quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Dizzy Gillespie

Ele e Charlie Parker foram os "pais" do bebop, mais influente estilo de jazz dos últimos 60 anos. Dizzy Gillespie foi também um dos melhores trompetistas do gênero e pioneiro do chamado "latin jazz". De família pobre, John Birks Gillespie nasceu em 21 de outubro de 1917 em Cheraw, Carolina do Sul. Aprendeu trompete aos 15 anos, e aos 20 tocava em big bands na Filadélfia. No início dos anos 40, já em Nova York, acompanhou Duke Ellington e Ella Fitzgerald. Gillespie formou uma big band, explorando ritmos cubanos em "Manteca" e "Cubana Be/Cubana Bop". Pela orquestra e subsequentes grupos menores passaram John Coltrane, Sonny Rollins, Stan Getz e outros que viriam a ser também mestres do jazz. Participou do "supergrupo" Giants of Jazz, com Thelonious Monk, Art Blakey e outros. Seu último projeto foi a United Nation Orchestra, que reunia músicos de vários países, entre eles os brasileiros Cláudio Roditi e Flora Purim. Ele deixou de tocar em 92, e morreu em 6 de janeiro do ano seguinte, em Englewood, Nova Jersey, de câncer no pâncreas.


Dizzy Gillespie - Coleção Folha Clássicos do Jazz
1. Manteca
2. Tin Tin Deo
3. Ooh-Shoo-Be-Doo-Be
4. Birks Works
5. School Days
6. They Can't Take That Away From Me
7. Alone Together
8. Lady Be Good
9. The Mooche
10. There Is No Greater Love

Créditos: TrabalhoMental - Kryz
Para baixar: clique aqui

Dorival Caymmi - História de Pescadores (1996)




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Beethoven - Symphony No.1 To 9

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symphony no. 1 in c major op. 21
symphony no. 2 in d major op. 36
symphony no. 3 in e flat major op. 55 (eroica)
symphony no. 4 in b flat major
symphony no. 5 in c minor op. 67
symphony no. 6 in f major op. 68 (pastoral)
symphony no. 7 in a major op. 92
symphony no. 8 in f major op. 93
symphony no. 9 in d minor op. 125 (choral)

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quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Novo cenário faz brasileiros deixarem em massa os EUA

Brian Ballou, do The Boston Globe

Francisco Neto trocou o Brasil por Marlborough, em Massachusetts, em 1995, atraído pela sua versão do sonho norte-americano: a possibilidade de contar com um salário estável e uma taxa de câmbio que triplicaria o dinheiro que ele enviaria para casa a fim de ajudar os parentes em dificuldades.



Mas após quase 12 anos, ele pretende retornar para Goiânia, a sua cidade natal, na região centro-oeste do Brasil, juntando-se a grupo de milhares de brasileiros que não enxergam mais vantagem em morar aqui. O declínio do dólar reduziu pela metade o valor dos US$ 700 que Neto envia para casa todos os meses: cinco anos atrás, essa quantia valia RS$ 2.450. Hoje ela vale apenas RS$ 1.225.


Esse declínio do dólar, conjugado a uma economia brasileira em expansão, está fazendo com que os brasileiros reavaliem as dificuldades de se viver nos Estados Unidos, longe de suas famílias, em um país no qual muitas vezes é difícil ser imigrante, até mesmo para alguém que possui visto de residência, como Neto.


"Durante um longo período, foi ótimo", afirma Neto, 39, fazendo uma pausa na semana passada no seu trabalho como entregador de encomendas para a Kodak. "Eu enviava a minha família cerca de US$ 700 mensais. Mas no ano passado a situação ficou muito pior. Tive que pagar pela minha gasolina, e, tendo uma família aqui, eu e a minha mulher trabalhávamos sem parar, e mesmo assim estávamos quebrados".


