terça-feira, 13 de novembro de 2007

Os desafios da democracia na América Latina



Dejalma Cremonese - CorreioDaCidadania

Vive-se um momento peculiar no cenário político nacional. A eleição geral de 2006 foi a quinta eleição direta consecutiva para presidente da República. Isso representa um avanço na história política do Brasil, essencialmente marcada por governos oligárquicos, populistas e autoritários. Ao concluir o segundo mandato do governo Lula, completam-se 24 anos de democracia ininterrupta. Algo inédito até então. No entanto, é preciso aprimorar o regime democrático, resolvendo os problemas de ordem estrutural (econômico e social).

Pode-se dizer que se conquistou, no Brasil, até o momento, uma democracia formal poliárquica (eleições livres e freqüentes; liberdade de expressão; fontes de informações diversificadas; autonomia para associações e cidadania inclusiva), segundo a prerrogativa de Robert Dahl. Entretanto, como questiona Saramago, “até que ponto se permite que esse sistema seja substancial?”, isto é, alcançamos uma democracia eleitoral e suas liberdades básicas; trata-se, agora, de avançar para a consolidação de uma democracia cidadã e inclusiva (é preciso passar da condição de meros espectadores para cidadãos participantes). A democracia é muito mais que um regime governamental, é mais do que um método para eleger e ser eleito. O sujeito, mais do que eleitor, é cidadão. De que adiante democracia se os problemas sociais e econômicos da maioria da população ainda persistem?

Talvez por isso, segundo a pesquisa do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) feita na América Latina, 54,7% dos cidadãos estariam dispostos a aceitar um regime autoritário se este resolvesse a situação econômica de seus países e respondesse às suas demandas sociais; 56,3% avaliam que o desenvolvimento é mais importante que a democracia e 58,1% concordam, também, que o presidente possa ignorar as leis para governar. A democracia ideal pressupõe que a participação pública e o espírito cívico dos cidadãos (associativismo, confiança e cooperativismo) sejam aprimorados em busca de justiça social e da emancipação humana. E mais, como diz Hélgio Trindade: “a construção da democracia participativa supõe uma combinação entre cidadania democrática e representação política plena”.

A democracia latino-americana não pode ser uma democracia que facilita os procedimentos, porém fracassa para proporcionar liberdades cívicas e garantir os direitos humanos - a que Larry Diamond denomina democracia iliberais (illiberal democracies), ou, ainda, a que Marcello Baquero chama de democracia inercial: com inexistência de instituições sólidas, comportamento político emocional e subjetivo, falta de fiscalização e predomínio de traços clientelísticos, personalistas e patrimonialistas entre os representantes eleitos. É necessário que se estruture na América Latina, nas palavras de Pablo González Casanova, uma democracia dos de baixo, onde os pobres vejam garantida a segurança social e econômica.

Além do autoritarismo democrático que vive na cultura política latino-americana, pode-se afirmar que impera uma típica democracia delegativa (Guillermo O’Donnell). Isso significa afirmar a existência de frágeis instituições políticas, em que se sucedem crises de ordem sócio-econômica (sucessivos planos econômicos), deterioração da autoridade presidencial, corrupção do aparelho do Estado e violência generalizada. Isto é, a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso de suas políticas é exclusiva do presidente da República. O presidente e sua equipe pessoal são o alfa e o ômega da política (o presidente isola-se da maioria das instituições políticas) e os problemas da nação são tratados por técnicos e burocratas, especialmente no que se refere à política econômica. A oposição e a resistência das ruas, da sociedade, do Congresso ou de associações de representação de interesse são silenciadas ou ignoradas. Prevalece a centralização política e a personificação do poder do presidente - é o que Hélgio Trindade chama de hiperpresidencialismo: “o presidente se considera legitimado por um poder delegado pelo voto para implementar, por mecanismos autoritários, suas decisões políticas”.

Por fim, além da participação dos setores organizados da sociedade civil e do olhar crítico e imparcial da mídia, é preciso outras formas de controle e “responsabilização” dos atos administrativos das pessoas que ocupam cargos públicos. Trata-se aqui de inserir o conceito de accountability (autoridades politicamente responsáveis, que podem ser responsabilizadas pelos seus atos, que devem prestar contas dos seus atos). Para André Marenco dos Santos, o accountability (controle democrático) pode ser vertical (relação governantes e governados) e horizontal: poderes externos podem punir o governo – separação de poderes (autoridades estatais que controlam o próprio poder: que pode empreender ações que vão desde o controle rotineiro até sanções legais ou inclusive impeachment, conforme o caso). A democracia pressupõe, igualmente, alternância de poder. A proposta de eleição ininterrupta de Chávez na Venezuela e a cogitação de um plebiscito para o terceiro mandato de Lula no Brasil diminuem as chances da consolidação e do fortalecimento da democracia no Continente.

Dejalma Cremonese é cientista político, professor do departamento de Ciências Sociais e do Mestrado em Desenvolvimento da Unijuí – RS

Web Site: www.capitalsocialsul.com.br

E-mail: dcremo@hotmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

"Mídia sufoca pluralidade e suprime pensamento crítico"

Ao se autoproclamar formadora e porta-voz definitiva da "opinião pública", a mídia brasileira sufoca a pluralidade de visões e, na mão de poucos grupos familiares e políticos, suprime o pensamento crítico do debate nacional, avaliam Emir Sader e Marilena Chauí.

