Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
sábado, 24 de novembro de 2007
Formato: RMVB
Áudio: Português
Legendas: S/L
Duração: 1:43
Tamanho: 470MB (05 partes)
Servidor: Rapidshare
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Sinopse:
Macunaíma é um herói preguiçoso, safado e sem nenhum
caráter. De pura preguiça, só começou a falar aos seis anos
de idade. Nasceu negro (Grande Otelo) e virou branco
(Paulo José). Depois de adulto, deixa o sertão em companhia
dos irmãos. Macunaíma vive várias aventuras na cidade,
conhecendo e amando guerrilheiras e prostitutas,
enfrentando vilões milionários, policiais, personagens de
todos os tipos. Depois dessa longa e tumultuada aventura
urbana, ele volta à selva, onde desaparecerá como
viveu - antropofagicamente. Um compêndio de mitos,
lendas e da alma do brasileiro, a partir do clássico romance
de Mário de Andrade.
Elenco:
Grande Otelo .... Macunaíma negro
Paulo José .... Macunaíma branco
Jardel Filho .... Venceslau Pietro Pietra
Dina Sfat .... Ci
Milton Gonçalves .... Jigue
Rodolfo Arena .... Maanape
Joana Fomm .... Sofara
Wilza Carla
Hugo Carvana
Leovegildo Cordeiro
Maria Lúcia Dahl .... Iara
Rafael de Carvalho
Tito de Lemos
Maria Do Rosario .... Iquiri
Maria Letícia
Zezé Macedo
Myrian Muniz
Nazareth Ohana
Waldir Onofre
Carmem Palhares
Maria Clara Pelegrino
Guará Rodrigues
Edy Siqueira
Márcia Tânia
Maria Carolina Withaker
Detalhes Técnicos:
Título Original: Macunaíma
País de Origem: Brasil
Gênero: Comédia
Ano de Lançamento: 1969
Estúdio/Distrib.: Embrafilme
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Créditos:RapaduraAzucarada - Welck
Por Koldo Campos Sagaseta
Parece mentira que alguns meios de comunicação e jornalistas, que se passam a vida criticando do monarca espanhol seus cochilos reais e furtivos bocejos ante qualquer discurso que se estenda além de cinco minutos, que têm censurado ao rei da Espanha suas supostas carências intelectuais para sobreviver ileso a um pensamento sequer, ou que debocham, até, de suas alegadas dificuldades para alinhavar uma frase sem ter o auxílio de um roteiro, coincidam agora em criticar o monarca, precisamente, por todo o contrario.
Tem que ser mesquinho para, de saída, não reconhecer o sacrifício do rei, forçado a abandonar por uns dias suas régias obrigações em regatas baleares ou em pistas de esqui alpinas, pela exigência duma dessas soporíferas cúpulas cheias de percentuais e discursos que reclamava sua augusta presença.
Para atender semelhante solicitação o monarca espanhol também teve que alterar sua própria agenda familiar, remarcando a data dos nobres batizados e três festas de debutante, além de suspender suas tradicionais caçadas de ossos bêbados, seus públicos ânimos a seleções esportivas e a entrega de um que outro principesco prêmio, ocupações todas elas, junto aos sortidos brindes, nas que o rei investe seus melhores afãs.
Ao monarca espanhol esperava em Santiago do Chile uma nova cúpula americana com a particularidade de que, cada vez mais, estes encontros continentais vão se enchendo paulatinamente de incontrolados populistas, de líderes rancorosos e indígenas ingratos, macacos todos. Nem sequer quando comparecia Fidel eram as cúpulas tão imprevisíveis, que, afinal, Fidel estava sozinho. Porém, de um tempo para cá, agora que já nem Fidel comparece, as cúpulas deixam ouvir outras vozes destemperadas e grosseiras que, de improviso, são capazes de interromper com suas injúrias a borbônica sonolência e, inclusive, provocar a abrupta saída do monarca.
Não foi fácil para Juan Carlos subtrair-se às suas obrigações reais e sentar-se a escutar impropérios e desqualificações em relação ao papel de José María Aznar, como se ser criminoso de guerra desabilitasse o ex-presidente de defesa alguma como espanhol.