Segundo estimativas do Centro Brasileiro do Imigrante, uma agência sem fins lucrativos com sede em Allston, no Estado de Massachusetts, um número estimado de 5.000 a 7.000 brasileiros deixou Massachusetts e retornou ao Brasil em 2007. O centro calcula que de 2.000 a 3.000 brasileiros retornaram a sua terra natal em 2006.


O censo dos Estados Unidos de 2000 registrou 39 mil pessoas de ascendência brasileira morando no Estado; o número aumentou para 73 mil em 2006, de acordo com a American Community Survey, uma pesquisa demográfica anual realizada pelo Birô do Censo dos Estados Unidos. Mas esse número não inclui os brasileiros que vivem aqui sem a documentação apropriada. Alguns estimam que o número total de imigrantes brasileiros chegue a 230 mil.


Série de motivos para o retorno


Fausto da Rocha, diretor executivo do Centro do Imigrante Brasileiro, diz que o dólar fraco é apenas um dos diversos motivos pelos quais os brasileiros estão voltando para casa. Os brasileiros são o segundo grupo de imigrantes ilegais que mais cresce nos Estados Unidos, e muitos ficaram profundamente desapontados no verão passado quando o Congresso norte-americano não aprovou um projeto de lei que daria a milhões de imigrantes uma chance de se inscrever para o visto de residência legal.


Ele prevê que em 2008, de 7.000 a 10 mil brasileiros poderão voltar ao Brasil. "Isso tem muito a ver também com uma falta de esperança", afirma Rocha. "Quando Deval Patrick foi eleito governador, houve muita esperança de que a situação melhoraria para os imigrantes, mas a condição deles tornou-se ainda pior. Uma alta percentagem de trabalhadores não conta com papéis de imigração, e eles precisam de um carro para trabalhar. Assim, eles estão dirigindo sem documentos, e a Polícia Estadual os têm parado e denunciado".


Mário Saade, o cônsul geral do Brasil em Boston, diz que há provavelmente mais brasileiros partindo do que em qualquer outro período no passado. Mas Saade também diz achar que o número seja inferior a 7.000, baseado no número de brasileiros que procuram os serviços consulares, que manteve-se estável entre 300 e 400.


Saade diz que o fracasso da lei de reforma da imigração no ano passado foi um grande golpe para muitos brasileiros daqui, e afirma que a economia brasileira, que experimentou um crescimento de 5,5% no ano passado, pode estar estimulando muitos a retornar.


"A economia do Brasil está atualmente no seu melhor estado em vários anos, e existem mais oportunidades de trabalho lá", diz ele. "Existem setores que estão prosperando, especialmente na construção civil, e a maioria dos brasileiros que estão aqui trabalha na construção civil".


200 mil brasileiros


Álvaro Lima – o brasileiro que é diretor de pesquisa da Autoridade de Redesenvolvimento – calcula que o número total de brasileiros em Massachusetts não seja superior a 200 mil. Embora afirme que as pessoas estão retornando, ele duvida que 7.000 pessoas estejam voltando ao Brasil. "Pode até estar acontecendo, mas não sei se está ocorrendo em tal escala", afirma Lima.


Rocha diz que as suas estimativas baseiam-se em entrevistas com a Rede de Pastores Brasileiros e as agências de viagens. Os brasileiros recém-chegados costumam procurar igrejas da área para entrarem em contato com a comunidade, e muitas vezes tornam-se membros. Os pastores conversam com brasileiros que estão pretendendo voltar ao Brasil, e sabem quando eles partiram.


Rocha diz ter feito pesquisas junto a diversas agências de viagens que atendem aos brasileiros, tendo descoberto um aumento drástico da venda das passagens só de ida, especialmente para Minas Gerais, o Estado natal da maioria dos brasileiros que vivem na região.


Alguns donos de negócios brasileiros dizem ter notado um grande número de partidas e ditam uma queda drástica da clientela, nos bairros brasileiros das comunidades de Massachusetts, onde butiques, restaurantes e outros negócios exibem orgulhosamente a bandeira brasileira nas vitrines.


