domingo, 30 de dezembro de 2007

A Itália quer punir a operação condor. O Brasil, não

"Às 18 horas do dia cinco de dezembro de 1973, meu pai Joaquim Pires Cerveira (...) se dirigiu a um encontro com seu companheiro de Organização (...) João Batista de Rita Pereda.
"Atropelado e seqüestrado com Pereda no centro de Buenos Aires pela Operação Condor, foram entregues à ditadura brasileira.
"Foi assassinado em 13 de janeiro de 1974 no DOI-Codi da Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro, tornando-se um desaparecido político.
"Dali para frente, a vida se resumiu na busca da verdade e dos seus restos mortais."
(Neusah Cerveira, jornalista, economista e geógrafa)


A Justiça italiana acaba de pedir ao governo do Brasil que colabore no interrogatório, prisão e extradição de brasileiros envolvidos na Operação Condor, um esquema de colaboração informal que sete ditaduras sul-americanas mantiveram durante o período 1973/1980 para perseguir, aprisionar e atentar contra opositores que, exilados, estavam teoricamente fora do alcance de suas garras.

Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai foram as nações que facilitaram a atuação extraterritorial de agentes da repressão, na maioria das vezes capturando "subversivos" para serem secretamente recambiados a seus países de origem, supliciados em centros clandestinos de tortura e depois executados.

A ocultação dos cadáveres, para que não restassem indícios dos crimes cometidos, era o desfecho habitual dessas operações. Um documento secreto da Força Aérea Brasileira, datado de 1977, revela que se chegou a lançarem corpos no Rio La Prata, mas essa prática teve de ser abandonada porque estava "criando problemas para o Uruguai, como a aparição de cadáveres mutilados nas praias", passando-se então a utilizar "fornos crematórios dos hospitais do Estado (...) para a incineração de subversivos capturados".

Foi, enfim, uma alternativa hedionda a que as ditaduras recorreram para evitar os trâmites demorados dos processos de extradição e as garantias que o Direito internacional prescreve para os extraditados.

Um caso célebre no Brasil foi o seqüestro, em 1978, dos uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Díaz, vindos a Porto Alegre, com seus dois filhos, para denunciar os crimes da ditadura do seu país. Os quatro foram capturados e entregues às autoridades do Uruguai. Se a revista Veja não noticiasse, dificilmente teriam sobrevivido.

Só no ano 2000 Universindo Díaz sentiu-se suficientemente seguro para relatar o ocorrido. Segundo ele, os espancamentos começaram já no apartamento em que ele foi capturado e prosseguiram na sede do DOPS: "Nos bateram brutalmente. Nos colocaram no que chamam no Brasil de 'pau-de-arara' - dependurados do teto, pelados, nos deram choques elétricos, água fria, golpes, e assim nos foram interrogando durante horas e horas. Havia uma espécie de divisão internacional de trabalho - os brasileiros golpeavam e os uruguaios nos interrogaram".

O episódio de maior repercussão internacional foi a explosão de uma bomba no carro do ex-embaixador chileno Orlando Letelier, em pleno bairro diplomático de Washington, no ano de 1978. O atentado cometido por agentes da repressão política do Chile, a Dina, resultou na morte de Letelier e de sua secretária, causando tanta indignação nos EUA que o país deixou de apoiar a ditadura andina.

ATRASO, TIMIDEZ, IMPUNIDADE - A punição dos responsáveis por esse período negro da história sul-americana está acontecendo com atraso e timidez, face à enormidade dos crimes cometidos. Muitos carrascos morreram antes de responderem por suas atrocidades. Mas, pelo menos, sinaliza para os pósteros que nem sempre as regressões à barbárie ficam impunes.

O Uruguai condenou à prisão o ex-ditador Gregorio Álvarez, em cujo governo "desapareceram" 20 cidadãos uruguaios aprisionados na Argentina e repatriados ilegalmente, não aceitando sua alegação de que desconhecia a existência da Operação Condor.

A morte livrou o antigo ditador chileno Augusto Pinochet de cumprir a merecida pena de prisão pela autoria de nove seqüestros e um homicídio, mas seu ex-chefe de Inteligência Manuel Contreras não escapou: foi condenado a 15 anos de detenção por ter planejado o assassinato de Letelier e está preso.