E também não é necessário ser nacionalista para sair em defesa de um delinqüente como Aznar embora a única apelação possível em sua defesa se baseie, precisamente, na condição de “compatriota” de seus defensores, o rei e Rodríguez Zapatero.
Mas manteve o rei da Espanha a sua devida compostura, suas comedidas formas e habitual tolerância e respeito à opinião alheia até que Chávez voltou a repetir a ladainha e a repetir insultos e desqualificações.
E o que fez então o monarca espanhol?
Simplesmente inquirir qual era a razão que motivava a intervenção do presidente venezuelano levado, talvez, por sua curiosidade,. “Por que não te calas?” Frase que analisada à margem das paixões políticas, em seu sucinto esboço, é só a demanda de um espírito judicioso que não renuncia ao conhecimento, a sua sede de saber.
É verdade que se o monarca espanhol além de escutar tivesse ouvido, não teria tido necessidade de perguntar nada. E é que a Venezuela, como a Nicarágua, a Bolívia, o Equador ou Cuba, não mais são colônias, nem dependem da vênia de monarca algum, nem têm que confiar sua palavra à sentença de um rei. O problema consiste em que trás silêncios tão prolongados como os acontecidos, agora se amontoam os agravos, os velhos e os novos, e não há discurso por extenso e incisivo que seja que dê conta de tantas dívidas pendentes, contas a pagar e crimes impunes. Demasiada memória acumulada para um só rei e uma só cúpula.
E, no entanto, em sua fulgurante intervenção, o rei seguiu manifestando seu domínio da situação e sua egrégia compostura, porque bem pode o monarca ter feito a Chávez o gesto com que presenteara não faz nem um ano aos familiares de presos bascos que lhe cumprimentaram a família na rua, arvorando por todo argumento seu dedo médio com o punho fechado; bem que podia ter perguntado ao mandatário venezuelano “Por que não vá embora para os Cárpatos a matar ursos bêbados?...”, mas não, quis o rei apelar a uma pergunta breve e concisa, quase aristotélica, e formulá-la com inusual sobriedade, sem maiores trejeitos.
É claro que, até a paciência real tem seus limites e quando o seguinte orador a intervir na Cúpula, o presidente nicaragüense Ortega, arremeteu contra o papel que têm as multinacionais espanholas na América e se atreveu a definir a Unión Fenosa como uma companhia mafiosa, o rei, em seu real direito, se levantou por si só de seu assento e abandonou indignado o lugar.
Não é já que como espanhol se sinta o rei da Espanha no dever de defender a honorabilidade dessa companhia, é que, além do mais, e talvez Daniel Ortega o ignorasse, o próprio monarca é sócio dessa firma, e tem valores na “máfia” que controla o negócio da eletricidade em vários países latino-americanos, em todos, sem dúvida, com a mesma história, fama e conseqüências.
E é que, uma coisa é que ao rei lhe critiquem suas veleidades licoreiras, suas contribuições para a extinção de ursos ébrios ou se mencione a catadura fascista de seus presidentes de governo, e outra bem diferente que se censure a amplidão de seus negócios. Até aí podíamos chegar.
Versão em português e imagem: Tali Feld Gleiser de América Latina Palavra Viva.
Jornadas Bolivarianas serão em abril de 2008
A questão nacional é, sem dúvida, um tema “quente” por estas terras. Do México à Bolívia, passando pelo Equador, Guatemala, Peru, Nicarágua e Venezuela entre tantos outros países, os povos indígenas reclamam o caráter pluri-nacional do estado latino-americano. Além disso, o nacionalismo da região frente às estratégias dos países centrais retomou sua antiga vitalidade, ainda que com novos conteúdos políticos, econômicos e sociais. Entendendo isso, o IELA propõe que analisar o nacionalismo atual é uma tarefa intelectual de primeira importância para prever qual a capacidade deste movimento de idéias garantir um futuro melhor para os países da América Latina.
E é conectada com todas essas lutas e desejos que se expressam
Ainda nesta semana já estaremos disponibilizando novas informações sobre as Jornadas. Fique Ligado!