Em duas joalherias no centro de Framingham, os negócios caíram acentuadamente. Geni Luz, gerente da Joyce Jewelry, diz que a loja presenciou uma queda de 40% no número de clientes no último ano, em relação ao ano anterior, porque esses clientes retornaram ao Brasil.


"Eles dizem que estão voltando porque não querem ficar aqui ilegalmente, sem carteira de motorista ou o cartão de Social Security", afirma Luz. "Eles estavam esperando que a lei de imigração fosse aprovada, mas isso não ocorreu".


João Freitas, dono da Vera Jewelers, diz que dezenas dos seus clientes regulares voltaram ao Brasil. "Começamos a perceber isso no início do ano passado", conta Freitas. "Então, quando a lei de imigração não foi aprovada, as pessoas ficaram bastante desapontadas e começaram a comprar as passagens de volta".


Freitas diz que muitos imigrantes que estão pensando em retornar ao Brasil estão aguardando para ver como se sai a primeira onda de brasileiros que retornaram. Segundo ele, vários outros estabelecimentos, como a Brazilian Pizza e o Adrianna's Beauty Salon, faliram porque uma grande quantidade de seus clientes partiu.


Neto, que tem visto de residência permanente, juntamente com a mulher, Elaine, 38, decidiu em novembro passado que a família retornaria ao Brasil. Elaine e a filha de 14 anos do casal já voltaram, e ele pretende partir assim que consiga juntar dinheiro suficiente para abrir um pequeno negócio no Brasil.


Neto diz que trabalha até 70 horas por semana em vários empregos, e que a sua mulher tinha uma carga de trabalho quase igual. "Esta é uma maneira terrível de viver, de criar uma filha", queixa-se ele. "Nunca nos víamos. Na nossa terra natal, pode ser que não ganhemos tanto dinheiro, mas poderemos passar mais tempo juntos".

fonte:Vermelho



Nat King Cole - The King Swings 2001

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01-Destination Moon
02-Teach Me Tonight
03-The Late, Late Show
04-Rough Ridin'
05-Blue And Sentimental
06-But She's My Buddy Chick
07-Tangerine
08-Crazy She Calls Me
09-Welcome To The Club
10-Don't Get Around Much Anymore
11-Caravan
12-(It Will Have To Do) The Real Thing Comes Along
13-If I Could Be With You
14-Azure-Te
15-I Want A Little Girl
16-Sweet Lorraine
17-Something Happens To Me
18-You're My Thrill

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O Medo de Amar é o Medo de Ser Livre

O medo de amar é o medo de ser
Livre para o que der e vier
Livre para sempre estar onde o justo estiver
O medo de amar é o medo de ter
De a todo momento escolher
Com acerto e precisão a melhor direcção
O sol levantou mais cedo e quis
Em nossa casa fechada entrar
Prá ficar
O medo de amar é não arriscar
Esperando que façam por nós
O que é nosso dever: recusar o poder
O sol levantou mais cedo e cegou
O medo nos olhos de quem foi ver
Tanta luz

Elis Regina

AS 7 FACES DO DR. LAO - 1964

7 Faces of Dr. Lao, George Pal




Formato: rmvbÁudio: Inglês
Legendas: Português/BR
Duração: 1:40
Tamanho: 327 MB
Dividido em 04 Partes
Servidor: Rapidshare
Originalmente Postado por: Basilisco

Créditos:Forum - Eudes Honorato



Sinopse: chinês gentil e idoso (possui 7322 anos), Dr. Lao (Tony Randall) chega em Abalone, Arizona, com seu circo, que tem atrações únicas (o Abominável Homem das Neves, Merlin, Medusa, Pan, Apolônio de Tiana e outros seres fantásticos). Ele constata rapidamente que a cidade é dominada por um rico rancheiro, Clint Stark (Arthur O'Connell), que alega que em 6 meses não haverá água na cidade, pois o aqueduto está quase inutilizado e o conserto seria de US$ 237 mil. Assim Stark propõe comprar toda a cidade e só Ed Cunningham (John Ericson), o dono do jornal local, se opõe à idéia. Mas em poucos dias o Dr. Lao irá alterar a vida dos moradores de Abalone.