A Argentina também está prestes a julgar o ex-ditador Rafael Videla e 16 cúmplices, por crimes contra a humanidade.

E, agora, a juíza italiana Luisanna Figliolia expediu um mandado de prisão contra 140 pessoas suspeitas de participação na Operação Condor, dentre elas 11 brasileiros, 61 argentinos, 32 uruguaios e 22 chilenos. O caso tramita desde 1999, a partir de denúncias apresentadas por parentes de 25 italianos que desapareceram sob regimes militares na América Latina.

O ministro da Justiça Tarso Genro logo descartou a extradição dos acusados brasileiros, por considerá-la "inconstitucional". Ficou implícito que, na opinião do ministro, dificilmente eles serão punidos, embora Tarso vá tomar as providências burocráticas rotineiras, ao receber o pedido das autoridades italianas.

O Exército, por sua vez, informou à UOL que não vai se pronunciar oficialmente sobre o caso, que está sob tutela do ministério da Justiça por envolver "a soberania brasileira". Essa preocupação com a soberania aparentemente não existia quando se franqueava o território nacional para a caçada a casais inofensivos e suas crianças.

Então, para nosso opróbrio, só nos resta concordar com o procurador da República italiano Giancarlo Capaldo: "Esse processo nasceu na Itália porque os países unidos em torno da Operação Condor decidiram não abrir investigações sobre o assunto. A Itália está fazendo o possível para evitar a impunidade e para que operações como essa não voltem a acontecer".


* Jornalista e escritor. Mais artigos em http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com

Jazz Integral (Raro)

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1. UNITED FUTURE ORGANIZATION - LOUD MINORITY
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12. DAVID BENOIT - LIFE IS LIKE A SAMBA
13. TONINHO HORTA - YARABELA
14. EDDIE CANO & HIS QUINTET - I NEVER FORGET YOU
15. EL CHICANO - WHAT'S GOING ON
16. KOOL & THE GANG - CHOCOLATEBUTTER MILK

Downloads abaixo:

Part 1
Part 2

HOUVE UMA VEZ DOIS VERÕES - 2002



Formato: rmvb
Áudio: Português/BR
Duração: 75minutos
Tamanho: 294Mb
Dividido em 03 Partes
Servidor: Rapidshare


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Título orginal: Houve uma vez dois verões
Gênero: Comédia
Ano de Lançamento(Brasil): 2002
Direção: Jorge Furtado

Créditos: Forum - ze qualquer


Elenco
André Arteche (Chico)
Ana Maria Mainieri (Roza)
Pedro Furtado (Juca)
Júlia Barth (Carmem)
Victória Mazzini (Violeta)
Marcelo Aquino (Inácio)
Janaína Kraemer Motta (Mulher de Inácio)
Yuri Ferreira (Irmão de Roza)
Álvaro Rosa Costa (Taxista)


Sinopse:Chico (André Arteche) é um jovem ingênuo que acredita que um dia encontrará o grande amor de sua vida. Roza (Ana Maria Mainieri) é uma jovem que só pensa em conseguir dinheiro suficiente para realizar sua sonhada viagem para a Austrália. Eles se encontram por acaso e, juntos, vivem uma intensa paixão. Porém várias reviravoltas do destino ainda irão influir no relacionamento deles.

Premiações:
Ganhou o Grande Prêmio Cinema Brasil de Melhor Roteiro Original, além de ter sido indicado nas categorias de Melhor Filme e Melhor Figurino.

Curiosidades:
Houve uma Vez Dois Verões é o primeiro longa-metragem do diretor Jorge Furtado, famoso por seus curtas-metragens Ilha das Flores e O Sanduíche.

Houve uma Vez Dois Verões é o segundo longa-metragem produzido pela Casa de Cultura de Porto Alegre. O anterior fora Tolerância (2000).

Houve uma Vez Dois Verões foi totalmente filmado em câmera digital.

As filmagens ocorreram no mês de abril de 2001, no litoral gaúcho, e duraram exatos 23 dias.