Créditos:Elaine Tavares
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
Via Campesina
Mészáros: idéia de liberdade tem sido usada a serviço da opressão
Em São Paulo para o lançamento de seu último livro, “O desafio e o fardo do tempo histórico”, o marxista húngaro disse que referências à “liberdade” e à “democracia” têm sido “cinicamente usadas a serviço da opressão”.
A TV Carta Maior gravou a conferência realizada quarta-feira (21) na Universidade de São Paulo e na próxima semana disponibilizará o vídeo, com tradução simultânea, em sua página na internet.
Em quase uma hora de uma palestra dada em inglês, o filósofo discutiu conceitos da tradição socialista, sempre considerando “o longo período de gestação de cada um deles ao longo da história”. Sua abordagem evitou o dogmatismo e ressaltou o vínculo entre teoria e prática, sem perder de vista que o objetivo da teoria socialista é apontar soluções para os mais graves problemas da humanidade.
Em busca do significado dos conceitos, Mészáros analisou a construção histórica de conceitos como o do "trabalho", dentro da atividade produtiva, e o da "igualdade", entendida em seu sentido substantivo, que vai além da divisão das coisas materiais e deve ser compreendida, segundo ele, como algo que reflita um elevado grau de justiça nas trocas sociais.
“Igualdade substantiva não é apenas um dos princípios orientadores do projeto socialista. Ela ocupa uma posição-chave entre as categorias gerais da alternativa hegemônica do trabalho. Os outros princípios da estratégia socialista só podem adquirir significado total em conjunto com a noção de igualdade substantiva”, disse Mészáros.
Nesse sentido, o filósofo considera que os valores necessários ao "modo de controle metabólico social do capital" são inadequados para a instalação da ordem socialista. Referências à “liberdade” e à “democracia” têm sido, afirmou, “cinicamente usadas a serviço da opressão e, freqüentemente, mesmo em função da mais brutal violência, do Estado policial e de genocídios militares”.
Projetos emancipatórios necessitam, portanto, de uma crítica aos mecanismos de dominação do capital, que costumam ser perdidos em propostas reformistas, parlamentares e nas chamadas de “terceira via”. Como alerta Mészáros, esse trabalho tem de começar a partir de práticas emancipatórias, para as quais o pensamento teórico, em seqüência, possui função essencial.
E, para Mészáros, tudo isso é tarefa urgente. Como diz o texto de divulgação de seu último livro, a escolha a ser feita não é entre socialismo e barbárie, mas entre socialismo e extinção.
Artistas nos EUA exigem normalizar relações culturais com Cuba
• WASHINGTON (PL) — Mais de duas centenas de personalidades norte-americanos das artes e dos espetáculos assinaram até hoje, dia 20, uma carta aberta, endereçada ao presidente George W. Bush, para apoiar as relações culturais dos Estados Unidos com Cuba.
"Presidente George W. Bush, nós lhe escrevemos como representantes do setor cultural nos Estados Unidos, mas também lhe escrevemos como cidadãos norte-americanos", começa assim a carta.
"Consideramos que é hora de dar passos para o intercâmbio cultural, a cooperação e as relações construtivas com Cuba", enfatiza o documento publicado no site do grupo The Cuba Research and Analysis Group (CRAG).
A carta, endereçada à Casa Branca, foi assinada por Harry Belafonte, Ry Cooder, Peter Coyote, Danny Glover, Sean Penn, José Pertierra, Alice Walker, e outros até completar duas centenas de atores, músicos, advogados, cineastas, produtores e outras prestigiosas personalidades.
Acrescenta que as políticas atuais do governo de Washington impedem possibilidades de amizade e vínculos culturais com a nação caribenha. "Ao negarem-nos a possibilidade de comunicação e expressão, violam direitos fundamentais da Constituição", aponta a carta.
"Como cidadãos, artistas, educadores ou delegados culturais de várias disciplinas acadêmicas, exigimos que o senhor, presidente, leve em conta nosso reclamo", reafirma a carta.
Reivindicamos iniciar um diálogo respeitoso com o governo e o povo de Cuba, pôr fim às proibições de viagens para a Ilha e trabalhar para um processo que sustente o desenvolvimento das relações bilaterais normais, conclui a carta.