Elenco:

Tony Randall (Dr. Lao / Merlin / Pan / Abominável Homem da Neve / Medusa / Serpente gigante / Apolônio de Tiana / Integrante do público)
Barbara Eden (Angela Benedict)
Arthur O'Connell (Clint Stark)
John Ericson (Ed Cunningham / Pan transformado)
Noah Beery Jr. (Tim Mitchell)
Lee Patrick (Sra. Cassin)
Minerva Urecal (Kate Lindquist)
Frank Kreig (Peter Ramsey)
Peggy Rea (Sra. Ramsey)
Eddie Little Sky (George C. George)
Royal Dano (Carey)
Argentina Brunetti (Sarah Benedict)
Kevin Tate (Mike Benedict)
John Doucette (Lucas)
Frank Cady (Prefeito James Sargent)
Dal McKennon (Cowboy)


Curiosidades:

- O diretor George Pal inicialmente queria que Peter Sellers interpretasse o Dr. Lao.

- Último filme do diretor George Pal.

- Apesar de hoje ser considerado um clássico do cinema fantástico, o desempenho de As 7 Faces do Dr. Lao nas bilheterias foi uma grande decepção na época de seu lançamento.

- Tony Randall aparece misturado ao público na 2ª apresentação do circo.

- Após As 7 Faces do Dr. Lao apenas um filme recebeu o Oscar honorário pelo trabalho de maquiagem: O Planeta dos Macacos (1968).


Fonte: http://www.adorocinema.com/

Bia Mestrinér - Bia Bossa Nova (1995)




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terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Elizeth Cardoso e Sílvio Caldas - Elizeth Cardoso e Sílvio Caldas (1971)



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Os escritores malditos do Vietnã

Numa sociedade esgotada ideologicamente e marcada pela força crescente do dinheiro, eles buscam um sentido para a vida falando de sexo e transgressão — e difundindo suas obras via internet ou em cópias píratas

Jean-Claude Pomonti

Mais de dois terços dos vietnamitas nasceram depois de 1975. O heroísmo do passado, embora ainda próximo, não é mais a única referência, mesmo que inscrito na história de um país que lutou, ao longo dos séculos, por sua independência e unidade. “No coração da literatura oficial, a fé em uma dupla emancipação, social (pelo marxismo-leninismo) e nacional (pela guerra), deu lugar à ausência de ideal na juventude do pós-guerra” [1], avalia Doan Cam Thi, crítico literário radicado em Paris.

Tanto no centro como na periferia do Partido Comunista, a nova tendência gera inquietações. Mas os vazios, muitas vezes, apenas indicam o surgimento de sociedades mais complexas. A dicotomia oficial — bons e maus — torna-se indistinta com o passar dos anos. Doan Cam Thi retoma desse modo, a respeito do Vietnã, a expressão de Karl Marx sobre os países “tão pobres de heróis quanto de acontecimentos”. Em uma novela muito breve, o escritor Do Khiem, que vive entre a França, os Estados Unidos e o Vietnã, cita Kiê, a infeliz heroína de um grande romance clássico vietnamita do século 19: “Por vezes, mal desfio a meada que os entrelaça, os fios se emaranham de novo”. Mas Do Khiem, cujos escritos são muito apreciados nos jovens círculos literários vietnamitas, o faz para afirmar o contrário: “Não me prendo a ninguém” [2].

No período subseqüente às guerras da Indochina, uma geração de escritores talentosos se debruçou sobre a miséria dos combates e as desilusões advindas da vitória. A maior parte era originária do Norte e saída das fileiras vencedoras. Nguyen Huy Thiep, Bao Ninh, Duong Thu Huong e Pham Thi Hoai encabeçavam a fila. Seu olhar sobre a guerra e a sociedade que dela emergiu dominou os escritos da época das primeiras reformas, determinadas pelo Partido Comunista em 1986, e da abertura do Vietnã para o resto do mundo. Outros também relataram as cicatrizes deixadas pela brutal reforma agrária de 1955-1956 [3] ou as ondas de repressão posteriores.

