do Caparaó”, “Quase Dois Irmãos”, “Barra 68”, “Cabra-Cega” etc.

A Secretaria Especial dos Direitos Humanos - cujo empenho no combate à exploração sexual de crianças e na defesa dos direitos de indocumentados e portadores de deficiência física mereceria amplo espaço na publicidade oficial - ostenta agora o mérito de fazer jus à memória nacional.


Frei Betto é escritor, autor de “Batismo de Sangue” (Rocco), entre outros livros.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Os 3 Malandros In Concert - Bezerra da Silva, Dicró e Moreira da Silva [1995]


Definitivamente, você não pode perder a oportunidade de ter este registro gravado ao vivo, em São Paulo, que reúne os três "malandros", Moreira, Bezerra e Dicró interpretando pérolas do samba. Vale a pena conferir, "Jogando Com O Capeta", "Os Três Pagodeiros Do Rio" e "Malandro Não Vacila", entre outros.

Extraia o sumo: Os 3 Malandros In Concert - Bezerra da Silva, Dicró e Moreira da Silva [1995]

Faixas:
1. O Recital
2. Os Três Pagodeiros Do Rio
3. Ópera Do Morro
4. 3 Malandros In Concert
5. Ressuscita Ele
6. Chave De Cadeia
7. Malandro Não Vacila
8. O Político
9. Na Subida Do Morro
10. Dava Dois
11. Lugar Macabro
12. Jogando Com A Capeta
13. Rua Da Amargura
******************************************************************************
De tanto não ver chover,
vertendo prantos aos molhos,
fiz uma seca nascer
na cacimba dos meus olhos.
(Ademar Macedo - Natal/RN)
Copiado de: SomBarato
Separe a gordura boa da ruim
Controlando o consumo, você pode comer de tudo sem prejudicar a dieta


Trans: onde ela se esconde?

Apesar de a má fama ter sido espalhada há pouco tempo, a gordura trans sempre fez parte do time de gorduras prejudiciais à saúde. E, se você acha que ela só atrapalha a perda de uns quilinhos, melhor checar a sua despensa. Doenças do coração, derrames e até alguns tipo de câncer têm sido relacionados ao mau consumo de alguns tipos de gorduras.

Não à toa, portanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária ordenou que todas as empresas alimentícias indiquem, no rótulo de cada produto, a quantidade presente desse tipo de gordura.

A mudança aconteceu em julho de 2006, transformando uma simples ida ao supermercado numa epopéia em busca do prato saudável. O problema é que, além da trans, há muitas outras variações desse nutriente. E haja cabeça para diferenciar um do outro e incluir cada um deles no cardápio, sem comprometer a saúde.

Para acabar com essa confusão de uma vez por todas, convocamos a responsável pela equipe nutricional do Minha Vida, Roberta Stella. Superdidática, ela montou um guia completo sobre todos os tipos de gordura consumidos por você do café-da-manhã ao jantar, passando ainda pelo lanchinho da tarde. Tome nota!

Coloque os vilões fora de combate
Roberta alerta para uma mudança notável no padrão alimentar dos brasileiros. "A elevada ingestão de alimentos ricos em gorduras ruins, aliada ao excesso de peso e ao sedentarismo eleva o risco de desenvolver doenças cardiovasculares".


Colesterol: até 300mg diários

Colesterol
Tipo de gordura com duas faces, o colesterol desempenha um papel importante no organismo, já que participa da produção dos hormônios sexuais e das glândulas supra-renais. Além dessas funções, o colesterol ajuda na formação da membrana celular e da bílis (substância produzida pelo fígado, fundamental para a digestão das gorduras).

O problema dessa gordura está relacionado ao seu excesso. "A quantidade de ingestão diária não deve ultrapassar 300mg", ressalta Roberta.

A razão disso é que, para ser transportado pelo corpo, o colesterol conta com a ajuda de uma proteína chamada LDL. No vai-e-vem, a proteína acaba deixando rastros da gordura pelo caminho, formando as placas prejudiciais à saúde.

Para ajudar a recolher os restos deixados pela LDL, o organismo conta com a participação da proteína HDL. Também ajudante no transporte do colesterol pelo corpo, ela entra em ação como uma espécie de faxineira varrendo todos os rastros nocivos. Por isso, é importante que as taxas de HDL sempre estejam acima das de LDL.

