Conheci o som do Fela Kuti numa viagem de carro, quando um amigo, voc
alista de uma banda me entregou uma fita cassete, minutos antes da viagem de duas horas que enfrentaríamos em comboio.
A banda desse amigo meu, iria se apresentar na mesma noite, algumas horas mais tarde. Isso mesmo, nós estávamos viajando de noite, e esse amigo me entregou uma fita cassete que tinha escrito apenas Nigera’s Fela. Tanto que eu achei que esse era o nome do artista, até que finalmente eu me rendi ao som
fenomenal de Fela Ransome Kuti.
Neste agosto, fizeram 10 anos da morte de Fela Kuti, em decorrência a complicações com a AIDS, em três de agosto de 1997. Muito antes, no dia 15 de outubro de 1938, Fela nascia em Abeokuta, cidade do sul da Nigéria, mais conhecida como a capital do Estado de Ogum.
Fela nasceu em berço político, seu pai era professor e sua mãe tinha atividades feministas, e como bem definiu Alexandre Matias, num texto publicado na ‘
Radiola Urbana’ e no ‘
Trabalho Sujo’, “ele era o equivalente africano a Che Guevara e Bob Marley”. Praticamente em todos os sentidos.
Na juventude, Fela mudou-se para Londres a fim de estudar medicina, mas foi a música que capturou sua essência. Na Inglaterra mesmo, ele formou a banda ‘Koola Lobitos’, e iniciou os
primeiros passos no estilo afrobeat, uma mistura de jazz, funk, e música tradicional africana.
No final dos anos 60, Fela foi para os Estados Unidos e gravou o disco, ‘The Los Angeles sessions’, e conheceu um grupo intitulado ‘Panteras Negras’ que lhe mostrou o movimento blackpower, que acabou definindo sua luta política em prol de movimentos sociais na sua terra natal, tanto que ele renomeou a banda para ‘Nigéria 70’.
Ao retornar para Nigéria, Fela rebatizou a banda mais uma vez para ‘África 70’, e lançou o selo musical, que também tinha função de comunidade, estúdio e lar para todos aqueles que se
consideravam independentes do Estado da Nigéria, o ‘Kalakuta Republic’.
Fela cada vez mais lutava pela libertação da Nigéria e pelos direitos humanos na África. E também espelhando-se nas ações que ecoavam do movimento negro norte-americano, com expoentes como Martin Luther King e Malcom X, Fela adotou o nome Anikulapo, que significava ‘aquele que carrega a morte no bolso’, e repudiou o nome Ransome por ser o nome de escravo da família.
Em 77 Fela lançou o disco ‘Zombie’, que criticava as ações dos militares nigerianos, fazendo u
ma alusão a mortos-vivos. O disco fez muito sucesso, mas desagradou o governo nigeriano, que lançou um ataque contra a ‘Kalakuta Republic’, num incidente que causou a morte da mãe do artista e destruiu as instalações do estúdio do artista.
Em 1978 Fela se casou com vinte e sete mulheres, que faziam parte de sua banda, como dançarinas ou backing vocals, para relembrar a massiva destruição do ‘Kalatula Republic’. Logo após, Fela lançou em campanha para presidente na Nigéria, mas sua candidatura foi recusada.
Fela remontou sua banda com novo nome de ‘Egypt 80’, e continuou a lançar discos no estilo afrobeat. Ele tentou mais uma vez se candidatar à presidência da Nigéria, mas foi preso sob a acusação de envolvimento com a máfia.
Após quase dois anos, Fela foi liberado da prisão e voltou a gravar com a ‘Egypt 80’, com quem se apresentou no Concerto ‘Conspiracy of hope’ em beneficio da Anistia Internacional em 1990.
Fela lutou até o fim da vida contra a ditadura na Nigéria, mas o que ficou mesmo foi sua música.
1966 Fela Ransome Kuti and His Koola Lobitos1. Highlife time
2. Omuti tide
3. Ololufe mi
4. Wadele wa Robin
5. Laise Lairo
6. Wayo
http://www.badongo.com/file/4134556