SALVADOR - Um dos casos mais recentes e emblemáticos de um certo
desvario reinante na imprensa brasileira foi, segundo o sociólogo Emir
Sader, a afirmação de um graduado jornalista sobre os resultados das
eleições presidenciais de 2006: o povo, ao reeleger Lula, teria
contrariado a opinião pública.

Participante, junto com a filósofa Marilena Chauí e a jornalista
Tereza Cruvinel (TV Brasil) do debate Mídia e Democracia no Brasil,
atividade do Fórum Internacional Mídia, Poder e Democracia, que
acontece em Salvador, BA, entre os dias 12 e 14 de novembro, Sader
destrinchou as estratégias utilizadas pela mídia para impor à
população um papel de agente passivo na construção social, política e
econômica do país e no processo de supressão progressiva da democracia.

Citando os resultados de uma pesquisa recente do jornal Folha de São
Paulo
, que constatou que seus leitores são, em absoluta maioria,
integrantes das classes A e B, com grande poder aquisitivo e cultura
de consumo, Sader destacou duas questões importantes: por um lado, o
jornal resume seu universo editorial em ser pautado e pautar a
"opinião pública" de uma determinada classe, buscando ser ao mesmo
tempo construtor e filtro do consenso e definindo "o quê, quando e
sobre o quê se fala?.

Por outro lado, o liberalismo escamoteado de "liberdades" reduziu os
receptores das informações a consumidores, de olho nas possibilidades
de financiamento da industria de bens de consumo. Mais do que uma
imprensa privada, a mídia é mercantilizada, o que fragiliza a
democracia a partir do momento em que forma e conteúdo das informações
têm origem e direcionamento pré-estabelecidos pelo mercado.

Um problema maior, neste aspecto da supressão da democracia, está, de
acordo com Sader, na esfera do debate ou disputa de idéias. "Segundo o
pensador inglês Perry Anderson, quando a esquerda chegou ao governo,
tinha perdido o debate das idéias. Consultado, normalmente o povo é
favorável a idéias progressistas; mas não é consultado". A construção
da opinião pública não se dá, assim, a partir do posicionamento da
população, mas a partir das demandas do mercado, avalia Sader.

Na mesma direção, a filósofa Marilena Chauí aponta um fenômeno cada
vez mais comum na mídia: a relevância dada a preferências pessoais
(que música gosta, que filme viu, que perfume usa, que viagem fez) em
detrimento da colocação de idéias e reflexões quando se dá espaço ao
"debate público". Assim, a real opinião pública dá lugar à sondagem de
opinião, no sentido em que não se procura a expressão pública
nacional, refletida e pensada, mas se aposta nas "predileções".

O papel de refletir e pensar é usurpado pelos "formadores de opinião"
- analistas, acadêmicos, artistas, jornalistas. O jornalismo se torna
o detentor das plausibilidades, e os intelectuais, o operariado do
capital. O especialista é aquele que ensina a viver, a decorar a casa,
a cozinhar, a fazer sexo, a educar, o que faz do comunicador o
formador final da opinião pública.

O papel do poder público
Segundo Emir Sader, salvaguardar ou reconduzir a democracia na
imprensa passa a ser um papel do poder público, a partir da concepção
de que é o mais apto a desmercantilizar os processos de comunicação.
Neste sentido, desmercantilizar significa democratizar, defende Sader.

Este seria um dos principais desafios dos governos de esquerda: a
construção de canais públicos onde a diversidade tem espaço
obrigatório, e onde a mídia deixaria de ser a intermediária entre o
governo e a opinião pública. Para tanto, porém, é urgente que verbas
públicas de publicidade, principalmente das grandes estatais - no
fundo nada mais do que dinheiro da população -, deixem de ser canalizadas para sustentar os grandes impérios midiáticos.

"Tem de haver o fortalecimento dos canais e mídias alternativas, como
Carta Capital, Caros Amigos, Carta Maior, Le Monde Diplomatique -,
expressões da diversidade; a batalha das idéias é decisiva para o
futuro do Brasil. São as idéias que ficam, que dão ao povo consciência
de si mesmo?, conclui Sader.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Anjos do Sol, Rudi Lagemann





Formato: rmvb
Áudio: Português
Legendas: S/L
Duração: 1:29
Tamanho: 309 MB
Dividido em 04 Partes
Servidor: Rapidshare

Créditos: RapaduraAzucarada - Eudesnorato


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Sinopse: Anjos do Sol conta a saga da menina Maria, de doze anos, que no verão de 2002 é vendida pela família, que vive no interior do nordeste brasileiro, a um recrutador de prostitutas. Depois de ser comprada em um leilão de meninas virgens, Maria é enviada para um prostíbulo localizado numa pequena cidade, vizinha a um garimpo, na floresta amazônica. Após meses sofrendo abusos, Maria consegue fugir e atravessa o Brasil na carona de caminhões. Ao chegar ao seu novo destino, o Rio de Janeiro, a prostituição coloca-se novamente no seu caminho e suas atitudes, frente aos novos desafios, tornam-se inesperadas e surpreendentes.


Elenco: Antonio Calloni, Vera Holtz, Chico Diaz, Otávio Augusto, Mary Sheyla, Darlene Glória (no papel da cafetina Vera) e a estreante Fernanda Carvalho.