O segredo para manter essa proporção em equilíbrio e ficar longe das doenças cardiovasculares é controlar os alimentos de origem animal, como carne, leite, derivados e embutidos, apresentam esse tipo de gordura

Gorduras saturadas
Sólidas em temperatura ambiente e viscosas quando aquecidas, as gorduras saturadas são uma ótima isca para doenças cardiovasculares. Isso porque elas colaboram para o aumento de LDL, colesterol ruim, que circula pelo sangue.

Derrames e alguns tipos de câncer, como o de próstata e o de mama, também têm a origem associada aos excessos dessas gorduras no organismo sem falar que a gordura saturada é inimiga número um do emagrecimento. Para prevenir tudo isso, restrinja o consumo diário desse nutriente a, no máximo, 7% das calorias totais da sua dieta.

"Esse tipo de gordura está presente em maior quantidade nos alimentos de origem animal, como carnes, leite e derivados, ovos", alerta a nutricionista.

Gordura trans
Responsável pela forma, textura e sabor aos alimentos industrializados, a gordura trans tem origem na gordura vegetal (que é insaturada e não causa danos à saúde) e torna-se prejudicial depois do processo de hidrogenação.

Na prática, a gordura que era líquida e insaturada passa a ser sólida e saturada, sendo conhecida também como gordura vegetal hidrogenada.

Portanto, assim como a gordura saturada, a trans aumenta os níveis do mau colesterol no sangue e ainda diminui as taxas do colesterol benéfico ao organismo, o HDL.

Entre os alimentos que contêm gordura trans, encontramos bolos e tortas industrializadas, biscoitos salgados e recheados, pratos congelados, sorvetes cremosos e margarinas.

De acordo com Roberta, ainda não existe uma recomendação de quantidade ideal para o consumo de gordura trans. "Mas alguns especialistas dizem que ela não deve passar de 2 gramas por dia", afirma.



Azeite em ação: combate ao LDL

Time do bem
Engana-se quem pensa que todo tipo de gordura causa malefícios ao organismo. Entre a equipe do bem, os destaques vão para as gorduras monoinsaturadas e poliinsaturadas.

Gorduras monoinsaturadas
São líquidas em temperatura ambiente, mas iniciam a solidificação quando levadas à geladeira. Um bom exemplo de gordura monoinsaturada são os molhos à base de azeite, opacos na geladeira e transparentes em temperatura ambiente.

Além de fornecer energia ao corpo, esse tipo de gordura conta com mais uma vantagem: ajuda a diminuir o LDL, conhecido como colesterol ruim.

Para aproveitar os benefícios das gorduras monoinsaturadas, recorra ao óleo de canola e de soja, azeite de oliva, abacate, castanhas e amêndoas. Mas não exagere na dose. Se comparados a outros tipos de gordura, eles realmente não causam tantos malefícios ao coração. Mas, em contrapartida, são bastante calóricos e podem pôr o seu regime a perder


Gorduras poliinsaturadas
Assim como as monoinsaturadas, esse tipo de gordura ajuda a diminuir o colesterol ruim. Por outro lado, se consumidas mais do que o indicado, as poliinsaturadas podem fazer os níveis de HDL (o bom colesterol) diminuírem.

Conte com elas também para ficar longe dos coágulos nas artérias. A ajuda acontece porque a gordura diminui a agregação das plaquetas.

As gorduras poliinsaturadas são encontradas nos peixes de água fria e nos óleos de soja, milho e girassol. Somando sua ingestão com as monoinsaturadas, as gorduras não devem ultrapassar os 20% do total de calorias diárias.

Fonte: Minha Vida

Grande Criatividade!!!