Há quase trinta anos começava a série de renovações que deixou para trás o realismo socialista

Nos anos 1990, Hanói tornou-se o centro de uma renovação literária cuja repercussão no exterior foi ainda maior pelo fato de alguns escritos serem proibidos e circularem apenas às escondidas, ainda que por vezes de forma pródiga. O surgimento dessa geração de escritores significou provavelmente um golpe definitivo na literatura oficial, que bebia na fonte do realismo socialista. Era o fim de um mito ou de uma hipocrisia. O Vietnã vivera convulsões, não uma revolução. Diante da profusão de escritores que eram também pesquisadores, os ideólogos oficiais não encontraram outra resposta senão a censura ou a reescrita, notadamente a que era praticada pelos manuais de história. O grande público permaneceu à distância: tratava-se já de um combate travado na retaguarda.

Por isso, a censura só foi exercida, na maioria das vezes, a posteriori. Tratava-se de pressão sobre os editores, que corriam o risco de ver as obras publicadas serem retiradas de circulação. Prova disso foi a proibição, pouco após o lançamento, do Récit de l’an 2000, publicado pelas edições Thanh Nien (A Juventude). Bui Ngoc Tan relata nessa obra as duras condições sob as quais ficou preso, três décadas antes, no contexto de uma campanha contra os "revisionistas". O livro foi destruído por ordem das autoridades, poucas semanas depois de ter sido posto à venda. Por outro lado, em março de 2005, Chinatown, um romance de Thuan, jovem escritor da diáspora vietnamita na França, foi publicado em seu país natal, com enorme sucesso de vendas. A iniciativa de publicá-lo no Vietnã foi ainda mais interessante porque a obra aborda o delicado tema da humilhação sofrida pela comunidade chinesa após a eclosão da guerra fronteiriça entre a China e o Vietnã, em 1979. Antes disso, o tema parecia tabu.

A abertura em curso não permite prever, ainda, como será escrita a página aberta na passagem do século. Os autores do período das primeiras reformas puseram novamente em questão, com força e talento, o mito da história oficial e o realismo socialista. À exceção de Duong Thu Huong, ativista dos direitos humanos [4], eles têm talvez menos propostas relativas ao futuro. De sua parte, o Partido Comunista, o “Pai da Vitória”, imagina renovar sua legitimidade apoiando-se em três pilares: expansão econômica, luta contra os “fenômenos negativos” (corrupção, degradação dos costumes) e retomada dos valores nacionais (ou, se preferirmos, históricos). Substituir uma “solidariedade internacional” em pleno desaparecimento pela imagem de Confúcio talvez traga conforto a uma população já há tanto tempo bombardeada por slogans vazios que nem mais lhes dá atenção. Mas as aspirações estão em outro lugar.

Proliferam os cibercafés: a internet rompe obstáculos, promove encontros, introduz a horizontalidade

Mesmo nos rincões mais distantes do país, os cibercafés proliferam. Uma juventude muitas vezes desocupada descobre um mundo sem fronteiras [5]. A rede conduz a uma viagem a outro lugar, à busca de outras referências. Ela rompe um emaranhado de obstáculos. Alguns jornais organizam chats muito concorridos com autores de todas as tendências, incluídos os da diáspora. Fronteiras desaparecem e, na busca por valores, a “horizontalidade” vai, pouco a pouco, sobrepujando a “verticalidade”. Os jovens procuram o horizonte das respostas, para além do hábito de esperar que a boa nova venha de cima.