Procurando outros filmes em alguns dvds velhos achei esse perdido. Me diverti muito com esse filme principalmente por ter passado parte da minha molecância em algumas dessas praias. Como gaúcho e apreciador do cinema nacional sou suspeito pra falar. Só posso dizer que proporciona algumas horas de diversão. Pra quem deseja se arriscar, bom filme.

TRILOGIA SAMURAI: MIYAMOTO MUSASHI - 1954


Responder com citação


Primeiro filme da trilogia sobre o mais famoso dos samurais, Miyamoto Musashi, baseado no livro de Eiji Yoshikawa. No papel principal, Toshiro Mifune, o grande ator japonês que ficou marcado por esse tipo de personagem.
Um grande clássico do cinema mundial.


Formato: RMVB
Áudio: Japonês
Legendas: Pt-Br
Duração: 1:34h

Créditos: forum - Eudes Honorato


sábado, 29 de dezembro de 2007

DECAMERON - 1971




Primeiro episódio da "Trilogia da Vida"
Título Original: Décaméron, Le
Tempo de Duração: 111 minutos
Gênero: Drama/Cinema Europeu
Ano de Lançamento (Itália/França/Alemanha): 1971
Direção: Pier Paolo Pasolini
Áudio: Italiano
RMVB Legendado
Cor
Créditos: Forum - Stirner




Elenco:
Franco Citti,
Ninetto Davoli,
Jovan Jovanovic,
Vincenzo Amato,
Angela Luce,
Giuseppe Zigaina



Sinopse:
Primeiro capítulo da pasoliniana “Trilogia da Vida”, Decameron é baseado em nove contos do livro homônimo de Giovanni Boccaccio (1313-1375), em que imperam os valores do corpo e da vitalidade sexual. Em cinco dos nove episódios, predominam mesmo o erotismo e a licenciosidade, como no conto em que o camponês se faz de surdo-mudo para trabalhar no convento e fazer amor com as freiras. “Decameron é uma obra que se pretende completamente alegre. E a alegria de viver que existia em Boccaccio provém de seu otimismo histórico, pois naquele momento estava
explodindo uma grande novidade: a revolução burguesa... Boccaccio viveu o princípio de uma nova era”, disse Pasolini, que dirigiu em seguida Os Contos de Canterbury e Mil e Uma Noites.

Links Rapidshare em quatro partes
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CINEMA, ASPIRINA E URUBUS - 2005




Formato: rmvb
Áudio: Português
Legendas: S/L
Duração: 1:40
Tamanho: 345 MB
Dividido em 04 Partes
Servidor: Rapidshare


Créditos: Forum - ze qualquer




Sinopse:

Em 1942. No sertão do Brasil, encontram-se dois homens muito diferentes: o alemão Johann, que fugiu da guerra, aceitando um emprego para vender a mais nova droga miraculosa, a aspirina; e o sertanejo Ranulfo, mais um dos muitos agricultores expulsos de suas terras pela implacável seca nordestina.

Johann precisa de um ajudante e contrata Ranulfo. Num caminhão, os dois percorrem as estradas poeirentas do interior do Brasil. Mostram aos moradores das menores vilazinhas um filme sobre o novo remédio que é a primeira experiência com o cinema da maioria deles.

A viagem é também uma oportunidade de troca entre duas experiências de vida muito diferentes, do alemão urbano e educado, e do brasileiro iletrado mas versado em vários expedientes úteis para seu dia-a-dia.

Hank Mobley

É impossível imaginar que esse play tem mais de 40 anos.
A pegada desse cara é embaçada, e ainda tem o Grant Green e Paul Chambers pra deixar o som mais redondo.
Esse disco do Hank Mobley é fora de serie.
Recomendadíssimo mesmo!
créditos:SaravaClub


1. Hank Mobley - Workout
2. Hank Mobley - Uh huh
3. Hank Mobley - Smokin'
4. Hank Mobley - The best things in life are free
5. Hank Mobley - Greasin' easy
6. Hank Mobley - Three coins in a fountain