Governos sucessivos estadunidenses mantiveram desde 1962 um ferrenho bloqueio econômico, comercial e financeiro contra a nação antilhana que custou a Cuba mais de US$89 bilhões.
Pelo décimo ano consecutivo, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou no mês passado uma resolução com 184 votos a favor, quatro contra e uma abstenção, o cerco comercial dos Estados Unidos contra Cuba.
A ONU adotou o documento apresentado por Cuba em que se impugna o bloqueio de Washington por obstaculizar o desenvolvimento e o bem-estar da Ilha e submeter seu povo a fome e doenças. •
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Sacco & Vanzetti Direção: Giuliano Montaldo Roteiro: Fabrizio Onofri e Giuliano Montaldo, baseado em história de Giuliano Montaldo, Fabrizio Onofri e Mino Roli Produção: Arrigo Colombo e Giorgio Papi Música: Ennio Morricone Fotografia: Silvano Ippoliti Desenho de Produção: Aurelio Crugnola Figurino: Enrico Sabbatini Edição: Nino Baragli Gênero: Drama Tempo de Duração: 119 minutos Ano de Lançamento (Itália 1971) Áudio: Italiano RMVB Legendado Cor CRÉDITOS: RapaduraAzucarada - Stirner Elenco: Gian Maria Volonté (Bartolomeo Vanzetti) Riccardo Cucciolla (Nicola Sacco) Cyril Cusack (Frederick Katzmann) Rosanna Fratello (Rosa Sacco) Geoffrey Keen (Juiz Webster Thayer) Milo O'Shea (Fred Moore) William Prince (William Thompson) Claude Mann (Jornalista) Sinopse: Sacco & Vanzetti, um dos melhores filmes do cinema político italiano dos anos 70. Apoiado na tocante canção tema de Joan Baez e Ennio Morricone, o cineasta Giuliano MontaIdo {Giordano Bruno) reconstituiu a história real dos imigrantes italianos Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, acusados de assassinato e levados a julgamento em 1921, nos Estados Unidos. Por serem anarquistas, são condenados à morte: num dos mais famosos erros judiciais do século XX. Nos anos seguintes, a luta pela anulação da sentença leva milhares de pessoas às ruas em todo o mundo. Proibido no Brasil durante a ditadura militar, Sacco & Vanzetti é um filme inesquecível sobre uma página obrigatória da história contemporânea. Desde a sentença e execução, inúmeros estudos, poemas, músicas e alguns filmes já foram objeto de divulgação da história destes dois operários anarquistas italianos que se tornariam ainda em vida, mártires da classe trabalhadora. Sacco & Vanzetti, uma obra memorável para ver e rever conceitos. Neste filme de Giuliano Montaldo, o roteiro é excepcionalmente fiel aos fatos ocorridos a partir do dia 5 de maio de 1920, onde Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, imigrantes italianos e militantes políticos foram presos como suspeitos. Em Cannes, Sacco & Vanzetti ganhou o prêmio de Melhor Ator (Riccardo Cucciola) no festival. Links Rapidshare em seis partes: http://rapidshare.com/files/69780754/Sacco_e_Vanzetti__Stirner_DVDRip_.part1.rar http://rapidshare.com/files/69852473/Sacco_e_Vanzetti__Stirner_DVDRip_.part2.rar http://rapidshare.com/files/69862121/Sacco_e_Vanzetti__Stirner_DVDRip_.part3.rar http://rapidshare.com/files/69886660/Sacco_e_Vanzetti__Stirner_DVDRip_.part4.rar http://rapidshare.com/files/69897817/Sacco_e_Vanzetti__Stirner_DVDRip_.part5.rar http://rapidshare.com/files/69901054/Sacco_e_Vanzetti__Stirner_DVDRip_.part6.rar |
The Turning Point - 1969-JOHN MAYALL
- The Laws Must Change (7.21)
- Saw Milch Gulch Road (4.39)
- I'm Gonna Fight For You J.B. (5.27)
- So Hard To Share (7.03)
- California (9.30)
- Thoughts About Roxanne (8:20)
- Room To Move (5.01)
Quilombo dos Palmares: refúgio da liberdade | | | |
Wilson Aparecido Lopes | |
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Ao comemorarmos o “Dia Nacional da Consciência Negra" urge salientar a importância deste salutar momento histórico para todo povo brasileiro: a herança de um povo que mesmo tendo sido feito escravo não aceitou passivamente a “canga” da escravidão sobre seu pescoço. Muito tem a nos ensinar o povo afro-descendente, muito temos o que aprender de Zumbi e muito mais ainda tem a nos revelar o Quilombo dos Palmares.