Para Saber Mais:

http://www.zetafilmes.com.br/criticas/anjosdosol.asp?pag=anjosdosol
_________________

Terra em Transe
créditos: RapaduraAzucarada - Stirner

Título Original: Terra Em Transe
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 115 min.
Ano de Lançamento (Brasil): 1967
Direção: Glauber Rocha
Roteiro: Glauber Rocha
Produção: Zelito Viana
Música: Sergio Ricardo
Fotografia: Dib Lutfi
Desenho de Produção:
Direção de Arte: Paulo Gil Soares
Figurino: Paulo Gil Soares e Clóvis Bornay
Edição: Eduardo Escorel Elenco
RMVB
P/B
Qualidade: VHS Rip




ELENCO:
Jardel Filho (Paulo Martins)
José Lewgoy (Felipe Vieira)
Glauce Rocha (Sara)
Paulo Autran (Porfírio Diaz)
Paulo Gracindo (Júlio Fuentes)
Danuza Leão (Silvia)
Hugo Carvana (Alvaro)
Jofre Soares (Padre Gil)
Zózimo Bulbul
Antônio Carnera
Emanuel Cavalcanti
Rafael de Carvalho
Mário Lago
Jose Marinho
Flávio Migliaccio
Francisco Milani
Paulo César Pereio
Echio Reis
Thelma Reston
Ivan de Souza
Modesto de Souza
Maurício do Valle
Darlene Glória
Elisabeth Gasper
Irma Álvarez
Sônia Clara
Clovis Bornay



Sinopse:
Senador Porfírio Diaz odeia o seu povo, e pretende se coroar imperador de um país fictício chamado Eldorado, para impor ao povo todas as suas vontades. Mas existem outros homens que querem esse poder e lutar contra este poder.

Premiações
- Melhor Atriz (Glauce Rocha), Argumento (Glauber Rocha), Fotografia (Dib Lutfi) e Edição (Eduardo Escorel) no Prêmio Governo do Estado de São Paulo, SP 1967.
- Melhor Filme, diretor, Ator (José Lewgoy), Atriz (Glauce Rocha) e Menção Honrosa (Luis Carlos Barreto) no II Festival de Cinema de Juiz de Fora, MG, 1967.
- Prêmios Luiz Buñuel e Fipresci no XX Festival Internacional do Filme, Cannes, França, 1967.
- Prêmio da Crítica e Melhor Filme no Festival de Havana, Cuba, 1967.

Curiosidades
- Em abril de 1967 o filme foi proibido em todo território nacional, por ser considerado subversivo e irreverente com a Igreja. Depois foi liberado com a condição de que se desse um nome ao padre interpetrado por Jofre Soares.
- Luiz Carlos Barreto, Carlos Diegus, Raimundo Wanderley juntos com Glauber Rocha foram Produtores Associados no filme.

Links Rapidshare em quatro partes
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Obs.: Apesar da qualidade sofrível deste arquivo, fica como uma homenagem aos cinéfilos deste blog e, especialmente, aos que amam produzir arte e cultura neste país de desmemoriados.
Legião Urbana

Format: MP3 Audio: 320 Kbps + Covers
Legião Urbana (1985)

créditos:LagrimaPsicodélica

01. Será
02. A Dança
03. Petróleo do Futuro
04. Ainda é Cedo
05. Perdidos no Espaço
06. Geração Coca-Cola
07. O Reggae
08. Baader-Meinhof Blues
09. Soldados
10. Teorema
11. Por Enquanto



Format: MP3 Audio: 320 Kbps + Covers
Dois (1986)
01. Daniel na Cova dos Leões
02. Quase Sem Querer
03. Acrilic On Canvas
04. Eduardo e Monica
05. Central do Brasil
06. Tempo Perdido
07. Metrópole
08. Plantas Debaixo do Aquário
09. Música Urbana 2
10. Andrea Doria
11. Fábrica
12. Índios

Part 1
Part 2

Format: MP3 Audio: 320 Kbps + Covers
Que Pais É Este (1987)
01. Que País é Este?
02. Conexão Amazônica
03. Tédio (Com um T Bem Grande pra Você)
04. Depois do Começo
05. Química
06. Eu Sei
07. Faroeste Caboclo
08. Angra dos Reis
09. Mais do Mesmo


Format: MP3 Audio: 320 Kbps + Covers
As Quatro Estações (1989)
01. Há Tempos
02. Pais e Filhos
03. Feedback Song For a Dying Friend
04. Quando o Sol Bater Na Janela do Teu Quarto
05. Eu Era um Lobisomem Juvenil
06. 1965 (Duas Tribos)
07. Monte Castelo
08. Maurício
09. Meninos e Meninas
10. Sete Cidades
11. Se Fiquei Esperando o Meu Amor Passar

Part 1
Part 2
Format: MP3 Audio: 320 Kbps + Covers
V (1991)
01. Love Song
02. Metal Contra as Nuvens
03. A Ordem dos Templários
04. A Montanha Mágica
05. O Teatro dos Vampiros
06. Sereníssima
07. Vento no Litoral
08. O Mundo Anda Tão Complicado
09. L’Âge D’Or
10. Come Share My Life

Part 1Part 2
Format: MP3 Audio: 320 Kbps + Covers
O Descobrimento do Brasil (1993)
01. Vinte e Nove
02. A Fonte
03. Do Espírito
04. Perfeição
05. O Passeio da Boa Vista
06. O Descobrimento do Brasil
07. Os Barcos
08. Vamos Fazer um Filme
09. Os Anjos
10. Um Dia Perfeito
11. Giz
12. Love in the Afternoon
13. La Nuova Gioventú
14. Só Por Hoje

Part 1Part 2

EUA, além de Hollywood, agora enfrentam greve na Broadway


A maior e mais lucrativa indústria cultural do mundo parece estar vivendo uma grave crise. Depois da greve por tempo indeterminado dos roteiristas de Hollywood, anunciada no último dia 5, agora são os contra-regras e assistentes de palco da mais famosa avenida nova-iorquina, a Broadway, que pela primeira vez entraram em greve, anunciada neste sábado (10). A revolta dos bastidores que fazem girar a roda da fortuna do mundo das celebridades já causa um prejuízo avaliado em, pelo menos, US$ 517 milhões.