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Um dos gritos modernos mais importantes em favor do homem é o de Julia Kristeva, uma das mais brilhantes e respeitadas intelectuais da atualidade.
A psicanalista búlgara, professora da Sorbonne, constata que o homem moderno está perdendo a sua alma, mas não se dá conta disso.
A princípio, quem estiver lendo pode achar que essa perda é um desencontro com Deus, um abandono do espírito e horrorizar-se....
Não, nada a ver.
Não dizem que tal cantor fez o show com a alma?
Que a atriz interpretou colocando sua alma no palco?
Na nossa alma estão as emoções mais puras, a intuição, os sonhos, o Sentido (além dos sentidos), o talento virgem, a pujança dos sentimentos.
A habilidade de amar, por exemplo, é um grande sinal anímico.
Ou alguém é capaz de amar, de amar mesmo, sem que seja através da alma?
Pode-se ter simpatia, carinho, atenção, atração física, até um certo envolvimento gostoso, mas amor é alma e fim de papo.
Mas por que essa fabulosa mulher clama que estamos perdendo a nossa alma ?
O faz através desta instigante questão: ‘‘Confrontada aos antidepressivos e ansiolíticos, à aeróbica, ao utilitarismo social, à Sociedade do Espetáculo, ao poderio econômico, ao massacre da mídia e à absoluta futilidade, a alma ainda existe ? ’’
Justamente na medida em que banalizamos essa vida a um ponto inacreditável, tornando-a um instrumento, um objeto, quase um eletrodoméstico que trabalha ininterruptamente em favor de um resultado ou daquilo que se espera dele por parte de quem o manuseia constantemente.
Banalizar é colocar-se por inteiro no padrão externo, nada deixando resguardado.
Gostaria muito que vocês se lembrassem deste apelo:
não podemos passar a existência no desperdício único da prestação de serviços!
Como isso é sério gente!
Fundamental para o resguardo da nossa alma é a consciência de que uma parte de nós não entra no mundo.
Ou seja, há uma parte sua que não é casada com ninguém, que nunca teve filhos, que não é profissional de nada, brasileiro, paulista , membro desta ou daquela entidade.
Uma parte saudavelmente intacta.... Aí vive a nossa alma.
Fica então um pedido :
Dê 80% de você para o mundo e para os outros, mas guarde 20%, por favor.
É por esse percentual que circulam os seus sonhos,
a chance de renovação, a transformação, a criatividade, a possibilidade de mudar, renovar, resignificar.
Mesmo que isso custe o chamado de ‘‘egoísta’’ por parte dos outros, ainda que todos os elogios que lhe façam estejam apenas nos 80%.
Tenha a certeza de que os 20% guardados não farão a menor falta para os outros, mas, para você, são fundamentais.
Para que não descubra tarde demais que nada fez por si mesmo,
para o derramar-se no inédito e não cair na massificação total, no desconstruir-se em nome do nada, para ter o que entregar ao espírito, o correspondente da alma num outro plano, quando surgir a pergunta...
" O que fizeste por ti ? "
Copiado de:AmigosDoFreud


Como toda a gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana: o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; a observação dos homens, que na maior parte dos casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos ou para nos convencer de que os têm; os livros, com os erros particulares de perspectiva que nascem entre as suas linhas. Li quase tudo quanto os nossos historiadores, os nossos poetas e mesmo os nossos narradores escreveram, apesar de estes últimos serem considerados frívolos, e devo-lhes talvez mais informações do que as que recebi das situações bastante variadas da minha própria vida. A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, assim como as grandes atitudes imóveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos. Em contrapartida, e posteriormente, a vida fez-me compreender os livros.
Mas estes mentem, mesmo os mais sinceros. Os menos hábeis, por falta de palavras e de frases onde possam abrangê-la, traçam da vida uma imagem trivial e pobre; alguns, como Lucano, tornam-na mais pesada e obstruída com uma solenidade que ela não tem. Outros, pelo contrário, como Petrónio, aligeiram-na, fazem dela uma bola saltitante e vazia, fácil de receber e de atirar num universo sem peso. Os poetas transportam-nos a um mundo mais vasto ou mais belo, mais ardente ou mais doce que este que nos é dado, por isso mesmo diferente e praticamente quase inabitável. Os filósofos, para poderem estudar a realidade pura, submetem-na quase às mesmas transformações a que o fogo ou o pilão submetem os corpos: coisa alguma de um ser ou de um facto, tal como nós o conhecemos, parece subsistir nesses cristais ou nessas cinzas. Os historiadores apresentam-nos, do passado, sistemas excessivamente completos, séries de causas e efeitos exactos e claros de mais para terem sido alguma vez inteiramente verdadeiros; dispõem de novo esta dócil matéria morta, e eu sei que Alexandre escapará sempre mesmo a Plutarco. Os narradores, os autores de fábulas milésias, não fazem mais, como os carniceiros, que pendurar no açougue pequenos bocados de carne apreciados pelas moscas. Adaptar-me-ia muito mal a um mundo sem livros; mas a realidade não está lá, porque eles a não contêm inteira.
Marguerite Yourcenar
picture by Luiz Carlos Ferracioli
Copiado de:AmigosDoFreud

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Rede de comércio justo apóia 5 mil pequenos produtores

Naara Vale * Adital -

Vidas que transformam vidas. Sob essa crença, a organização não-governamental Visão Mundial mantém, desde 1950, um trabalho social com pessoas carentes de mais de 100 países. Inicialmente focada nas crianças, hoje o Visão Mundial atua em diferentes faixas etárias com o propósito de desenvolver projetos com famílias necessitadas até que elas criem seus próprios meios de sustentação.