Resgatar a herança dos afro-descendentes é fazer emergir do profundo de nosso ser o sentimento de revolta, de rebeldia e de indignação. É deixar vir à tona a ira-santa frente a “qualquer injustiça provocada contra qualquer ser humano em qualquer lugar do mundo” (Che Guevara). É afirmar com Zumbi: “Não, não deponho as armas, enquanto houver um afro-descendente cativo, nenhum é livre!”.
Falar de Zumbi é falar dos afro-descendentes, falar dos afro-descendentes é falar de Zumbi, é falar do Quilombo dos Palmares. O grito de liberdade de Zumbi ainda hoje ecoa na humanidade. Foi sua ânsia pela liberdade que não lhe permitiu se render aos privilégios de que gozava sob a tutela do Padre Antonio Mello. Foi o amor pelo seu povo que o levou a não considerar justos os bons tratos destinados a ele somente, enquanto sua gente sofria sob o peso da opressão. Zumbi preferiu fugir dos privilégios a se deixar cooptar por eles. Preferiu a luta à resignação.
Foi a luta pela libertação de todo o seu povo que levou Zumbi a recusar em 1678 a oferta do então governador de Pernambuco, Pedro de Almeida, que propunha anistia e liberdade a todos os nascidos no Quilombo dos Palmares. Enquanto Ganga Zumba, então líder de Palmares, concordava com a trégua, Zumbi se colocava contra, por entender que o acordo favorecia a continuidade do regime de escravidão praticado nos engenhos. Foi este sentimento de “ou liberdade para todos ou a luta” que fez de Zumbi, a partir de então, o novo líder do seu povo.
O Quilombo dos Palmares se tornou então uma autêntica comunidade livre onde se criava gado, se plantava mandioca e cana-de-açúcar. O que sobrava da colheita era trocado com a vizinhança por sal, pólvora e armas de fogo. Garantindo assim a proteção do povo contra as inúmeras investidas dos colonizadores. Em pouco tempo, o Quilombo dos Palmares se transformou num verdadeiro “refúgio da liberdade”, acolhendo escravos fugidos, brancos-pobres e indígenas.
Nem mesmo a maior de todas as investidas desferidas pelo mercenário-bandeirante Domingos Jorge Velho, em 1694, conseguiu exterminar o Quilombo dos Palmares completamente. Muitos outros “Quilombos” surgiram. Pois não se pode destruir a memória e a liberdade de um povo. A prova é que, hoje, mais de duzentos municípios em todo o Brasil celebram a memória de Zumbi e a luta de um povo pela sua libertação, considerando este dia “feriado memorável”.
Zumbi continua a ensinar que só a luta nos faz livres e que nenhum líder deve se deixar corromper e cooptar pelos privilégios oferecidos. E que ninguém deve se considerar livre enquanto houver um só cativo. O Quilombo dos Palmares teima em nos deixar como legado o fato de ter sido um “refúgio de liberdade”. Este legado denuncia os mais diversos lugares que outrora nasceram para refugiar à liberdade, lugares que até ontem serviam de esconderijos para os mais “aguerridos lutadores do povo”, e que hoje se tornaram abrigo de uma “elite de privilegiados”, de “ajoelhados” ante os “neocolonizadores”, com seus bons empregos, fartos banquetes e vinhos finos, suas ricas amizades, mas que viraram as costas para a opressão de seu povo. Os afro-descendentes insistem em fazerem ecoar do seu âmago o grito pela libertação, ensinando-nos que nada, nada é mais importante e precioso na vida de um povo do que a sua liberdade.
