Capa Original
Ornete Coleman - New York is Now!
1. The Garden Of Souls
2. Toy Dance
3. Broadway Blues
4. Broadway Blues (Alternate Take)
5. Round Trip
6. We Now Interrupt For A Comercial
Créditos: TrabalhoMental - Kryz
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
Aos vinte anos ninguém se sente integralmente feliz. A plenitude de sua juventude é ofuscada pela ilusão de que os dias do futuro serão mais iluminados, e repletos de conquistas e de sucesso. Na juventude temos todos os sonhos do mundo. E todos estão projetados para os dias do porvir. Só quando chegam os cansaços da velhice, percebemos que só fomos felizes quando estivemos presentes naquilo que vivíamos, sentindo o sabor e a verdade de cada instante, sem nada lamentar ou desejar. Só então, ao acordar do pesadelo de só viver na irrealidade dos sonhos, nos damos conta de que aos vinte anos éramos felizes e não sabíamos.
Ao estendermos a mão para ligar a luz do entendimento, toda escuridão da ignorância se apaga. Então nos damos conta de que nossa ansiedade nos fez viver sempre no futuro, nunca no presente, em que a vida acontece. Desejar, projetar, vivendo em permanente insatisfação e expectativa, passou a ser o vício mortal de quem só vive no passado ou no futuro – jamais no Agora, o único tempo em que a vida pode ser vivida. O medo não seria o pão de pânico de cada dia, se o homem confiasse no homem “como um menino confia em outro menino”. Ou se não fosse nosso hábito insano e trágico de tomar as pessoas de assalto, com nossos desejos bárbaros de posse e de conquista. Poderíamos viver em profunda simplicidade, se não fossemos movidos por tantos desejos vazios, em um querer insaciável de pobres personas de espírito amputado.
“Onde você vai/com tanta pressa/com tanto medo/ com tanto ódio”. Assim diz a letra de uma canção popular, que tem como a doença da pressa, que a tantas trombadas e descaminhos nos leva. Sim, não há como negar: a doença da pressa nos envelhece porque nos amarra ao tempo ilusório da ansiedade inútil. Melhor então é cantar o fulgor do Agora, “enquanto os pássaros cantam, lá fora”. Henry David Thoreau nos deu, com o clássico Walden, lições de como se pode ser feliz, vivendo em profunda simplicidade.
E isto não implica em fazer cursos ou viagens dispendiosas, pois que consiste apenas em renunciar a tudo o que não é essencial à nossa existência. Estranhamente, quem receita para si a paz e a leveza dos simples, passa a viver em abundância – nada lhe falta, uma vez que pode prescindir de trivialidade e superfluidades que só nos entulham de coisas e objetos de que não precisamos; ao pensar que não poderíamos passar sem eles, apenas fomos iludidos por nossos desejos vazios. E assim passamos a viver em silencioso desespero, como os que empenham todas as suas energias em ganhar mais e mais dinheiro, para ter de gastá-lo depois com os profissionais de saúde.
Viver em simplicidade não significa viver em pobreza. A simplicidade é requintada e poderosa, uma vez que as pessoas que adotam este estilo de vida não vivem para a aprovação do olhar dos outros. Fazem o que gostam, e como gostam, sem cultivar falsas necessidades. No mundo inteiro vê-se pessoas deixando no caminho o saco de tijolos do sofrimento inútil, dentro do qual um dos itens que mais pesa é o da doença da pressa. Pressa em chegar primeiro em uma corrida em que o prêmio é a neurose, que antecede as doenças e a morte.
Brasigóis Felício, É goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.
Com quanta força tombam os poderosos! O rei cruzado que apontaria sua espada contra as forças da Treva e do Mal, aquele que disse só existir "ou eles ou nós", que proclamou um conflito eterno contra o "mundo do terror" e em nosso benefício...mostrou ser, bem, um covarde. Um punhado de generais turcos e uma multimilionária campanha de relações públicas em favor dos negadores do Holocausto Armênio transformaram o leão em um cordeiro.
Por Robert Fisk*
Nem mesmo um cordeiro, pois por sua natureza esse animal é também um símbolo da inocência, mas um camundongo, essa diminuta criatura que só de longe pode ser confundida com um rato. Estou exagerando? Penso que não.
O "histórico do caso" é bem conhecido. Em 1915, as autoridades turco-otomanas promoveram um sistemático genocídio contra 1,5 milhão de cristãos armênios. Existem fotos, informes diplomáticos, documentação original otomana, todo o processo de um julgamento após a 1ª Guerra Mundial, um massudo relatório de Winston Churchill e Lloyd George ao Foreign Office britânico em 1915-1916 para provar que tudo é verdade.
Até um filme emerge agora – um arquivo de tomadas feitas por cameramen militares durante a 1º Guerra – para mostrar que o primeiro Holocausto do século 20 – perpetrado diante de oficiais alemães que mais tarde aperfeiçoariam os seus métodos para o extermínio de 6 milhões de judeus – foi tão real como proclamam os seus pouco numerosos sobreviventes.
Mas os turcos não nos deixam dizer isso. Eles chantageiam as potências ocidentais – entre eles o nosso governo britânico e agora também o dos Estados Unidos, para que avalizem suas desavergonhadas negativas. Isso inclui (cansei-me de repeti-lo, porém as agências e governos temem a fúria de Ancara) a quimera de que os armênios morreram "numa guerra civil", pois estavam colaborando com os inimigos russos da Turquia, que não morreram tantos armênios como se tem dito, que sucumbiu um igual número de turcos muçulmanos.