Afro Cubano Jazz - Kind of Afro Cubano Jazz

http://i174.photobucket.com/albums/w96/Vallegna/recto-143.jpg



01. Mongo Santamaria - Watermelon Man.mp3
02. Ray Barretto - La Cuna.mp3
03. The Art Blakey Percussion Ensemble - Cubano Chant.mp3
04. Orlando Poleo - El Buen Camino.mp3
05. Cedar Walton - Latin America.mp3
06. Paquito D'Rivera - Manceta.mp3
07. Santana - Para Los Rumberos.mp3
08. Ray Barretto - The Old Castle.mp3
09. Michel Camilo - Caribe.mp3
10. Los Super Seven - Teresa.mp3

Total Size: 122,64MB

Downloads abaixo:
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Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1931



Tipo de Arquivo: RMVB
Tamanho: 327MB
Qualidade: Excelente
Audio: Inglês
Legenda: Português (embutida)

O Médico e o Monstro (Dr. Jekyl and Mr. Hyde, EUA, 1931)

Diretor: Rouben Mamoulian
Roteiro: Samuel Hoffenstein
Produção: Adolph Zukor
Maquiagem: Wally Westmore
Elenco: Fredric March (Dr. Henry L. Jekyll / Mr. Hyde), Miriam Hopkins (Ivy Pearson), Rose Hobart (Muriel Carew), Holmes Herbert (Dr. Lanyon), Halliwell Hobbes (Gen. Danvers Carew) e Edgar Norton (Poole)
Ano: 1931
Duração: 90min
Gênero: Clássico/Terror

Créditos: Forum - Gustavo Nightmare

Sinopse
Dr. Jekyll é um respeitável médico que enfrentará sérias conseqüências ao beber uma poção de um de seus experimentos. Essa poção irá liberar seu lado mais negro, transformando-o em um monstro incontrolável.

LINKS
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Fotos







CURIOSIDADES
Um Filme muito criticado na época por conter cenas tão violentas e ser tão impressionante quanto à interpretação de Frederic March. Ele realmente encarna o Sr. Hyde de uma forma espetacular e sua maquiagem é pra lá de impressionante.


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Visitem meu Blog sobre Filmes, Séries e Desenhos "Nightmare's Remember"
www.nightmaremember.blogspot.com

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Domínio militar é tragédia paquistanesa

É difícil imaginar que algo de bom possa surgir dessa tragédia, mas existe uma possibilidade. O Paquistão precisa desesperadamente de um partido político que fale em nome das necessidades sociais da maioria de seu povo. A análise é de Tariq Ali.

Mesmo aqueles dentre nós que criticavam severamente o comportamento de Benazir Bhutto e as políticas que ela adotou quando estava no poder e depois de perdê-lo se sentem atônitos e enraivecidos diante de sua morte. Indignação e medo tomam o país uma vez mais. Foi essa estranha coexistência entre despotismo militar e anarquia que gerou as condições que resultaram no assassinato de Benazir.

No passado, o governo militar tinha por objetivo preservar a ordem. Mas isso deixou de ser verdade. Hoje, o domínio militar cria desordem e destrói o domínio da lei. Que outra explicação poderíamos encontrar para a demissão do presidente e de oito outros juízes da Suprema Corte paquistanesa por terem tentado sujeitar a polícia e os serviços de informações aos ditames da lei? Os substitutos não têm firmeza moral para tomar providência alguma, quanto mais conduzir a investigação sobre os delitos das agências, a fim de encorajar a revelação da verdade por trás do assassinato cuidadosamente organizado de uma importante líder política.

De que maneira o Paquistão seria outra coisa que não uma conflagração de desespero hoje? Presume-se que os assassinos sejam jihadistas fanáticos. Pode ser verdade, mas agiram por conta própria?

EUA e coragem
Benazir, segundo fontes próximas a ela, sentiu-se tentada a boicotar as falsas eleições, mas não teve coragem política de desafiar Washington. Tinha muita coragem física, e recusava-se a ceder às ameaças de seus oponentes locais. Bhutto estava discursando em um ato em Liaquat Bagh. É um espaço batizado em homenagem ao premiê que formou o primeiro governo paquistanês, Liaquat Ali Khan, assassinado por um atirador em 1953. O matador foi imediatamente abatido a tiros por ordem de um policial envolvido no complô.

Não muito longe dali, existia uma estrutura da era colonial que servia de prisão aos militantes nacionalistas. Era a prisão de Rawalpindi, o local em que Zulfikar Ali Bhutto, pai de Benazir, foi executado em 1979.