Zumbi, Quilombo dos Palmares e os Afro-descendentes não nos deixam esquecer que a luta de hoje não é diferente da luta de ontem. Que a escravidão hoje é global. Que os Domingos Jorge Velho de hoje são a Rede Globo e sua cruzada desmoralizadora contra os remanescentes quilombolas, que os colonizadores ainda são os latifundiários e sua ganância ambiciosa pela grilagem de mais terras, e que os “grilhões” e o “pelourinho” de hoje continuam sendo a discriminação e o racismo. Exemplificam isto as recentes declarações de James Watson, descobridor da estrutura molecular do DNA, ao afirmar que testes de QI demonstraram que os africanos são menos inteligentes que os ocidentais.
Quantos ainda devem morrer na luta pela liberdade? Tantos quantos forem necessários para mostrar que: ou a liberdade ou a morte. Enquanto houver quem ouse escravizar um povo haverá sempre quem não tema derramar seu sangue em defesa de sua libertação. Zumbi preferiu perder a vida, mas não a liberdade. Traído por Antônio Soares, um de seus comandantes, Zumbi foi capturado no dia 20 de novembro de 1695. Morto, teve seu corpo esquartejado e sua cabeça exposta em praça pública na cidade de Olinda, Pernambuco. Quase 100 anos depois, outro “revolucionário” teve o mesmo tratamento dispensado pelos “algozes da colonização”. No dia 21 de abril de 1792, Tiradentes foi enforcado no Largo da Lampadosa, Rio de Janeiro. Sua casa foi arrasada e seus descendentes declarados infames. Seu corpo foi esquartejado, sua cabeça erguida em um poste em Vila Rica e seus restos mortais distribuídos ao longo do Caminho Novo: Cebolas, Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz, antiga Carijós, lugares onde Tiradentes fizera seus discursos revolucionários. A semelhança da morte tanto de Zumbi como de Tiradentes faz destes lugares os nascedouros dos “novos Quilombos dos Palmares”, dos “novos refúgios de liberdade”.
Zumbi dos Palmares, Tiradentes e tantos outros “revolucionários”, “heróis da liberdade”, demonstram que um povo só é povo sendo livre. Por isso, enquanto os afro-descendentes forem discriminados e tratados indignamente, os brancos-pobres oprimidos pela miséria e massacrados pela injustiça e os indígenas tocados de suas terras e tratados como indigentes, Zumbi vive. E com ele a memória de todos os revolucionários. Enquanto a liberdade não for liberdade para os afro-descendentes, para os pobres e para os indígenas outros “Quilombos dos Palmares” surgirão e neles outros “Zumbis” nascerão.
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Era setembro de 2001 e fui convocado para tomar posse no cargo de Professor de História da rede pública municipal do Rio de Janeiro. Depois de oito anos de formado, mestrado concluído, doutorado em vias de conclusão e passagens meteóricas pela rede pública do município de Teresópolis – RJ e do Estado do Rio de Janeiro, lá estava eu prestes a me tornar professor de uma escola municipal como aquela em que estudei nas primeiras séries do ensino fundamental. Era a concretização de um sonho de realização profissional. Sonho ou pesadelo?
Algumas semanas em sala de aula naquela escola do subúrbio do Rio me fizeram cogitar seriamente de um pedido de exoneração. Aliás, ainda cogito freqüentemente. Se não o fiz até hoje foi por desejo (de ensinar) e necessidade (de trabalhar para sobreviver). Ao perceber que ali – e em cada uma dessas escolas municipais – está montada uma engrenagem cujo objetivo é produzir o fracasso escolar em larga escala, passei a conviver com essa angústia. Afinal, não somos professores em sala de aula, mas sim operadores (ou técnicos do saber, como diria Sartre) de uma cruel engrenagem que produz analfabetos funcionais em massa. Tudo é feito de modo a incutir nos professores um profundo sentimento de impotência diante desse sistema, cuja última e mais eloqüente inovação foi a aprovação automática.
Ao tomar conhecimento de que a revista Nova Escola, da Fundação Victor Civita – os Civita, sempre tão preocupados com a educação do nosso país, não é mesmo? – encomendou uma pesquisa ao Ibope sobre como os professores vêem a educação pública no país, sinto-me na obrigação de abordar o assunto.