Cada qual em sua praia. “O governo quer abrir as portas para os jovens poetas e escritores, mas impõe limites. Gostaria, segundo a tradição, que escrevêssemos sobre os heróis da guerra. Mas não podemos fazê-lo, pois não a vivemos. Nós falamos de sexo”, conta Lynh Barcadi, nome literário de uma jovem poetisa que, na cidade de Ho-Chi-Minh, integra um pequeno grupo político feminino chamado “Louva-a-Deus”, cuja fêmea supostamente come o macho após o acasalamento.

“Os jovens abordam tabus: o retrocesso da luta de classes, a droga, a degradação do ensino público, o homossexualismo”, explica uma crítica de arte da Cidade de Ho Chi Minh, seduzida pela audácia deles. Para além do evidente “engajamento”, Doan Cam Thi evoca, de sua parte, uma “literatura intimista digna de interesse”, pois “o eu é parte integrante do mundo”. “Sem fechar os olhos para os problemas da sociedade”, acrescenta, “eles nos falam de sua vida, de suas preocupações, de seus sonhos, de seus sofrimentos; ao descrever um mundo opaco, ao mergulhar nas regiões turvas do inconsciente, eles desconcertam os leitores e criam um mal-estar.”

Por trás do aparente niilismo, uma juventude que busca combater o vazio, o tédio e a angústia

Ly Doi é o porta-voz de um grupo de “antipoetas” chamado Mo Mieng (“Abrir a Boca”), fundado em 2000 na periferia da cidade de Ho Chi Minh. Ele carrega um pouco demais nas tintas, em um curto texto divulgado na rede no ano passado:

“Experimento uma sensação não pela tradição, mas por espaços imensos.

“Experimento sozinho uma sensação por minha época, não tenho ligação alguma com os outros.

“Não pertenço a nenhum princípio, nenhum partido político, nenhuma religião, nenhuma ideologia, nenhuma organização; demônios, eu pertenço a mim mesmo.

“Experimento uma sensação pela liberdade primitiva e por meu verdadeiro rosto.

“Quero declarar guerra a tudo que depende da ordem comercial: os museus, os críticos, os historiadores da arte, os estetas e esses que alguns chamam de ‘forças culturais’.

“Estou convencido de que a verdadeira arte não nasceu, pois a verdadeira liberdade e a verdadeira justiça não foram estabelecidas.

“A liberdade não nasceu, a obra-prima da liberdade também não” [6].

Esses jovens escritores caminham na fronteira do niilismo. São por vezes demasiado grosseiros, mas não vulgares. Manejam a provocação com um apetite sério, a fim de fazer “cair as máscaras” e oferecer um sopro de ar fresco. “A provocação na linguagem não é essencial. Essencial é recorrer a uma linguagem popular, uma linguagem corrente; essencial é a honestidade”, explica Ly Doi. Eles não procuram publicar seus escritos e sua assim chamada “casa editora”, Giay Vun (Papel Usado), distribui fotocópias e CDs. Estudantes em processo de envelhecimento, reivindicam sua marginalidade e escrevem utilizando o linguajar popular do Sul, sem dissimular-lhe as grosserias. Seus escritos se pretendem a expressão dos bairros populares de onde eles se originam, uma literatura de bui doi (“poeira de vida”), mas bui doi dotada de bagagem cultural e histórica sólida.

Hesitante, sua abordagem é uma busca da alternativa, tanto no pensamento como na expressão. Eles são influenciados por um de seus representantes mais velhos, autoproclamado “cidadão do mundo”, Tran Quoc Chanh, enfant terrible da cena literária da cidade de Ho Chi Minh, autor de um poema (“Cabeças pensantes, vão tomar no c…!”) que provocou sensação no microcosmo literário vietnamita. É a recusa de caminhos batidos. Eles são talvez, também, o reflexo de uma juventude que busca combater o vazio, o tédio, a angústia, em lugar de se refugiar na droga, no sexo ou no dinheiro. “Um desejo de viver, nada mais, viver de outra forma, pensar diferente de seus predecessores”, resume Doan Cam Thi.