Agora o presidente Bush e o Congresso dos EUA seguem adiante com essas mentiras. Houve, brevemente, um momento em que Bush poderia ter se agigantado, quando a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes votou, no mês passado, pela condenação da chacina em massa de armênios como um ato de genocídio. Antigos sobreviventes armênio-americanos se concentraram em um debate na Casa para ouvir o debate. Porém assim que os fossilizados generais turcos começaram a ameaçar Bush eu soube que ele recuaria.
Ouçam, primeiro, o general Yasar Buyukanit, comandante das forças armadas turcas, numa entrevista para o jornal Milliyet. Ele disse que a aprovação da resolução na Câmara foi "triste e penosa", em vista dos "fortes vínculos" que a Turquia mantém com seus parceiros da Otan. E se a resolução passar pelo plenário da Câmara de Representantes, então "nossas relações militares com os EUA nunca mais serão como no passado... Os EUA, neste particular, deram um tiro no pé".
Agora escutem Bush reagir imediatamente diante do general turco. "Todos nós lamentamos profundamente o trágico sofrimento (sic) do povo armênio, mas essa resolução não é a resposta acertada para esses massacres em massa históricos. Sua aprovação causaria grande dano a nossas relações com um aliado-chave no plano da Otan e da guerra contra o terror."
Gostei do trecho final, sobre a "guerra contra o terror". Ninguém – exceto os judeus da Europa – sofreu mais "terror" que os rudes armênios da Turquia em 1915. Mas aí a Otan valeria mais que a integridade histórica. A Otan algum dia poderia vir a ser tão importante a ponto dos Bush relativizarem o Holocausto judeu, visando aplacar uma Alemanha militarmente ressurgida e m cuja cúpula pudesse haver brotos de inclinação revisionista.
Entre os homens que deveriam ocultar os rostos envergonhados estão aqueles que dizem estar vencendo a Guerra do Iraque. Estes incluem o cada vez mais desorientado general David Petraeus, comandante dos EUA no país ocupado, e o cada vez mais desiludido embaixador dos EUA em Bagdá, Ryan Crocker – ambos tendo advertido que a aprovação do projeto sobre o genocídio armênio iria "afetar o esforço de guerra no Iraque". E, não se enganem, existe dinheiro grosso por trás desse lastimável episódio da negação do Holocausto.
O ex-representante Robert L Livingston, um democrata de Louisiana, já abocanhara US$ 12 milhões dos turcos para sua campanha, por duas tentativas anteriores e bem-sucedidas de prevenir a causa da justiça moral, abrandando resoluções do Congresso. Ele escoltou pessoalmente os militares turcos à Colina do Capitólio, para que ameaçassem os congressistas. Eles foram direto ao ponto: caso a resolução prosperasse, negariam aos EUA o acesso à Base Aérea de Incirlik, por onde passa 70% do material enviado por via aérea dos EUA para o Iraque através da Turquia.
Na vida real isto se chama chantagem – e por isso Bush cedeu. O secretário de Defesa, Robert Gates, chegou a ser ainda mais pusilâmine, embora naturalmente sem se preocupar com os detalhes da história. Petraeus e Crocker, afirmou, "acreditam claramente que o acesso aos aeroportos e rodovias na Turquia seria submetido a sério risco caso essa resolução passe"...
Que terrível ironia cometeu Gates, pois foi por essas mesmas estradas que caminharam centenas de milhares de armênios em suas marchas da morte de 1915. Muitos eram forçados a subir em caminhões de gado que os conduziam à morte. Uma das linhas férreas onde eles viajaram passava a leste de Adana – até um ponto de concentração desses cristãos condenados ao extermínio na Armênia Ocidental, e a primeira estação de trem se chamava Incirlik, a mesma Incirlik que hoje abriga a grande base aérea que Bush tanto teme perder.
Caso o genocídio que Bush se nega a reconhecer não tivesse acontecido – como alegam os turcos –, os americanos estariam pedindo aos armênios para usar Incirlik. Ainda está viva – em Sussex, Inglaterra, se alguém se incomodar em procurá-la – uma anciã armênia sobrevivente dessa região, que relata os gendarmes turco-otomanos abrindo fogo contra uma pilha de bebês armênios da estrada perto de Adana. São as mesmas estradas que tanto preocupam o covarde Gates.
Mas não temam. Mesmo que os turcos tenham assustado Bush até a raiz dos cabelos, ele continua a querer exigir contas dos todo-poderosos persas. As pessoas, argumenta, deveriam se empenhar em impedir o Irã de adquirir conhecimentos quanto ao fabrico de artefatos nucleares, se é que estão "interessados em prevenir uma 3º Guerra Mundial", advertiu o presidente. Que disparate. Bush não tem sequer a coragem de dizer a verdade sobre a 1ª Guerra.
Quem haveria de pensar? O líder do Mundo Ocidental – ele que nos protegeria contra o "mundo do terror" – haveria de ser o David Irving da Casa Branca... ( David Irving, desmoralizado historiador britânico que negou o Holocausto judeu e cumpriu uma pena de prisão na Áustria por enaltecer o regime nazista).
* Correspondente em Beirute dos jornais Independent (Reino Unido) e La Jornada (México)
Uma outra Colômbia é possível