Não pretendo aqui jogar o bebê e a água do banho fora. A pesquisa traz dados muito interessantes. Por exemplo: apenas 21% dos professores estão satisfeitos com a profissão; mas 63% trabalham no que gostam; 53% têm no amor à profissão sua principal motivação; e 63% relatam viver em nível significativo de estresse. Esses são apenas alguns dados colhidos junto a 500 professores entre 25 e 55 anos de idade entrevistados em todo o país, sendo 50% no sudeste.
Suponho que não se tratam de informações surpreendentes. O que irrita e causa indignação é o discurso recorrente que a grande mídia produz a respeito desse quadro desanimador. Não vejo veículo algum enfrentar o tema sem tergiversar. São capazes de tangenciar o núcleo central do problema, como faz o Globo On-line, ao observar que “professor tem apenas 3 minutos por dia para cada aluno na classe”. A repórter explica que as turmas superlotadas e a dupla (não seria tripla?) jornada de trabalho compõem essa curiosa equação.
Mas já estou cansado de ler nas páginas dos grandes jornais e revistas do país as mesmas tentativas esfarrapadas de explicar e solucionar o problema. Bons exemplos disto são os textos que Antônio Ermírio de Moraes e Gilberto Dimenstein publicam regularmente na edição dominical da Folha de S. Paulo. Sempre acusam o professor e afirmam que aumentar os salários dos docentes não vai resolver nada. Ora, até quando vamos aturar tamanho cinismo?
Dimenstein chegou ao ponto de afirmar, há algumas semanas, que existe uma espécie de indústria da licença médica na rede pública estadual de São Paulo. Será que ele já pôs os pés numa escola dessas? Por acaso conversou com seus professores? Compreende que quem vive submetido a estresse constante costuma ter uma crônica baixa imunidade que é porta de entrada para variadas moléstias?
É evidente que depois de décadas de aviltamento temos já uma boa quantidade de professores mal formados e sem nenhum entusiasmo pela educação, assim como apenas aumentar salário de nada resolve. Mas não há como começar a desmontar essa gigantesca engrenagem que fabrica analfabetos funcionais (que em pesadelos me lembram cenas do filme The Wall) sem alterar as condições de trabalho dos professores.
Não acredito que seja possível reverter o quadro caótico em que se encontra a educação no Brasil enquanto não tivermos o professor remunerado de forma digna e satisfatória, de modo que precise trabalhar em uma só escola. É isso: salário bastante para que se torne possível dedicação exclusiva a um só emprego, uma só escola ou instituição de ensino. Assim seria possível esperar que os professores tivessem tempo não só para estudar e planejar suas aulas, como também para o lazer e a família, ao invés de cumprirem longas jornadas de trabalho que por vezes se iniciam às 7 horas da manhã e terminam às 23 horas.
Com salários suficientes para manter suas famílias e dedicando-se exclusivamente ao ensino em uma só escola, aí sim seria razoável cobrar progressivamente maior qualidade no trabalho desenvolvido em sala de aula. Antes de se criar essas condições mínimas e básicas, não há como esperar mudança expressiva no ensino público no país.
E vale lembrar que o resgate do padrão salarial dos mestres precisa começar pelos que alfabetizam e atuam nas séries iniciais do ensino fundamental. Ali são plantadas as bases para o restante do ensino fundamental, médio e superior. Portanto é prioritário resgatar a dignidade desses profissionais em especial, até porque são justamente os que hoje recebem os piores e mais baixos salários.
Passei vinte anos na expectativa de que no dia em que um partido político de esquerda como foi o PT chegasse ao poder, teríamos pelo menos o início desse processo de valorização e resgate do magistério. Entretanto o que se vê é o governo federal empenhado em medir o tamanho da tragédia – vide o Prova Brasil e similares - que é o ensino no país, permanecendo contudo tão inoperante quanto seus antecessores. Daqui a vinte anos pode ser tarde demais...
(*) Denilson Botelho é historiador, professor e autor de A pátria que quisera ter era um mito.