Quando o retorno à natureza e à ordem tradicional, pregados pelo poder, são impossíveis

No coração do PC, antigos resistentes se dão conta de que um partido ao mesmo tempo ator e juiz cria uma situação sem horizonte. Carente de contrapeso e de diálogo, torna-se incapaz de oferecer um projeto de verdade. Um especialista francês evoca “o vazio extraordinário deixado pelos ‘novos pensadores’ capitalistas-marxistas vietnamitas em matéria de ideologia, mensagem, moral e ética, de tal modo estão atolados em seu sistema”. A retomada da tradição e da exaltação do nacionalismo não basta para cobrir o buraco. A tendência seria antes aprofundá-lo, acentuar o descompasso entre o poder político e uma sociedade lutando com uma situação inteiramente nova: o Vietnã unificado e independente deve gerar, pela primeira vez desde o século 19, não apenas sua coexistência com a China, mas também seu lugar no seio da mundialização.

Em À nos vingt-ans, crônica romanceada publicada em francês em 2005 (Aube), Nguyen Huy Thiep evoca uma juventude dissoluta cuja única salvação reside na volta à natureza e às tradições. Produto de uma desilusão pessoal, essa crônica é de uma originalidade limitada: o autor se mete — ou tenta fazê-lo — na pele de um adolescente de boa família, que mergulha no universo das drogas e das gangues. Dele só sairá após ter sido deixado em uma ilha da baía de Along, onde forçosamente passa por uma desintoxicação antes de ser recolhido por pescadores que lhe fazem retomar o gosto pela vida. A notícia da morte do pai, escritor conhecido e de conduta irrepreensível, provoca então o saudável clique do arrependimento. Tudo volta à ordem.

Por ocasião do trigésimo aniversário de 1975, Thiep escreveu que “hoje, para cobrir a perda dos valores tradicionais, perseguimos um modo de vida materialista, violento, hedonista” [7]. Ele acrescenta que “a corrupção é uma catástrofe que não conseguimos conter”, que as “malversações contaminam o espírito da juventude”. Essa visão simplista no entanto não representa uma solução de verdade, porque o retorno à natureza e à ordem tradicional, igualmente apregoado pelo poder, é utópico. A contradizê-la está a eclosão da nova geração de escritores, cujas preocupações são de ordem bem diferente.

O Vietnã é um país cuja dinâmica foi retomada depois de trinta anos de guerra, após uma década de erros e mais outra de hesitações. Um artista da diáspora vietnamita residente nos Estados Unidos, Dinh Q. Le, assim explicou o árduo avanço dos vietnamitas: “Essas pessoas vêm lutando há vinte anos. Não fazem a menor idéia de como administrar um país. Avançam, recuam, depois voltam a avançar. Mas também pode-se encontrar nessa sociedade algo que a distingue no Sudeste Asiático: um ímpeto por melhorar a si mesma, por fazer alguma coisa com sua vida” [8].


[1] Em Au rez-de-chaussée du Paradis. Récits vietnamiens 1991-2003, Arles, Philippe Picquier, 2005.

[2] Idem.

[3] A reforma agrária de modelo chinês, iniciada em 1953 na República Democrática do Vietnã (Norte), provocou descontentamento e até revoltas no campo, que foram duramente reprimidas.

[4] Depois de viajar a Paris em fevereiro de 2006, por ocasião do lançamento de Terre des oublis (Sabine Wespieser), Huong permaneceu na cidade para “finalizar obras inacabadas após vinte anos”. “Em Hanói”, ele disse, “ajudar prisioneiros políticos e lutar pela democracia consome todas minhas energias” (entrevista concedida a Focus Asie du Sud-Est, julho de 2006, www.focusasie.com).

[5] Entre os sites literários vietnamitas na rede, destacam-se, em inglês, www.tienve.org e www.vietnamlit.org.

[6] Traduzido para o francês por Doan Cam Thi.

[7] Publicado em www.remue.net, revista apresentada por François Bon, tradução de Doan Cam Thi.

[8] International Herald Tribune, 9 de junho de 2005.