Cerca de 25 espetáculos foram cancelados, incluindo clássicos como Chicago, O Fantasma da Ópera, Hairspray, O Rei Leão e Mamma Mia.

A associação dos teatros afirmou que a greve de funcionários, que tem trabalhado sem contrato desde julho, vai gerar perdas de cerca de US$ 17 milhões (R$ 29,6 milhões) por dia.

Membros grevistas da associação dos trabalhadores carregavam cartazes com os dizeres ''Em Greve'' fora do St. James Theater. Eles reivindicam melhores salários e condições de trabalho no ano que tem sido um dos mais lucrativos da indústria.

A greve ocorre depois de meses de negociações entre os produtores e o sindicato da categoria, que convocou a primeira paralisação da sua história.

Um movimento semelhante de músicos há quatro anos durou quatro dias e custou à cidade cerca de US$ 7 milhões por dia, segundo estimativas das autoridades de turismo da cidade.

Cancelamento de espetáculos

O cancelamento de espetáculos deixou frustrados os espectadores, muitos, turistas em visita curta a Nova York. Apenas oito peças puderam ser encenadas neste sábado.

Segundo a associação que representa os produtores e os donos de teatro, quem comprou entradas para os espetáculos cancelados será reembolsado ou poderá trocar por outros ingressos.

Somente os espetáculos alternativos off-broadway, os amadores e algumas das maiores produções do circuito, como Mary Poppins, ainda não foram afetados pela greve.

Pressão dos magnatas

Os prejuízos e a pressão da indústria cultural levaram o prefeito de NY, Michael Bloomberg, a se manifestar publicamente sobre a greve.

Ele pediu que ambos os lados resolvam suas diferenças. Em uma nota, ele disse que ''apesar de esta ser uma questão privada de trabalho, o impacto econômico é público e será sentido muito além dos teatros fechados hoje''.

Os produtores também promovem uma campanha para difamar o movimento. ''É devastador'', disse James Sanna, produtor de The Grinch, que havia estreado pouco antes de a greve ser iniciada. Sete peças com ingressos esgotadas não poderão ser encenadas só essa semana, disse Sanna. ''Isso dói muito''.

Já a associação dos teatros emitiu um comunicado em que classifica a greve como ''um dia triste para a Broadway'' e que ''prejudica a cidade, a indústria, e o público''.

Frustração do público

''É muito frustrante. E um pouco ridículo. Eles estão reembolsando nosso dinheiro, mas ninguém quer saber do dinheiro, eu queria ver o espetáculo'', disse à BBC Angel Gestone, uma mulher que não pôde assistir a uma peça.

Outra mulher declarou: ''É muito triste, porque compramos os tíquetes com muita antecipação, e é muito desapontador perder o show. Mas todos temos o direito de protestar, e se eles acham que não estão recebendo o que lhes cabe, estão no seu direito''.

Os contra-regras e assistentes de palco são os responsáveis por montar e modificar os cenários no meio dos espetáculos. Eles resistem a pressões dos produtores, que defendem mais flexibilidade de trabalho em um ano que é um dos mais movimentados da indústria de teatro nova-iorquina.

As negociações continuam sob impasse e não há previsão de quando a greve acabará.

Greve em Hollywood já afeta TV

Os roteiristas de cinema e TV querem uma maior participação nos lucros das vendas de DVDs e de conteúdos para a internet, entre outras reivindicações. Cerca de 12 mil roteiristas aderiram ao movimento, causando o adiamento da estréia de novas temporadas de seriados lucrativos e famosos da TV americana.

Segundo analistas, se a greve permamecer, ela tende a romper as fronteiras yankes prejudicando a programação de emissoras que reproduzem os seriados americanos pelo mundo. Isso indica que a greve logo poderá chegar ao Brasil - que reproduz seriados americanos tanto em emissoras de TV a cabo, como de TV aberta.

A equipe de Lost, por exemplo, havia filmado até a semana retrasada sete episódios que não foram finalizados. A solução para a ABC é atrasar a estréia da 4ª temporada, prevista para fevereiro ou fechar o ciclo com esses poucos capítulos.

A Fox seguiu a primeira opção e decidiu segurar a estréia da 7ª temporada de 24 Horas , já que apenas oito episódios da safra haviam sido filmados antes da greve. A série do agente Jack Bauer não tem graça se não tiver a temporada fechada nos 24 capítulos.

Prejuízos à indústria

Segundo o The New York Times, a lista de profissionais de séries que rapidamente entraram em greve incluem a nova The Big Bang Theory e a veterana Two and a Half Men. Tina Fey, estrela e roteirista de 30 Rock, também parou. Heroes é outra série em apuros.

Algumas produções que estão paradas são The New Adventures of Old Christine, The Office, Rules of Engagement, Til Death e até Desperate Housewives.

Para preencher a grade, os canais americanos vão utilizar reality shows e filmes. A última greve de roteiristas que houve nos Estados Unidos foi em 1988 e durou cinco meses. A análise é de que se esta greve durar a mesmo período ela causará um prejuízo de pelo menos um US$ 1 bilhão à indústria.

Até agora, o valor calculado dos prejuízos da greve de roteiristas para a indústria já chegaram a casa de US$ 500 milhões.

Apoios a greve de roteiristas

O diretor de cinema americano Francis Ford Coppola tomou partido na greve. ''Cedo ou tarde, as grandes companhias vão ter de reconhecer que esta prática de ficar com este dinheiro a mais não é aceitável'', disse o diretor de O Poderoso Chefão. ''Agora os filmes não fazem dinheiro só nos cinemas, mas com os DVDs e os lucros conexos'', declarou Coppola.

A atriz e escritora Tina Fey, não só apoía a greve de roteirsitas, como também a da Broadway. Ela participou de uma passeata dos roteiristas, realizada no dia 5, em frente ao Rockfeller Center, em Nova York.

O comediante Jay Leno, que apresenta toda noite The Tonight Show with Jay Leno (NBC) - um dos artistas mais bem pagos da TV americana - se aproximou dos piquetes em frente aos estúdios da empresa na Califórnia e ofereceu comida aos grevistas.

Outros decidiram assumir um papel mais ativo e, com cartazes nas mãos, se uniram aos protestos em frente aos estúdios Warner em Hollywood. Entre eles estava a atriz Julia Louis-Dreyfus, da série de 1990 Seinfeld (Sony) e atual protagonista de The New Adventures of Old Christine (Warner).

O ator Steve Carrell, protagonista de filmes como O Virgem de 40 Anos e A Volta do Todo-Poderoso e da série The Office, decidiu não ir trabalhar dia 5 em apoio à greve.

Os atores de Hollywood não são os únicos que expressaram apoio aos roteiristas de televisão e de cinema. Eles também contam com o apoio de políticos como Barack Obama e Hillary Clinton, ambos pré-candidatos democratas à Presidência americana.

Fonte:Vermelho

sábado, 10 de novembro de 2007

Sabores do cacau com consciência

No Equador, uma rede de produção e comércio solidário reúne 26 mil pessoas, tem gestão baseada em assembléias e conquista consumidores em muitos países. Experiência revela: é possível ser viável oferecendo, ao invés das "vantagens" mercantis, respeito aos direitos sociais e à natureza

Carola Reintjes - Diplo

Iniciativas de economia solidária e alternativa têm alcançado sucesso crescente em todo o mundo. Parte importante dos consumidores está deixando o hábito capitalista de buscar apenas o preço mais vantajoso e começa a se preocupar com a qualidade dos produtos e — novidade principal — com as condições sociais e ambientais em que são produzidos. Esta mudança cultural torna possíveis experiências como a interessantíssima MCCH, do Equador.

Original desde seu nome, a MCCH reúne as iniciais — em quéchua e espanhol — do princípio que rege a associação: Maquita Cushunchic, ou Comercializamos como Hermanos.... É uma grande organização guarda-chuva de comércio justo, comprometida com os valores e as práticas da Economia Solidária. Não é obra de um pequeno grupo: envolve 26 mil pessoas, produtores, consumidores e comerciantes de produtos que procedem de mais de 400 organizações en 21 províncias equatorianas. Agrupa 12 empresas comunitárias agrícolas e uma empresa comunitária de armazenagem, que presta serviços a cem organizações.

Nasceu de uma experiência de comercialização alternativa nos bairros do sul de Quito, com o objetivo principal de melhorar as relações de intercâmbio de produtos entre a cidade e o campo — tradicionalmente nas mãos de alguns monopólios. A MCCH foi fundada em 1985 com o único objetivo de abastecer as populações das favelas de Quito com produtos alimentícios mais baratos, procedentes de pequenos agricultores. Com o tempo, foram se desenvolvendo progressivamente muitas "lojas populares ou camponesas", pequenos comércios que oferecem produtos básicos de alimentação. A MCCH é célebre em várias partes do mundo por seu produto mais conhecido, o cacau, mas produz também alimentos ecológicos, como o açúcar da cana, a rapadura, e os fungos secos. Também oferece produtos artesanais, como malhas e objetos em madeira de balsa.

A rede orgulha-se de sua viabilidade econômica. E é gerida por meio de assembléias de produtores

Atualmente, o principal objetivo da MCCH é apoiar o fortalecimento das organizações associadas, através de ações comunitárias de comercialização e formação, segundo princípios de solidariedade, e com a vontade de transformar a sociedade equatoriana. Os camponeses trabalham em fazendas ecológicas, nas quais produzem para consumo próprio e para a exportação. A produção é diversificada, para diminuir a dependência: pimenta, coração de alcachofra, milho anão, batatas para chips, fibra de alpaca.

A MCCH obteve a viabilidade econômica. 100% do artesanato e 95% dos alimentos que produz são comercializados através de canais de comércio justo, assim como 6% do cacau. Do total de suas receitas, 15% vem de um setor inovador, o turismo local. Realizam trabalhos de incidência política através da associação de cacaueiros.

A participação democrática dos grupos de gestão realiza-se por meio das assembléias regionais e da assembléia geral, compostas por representantes de todos os grupos.

A MCCH tem como um de seus principios fundamentais trabalhar sob critérios de produção ecológica ou, ao menos, de tecnologia amigável com o meio ambiente. Isso significa a ausência de agroquímicos prejudiciais. A certificação ecológica não se faz de forma parcial, para cada produto, mas para o conjunto de cada propriedade. Vigora o conceito de "bem integral", onde também os animais interagem com o ambiente, num processo produtivo ecológico. A maior parte do que se produz nas terras é o cacau ou a cana de açúcar, mas também os outros produtos destinados ao consumo são ecológicos.

Ao invés das pressões mercantis por preço baixo, o apoio dos consumidores conscientes

A MCCH é filiada à IFAT, a Associação Internacional de Comércio Justo, mas, mesmo antes de se associar, já trabalhava com os princípios da agricultura ecológica. Enrique Medina, o economista agrícola da organização, relata. "Nosso trabalho consiste mais em manter os valores e condutas que os produtores herdaram de sua cultura ancestral. Na gestão de seus cultivos, eles seguem naturalmente os critérios do comércio justo. Entretanto, correm o risco de ser invadidos por tecnologias introduzidas pelas grandes empresas, que fomentam o cultivo convencional. Ao ofercer alguma assistência agropecuária, o pessoal do MCCH, ratifica os princípios originais da produção nativa. O que mais tem influido na conservação de suas formas produtivas é a motivação".

Medina explica que, além do orgulho por seus métodos conscientes de cultivo, os produtores têm se animado com a abertura crescente dos consumidores a estes princípios. "O que mais os motiva é saber que o produto cultivado sobre as mesmas premissas que vinham trabalhando historicamente tem valor no mercado. Desta maneira, as tradições culturais dos agricultores entram em sinergia com os critérios do consumo responsável que estão se difundindo pelo mundo".

Esta mudança de hábitos tem sido capaz de evitar a introdução das lógicas capitalistas no cultivo. O economista prossegue. "Diante de situações adversas, o pequeno agricultor encontra duas possibilidades para manter-se no modelo convencional: ou super-explorar a mão de obra, ou os recursos naturais. Muitos produtores, como não dispõem de capital de inversão, super-exploram a mão de obra familiar, as terras ou ambos, para chegar ao mercado".

Projeto: ser "opção não apenas para a classe média, mas para todos os consumidores"

As conseqüências são duras: "No Equador, está sendo rompida a fronteira agrícola da produção a 4 mil metros acima do nível do mar, onde antes só havia desertos e pastagens. Isto não é sustentável. O sistema econômico operante levou os camponeses a explorar a única coisa que têm: pouco terreno e mão de obra. Há outros fatores adversos, que também atacam drasticamente os produtores no Equador, como uma refoma agrária inadequada e uma má distribuição de terras. Esta dinâmica de sobre-exploração dos recursos naturais, que considera a agricultura e o terreno como simples mercadorias, vai encurralando o desenvolvimento das pessoas e da terra".

A MCCH não se limita a denunciar. Propõe saídas: "Estamos dando impulso a opções mais sustentáveis, mais dinâmicas, e vamos recuperando alternativas para não abusar desses espaços. Como organizações de comércio justo, temos que fazer a cadeia de comercialização mais eficiente. No momento que superarmos esta dificuldade e tivermos preços mais competitivos, veremos resultados. Seremos verdadeiramente uma grande opção, não somente para um cidadão de classe média-alta, mas também para todos os consumidores".

Os objetivos são ambiciosos. Enrique Medina explica. "Fazer a cadeia mais eficiente passa por incrementar volumes de produção e comercialização. Se continuarmos sendo marginais quanto ao nível de consumo, isso vai gerar problemas em todos os pontos da rede. Por outro lado, é importante continuar trabalhando na sensibilização. Quando o volume de compras e consumo for maior, estou completamente convencido de que a cadeia será mais eficiente. Nossa dinâmica poderá enfrentar o Golias dos valores mercantis. Queremos conquistar os consumidores gerando consciência".

Tradução: Gabriela Leite Martins
gabileite89@gmail.com

Clarice Lispector: uma escrita indigesta

Em Clarice, os traços convencionais da narrativa são refundidos numa escrita não raro dura de roer, principalmente para leitores desabituados aos fluxos de consciência, às tramas pouco lineares, a espaços fragmentários, às fusões entre narrador e objetos descritos, à mistura de gêneros.

Pedro Marques - Diplo

“Mas que mulher indigesta, indigesta! / Merece um tijolo na testa”. Com essas palavras, Noel Rosa (1910-1937) abre um de seus tantos sambas que imprimiram a crônica de toda uma época. Muito mais que a opinião individual, a letra de Mulher indigesta (1932) expressa a posição comum à sociedade dos anos 30. Embora o movimento feminista crescesse pelo menos desde a década de 1910 e a mulher brasileira tivesse conquistado o direito ao voto nesse mesmo ano de 1932, as regras do jogo eram dirigidas pelos homens. Noel, assim, apenas deixa ecoar um machismo que, se dava mostras de abrandamento, mantinha a velha estrutura patriarcal há séculos comprimindo os anseios da individualidade feminina. A voz poética da canção –é verdade que em tom de zombaria – sublinha o esforço, às vezes automático de tão enraizado na cultura, de manter a mulher em seu lugar de dominada.

Clarice Lispector (1925-1977) surge como presença feminina e escritora “indigesta” em pelo menos duas acepções do termo. Em princípio, chamamos de “indigesto” algo que não se pode digerir com facilidade ou que, concretamente, causa indigestão. Ao lado de Cecília Meireles (1901-1964), Rachel de Queirós (1910-2003) ou Lygia Fagundes Telles (1923-), Clarice contribuiu para que a mulher passasse a desempenhar papéis antes quase exclusivamente exercidos pelos “homens de letras”. Como jamais visto no Brasil, cada uma a seu feitio, essas quatro estrelas levaram o sexo já não tão frágil assim ao sucesso no mercado editorial, no jornal, na crítica, na Academia Brasileira de Letras e no imaginário público. Tiveram o mérito de abrir os portões da profissão de escritor e de formador de opinião para a personalidade feminina.

Papéis masculinos e femininos

Esse movimento em direção à voz própria foi, porém, lento e paciente. Para uma sociedade e um público leitor regidos pelos valores masculinos, era difícil engolir os sentimentos daquelas antes vistas apenas como dona de casa, esposa, mãe, objeto de desejo e, quando muito, professorinha primária. Mesmo as senhoras e as moças, às vezes pareciam mais machistas que os rapazes. Como absorver as entranhas ou os gritos há muito tempo presos no seio feminino? Não faltaram, evidente, iniciativas para calar o jorro expressivo de escritoras, de intelectuais, de militantes e de mulheres anônimas como a personagem de Noel Rosa. Na penúltima estrofe, o eu lírico procura coibir a fala feminina mediante a ameaça por violência física: “E quando se manifesta / O que merece é entrar no açoite / Ela é mais indigesta do que prato / De salada de pepino à meia-noite”.

Exprimir-se como mulher foi gesto natural para Clarice, mas também um ato de conquista talvez até pouco planejado por ela. O normal era escrever como homem. Numa curiosa inversão, quem imaginaria que, anos depois, compositores como Chico Buarque (1944-) e, sobretudo, Gonzaguinha (1945-1991) encarnariam a feição feminina num sem número de canções?

A literatura de Clarice Lispector apresenta, de fato, mulheres clamando pelo ser que lhes é de direito. Em um de seus contos – “Amor”, de Laços de Família (1960) – assistimos ao dia em que uma dona de casa problematiza suas tarefas diárias, incluindo as de mãe exemplar. Para se tornar uma grande dama do lar, Ana calou a sensibilidade. Sua percepção incomum e até artística do mundo não chega a florescer, porque ela desemboca a vida “num destino de mulher”. Entenda-se: uma rotina maquinal, uma função para qual pouco teve escolha e que, de repente, levanta-se contra ela como redoma de vidro asfixiante. No bonde, a visão de um cego mascando chiclete é a motivação para a personagem sair do centro, da mesmice, da vida que “apaziguara tão bem” e “cuidara tanto para que esta não explodisse”.

O grito de liberdade, em vez de loucura ou violência, ocasiona um lirismo sobre-humano. Ao tomar consciência que vive anestesiada em seu cotidiano, Ana redescobre os cinco sentidos sedentos por sensações inusitadas. No parque, na rua ou em casa a realidade macro e microscópica explode a sua atenção. Arguta, Clarice escapa da facilidade de colocá-la apenas como vítima da sociedade machista; a heroína possui, sim, seu doloroso quinhão de responsabilidade. Ao final, o marido afasta Ana “do perigo de viver”, mas é ela quem apaga a esperança de mudança, soprando “a pequena flama” desse dia extraordinário. Na encruzilhada do amor irracional com o burguês, ela escolhe o seguro.

Escrita dura de roer

Assumindo papéis sociais previamente determinados, algumas mulheres de Clarice tentam acordar da anestesia, ainda que – deliberadamente, como Ana – para continuarem na mesma posição. Mas ninguém como Macabéa – personagem principal de A hora da estrela (1977), novela publicada há exatos trinta anos – surge tão inconsciente de sua condição de mulher, de migrante, pobre e proletária explorada. Trata-se de uma virgem de dezenove anos, desafortunada até na aparência, “teleguiada”, “ignorante” e sem fazer “falta a ninguém”. Excluída de uma “cidade toda feita contra ela”, Macabéa é engrenagem substituível na ordem social. Só ganhará alguma transcendência prestes à morte. A narrativa demora a tomar fôlego graças a um narrador que, desejando ser simples e pouco intelectualizado, acaba se exibindo demais. Como não se comover com a desgraça crônica dessa jovem? Desde o nascimento, sua existência é um chute no escuro, sem que ela saiba.

Mesmo a serventia animal de fêmea está interditada para Macabéa. Embora lasciva, ela não serve nem para irradiar sua humanidade, uma vez que possui “ovários murchos como um cogumelo cozido”. Das brutalidades que Macabéa passa a vida a ouvir, nenhuma supera a que termina por negar a própria essência de mulher. Tanto pior que seja proferida por Olímpico, o namorado que supostamente deveria desejá-la: “Você, Macabéa, é um cabelo na sopa. Não dá vontade de comer”.

Em outro sentido, “indigesto” qualifica algo que soe confuso e desconexo. Alguma coisa difícil de entender à primeira vista, podendo, por isso mesmo, aborrecer ou entediar. Parte substancial da produção de Clarice Lispector gera tal sensação, em conexão com certa prosa experimental do século 20. Na trilha de James Joyce (1882-1941), Virginia Woolf (1882-1941) ou Oswald de Andrade (1890-1954), os traços convencionais da narrativa (enredo, personagens, tempo, espaço e ponto de vista) são refundidos numa escrita não raro dura de roer, principalmente para leitores desabituados aos fluxos intermináveis de consciência, às tramas pouco lineares, a espaços fragmentários, às fusões nauseantes entre narrador e objetos descritos, à mistura de gêneros. Quando comparada, por exemplo, ao estilo compacto de Graciliano Ramos (1892-1953), a linguagem de Clarice pode parecer anormal ou doentia.

Desagregação vertiginosa

No conto “A Imitação da Rosa”, também de Laços de Família, a escritora apresenta Laura. Em lugar de escancarar a personagem central, ficamos cientes do seu passado, de seus desejos e de sua angústia pela fresta da porta. Só alguns pontos do conflito e da ambientação surgem claramente. Quase tudo acontece, como é freqüente em Clarice, num apartamento de classe média carioca. Sabemos objetivamente, ainda, que Laura acabara de atravessar um período de crise psicológica e física. No entanto, é em geral nos longos parágrafos que alguns elementos típicos da narrativa se desestabilizam. Precisamos estar alertas para distinguir o narrador de Laura, ou o passado do presente. Dramatiza-se o conflito de mandar ou não as flores para Carlota quase que em tempo real. O narrador se mistura à Laura, arrastando a escrita em conexão com uma decisão que deveria ser simples. Algumas frases entre aspas representam o monólogo da personagem ou as tentativas de conselho de quem narra. Essa ação enguiçada faz brotar o incômodo no leitor que espera a resolução sem desvios da história. Aqui é preciso calma, porque Clarice desenha essa mulher aos poucos. Pontilhando sua fragilidade, revela aos pedaços seus sintomas sem transformá-la numa caricatura, como às vezes fará com Macabéa.

Essa segunda forma de indigestão, que nada impede vir unida à primeira, aparecerá radicalizada naquela tida como sua grande obra, o romance A paixão segundo G. H. (1964). É quando a individualidade e o discurso narrativo sofrem, como jamais visto em Clarice Lispector, uma desagregação vertiginosa, ao ponto do próprio gênero romanesco ameaçar um colapso em suas mãos. Quanto à existência e aos propósitos femininos, são aqui indagados com amargor terrível: “Minha sobrevivência futura em filhos é que seria minha verdadeira atualidade, que é, não apenas eu, mas minha prazerosa espécie a nunca se interromper”. Em primeira pessoa e se comparando ao um animal repugnante, essa narradora-mulher desce aos infernos de sua condição: “Aquela barata tivera filhos e eu não”.

Veteranos de guerra são 25% dos sem-teto americanos


Vinte e cinco por cento dos sem-teto nos Estados Unidos são veteranos de guerra, apesar de eles representarem apenas 11% da população adulta total, segundo um estudo divulgado ontem. E a falta de um lugar para morar não é um problema apenas dos veteranos de meia idade ou idosos.


Jovens veteranos das guerras do Iraque e do Afeganistão estão aparecendo em abrigos e em sopa dos pobres buscando serviços, tratamento ou ajuda para encontrar trabalho. O Departamento de Assuntos dos Veteranos (VA) identificou 1.500 veteranos sem-teto das atuais guerras e informou que 400 deles participaram especificamente de seus programas de ajuda aos mendigos.


A Aliança Nacional pelo Fim de Sem-teto, uma organização sem fins lucrativos, baseou seu relatório em dados governamentais. Em 2005, de uma população estimada de 744.313 sem-teto, 194.254 eram veteranos. Em comparação, o departamento disse que 20 anos atrás, o número estimado de veteranos sem-teto era 250 mil.


Especialistas consideram que a presença tão cedo de veteranos do Iraque e do Afeganistão em abrigos prenuncia problemas maiores no futuro. Levou cerca de uma década para a vida dos veteranos do Vietnã desmoronar a ponto de eles começarem a aparecer entre os sem-teto. "Vamos ter eventualmente um tsunami de veteranos mendigando porque o peso para a saúde mental dessa guerra (no Iraque) é enorme", disse Daniel Tooth, diretor de assuntos de veteranos no Condado de Lancaster, Pensilvânia.


"Quando terminou a guerra do Vietnã, isso foi parte do problema. A
guerra tinha acabado, saiu da cobertura da tevê, ninguém queria ouvir falar sobre ela", afirmou John Keaveney, um veterano do Vietnã e fundador da Novas Direções, em Los Angeles, que oferece ajuda a viciados, treinamento profissional e abrigo para veteranos. "Acho que eles vão ser esquecidos", comentou Keaveney sobre os veteranos do Iraque e do Afeganistão. "As pessoas se cansam disso. Não importa que eles sejam jovens, honrados, norte-americanos patriotas. Eles serão apenas veteranos, e isso acontece em todas as guerras".


Keaveney disse que é difícil convencer os jovens veteranos a ficarem para receber tratamento e ajuda porque eles não se relacionam com os mais antigos. "Eles vêem esses caras que têm a idade do pai deles e não entendem, não sabem, que em poucos anos eles estarão parecendo com eles", adiantou.


Baixas no Iraque


Um soldado norte-americano morreu na explosão de uma bomba de beira de estrada no Sul do Iraque, anunciou ontem o comando militar dos Estados Unidos em Bagdá. O incidente que provocou a morte do soldado ocorreu na quarta-feira.

De acordo com uma contagem da Associated Press, o incidente eleva a 3.859 o número de soldados norte-americanos mortos no Iraque desde março de 2003, quando forças estrangeiras lideradas pelos EUA invadiram o país árabe em busca de armas de destruição em massa que nunca vieram a ser encontradas.


Fonte: Tribuna da Imprensa