O tirano militar responsável por seu assassinato fez desaparecer o lugar da execução. A morte de Zukfikar Bhutto envenenou o relacionamento entre o seu Partido do Povo do Paquistão e o Exército; ativistas do partido foram torturados, humilhados e, ocasionalmente, mortos.

A turbulenta história do Paquistão, como resultado de contínuo domínio militar e de alianças internacionais impopulares, agora apresenta sérias escolhas à elite governante, que parece não ter qualquer objetivo positivo. A maioria esmagadora do país desaprova a política externa. O povo também se sente irritado pela falta de uma política doméstica séria, se excetuarmos os esforços para enriquecer ainda mais uma elite insensível, cujas fileiras incluem as Forças Armadas, superdimensionadas e parasitárias -as mesmas que assistem, impotentes, ao assassinato de líderes políticos.

Benazir foi atingida por tiros e logo houve uma explosão. Os assassinos garantiram duplamente a operação, dessa vez. Queriam-na morta. Agora, é impossível a realização de uma eleição, ainda que fraudulenta. O pleito terá de ser adiado e as Forças Armadas estão contemplando a imposição de um novo período de domínio militar direto caso a situação se agrave, o que pode facilmente ocorrer.

O assassinato representa uma tragédia multidimensional em um país que está na estrada para novas tragédias. Há despenhadeiros e cataratas à frente. E há a tragédia pessoal. A família Bhutto perdeu mais um membro. Pai, dois filhos e agora a filha.

Morte do pai
Fui apresentado a Benazir na casa de seu pai, em Karachi, quando ela era uma adolescente que só queria se divertir, e voltei a encontrá-la mais tarde, em Oxford. A política não era sua inclinação natural, e ela desejava ser diplomata, mas a história e suas tragédias pessoais a conduziram em outra direção. A morte de seu pai a transformou. Ela tornou-se uma pessoa nova, determinada a enfrentar o ditador militar daquela era.

Estava instalada em um pequeno apartamento em Londres, no qual discutíamos o futuro do país. Ela concordava quanto à necessidade de uma reforma agrária, grandes programas educativos e uma política externa independente, como passos cruciais para salvar o país dos abutres que estavam à espreita, com ou sem uniforme. Sua base eleitoral eram os pobres, e ela se orgulhava disso. Mas Benazir mudou de novo, ao se tornar primeira-ministra.

No início de seu governo costumávamos discutir, e ela dizia que o mundo havia mudado. Ela não podia se colocar ''do lado errado'' da história. E, como outros, fez as pazes com Washington. Foi isso que a levou, por fim, a fechar um acordo com Musharraf e voltar ao país. Em diversas ocasiões ela me disse que não temia a morte. Era um dos perigos inerentes da vida política paquistanesa.

É difícil imaginar que algo de bom possa surgir dessa tragédia, mas existe uma possibilidade. O Paquistão precisa desesperadamente de um partido político que fale em nome das necessidades sociais da maioria de seu povo. O Partido do Povo, fundado por Zulfikar Ali Bhutto, foi criado pelos ativistas do único movimento popular de massa que o país já viu: estudantes, camponeses e trabalhadores que lutaram durante três meses, em1968/9, pela derrubada do primeiro ditador militar do país. Os militantes consideravam a organização como o seu partido, e o sentimento persiste ainda hoje em determinadas áreas do país.

A morte horrível de Benazir deveria fazer com que seus colegas parem e reflitam. Depender de uma pessoa ou família talvez seja ocasionalmente necessário, mas isso representa uma fraqueza estrutural, e não uma vantagem para uma organização política.

O Partido do Povo precisa ser recriado como organização moderna e democrática, aberta ao debate e discussão honestos, defendendo os direitos sociais e humanos, por meio da união dos muitos grupos e indivíduos paquistaneses dispersos que estão desesperados por qualquer opção de governo minimamente decente e que apresente propostas concretas para estabilizar o Afeganistão, ocupado e dilacerado pela guerra. Isso pode e deve ser feito. Não deveríamos solicitar novos sacrifícios à família Bhutto.

* Escritor, historiador anglo-paquistanês e editor da revista New Left Review

Publicado no site Vermelho