No Brasil, a ONG está instalada desde 1975, quando começou a concentrar suas ações em crianças do Nordeste, Tocantins, Norte de Minas Gerais, Amazonas e de grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A atenção foi estendida à família da criança quando foi percebido que, ao chegarem em casa, meninos e meninas atendidos pelo projeto se deparavam com uma realidade muito diferente daquela vivida enquanto estavam dentro do projeto.

Foi assim que há seis anos foi dado início ao Programa de Comércio Solidário da Visão Mundial. O programa tem como missão promover esforços para que pequenos produtores e produtoras tenham um acesso justo aos mercados consumidores, o que possibilita a estas pessoas um meio de vida auto-sustentável. Para isso, o Comércio Solidário trabalha apoiando os pequenos produtores no desenvolvimento de produtos, comercialização, organização e articulação política na defesa dos direitos de pequenos produtores e produtoras.

Atualmente, cerca de 5 mil pessoas de 12 estados do Brasil recebem o apoio do projeto, desde a elaboração do produto até a sua comercialização. Os produtores são atendidos através de cinco linhas programáticas que estão divididas entre: "Arte Solidária", "Agricultura Sustentável", "Etiqueta Solidária", "Empresa Solidária" e "Promoção da Justiça".

Através da "Empresa Solidária", que leva o nome de Ética Comércio Solidário, a Visão Mundial, em parceria com mais outras quatro ONG’s, consegue comercializar os produtos de 100 grupos de pequenos produtores ligados ao programa. De acordo com a assessora técnica do programa, Juliane Montenegro, a criação da empresa abriu portas para que os produtores conseguissem chegar ao consumidor com mais facilidade e escoar seus produtos tanto para o mercado nacional como internacional.

Segundo ela, com o intermédio da empresa, os compradores ficam mais confiantes e adquirem produtos que não comprariam diretamente dos produtores pela dificuldade de emissão de notas e garantias formais, já que muitos grupos do programa não estão formalizados.

Essa é também uma das bandeiras de luta do programa, praticada através da linha "Promoção da Justiça", na qual a Visão Mundial realiza ações no campo da política com o objetivo de promover a consciência dos participantes quanto aos seus direitos, deveres e para a construção de um sistema de comércio mais justo.

Nas outras três linhas praticadas pelo programa ("Arte Solidária", "Agricultura Sustentável" e "Etiqueta Solidária"), que trabalham com artesanato, agricultura e confecção respectivamente, os produtores recebem o apoio nas seguintes etapas: diagnóstico produtivo-comercial; desenvolvimento de produtos, embalagens, marca, catálogo, etiqueta e logística; disseminação de informações sobre mercados; elaboração de preço e custo de produtos; capacitações; seminários e eventos.

Em seis anos de atuação, a rede de Comércio Solidário criado pela organização tem funcionado como um grande suporte ao foco maior da ONG que são as crianças, já que tem dado a pais e mães de famílias a possibilidade de se inserir no mercado de trabalho pautados no comércio justo e na ética. Além disso, segundo Juliane, hoje, 98% dos produtores atendidos pelo projeto ganham mais de um salário mínimo por mês com a comercialização dos seus produtos.

As matérias de Economia Solidária são produzidas com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).


* Jornalista da Adital

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segunda-feira, 27 de agosto de 2007

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A China e o equilíbrio do terror financeiro

Alejandro Nadal

. Durante o apogeu da guerra fria, a doutrina da destruição mútua assegurada era fundamental: os Estados Unidos e a União Soviética mantinham seus arsenais em estado de alerta permanente e ambas as super-potências sabiam que não podiam pretender aniquilar todas as armas nucleares da outra num ataque surpresa. O arsenal sobrevivente seria suficiente para infligir danos intoleráveis ao atacante. A garantia da destruição mútua assegurada tinha em inglês a sugestiva sigla de MAD (mutual assured destruction). Como indica o acrónimo, era baseada numa loucura.

Hoje uma estrutura parecida rege o destino da economia mundial. Os Estados Unidos e a China estão atados por um dilema semelhante ao equilíbrio do terror nuclear, mas desta vez aplicado às finanças internacionais: o primeiro é o maior devedor do mundo, ao passo que o segundo é o seu credor mais importante.

O défice estado-unidense em conta corrente aumenta a cada mês em velocidade vertiginosa. Isso faz com que cresçam os temores quanto ao valor do dólar ou, para sermos mais precisos, sobre a duração da calma antes da tormenta. Com efeito, um cenário no qual se produza a fuga frente ao dólar e todo o mundo queira trocá-los por outro tipo de activos ou divisas não é impensável. Nesse contexto, surge a grande pergunta: estaria a China interessada em detonar esse processo?

A China tem reservas de 1,2 mil milhões de dólares. Desse montante, aproximadamente 900 mi milhões encontram-se numa mistura de títulos e bónus do Tesouro dos EUA. Qualquer movimento no sentido de se desfazer desta massa de recursos denominados em dólares provocaria a derrubada da divisa verde, uma alta nas taxas de juros no Estados Unidos e provocaria uma recessão severa nesse país. A própria estabilidade da economia mundial estaria em jogo.

Na semana passada funcionários do governo chinês utilizaram a metáfora da "opção nuclear" ao insinuar que o seu país poderia utilizar suas reservas em bónus do Tesouro estado-unidense como arma de negociação, em resposta à imposição de sanções comerciais por parte de Washington.

A ameaça foi recebida com mal estar nos Estados Unidos. Mas também com incredulidade por se considerar que se a China provocasse a derrubada do dólar sofreria perdas enormes uma vez que 70 por cento das suas reservas estão em activos denominados em dólares. Pior ainda, afectaria negativamente a economia estado-unidense e isso não lhe convém porque esse país está entre os seus principais clientes.

Mas os EUA continuam obcecados com a ideia de que o incremento do seu défice comercial com a China é devido à sub-avaliação do renminbi (que embaratece mais as exportações chinesas). Todos os políticos da Casa Branca, desde Bush até Obama e Hillary, repetem esta ideia: haverá que impor sanções comerciais aos chineses se não tratarem de reavaliar o renminbi a fim de eliminar esta fonte desleal de competitividade. Esta colocação ignora que nos últimos dois anos o renminbi valorizou-se uns 10 por cento contra o dólar, mas isso não travou o incremento no superávite comercial chinês, que em Junho último atingiu os 27 mil milhões de dólares.

Nesta era de volatilidade, reestruturação de mercados de crédito e intervenções da autoridades monetárias para acalmar borbulhas especulativas, ressurge o medo de uma crise financeira global. O equilíbrio do terror que liga a China e os Estados Unidos é a peça chave do tecido económico internacional e o nervosismo dos credores (detentores de dólares) aumenta.

Na economia planetária os seus agentes sabem que estão contados (se é que já não se acabaram) os dias em que o dólar estado-unidense era a moeda de reserva internacional por excelência. Mas ainda se mantém uma situação na qual a maior parte das reservas dos bancos centrais está denominada nessa divisa.

Paradoxalmente, na medida em que a China conserva uma parte significativa das suas reservas em dólares, contribui para manter o papel dessa divisa como moeda de referência à escala mundial. Mas se o equilíbrio do terror repousa num paradoxo, isso torna-o especialmente instável. A presença do euro vem complicar as coisas, porque o jogo entre três aumenta a probabilidade de desestabilização do balanço do terror e nos aproxima de um cenário de conflito aberto.

A China poderia iniciar uma mudança gradual na composição das suas reservas, digamos com 40 por cento em dólares, outros 40 por cento em euros, e uns 20 por cento em yenes. Isto levaria a uma apreciação do renminbi, que é o que Washington diz procurar. Também estaria mais de acordo com a diversificação geográfica do comércio chinês. Mas, ainda que isso pudesse permitir escapar ao dilema da destruição mútua assegurada, a ironia é que Washington não vê com bons olhos esta solução porque contribui para minar o papel do dólar a nível mundial. Os Estados Unidos insistem em jogar o tudo ou nada. Não é boa estratégia.

O original encontra-se em LaJornada

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .